quarta-feira, 30 de julho de 2025

Medida de Israel que permite ajuda é aceno para aliados horrorizados com fome em Gaza

Israel respondeu à condenação internacional contínua e crescente de que é responsável pela fome em Gaza anunciando uma série de medidas que, segundo as Forças de Defesa de Israel (FDI), "melhorariam a resposta humanitária".

O país está permitindo o lançamento de ajuda humanitária por via aérea — realizou o primeiro lançamento durante a noite de sábado (26/07), e permitiu que a Força Aérea dos Emirados Árabes Unidos realizasse outro no domingo.

As FDI também anunciaram que permitiriam uma "pausa tática na atividade militar" em algumas áreas, e estabeleceriam "corredores humanitários designados... para refutar a falsa alegação intencional de fome".

Hamas condenou as medidas como uma "enganação". Israel, segundo o grupo, estava "maquiando sua imagem perante o mundo".

Mais tarde, Israel realizou um ataque aéreo durante a "pausa tática". Relatos a partir do local dizem que uma mulher chamada Wafaa Harara e seus quatro filhos, Sara, Areej, Judy e Iyad, foram mortos.

Embora Israel continue a insistir que não é responsável pela catástrofe humanitária em Gaza e que não impõe restrições à entrada de ajuda em Gaza, essas alegações não são aceitas por seus aliados próximos na Europa, nem pelas Nações Unidas e outras agências que atuam em Gaza.

As novas medidas podem ser uma admissão tácita dos israelenses de que precisam fazer mais.

É mais provável que sejam um aceno para os aliados que emitiram declarações fortes culpando Israel pela fome em Gaza.

A mais recente, divulgada na última sexta-feira (25/07), pelo Reino Unido, França e Alemanha, foi contundente.

"Pedimos ao governo israelense que suspenda imediatamente as restrições ao fluxo de ajuda e permita urgentemente que a ONU e as ONGs humanitárias realizem seu trabalho para combater a fome. Israel precisa cumprir suas obrigações de acordo com o direito humanitário internacional."

Israel impôs um bloqueio total de toda ajuda a Gaza, com restrições à aprovação do conteúdo e à movimentação de comboios com suprimentos. Com os americanos, o país estabeleceu um novo sistema de distribuição de ajuda por meio da chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF), destinada a substituir a rede de ajuda administrada pelas Nações Unidas.

Israel alega que o Hamas roubou ajuda humanitária do sistema da ONU. A ONU diz que ainda está esperando que os israelenses apresentem evidências que comprovem a alegação.

A ONU e outras agências humanitárias não vão cooperar com o sistema da GHF, que, segundo elas, é desumano e militarizado. Mais de mil palestinos foram mortos a tiros em busca de alimentos desde o início da operação da GHF, de acordo com a ONU.

Um coronel aposentado das forças especiais dos EUA que trabalhou para a GHF em Gaza disse à BBC que viu colegas americanos e soldados das FDI abrindo fogo contra civis. Ambos negam que tenham mirado em civis.

Jonathan Whittall, chefe do escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) nos Territórios Palestinos Ocupados, já condenou os métodos usados pela GHF.

Israel disse a ele que seu visto não seria renovado depois que ele publicou nas redes sociais, há um mês, que o sistema da GHF havia levado Gaza a "condições criadas para matar... o que estamos vendo é uma carnificina. É a fome como arma. É o desalojamento forçado. É uma sentença de morte para pessoas que estão apenas tentando sobreviver. Parece ser a eliminação da vida palestina".

Depois que Israel anunciou as novas medidas, Whittall disse à BBC que "a situação humanitária em Gaza nunca foi tão ruim".

Ele afirmou que, para que as novas medidas de Israel mudem a situação para melhor, seria preciso reduzir o tempo que leva para permitir que os caminhões transitem pelas passagens para Gaza e melhorar as rotas fornecidas pelas FDI para os comboios usarem.

Israel também precisaria fornecer "garantias significativas de que as pessoas que se reúnem para retirar alimentos da carroceria dos caminhões não serão baleadas pelas forças israelenses".

Whittall tem entrado e saído de Gaza desde o início da guerra, mas isso agora está prestes a acabar, a menos que Israel decida não retirar seu visto. Ele afirma que, à medida que as operações militares das FDI continuam, "permanece um desrespeito abominável pelo direito humanitário".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa Yoav Gallant já são alvos de mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) no ano passado, acusados de responsabilidade criminal conjunta pelo "crime de guerra de fome como método de combate; e os crimes contra a humanidade de assassinato, perseguição e outros atos desumanos". Netanyahu, Gallant e o Estado israelense negam as acusações.

Israel divulgou imagens de vídeo granuladas de um avião de carga lançando pacotes de ajuda humanitária em Gaza. Uma fila de paraquedas era lançada da parte traseira da aeronave em meio à escuridão da noite. As FDI disseram que entregaram sete pacotes contendo farinha, açúcar e alimentos enlatados.

Em outras guerras, vi ajuda humanitária sendo lançada, tanto dos próprios aviões quanto de perto no solo, ao aterrissar.

O lançamento aéreo de ajuda é um ato de desespero. Também pode ficar bonito na televisão e espalhar a sensação de que algo, finalmente, está sendo feito.

É um processo rudimentar que, por si só, não vai fazer muito para acabar com a fome em Gaza. Somente um cessar-fogo e uma operação de ajuda irrestrita e de longo prazo podem fazer isso. Mesmo os grandes aviões de carga não transportam tanta carga quanto um pequeno comboio de caminhões.

No Curdistão iraquiano, após a Guerra do Golfo de 1991, os EUA, o Reino Unido e outros países lançaram ajuda humanitária de aviões de carga C-130, principalmente rações militares, sacos de dormir e uniformes de inverno extras para dezenas de milhares de pessoas que tentavam sobreviver ao ar livre, na lama e na neve, no alto das montanhas na fronteira do Iraque com a Turquia.

Voei com eles e observei os aviadores britânicos e americanos lançando ajuda das rampas de carga traseiras das aeronaves a milhares de metros acima das pessoas que precisavam dela.

Era muito bem-vinda. Mas, alguns dias depois, quando consegui chegar aos acampamentos improvisados nas montanhas, vi rapazes correndo para campos minados para pegar a ajuda que havia caído lá. Alguns foram mortos e mutilados em explosões. Vi famílias serem mortas quando pacotes pesados caíram sobre suas tendas.

Quando Mostar foi sitiada durante a guerra na Bósnia em 1993, vi pacotes de "refeições prontas para comer" do Exército americano, lançadas de grandes altitudes, espalhadas por toda zona leste da cidade, que estava sendo constantemente bombardeada. Alguns pacotes de ajuda atravessaram telhados que, de alguma forma, não haviam sido destruídos por ataques de artilharia.

Os profissionais envolvidos em operações de socorro consideram o lançamento aéreo de ajuda humanitária como um último recurso. Eles o utilizam quando qualquer outro acesso é impossível. Esse não é o caso em Gaza. A uma curta distância de carro ao norte está Ashdod, o moderno porto de contêineres de Israel. A algumas horas a mais, está a fronteira com a Jordânia, que tem sido usada regularmente como uma rota de abastecimento para Gaza.

Gaza era um dos lugares mais densamente povoados do mundo antes da guerra, quando a população de mais de dois milhões de palestinos tinha acesso a toda a faixa. Em termos britânicos, a Faixa de Gaza é um pouco menor do que a Ilha de Wight. Em comparação com cidades americanas, é mais ou menos do tamanho da Filadélfia ou de Detroit.

Agora, Israel forçou a maior parte da população de Gaza a se concentrar em uma pequena área na costa sul, que corresponde a cerca de 17% do território de Gaza. A maioria vive em barracas lotadas aglomeradas. Não está claro se há sequer um espaço aberto para que as aeronaves possam mirar.

Os pacotes de ajuda lançados de paraquedas muitas vezes aterrissam longe das pessoas que precisam deles.

Cada pacote será disputado por homens desesperados que tentam conseguir comida para suas famílias e por indivíduos criminosos que querem vendê-la para obter lucro.

¨      Israel está cometendo genocídio em Gaza, dizem grupos de direitos humanos sediados em Israel

Duas importantes organizações de direitos humanos sediadas em Israel , a B'Tselem e a Physicians for Human Rights, dizem que Israel está cometendo genocídio contra os palestinos em Gaza e que os aliados ocidentais do país têm o dever legal e moral de impedir isso.

Em relatórios publicados na segunda-feira, os dois grupos disseram que Israel havia atacado civis em Gaza apenas por causa de sua identidade como palestinos ao longo de quase dois anos de guerra, causando danos graves e, em alguns casos, irreparáveis à sociedade palestina.

Vários grupos internacionais e palestinos já descreveram a guerra como genocida , mas relatórios de duas das organizações de direitos humanos mais respeitadas de Israel e Palestina, que há décadas documentam abusos sistêmicos, provavelmente aumentarão a pressão por ação.

Os relatórios detalham crimes, incluindo a morte de dezenas de milhares de mulheres, crianças e idosos, deslocamento forçado em massa e fome, e a destruição de casas e infraestrutura civil que privaram os palestinos de assistência médica, educação e outros direitos básicos.

“O que vemos é um ataque claro e intencional contra civis com o objetivo de destruir um grupo”, disse Yuli Novak, diretora da B'Tselem, pedindo ação urgente. “Acho que todo ser humano precisa se perguntar: o que fazer diante de um genocídio?”

É vital reconhecer que um genocídio está em andamento mesmo sem uma decisão do caso perante o Tribunal Internacional de Justiça , disse ela. "Genocídio não é apenas um crime legal. É um fenômeno social e político."

Médicos pelos Direitos Humanos (PHR) concentra-se em seu relatório em um relato cronológico detalhado do ataque ao sistema de saúde de Gaza, com muitos detalhes documentados diretamente pela própria equipe do grupo, que trabalhou regularmente em Gaza antes de 7 de outubro de 2023.

A destruição do sistema de saúde por si só torna a guerra genocida, segundo o artigo 2c da convenção sobre genocídio, que proíbe impor deliberadamente condições de vida calculadas para destruir um grupo "no todo ou em parte", disse seu diretor, Guy Shalev.

“Não é necessário que todos os cinco artigos da convenção sobre genocídio sejam cumpridos para que algo seja considerado genocídio”, disse ele, embora o relatório também detalhe outros aspectos genocidas da guerra de Israel.

Tanto a B'Tselem quanto a PHR afirmaram que os aliados ocidentais de Israel estavam viabilizando a campanha genocida e compartilhavam a responsabilidade pelo sofrimento em Gaza. "Isso não poderia acontecer sem o apoio do mundo ocidental", disse Novak. "Qualquer líder que não esteja fazendo o possível para impedir isso é parte desse horror."

Os EUA e os países europeus têm a responsabilidade legal de tomar medidas mais enérgicas do que as que adotaram até agora, disse Shalev. "Todas as ferramentas disponíveis devem ser utilizadas. Não é isso que pensamos, é isso que a Convenção sobre Genocídio exige."

Israel nega estar cometendo um genocídio e afirma que a guerra em Gaza é uma questão de autodefesa, após ataques transfronteiriços do Hamas em 7 de outubro de 2023, que mataram 1.200 pessoas, a maioria civis. Mais de 250 pessoas foram sequestradas e levadas para Gaza, onde 50 permanecem reféns, e acredita-se que 20 delas ainda estejam vivas.

Na segunda-feira, um porta-voz do governo israelense classificou a alegação feita pelos grupos de direitos humanos como "infundada". "Não há intenção, [o que é] fundamental para a acusação de genocídio... Simplesmente não faz sentido um país enviar 1,9 milhão de toneladas de ajuda, a maior parte sendo alimentos, se houver intenção de genocídio", disse o porta-voz David Mencer.

Um elemento-chave para o crime de genocídio, conforme definido pela convenção internacional, é demonstrar a intenção de um Estado de destruir um grupo alvo, no todo ou em parte.

Declarações genocidas de políticos e líderes militares e uma cronologia de impactos bem documentados sobre civis após quase dois anos de guerra são prova dessa intenção, mesmo sem um rastro de ordens vindas de cima, dizem tanto a PHR quanto a B'Tselem.

O relatório do PHR detalha como “a intenção genocida pode ser inferida a partir do padrão de conduta”, citando precedentes legais do tribunal penal internacional para Ruanda.

A extensa documentação, por médicos, mídia e organizações de direitos humanos, ao longo de um longo período, impediu que o governo israelense alegasse não compreender o impacto de suas ações, disse Shalev. "Houve momentos e oportunidades suficientes para Israel interromper esse ataque gradual e sistemático."

Incitação ao genocídio tem sido registrada desde o início da guerra. É uma das duas questões em que o juiz israelense que julga o caso no Tribunal Internacional de Justiça votou com a maioria ao ordenar medidas de emergência para a proteção dos palestinos contra o risco plausível de genocídio.

“Não precisamos adivinhar o que Israel está fazendo e o que o exército israelense está fazendo, porque desde o primeiro dia deste ataque, os líderes israelenses, a mais alta liderança, a liderança política, incluindo o primeiro-ministro, o ministro da defesa, o presidente de Israel disseram exatamente isso”, disse Novak.

"Eles falaram sobre animais humanos. Falaram sobre o fato de não haver civis em Gaza ou de que há uma nação inteira responsável pelo 7 de Outubro."

“Se a liderança de Israel, seja a liderança do exército ou a liderança política, sabe das consequências desta política e continua, fica muito claro que isso é intencional.”

A destruição da infraestrutura de saúde, dois anos sem assistência médica e a morte de profissionais de saúde também significaram que o número de vítimas do genocídio continuaria a aumentar mesmo depois que qualquer cessar-fogo interrompesse os combates, disse Shalev.

Por exemplo, já faz meses que não há aparelhos de ressonância magnética em Gaza, então o que dizer de todas as doenças e enfermidades que não foram diagnosticadas durante todo esse tempo? Há toda a desnutrição e doenças crônicas que não foram tratadas; veremos os efeitos disso por meses e anos.

Embora os medicamentos possam ser entregues em poucos dias, não há uma maneira fácil de substituir os profissionais de saúde que foram mortos, incluindo especialistas que levaram décadas para serem treinados, disse ele.

“Observar as condições de vida abre esse tipo de escala temporal que é assustadora se quisermos acreditar em um futuro onde... o povo de Gaza, de alguma forma, consiga viver suas vidas com segurança e saúde. É muito difícil imaginar isso.”

O número de mortos em Gaza devido à guerra está se aproximando de 60.000, ou mais de 2,5% da população pré-guerra. Alguns dos que defendem a guerra de Israel argumentam que esse número é muito baixo para que a campanha seja considerada genocídio.

Isso se baseia em um mal-entendido fundamental sobre o crime de genocídio, que a convenção define como atacar um grupo "no todo ou em parte", disse Novak. "Isso não significa que seja necessário matar todas as pessoas."

Um genocídio contra palestinos como grupo só foi possível porque Israel, durante décadas, desumanizou os palestinos e negou seus direitos, disse Novak. O trauma coletivo foi explorado por políticos de extrema direita para acelerar uma agenda que vinham perseguindo há anos.

“[7 de outubro] foi um momento chocante e um ponto de virada para os israelenses, porque incutiu um sentimento real e sincero de ameaça existencial. Foi o momento que impulsionou todo um sistema e a forma como ele opera em Gaza de uma política de controle e opressão para uma de destruição e extermínio.”

Agora que Israel lançou uma campanha genocida em Gaza, havia um risco urgente de que ela pudesse se espalhar e atingir outros palestinos, alertou o relatório do B'Tselem.

“O regime israelense agora tem uma nova ferramenta que não usava antes: o genocídio. E o fato de essa ferramenta ou essa política usada em Gaza ainda não ser [implementada] em outras áreas não é algo com que possamos contar por muito tempo”, disse Novak.

A Cisjordânia é uma preocupação particular, com quase 1.000 palestinos mortos e mais de 40.000 deslocados de comunidades como Jenin e Tulkarem, em uma campanha de ataques crescentes e limpeza étnica desde 7 de outubro de 2023.

"O que vemos é basicamente o mesmo regime com a mesma lógica, o mesmo exército, geralmente os mesmos comandantes e até os mesmos soldados que acabaram de lutar em Gaza. Eles estão agora na Cisjordânia, onde a violência está aumentando", disse Novak.

“O que nos preocupa e queremos alertar é o fato de que qualquer pequeno gatilho pode fazer com que o genocídio se espalhe de Gaza para a Cisjordânia.”

¨      Democratas exigem que Trump corte financiamento para controversa organização de ajuda a Gaza

Vinte e um senadores democratas estão exigindo que Donald Trump corte imediatamente o financiamento para uma controversa organização de ajuda humanitária a Gaza que, segundo eles, resultou na morte de mais de 700 civis que buscavam comida e violou décadas de direito humanitário.

carta , liderada pelos senadores Chris Van Hollen de Maryland e Peter Welch de Vermont, surge num momento em que aumentam as críticas internacionais sobre as operações da Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos EUA e por Israel, argumentando que seu modelo "quebra normas bem estabelecidas que regem a distribuição de ajuda humanitária desde a ratificação das convenções de Genebra em 1949", ao confundir os limites entre a entrega de ajuda e as operações de segurança militar.

“De acordo com relatos e testemunhas oculares, civis foram alvejados por tanques, drones e helicópteros, bem como soldados em terra, enquanto tentavam obter alimentos e suprimentos humanitários”, escreveram os senadores.

O governo Trump autorizou uma doação de US$ 30 milhões à Fundação Humanitária de Gaza no final de junho, com US$ 7 milhões já desembolsados, segundo documentos vistos pelo Guardian. A organização, que conta com o apoio de interesses israelenses e americanos, recebeu acesso preferencial para operar em Gaza por meio da coordenação com o exército israelense e empresas privadas de segurança dos EUA.

No entanto, a implementação do novo plano foi marcada por morte e destruição desde o início. Jake Wood, diretor executivo fundador e ex-fuzileiro naval dos EUA, renunciou em 25 de maio, afirmando: "Não é possível implementar este plano respeitando rigorosamente os princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência, dos quais não abrirei mão."

O Boston Consulting Group, empresa americana responsável por parte da logística da fundação, também se retirou logo depois.

Desde o lançamento em maio, os quatro locais de distribuição da fundação se tornaram campos de extermínio. Autoridades de direitos humanos da ONU relatam que 766 pessoas morreram tentando chegar aos locais específicos do GHF, com quase 5.000 feridas no caos. Mais de 1.000 pessoas morreram tentando chegar aos locais de distribuição de alimentos em geral, segundo dados da ONU, e acredita-se que 100 morreram de fome.

Os senadores também destacaram preocupações com os prestadores de serviços de segurança americanos envolvidos na operação. A Safe Reach Solutions e a UG Solutions teriam sido contratadas para fornecer segurança em locais de distribuição, com a Associated Press relatando: "Empreiteiros americanos que guardam locais de distribuição de ajuda em Gaza estão usando munição real e granadas de efeito moral enquanto palestinos famintos lutam por comida."

De acordo com a reportagem da AP citada, “balas, granadas de efeito moral e spray de pimenta foram usados em quase todas as distribuições, mesmo que não houvesse ameaça”, apesar de muitos contratados não terem experiência em combate ou treinamento adequado com armas.

A UG Solutions, uma das contratadas sediadas na Carolina do Norte, teria contratado recentemente a empresa de comunicação de crise Seven Letter, cuja liderança inclui ex-porta-vozes dos governos Biden e Obama, trazendo a ex-porta-voz do Pentágono Sabrina Singh em junho, de acordo com um comunicado à imprensa em um site que agora foi retirado do ar.

Anthony Aguilar, veterano do Exército dos EUA e ex-contratado da fundação, disse à BBC News no fim de semana que testemunhou forças israelenses "atirando contra multidões de palestinos" e disparando "um tiro de canhão principal do tanque Merkava contra uma multidão de pessoas". Ele descreveu a operação como "amadora" e disse que "nunca havia testemunhado o nível de brutalidade e o uso de força indiscriminada e desnecessária contra uma população civil".

Os senadores criticaram o governo Trump por isentar a fundação dos procedimentos padrão de supervisão, incluindo auditorias abrangentes normalmente exigidas para beneficiários de subsídios da USAID pela primeira vez . Observaram que funcionários da USAID levantaram "preocupações críticas" sobre a proposta, citando "riscos operacionais e de reputação, além da falta de supervisão".

A fundação afirmou ter distribuído mais de 95 milhões de refeições a civis em Gaza e nega que tenha ocorrido violência em seus locais, atribuindo os relatos à desinformação do Hamas.

Durante uma visita presidencial à Escócia, Trump alegou no domingo que o Hamas estava roubando ajuda alimentar enviada a Gaza, repetindo uma alegação semelhante do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que está sendo usada para justificar restrições às entregas humanitárias, apesar das próprias autoridades militares de Israel admitirem não ter nenhuma evidência para comprová-la.

Nas últimas semanas, a organização tem se tornado cada vez mais agressiva em suas respostas nas redes sociais, com postagens afirmando que a ONU "não consegue levar sua ajuda aos palestinos com sucesso" e que "eles simplesmente pararam de tentar". O presidente executivo da fundação, Rev. Johnnie Moore, também se manifestou, publicando um artigo de opinião no Wall Street Journal propondo assumir a entrega de toda a ajuda da ONU ociosa em Gaza. Moore escreveu que havia centenas de caminhões da ONU carregados com alimentos em Gaza e se ofereceu para "entregar toda essa ajuda gratuitamente, em nome da ONU".

No entanto, os senadores argumentam que o modelo da fundação, com apenas quatro locais de distribuição militarizados, não pode substituir a rede liderada pela ONU que anteriormente operou mais de 400 pontos de distribuição de ajuda durante cessar-fogo temporários.

A carta também chega ao mesmo tempo em que dois importantes grupos israelenses de direitos humanos, B'Tselem e Physicians for Human Rights – Israel, declararam na segunda-feira que Israel está cometendo genocídio contra palestinos em Gaza. Sua avaliação, citando "ação coordenada para destruir intencionalmente a sociedade palestina", marca a primeira vez que grandes organizações israelenses de direitos humanos chegam publicamente a essa conclusão.

Os senadores deram ao Secretário Rubio duas semanas para responder a uma série de perguntas detalhadas sobre baixas civis, mecanismos de financiamento, operações de contratados e conformidade com princípios humanitários.

“Não deveria haver dinheiro dos contribuintes americanos contribuindo para esse esquema”, escreveram os senadores.

Também na segunda-feira, o senador independente Angus King, do Maine, disse que se oporia ao fornecimento de apoio adicional dos EUA a Israel até que o país resolva a crise humanitária, dizendo que a conduta de Israel foi "uma afronta à decência humana".

King, que participa do caucus com os democratas , disse em uma declaração: “Cansei de apoiar as ações do atual governo israelense e defenderei – e votarei – pelo fim de qualquer apoio dos Estados Unidos até que haja uma mudança demonstrável na direção da política israelense.

“Meu teste decisivo será simples: nenhuma ajuda de qualquer tipo enquanto houver crianças famintas em Gaza devido à ação ou inação do governo israelense.”

 

Fonte: BBC News/The Guardian

 

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