Medida
de Israel que permite ajuda é aceno para aliados horrorizados com fome em Gaza
Israel respondeu
à condenação internacional contínua e
crescente de que é responsável pela fome em Gaza anunciando
uma série de medidas que, segundo as
Forças de Defesa de Israel (FDI), "melhorariam a resposta
humanitária".
O país
está permitindo o lançamento de ajuda humanitária por via aérea —
realizou o primeiro lançamento durante a noite
de sábado (26/07), e permitiu que a Força Aérea dos Emirados Árabes Unidos
realizasse outro no domingo.
As FDI
também anunciaram que permitiriam uma "pausa tática na atividade
militar" em algumas áreas, e estabeleceriam "corredores humanitários
designados... para refutar a falsa alegação intencional de fome".
O Hamas condenou as
medidas como uma "enganação". Israel, segundo o grupo, estava
"maquiando sua imagem perante o mundo".
Mais
tarde, Israel realizou um ataque aéreo durante a "pausa tática".
Relatos a partir do local dizem que uma mulher chamada Wafaa Harara e seus
quatro filhos, Sara, Areej, Judy e Iyad, foram mortos.
Embora
Israel continue a insistir que não é responsável pela catástrofe humanitária em
Gaza e que não impõe restrições à entrada de ajuda em Gaza, essas alegações não
são aceitas por seus aliados próximos na Europa, nem pelas Nações Unidas e
outras agências que atuam em Gaza.
As
novas medidas podem ser uma admissão tácita dos israelenses de que precisam
fazer mais.
É mais
provável que sejam um aceno para os aliados que emitiram declarações fortes
culpando Israel pela fome em Gaza.
A mais
recente, divulgada na última sexta-feira (25/07), pelo Reino Unido, França e
Alemanha, foi contundente.
"Pedimos
ao governo israelense que suspenda imediatamente as restrições ao fluxo de
ajuda e permita urgentemente que a ONU e as ONGs humanitárias realizem seu
trabalho para combater a fome. Israel precisa cumprir suas obrigações de acordo
com o direito humanitário internacional."
Israel
impôs um bloqueio total de toda ajuda a Gaza, com restrições à aprovação do
conteúdo e à movimentação de comboios com suprimentos. Com os americanos, o
país estabeleceu um novo sistema de distribuição de ajuda por meio da
chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF),
destinada a substituir a rede de ajuda administrada pelas Nações Unidas.
Israel
alega que o Hamas roubou ajuda humanitária do sistema da ONU. A ONU diz que
ainda está esperando que os israelenses apresentem evidências que comprovem a
alegação.
A ONU e
outras agências humanitárias não vão cooperar com o sistema da GHF, que,
segundo elas, é desumano e militarizado. Mais de mil palestinos foram mortos a tiros em
busca de alimentos desde
o início da operação da GHF, de acordo com a ONU.
Um
coronel aposentado das forças especiais dos EUA que trabalhou para a GHF em
Gaza disse à BBC que viu colegas americanos e soldados das FDI abrindo fogo
contra civis. Ambos negam que tenham mirado em civis.
Jonathan
Whittall, chefe do escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos
Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) nos Territórios Palestinos Ocupados, já
condenou os métodos usados pela GHF.
Israel
disse a ele que seu visto não seria renovado depois que ele publicou nas redes
sociais, há um mês, que o sistema da GHF havia levado Gaza a "condições
criadas para matar... o que estamos vendo é uma carnificina. É a fome como
arma. É o desalojamento forçado. É uma sentença de morte para pessoas que estão
apenas tentando sobreviver. Parece ser a eliminação da vida palestina".
Depois
que Israel anunciou as novas medidas, Whittall disse à BBC que "a situação
humanitária em Gaza nunca foi tão ruim".
Ele
afirmou que, para que as novas medidas de Israel mudem a situação para melhor,
seria preciso reduzir o tempo que leva para permitir que os caminhões transitem
pelas passagens para Gaza e melhorar as rotas fornecidas pelas FDI para os
comboios usarem.
Israel
também precisaria fornecer "garantias significativas de que as pessoas que
se reúnem para retirar alimentos da carroceria dos caminhões não serão baleadas
pelas forças israelenses".
Whittall
tem entrado e saído de Gaza desde o início da guerra, mas isso agora está
prestes a acabar, a menos que Israel decida não retirar seu visto. Ele afirma
que, à medida que as operações militares das FDI continuam, "permanece um
desrespeito abominável pelo direito humanitário".
O
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro
da Defesa Yoav Gallant já são alvos de mandados de prisão emitidos pelo
Tribunal Penal Internacional (TPI) no ano passado, acusados de responsabilidade
criminal conjunta pelo "crime de guerra de fome como método de combate; e
os crimes contra a humanidade de assassinato, perseguição e outros atos desumanos".
Netanyahu, Gallant e o Estado israelense negam as acusações.
Israel
divulgou imagens de vídeo granuladas de um avião de carga lançando pacotes de
ajuda humanitária em Gaza. Uma fila de paraquedas era lançada da parte traseira
da aeronave em meio à escuridão da noite. As FDI disseram que entregaram sete
pacotes contendo farinha, açúcar e alimentos enlatados.
Em
outras guerras, vi ajuda humanitária sendo lançada, tanto dos próprios aviões
quanto de perto no solo, ao aterrissar.
O
lançamento aéreo de ajuda é um ato de desespero. Também pode ficar bonito na
televisão e espalhar a sensação de que algo, finalmente, está sendo feito.
É um
processo rudimentar que, por si só, não vai fazer muito para acabar com a fome
em Gaza. Somente um cessar-fogo e uma operação de ajuda irrestrita e de longo
prazo podem fazer isso. Mesmo os grandes aviões de carga não transportam tanta
carga quanto um pequeno comboio de caminhões.
No
Curdistão iraquiano, após a Guerra do Golfo de 1991, os EUA, o Reino Unido e
outros países lançaram ajuda humanitária de aviões de carga C-130,
principalmente rações militares, sacos de dormir e uniformes de inverno extras
para dezenas de milhares de pessoas que tentavam sobreviver ao ar livre, na
lama e na neve, no alto das montanhas na fronteira do Iraque com a Turquia.
Voei
com eles e observei os aviadores britânicos e americanos lançando ajuda das
rampas de carga traseiras das aeronaves a milhares de metros acima das pessoas
que precisavam dela.
Era
muito bem-vinda. Mas, alguns dias depois, quando consegui chegar aos
acampamentos improvisados nas montanhas, vi rapazes correndo para campos
minados para pegar a ajuda que havia caído lá. Alguns foram mortos e mutilados
em explosões. Vi famílias serem mortas quando pacotes pesados caíram sobre suas
tendas.
Quando
Mostar foi sitiada durante a guerra na Bósnia em 1993, vi pacotes de
"refeições prontas para comer" do Exército americano, lançadas de
grandes altitudes, espalhadas por toda zona leste da cidade, que estava sendo
constantemente bombardeada. Alguns pacotes de ajuda atravessaram telhados que,
de alguma forma, não haviam sido destruídos por ataques de artilharia.
Os
profissionais envolvidos em operações de socorro consideram o lançamento aéreo
de ajuda humanitária como um último recurso. Eles o utilizam quando qualquer
outro acesso é impossível. Esse não é o caso em Gaza. A uma curta distância de
carro ao norte está Ashdod, o moderno porto de contêineres de Israel. A algumas
horas a mais, está a fronteira com a Jordânia, que tem sido usada regularmente
como uma rota de abastecimento para Gaza.
Gaza
era um dos lugares mais densamente povoados do mundo antes da guerra, quando a
população de mais de dois milhões de palestinos tinha acesso a toda a faixa. Em
termos britânicos, a Faixa de Gaza é um pouco menor do que a Ilha de Wight. Em
comparação com cidades americanas, é mais ou menos do tamanho da Filadélfia ou
de Detroit.
Agora,
Israel forçou a maior parte da população de Gaza a se concentrar em uma pequena
área na costa sul, que corresponde a cerca de 17% do território de Gaza. A
maioria vive em barracas lotadas aglomeradas. Não está claro se há sequer um
espaço aberto para que as aeronaves possam mirar.
Os
pacotes de ajuda lançados de paraquedas muitas vezes aterrissam longe das
pessoas que precisam deles.
Cada
pacote será disputado por homens desesperados que tentam conseguir comida para
suas famílias e por indivíduos criminosos que querem vendê-la para obter lucro.
¨
Israel está cometendo genocídio em Gaza, dizem grupos de
direitos humanos sediados em Israel
Duas
importantes organizações de direitos humanos sediadas em Israel , a B'Tselem e a Physicians for Human Rights, dizem
que Israel está cometendo genocídio contra os palestinos em Gaza e que os
aliados ocidentais do país têm o dever legal e moral de impedir isso.
Em
relatórios publicados na segunda-feira, os dois grupos disseram que Israel
havia atacado civis em Gaza apenas por causa de sua identidade como palestinos
ao longo de quase dois anos de guerra, causando danos graves e, em alguns
casos, irreparáveis à sociedade palestina.
Vários
grupos internacionais e palestinos já descreveram a guerra como genocida , mas
relatórios de duas das organizações de direitos humanos mais respeitadas de
Israel e Palestina, que há décadas documentam abusos sistêmicos, provavelmente
aumentarão a pressão por ação.
Os
relatórios detalham crimes, incluindo a morte de dezenas de milhares de
mulheres, crianças e idosos, deslocamento forçado em massa e fome, e a
destruição de casas e infraestrutura civil que privaram os palestinos de
assistência médica, educação e outros direitos básicos.
“O que
vemos é um ataque claro e intencional contra civis com o objetivo de destruir
um grupo”, disse Yuli Novak, diretora da B'Tselem, pedindo ação urgente. “Acho
que todo ser humano precisa se perguntar: o que fazer diante de um genocídio?”
É vital
reconhecer que um genocídio está em andamento mesmo sem uma decisão do caso perante o Tribunal
Internacional de Justiça , disse ela. "Genocídio não é apenas um crime
legal. É um fenômeno social e político."
Médicos
pelos Direitos Humanos (PHR) concentra-se em seu relatório em um relato
cronológico detalhado do ataque ao sistema de saúde de Gaza, com muitos
detalhes documentados diretamente pela própria equipe do grupo, que trabalhou
regularmente em Gaza antes de 7 de outubro de 2023.
A
destruição do sistema de saúde por si só torna a guerra genocida, segundo o
artigo 2c da convenção sobre genocídio, que proíbe impor deliberadamente
condições de vida calculadas para destruir um grupo "no todo ou em
parte", disse seu diretor, Guy Shalev.
“Não é
necessário que todos os cinco artigos da convenção sobre genocídio sejam
cumpridos para que algo seja considerado genocídio”, disse ele, embora o
relatório também detalhe outros aspectos genocidas da guerra de Israel.
Tanto a
B'Tselem quanto a PHR afirmaram que os aliados ocidentais de Israel estavam
viabilizando a campanha genocida e compartilhavam a responsabilidade pelo
sofrimento em Gaza. "Isso não poderia acontecer sem o apoio do mundo
ocidental", disse Novak. "Qualquer líder que não esteja fazendo o
possível para impedir isso é parte desse horror."
Os EUA
e os países europeus têm a responsabilidade legal de tomar medidas mais
enérgicas do que as que adotaram até agora, disse Shalev. "Todas as
ferramentas disponíveis devem ser utilizadas. Não é isso que pensamos, é isso
que a Convenção sobre Genocídio exige."
Israel
nega estar cometendo um genocídio e afirma que a guerra em Gaza é uma questão
de autodefesa, após ataques transfronteiriços do Hamas em 7 de outubro de 2023,
que mataram 1.200 pessoas, a maioria civis. Mais de 250 pessoas foram
sequestradas e levadas para Gaza, onde 50 permanecem reféns, e acredita-se que
20 delas ainda estejam vivas.
Na
segunda-feira, um porta-voz do governo israelense classificou a alegação feita
pelos grupos de direitos humanos como "infundada". "Não há
intenção, [o que é] fundamental para a acusação de genocídio... Simplesmente
não faz sentido um país enviar 1,9 milhão de toneladas de ajuda, a maior parte
sendo alimentos, se houver intenção de genocídio", disse o porta-voz David
Mencer.
Um
elemento-chave para o crime de genocídio, conforme definido pela convenção
internacional, é demonstrar a intenção de um Estado de destruir um grupo alvo,
no todo ou em parte.
Declarações
genocidas de políticos e líderes militares e uma cronologia de impactos bem
documentados sobre civis após quase dois anos de guerra são prova dessa
intenção, mesmo sem um rastro de ordens vindas de cima, dizem tanto a PHR
quanto a B'Tselem.
O
relatório do PHR detalha como “a intenção genocida pode ser inferida a partir
do padrão de conduta”, citando precedentes legais do tribunal penal
internacional para Ruanda.
A
extensa documentação, por médicos, mídia e organizações de direitos humanos, ao
longo de um longo período, impediu que o governo israelense alegasse não
compreender o impacto de suas ações, disse Shalev. "Houve momentos e
oportunidades suficientes para Israel interromper esse ataque gradual e
sistemático."
Incitação
ao genocídio tem sido registrada desde o início da guerra. É uma das duas
questões em que o juiz israelense que julga o caso no Tribunal Internacional de
Justiça votou com a maioria ao ordenar medidas de emergência para a proteção
dos palestinos contra o risco plausível de genocídio.
“Não
precisamos adivinhar o que Israel está fazendo e o que o exército israelense
está fazendo, porque desde o primeiro dia deste ataque, os líderes israelenses,
a mais alta liderança, a liderança política, incluindo o primeiro-ministro, o
ministro da defesa, o presidente de Israel disseram exatamente isso”, disse
Novak.
"Eles
falaram sobre animais humanos. Falaram sobre o fato de não haver civis em Gaza
ou de que há uma nação inteira responsável pelo 7 de Outubro."
“Se a
liderança de Israel, seja a liderança do exército ou a liderança política, sabe
das consequências desta política e continua, fica muito claro que isso é
intencional.”
A
destruição da infraestrutura de saúde, dois anos sem assistência médica e a
morte de profissionais de saúde também significaram que o número de vítimas do
genocídio continuaria a aumentar mesmo depois que qualquer cessar-fogo
interrompesse os combates, disse Shalev.
Por
exemplo, já faz meses que não há aparelhos de ressonância magnética em Gaza,
então o que dizer de todas as doenças e enfermidades que não foram
diagnosticadas durante todo esse tempo? Há toda a desnutrição e doenças
crônicas que não foram tratadas; veremos os efeitos disso por meses e anos.
Embora
os medicamentos possam ser entregues em poucos dias, não há uma maneira fácil
de substituir os profissionais de saúde que foram mortos, incluindo
especialistas que levaram décadas para serem treinados, disse ele.
“Observar
as condições de vida abre esse tipo de escala temporal que é assustadora se
quisermos acreditar em um futuro onde... o povo de Gaza, de alguma forma,
consiga viver suas vidas com segurança e saúde. É muito difícil imaginar isso.”
O
número de mortos em Gaza devido à guerra está se aproximando de 60.000, ou mais
de 2,5% da população pré-guerra. Alguns dos que defendem a guerra de Israel
argumentam que esse número é muito baixo para que a
campanha seja considerada genocídio.
Isso se
baseia em um mal-entendido fundamental sobre o crime de genocídio, que a
convenção define como atacar um grupo "no todo ou em parte", disse
Novak. "Isso não significa que seja necessário matar todas as
pessoas."
Um
genocídio contra palestinos como grupo só foi possível porque Israel, durante
décadas, desumanizou os palestinos e negou seus direitos, disse Novak. O trauma
coletivo foi explorado por políticos de extrema direita para acelerar uma
agenda que vinham perseguindo há anos.
“[7 de
outubro] foi um momento chocante e um ponto de virada para os israelenses,
porque incutiu um sentimento real e sincero de ameaça existencial. Foi o
momento que impulsionou todo um sistema e a forma como ele opera em Gaza de uma
política de controle e opressão para uma de destruição e extermínio.”
Agora
que Israel lançou uma campanha genocida em Gaza, havia um risco urgente de que
ela pudesse se espalhar e atingir outros palestinos, alertou o relatório do
B'Tselem.
“O
regime israelense agora tem uma nova ferramenta que não usava antes: o
genocídio. E o fato de essa ferramenta ou essa política usada em Gaza ainda não
ser [implementada] em outras áreas não é algo com que possamos contar por muito
tempo”, disse Novak.
A
Cisjordânia é uma preocupação particular, com quase 1.000 palestinos mortos e
mais de 40.000 deslocados de comunidades como Jenin e Tulkarem, em uma campanha
de ataques crescentes e limpeza étnica desde 7 de outubro de 2023.
"O
que vemos é basicamente o mesmo regime com a mesma lógica, o mesmo exército,
geralmente os mesmos comandantes e até os mesmos soldados que acabaram de lutar
em Gaza. Eles estão agora na Cisjordânia, onde a violência está
aumentando", disse Novak.
“O que
nos preocupa e queremos alertar é o fato de que qualquer pequeno gatilho pode
fazer com que o genocídio se espalhe de Gaza para a Cisjordânia.”
¨
Democratas exigem que Trump corte financiamento para
controversa organização de ajuda a Gaza
Vinte e
um senadores democratas estão exigindo que Donald Trump corte imediatamente o financiamento
para uma controversa organização de ajuda humanitária a Gaza que, segundo eles,
resultou na morte de mais de 700 civis que buscavam comida e violou décadas de
direito humanitário.
A carta , liderada
pelos senadores Chris Van Hollen de Maryland e Peter Welch de Vermont, surge
num momento em que aumentam as críticas internacionais sobre as operações da
Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos EUA e por Israel, argumentando que
seu modelo "quebra normas bem estabelecidas que regem a distribuição de
ajuda humanitária desde a ratificação das convenções de Genebra em 1949",
ao confundir os limites entre a entrega de ajuda e as operações de segurança
militar.
“De
acordo com relatos e testemunhas oculares, civis foram alvejados por tanques,
drones e helicópteros, bem como soldados em terra, enquanto tentavam obter
alimentos e suprimentos humanitários”, escreveram os senadores.
O
governo Trump autorizou uma doação de US$ 30 milhões à Fundação Humanitária de
Gaza no final de junho, com US$ 7 milhões já desembolsados, segundo documentos vistos pelo Guardian.
A organização, que conta com o apoio de interesses israelenses e americanos,
recebeu acesso preferencial para operar em Gaza por meio da coordenação com o
exército israelense e empresas privadas de segurança dos EUA.
No
entanto, a implementação do novo plano foi marcada por morte e destruição desde
o início. Jake Wood, diretor executivo fundador e ex-fuzileiro naval dos
EUA, renunciou em 25 de maio,
afirmando: "Não é possível implementar este plano respeitando
rigorosamente os princípios humanitários de humanidade, neutralidade,
imparcialidade e independência, dos quais não abrirei mão."
O
Boston Consulting Group, empresa americana responsável por parte da logística
da fundação, também se retirou logo depois.
Desde o
lançamento em maio, os quatro locais de distribuição da fundação se tornaram
campos de extermínio. Autoridades de direitos humanos da ONU relatam que 766 pessoas morreram
tentando chegar aos locais específicos do GHF, com quase 5.000 feridas no caos.
Mais de 1.000 pessoas morreram tentando chegar
aos locais de distribuição de alimentos em geral, segundo dados da ONU, e acredita-se que 100 morreram de fome.
Os
senadores também destacaram preocupações com os prestadores de serviços de
segurança americanos envolvidos na operação. A Safe Reach Solutions e a UG
Solutions teriam sido contratadas para fornecer segurança em locais de
distribuição, com a Associated Press relatando: "Empreiteiros americanos
que guardam locais de distribuição de ajuda em Gaza estão usando munição real e granadas de efeito
moral enquanto palestinos famintos lutam por comida."
De
acordo com a reportagem da AP citada, “balas,
granadas de efeito moral e spray de pimenta foram usados em quase todas as
distribuições, mesmo que não houvesse ameaça”, apesar de muitos contratados não
terem experiência em combate ou treinamento adequado com armas.
A UG
Solutions, uma das contratadas sediadas na Carolina do Norte, teria contratado
recentemente a empresa de comunicação de crise Seven Letter, cuja liderança
inclui ex-porta-vozes dos governos Biden e Obama, trazendo a ex-porta-voz do
Pentágono Sabrina Singh em junho, de acordo com um comunicado à imprensa em um site que
agora foi retirado do ar.
Anthony
Aguilar, veterano do Exército dos EUA e ex-contratado da fundação, disse à BBC News no fim de
semana que testemunhou forças israelenses "atirando contra multidões de
palestinos" e disparando "um tiro de canhão principal do tanque
Merkava contra uma multidão de pessoas". Ele descreveu a operação como
"amadora" e disse que "nunca havia testemunhado o nível de
brutalidade e o uso de força indiscriminada e desnecessária contra uma
população civil".
Os senadores criticaram o governo
Trump por isentar a fundação dos procedimentos padrão de supervisão, incluindo
auditorias abrangentes normalmente exigidas para beneficiários de subsídios da
USAID pela
primeira vez . Observaram que funcionários da USAID levantaram
"preocupações críticas" sobre a proposta, citando "riscos
operacionais e de reputação, além da falta de supervisão".
A
fundação afirmou ter distribuído mais de 95 milhões de refeições a civis em Gaza
e nega que tenha ocorrido violência em seus locais, atribuindo os relatos à
desinformação do Hamas.
Durante
uma visita presidencial à Escócia, Trump alegou no domingo que o Hamas estava
roubando ajuda alimentar enviada a Gaza, repetindo uma alegação semelhante do
primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que está sendo usada para
justificar restrições às entregas humanitárias, apesar das próprias autoridades militares de Israel
admitirem não ter nenhuma evidência para comprová-la.
Nas
últimas semanas, a organização tem se tornado cada vez mais agressiva em suas
respostas nas redes sociais, com postagens afirmando que a ONU "não
consegue levar sua ajuda aos palestinos com sucesso" e que "eles
simplesmente pararam de tentar". O presidente executivo da fundação, Rev.
Johnnie Moore, também se manifestou, publicando um artigo de opinião no Wall Street
Journal propondo
assumir a entrega de toda a ajuda da ONU ociosa em Gaza. Moore escreveu que
havia centenas de caminhões da ONU carregados com alimentos em Gaza e se
ofereceu para "entregar toda essa ajuda gratuitamente, em nome da
ONU".
No
entanto, os senadores argumentam que o modelo da fundação, com apenas quatro
locais de distribuição militarizados, não pode substituir a rede liderada pela
ONU que anteriormente operou mais de 400 pontos de distribuição de ajuda
durante cessar-fogo temporários.
A carta
também chega ao mesmo tempo em que dois importantes grupos israelenses de
direitos humanos, B'Tselem e Physicians for Human Rights – Israel, declararam na segunda-feira que Israel está
cometendo genocídio contra palestinos em Gaza. Sua avaliação, citando
"ação coordenada para destruir intencionalmente a sociedade
palestina", marca a primeira vez que grandes organizações israelenses de
direitos humanos chegam publicamente a essa conclusão.
Os
senadores deram ao Secretário Rubio duas semanas para responder a uma série de
perguntas detalhadas sobre baixas civis, mecanismos de financiamento, operações
de contratados e conformidade com princípios humanitários.
“Não
deveria haver dinheiro dos contribuintes americanos contribuindo para esse
esquema”, escreveram os senadores.
Também
na segunda-feira, o senador independente Angus King, do Maine, disse que se
oporia ao fornecimento de apoio adicional dos EUA a Israel até que o país
resolva a crise humanitária, dizendo que a conduta de Israel foi "uma
afronta à decência humana".
King,
que participa do caucus com os democratas , disse em uma declaração: “Cansei de
apoiar as ações do atual governo israelense e defenderei – e votarei – pelo fim
de qualquer apoio dos Estados Unidos até que haja uma mudança demonstrável na
direção da política israelense.
“Meu
teste decisivo será simples: nenhuma ajuda de qualquer tipo enquanto houver
crianças famintas em Gaza devido à ação ou inação do governo israelense.”
Fonte:
BBC News/The Guardian

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