Reinaldo
José Aragon Gonçalves: Alcolumbre e Motta não nos representam
Há um
golpe em curso no Brasil — e ele não se dá por tanques nas ruas, mas por
acordos nos bastidores, notas frias, e omissões calculadas. Ele não veste
farda, mas terno. Não usa fuzil, mas assinatura digital. O nome desse golpe é
entreguismo institucional e seus rostos mais visíveis neste momento são Hugo
Motta e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal. O que vimos após os ataques do ex-presidente norte-americano Donald
Trump ao Brasil — com uma tarifa de 50% contra produtos brasileiros e insultos
diretos ao Supremo Tribunal Federal — não foi apenas uma covardia retórica, mas
a confirmação de que parte significativa da cúpula do Legislativo está
comprometida com um projeto de sabotagem nacional.
A nota
conjunta publicada por Motta e Alcolumbre, quase 24 horas depois da agressão de
Trump, não mencionou uma única vez os ataques diretos ao STF, nem tampouco a
violação explícita da soberania brasileira. A referência genérica a
"diálogo" e "respeito" revelou-se mais um gesto de
pacificação diplomática com o agressor do que um ato de defesa do país. E isso
não é um acaso: é uma escolha política. O silêncio calculado diante do ataque a
Alexandre de Moraes — ministro do STF que lidera a tentativa de regulação das
plataformas digitais — tem uma função muito clara: proteger os interesses da
extrema-direita digital, das big techs transnacionais e dos grupos empresariais
que se articulam para desestabilizar o governo Lula e inviabilizar qualquer
projeto de soberania popular. Não é a primeira vez que se tenta operar no
Brasil um golpe por dentro. Diferente de 1964 ou mesmo de 2016, o golpe
contemporâneo é híbrido, psicológico, judicial, econômico e informacional. E
seus agentes principais não estão apenas nos porões do Estado, mas em suas
presidências: o Congresso Nacional hoje é liderado por homens que atuam em
consonância com os interesses de Washington, Wall Street e Vale do Silício.
Motta e Alcolumbre não apenas não representam o povo brasileiro, como representam
seus algozes: são correias de transmissão dos interesses que hoje financiam e
articulam ataques à institucionalidade brasileira com o objetivo de frear o
protagonismo do Brasil no Sul Global, esvaziar o papel do STF como ator
regulador do ecossistema digital, e construir um ambiente político propício à
volta de um outsider reacionário ao Planalto em 2026.
É
preciso dizer sem hesitação: Alcolumbre e Motta não são líderes institucionais
moderados. São operadores centrais de um projeto golpista travestido de
normalidade. E a prova disso está justamente em sua postura diante da crise
mais grave da diplomacia brasileira desde a redemocratização. Ao não defenderem
o STF, ao não nomearem o agressor, ao se omitirem diante de uma tentativa de
desestabilização do país por parte de um agente externo ultradireitista como
Trump, eles se colocam como parte ativa da engrenagem internacional que tenta,
a todo custo, impedir o avanço de um projeto democrático, popular, progressista
e soberano no Brasil.Não há mais espaço para ilusões. O Brasil vive hoje um
novo capítulo de sua guerra de independência — e seus inimigos estão
infiltrados no centro da institucionalidade.
·
A nota covarde: sintoma do projeto de rendição.
A nota
divulgada por Hugo Motta e Davi Alcolumbre no dia 10 de julho de 2025 é um
documento que ficará para a história — não como gesto de defesa da pátria, mas
como símbolo da capitulação consciente da cúpula do Legislativo aos interesses
antinacionais. Publicada com quase 24 horas de atraso, após uma das mais graves
agressões externas ao Brasil nos últimos anos, o texto conjuga uma retórica
vazia com uma estratégia sofisticada de apagamento do conflito real. Fala em
“reação firme e equilibrada” e em “respeito às normas internacionais de
comércio”, mas não menciona Donald Trump, não menciona o STF, não menciona os
ataques diretos às instituições brasileiras. É uma nota escrita para não dizer
nada — e, justamente por isso, diz tudo. O silêncio não foi um descuido. Foi
uma escolha deliberada. Uma omissão calculada. Alcolumbre e Motta optaram por
não mencionar a escalada golpista que vinha sendo construída por Trump desde
sua volta ao centro da cena política global — uma escalada que encontrou eco
imediato na extrema-direita brasileira e nos setores mais reacionários do
Congresso. Ao ignorarem a tentativa de desmoralizar publicamente o Supremo
Tribunal Federal, a criminalização simbólica de Alexandre de Moraes e o ataque
frontal ao marco civilizatório do Estado de Direito, eles passaram recibo de
que não pretendem fazer frente a esse movimento. Ao contrário, estão alinhados
a ele. A nota não defende a soberania nacional. Ela defende o “diálogo
comercial”, como se estivéssemos diante de um impasse técnico, não de uma
agressão política. E não se trata apenas de linguagem. Trata-se de um gesto
ideológico. O vocabulário frio, diplomático e tecnocrático escolhido pela
presidência da Câmara e do Senado serve para mascarar um projeto: o de renda
institucional ao capital internacional e às big techs, disfarçada de equilíbrio
institucional.
A
comparação com a reação do Executivo é ilustrativa. O presidente Lula foi
direto: chamou o ataque de “arbitrário”, evocou o princípio da reciprocidade e
defendeu a soberania econômica e política do Brasil. Já Motta e Alcolumbre se
esconderam atrás de palavras ocas, evitando qualquer confronto com os
interesses que, de fato, representam: os das plataformas, das finanças globais
e dos grupos transnacionais que veem no Brasil um território a ser explorado e
nunca um país a ser respeitado.
Mais do
que tímida, a nota é cúmplice. Ela não confronta o trumpismo, porque o
Congresso Nacional atual foi moldado por ele. A eleição de 2022 consagrou um
Parlamento repleto de “outsiders digitais”, financiados por estruturas de
desinformação e campanhas nas redes — e é justamente esse ecossistema que o
STF, sob a liderança de Moraes, começou a enfrentar com mais firmeza. O que
está em jogo, portanto, não é apenas uma questão diplomática, mas o próprio
modelo de poder que sustenta a maioria legislativa hoje instalada no país.
Motta e Alcolumbre sabem disso — e é por isso que agem como gestores do
silêncio, operadores da rendição, cúmplices da sabotagem.A covardia dessa nota,
no fundo, é apenas a ponta visível de um iceberg muito maior: o projeto de
sabotagem interna ao Estado brasileiro. Um projeto que não se impõe por tanques
ou baionetas, mas por acordos em gabinetes, por omissões públicas e por
documentos covardes.
·
Quem são eles? Porta-vozes do capital e da
extrema-direita digital.
Hugo
Motta e Davi Alcolumbre não são meros ocupantes de cargos institucionais. Na
prática, representam, com fidelidade, um bloco de poder que articula mercado
financeiro, big techs, extrema-direita internacional e interesses estratégicos
dos Estados Unidos no interior do Congresso Nacional. Não são neutros, nem
tampouco “moderados”. São operadores de um projeto claro: impedir o avanço da
soberania informacional e popular no Brasil, travar o governo Lula e preparar o
terreno para o retorno de uma liderança bolsonarista ou outsider em 2026. A
nota conjunta que divulgaram em resposta aos ataques de Trump é apenas a face
visível dessa engrenagem: fria, tecnocrática, calculadamente omissa — um gesto
político de rendição que escancara suas verdadeiras lealdades. Alcolumbre e
Motta orbitam diretamente duas das frentes parlamentares mais sensíveis aos
interesses das plataformas digitais e do capital internacional. A primeira é a
Frente Parlamentar Mista da Economia e Cidadania Digital, presidida por
Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), composta por deputados do PL, União
Brasil e Republicanos, com vínculos diretos com empresas como Google, Meta,
Amazon, Uber, iFood e Mercado Livre. Essa frente atua sistematicamente contra
qualquer iniciativa de regulação das plataformas digitais e foi protagonista na
articulação que sabotou o PL 2630 — o chamado "PL das Fake News". O
próprio De Andrada chegou a afirmar no plenário da Câmara que a tentativa de
regulação brasileira se aproximava do “modelo chinês de censura”, reproduzindo
o discurso da extrema-direita digital com verniz liberal.
A
segunda é a Frente Parlamentar de Cibersegurança (FrenCyber), liderada por
nomes como Esperidião Amin (PP‑SC), Hamilton Mourão (Republicanos-RS), Izalci
Lucas (PSDB-DF) e Damares Alves (Republicanos-DF). Essa frente se apresenta
como técnica, mas, na prática, atua para blindar juridicamente as plataformas,
impedir avanços regulatórios e defender uma lógica de autorregulação digital
subordinada aos interesses do Vale do Silício. As conexões da FrenCyber com
entidades como Fiesp, Febraban e associações empresariais de tecnologia
demonstram que se trata de um braço direto do lobby corporativo travestido de
debate técnico. É nesse ambiente político que Hugo Motta e Davi Alcolumbre
constroem sua atuação. Ambos dependem dessas bancadas para sustentar sua
influência e articulação interna no Congresso. Nenhum dos dois moveu um
milímetro em favor da responsabilização das plataformas pelos conteúdos
violentos e golpistas propagados nas eleições e na tentativa de golpe de 8 de
janeiro. Ao contrário: permaneceram em absoluto silêncio diante das provas
apresentadas pelo STF e pela Polícia Federal. O motivo é simples: sabem que o
ecossistema digital de impunidade é o que garante a permanência de boa parte da
base bolsonarista e conservadora no Parlamento. Não mexem nisso porque disso
dependem — e é isso que os torna parte central do plano de sabotagem
institucional.
Alcolumbre,
ao longo dos últimos anos, tornou-se uma peça-chave da política econômica
liberal. É homem de confiança da Faria Lima. Durante sua presidência no Senado,
entre 2019 e 2021, brecou projetos de taxação das grandes fortunas e blindou os
interesses dos bancos, fundos de investimento e corretoras. Seus vínculos com o
BTG Pactual e a XP Investimentos são conhecidos nos bastidores e garantem a ele
o respaldo do mercado como operador discreto, mas eficaz. Já Hugo Motta,
político da oligarquia paraibana, membro do Republicanos e figura destacada do
centrão digitalizado, preside a Comissão de Orçamento e lidera articulações com
União Brasil e PL. Sua postura é sempre funcional à lógica do desmonte do
Estado, e sua omissão nas pautas estruturais revela fidelidade aos grupos que o
mantêm como articulador principal do orçamento paralelo. Ambos operam em
consonância com a lógica da desinformação digital. Nenhum dos dois defendeu o
STF ou Alexandre de Moraes nos últimos episódios. Nenhum endossou publicamente
as decisões do Supremo que buscam responsabilizar as plataformas. Nenhum se
pronunciou sobre a manipulação algorítmica ou os ataques coordenados às
instituições. A explicação é brutalmente simples: eles dependem da continuidade
desse sistema para garantir a hegemonia conservadora no Congresso. Não
precisarão apoiar abertamente um novo Bolsonaro em 2026 — já estão pavimentando
o caminho para ele agora. Blindam as big techs, silenciam diante dos ataques à
institucionalidade, travam qualquer tentativa de regulação, impedem o avanço de
pautas soberanistas e deslegitimam, por omissão, as instituições democráticas
que ainda resistem. Motta e Alcolumbre não são cúmplices passivos — são agentes
ativos do projeto que visa manter o Brasil como colônia informacional e vassalo
das elites globais. Se hoje parecem discretos, técnicos, moderados, é porque
sabem que o golpe que operam não se dá mais com tanques — mas com hashtags,
emendas de comissão e omissões cirúrgicas. E é justamente por isso que precisam
ser denunciados com nome, sobrenome e contexto.
·
O tempo dos fatos: por que o ataque veio agora?
Nada no
jogo geopolítico é coincidência. Quando Donald Trump anunciou, no último dia 9
de julho, uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras — incluindo aço e
alumínio — e, no mesmo pronunciamento, atacou o Supremo Tribunal Federal, em
especial o ministro Alexandre de Moraes, ele não estava apenas fazendo política
externa à moda trumpista. Estava cumprindo um papel estratégico na engrenagem
global de desestabilização do Brasil soberano. E o momento escolhido para esse
ataque não poderia ser mais emblemático: menos de uma semana após a realização
da Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro e poucos dias depois de o STF aprovar a
responsabilização das plataformas digitais por conteúdos de terceiros,
desmontando a blindagem jurídica do artigo 19 do Marco Civil da Internet.O que
essas três movimentações têm em comum? Todas representam avanços do Brasil no
fortalecimento da soberania nacional, na ruptura com a tutela dos EUA sobre as
infraestruturas digitais e no reforço do Estado democrático frente ao caos algorítmico.
A Cúpula do BRICS, realizada nos dias 6 e 7 de julho, teve forte protagonismo
brasileiro. Lula articulou uma frente internacional voltada à cooperação
sul-sul, à multipolaridade e à regulação democrática das tecnologias
emergentes, incluindo inteligência artificial e plataformas. O evento reuniu,
no Rio, chefes de Estado e chanceleres de potências que hoje desafiam a
hegemonia do Ocidente, como China, Índia, Rússia, África do Sul, Irã e Egito —
e consolidou o Brasil como líder diplomático de uma nova ordem internacional em
formação.
Poucos
dias depois, o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do marco do
Artigo 19, responsável por eximir as plataformas digitais de qualquer
responsabilidade sobre os conteúdos que hospedam. A decisão, aprovada por ampla
maioria, com voto decisivo de Alexandre de Moraes, representou um marco
civilizatório: pela primeira vez, as big techs seriam responsabilizadas
judicialmente pelos danos sociais causados por algoritmos, fake news, discursos
de ódio e campanhas de desinformação. Essa decisão é vista como uma ameaça
direta ao modelo de negócios das empresas de tecnologia dos EUA, que lucram
justamente com a impunidade algorítmica e com a desinformação como commodity
política. É nesse contexto que Donald Trump surge como porta-voz informal
desses interesses. Ao atacar o STF e a decisão que rompe com a doutrina
neoliberal da “plataforma neutra”, Trump faz eco às narrativas da
extrema-direita brasileira, às campanhas das próprias big techs contra a
regulação e ao lobby do Congresso Nacional articulado por figuras como Hugo
Motta, Davi Alcolumbre, Lafayette de Andrada e Esperidião Amin. O ataque não é
apenas econômico — é simbólico, é informacional e é profundamente estratégico.
Seu objetivo é fragilizar os atores institucionais que ainda resistem à captura
do país: em primeiro lugar, o STF e, em especial, Moraes.
É
preciso notar um ponto central dessa operação: Trump não ataca diretamente o
presidente Lula. Ataca o STF, o arcabouço legal, a estrutura de regulação e o
núcleo institucional que ameaça o poder das plataformas digitais. Isso revela
uma compreensão clara da engenharia política em curso. O bolsonarismo
internacional — articulado com figuras como Steve Bannon, Elon Musk, Eduardo
Bolsonaro e grupos como The Movement — compreende que seu maior inimigo não é
apenas o Executivo, mas a construção de um Estado regulador e soberano, capaz
de controlar a desinformação e as infraestruturas digitais.
O
silêncio de Hugo Motta e Davi Alcolumbre diante desse ataque não é surpresa.
Eles integram o mesmo sistema de interesses que Trump representa. O Congresso
que hoje presidem — em que a maioria dos parlamentares ascendeu ao poder com
base em campanhas digitais turbinadas por impulsionamentos ilegais, fake news e
microdirecionamento de mensagens — depende estruturalmente da impunidade
digital para manter sua configuração. Esses parlamentares são, em sua maioria,
filhos do algoritmo. Um algoritmo treinado por interesses estrangeiros,
modelado para destruir a política como instrumento de soberania popular. Portanto,
o momento do ataque não é acidental. Ele responde diretamente a uma sequência
de avanços que o Brasil conseguiu em poucos dias: protagonismo no BRICS, avanço
jurídico sobre o poder das plataformas, articulação de um novo horizonte de
soberania digital. A resposta veio no mesmo idioma de sempre: chantagem
econômica, guerra informacional e sabotagem institucional — executada com
precisão pela extrema-direita global e aceita com servidão pela cúpula
legislativa nacional.
·
O papel de Motta e Alcolumbre: são parte do plano.
É
necessário abandonar de uma vez por todas qualquer ilusão quanto ao papel de
Hugo Motta e Davi Alcolumbre no atual cenário político brasileiro. Eles não
estão omissos, não estão desatentos, não estão mal-informados. Estão exatamente
onde escolheram estar: no centro da engrenagem que articula, desde dentro das
instituições, o enfraquecimento do governo, o esvaziamento da soberania
nacional e a preparação de um novo ciclo de poder neoliberal-autoritário,
controlado por elites estrangeiras e suas filiais locais. A atuação de ambos
não pode ser interpretada como fruto da moderação ou da responsabilidade
institucional. Ao contrário, o que os define é a habilidade de operar
silenciosamente, em nome de interesses alheios ao povo, utilizando o aparato
legislativo como escudo para proteger a desinformação, blindar as big techs e
manter o Brasil no papel de satélite dos EUA na disputa tecnológica global. O
silêncio diante dos ataques de Trump ao STF — e, mais especificamente, a
Alexandre de Moraes — não foi um descuido. Foi um gesto programado. Alcolumbre
e Motta sabem perfeitamente que o STF, ao aprovar a responsabilização das
plataformas, tocou no nervo central do poder digital que sustenta a
extrema-direita e o capital informacional no país. Atacar Moraes é, portanto,
parte de um plano maior: neutralizar o último grande freio institucional às
práticas de manipulação política via redes sociais. E ao se calarem, os
presidentes da Câmara e do Senado cumprem um papel fundamental: o da
legitimação institucional do ataque.
Mas seu
papel vai muito além da omissão. Motta e Alcolumbre estão diretamente
implicados na blindagem política das big techs. Não apenas se aliaram às
frentes parlamentares que defendem os interesses dessas empresas — como a
Frente de Cibersegurança e a Frente da Economia Digital — como atuam para
impedir qualquer avanço legislativo que confronte o monopólio algorítmico e a
desinformação como modelo de governança. Foram coniventes com o esvaziamento do
PL 2630. Ignoraram os alertas do TSE e da Polícia Federal sobre os fluxos
ilegais de impulsionamento e desinformação durante as eleições. Jamais
defenderam a existência de uma regulação robusta do ecossistema digital. O
cálculo é simples: quanto menos regulação, mais poder para os operadores
digitais que moldam a política de fora para dentro — e mais controle sobre a
narrativa pública contra o governo. Esses operadores — empresas de tecnologia,
redes articuladas da extrema-direita, fundos de investimento, think tanks do
Atlântico Norte — sabem que o Brasil é o principal laboratório da guerra
informacional no Sul Global. E é justamente nesse laboratório que Motta e
Alcolumbre atuam como cientistas políticos do entreguismo, manipulando as
alavancas institucionais para garantir que o Estado não interfira no curso dos
algoritmos, nem questione a lógica do poder digitalizado que os sustenta.
Eles
também são, neste momento, agentes de sabotagem política de médio prazo. Sabem
que o governo Lula tem um limite de força institucional, e apostam na
desidratação progressiva de sua base, no travamento das pautas estratégicas e
no desgaste do Executivo até 2026. Seu silêncio diante do trumpismo, sua
omissão diante da soberania digital, sua neutralidade ensaiada diante da
destruição do STF — tudo isso faz parte de um roteiro de desestabilização
calculada, que prepara o terreno para a volta de um outsider alinhado aos
interesses da direita global. Motta e Alcolumbre, portanto, não são apenas
peças institucionais. São operadores centrais de um plano transnacional de
sabotagem democrática. Agem com discrição, mas com método. Com discurso de
estabilidade, mas com prática de erosão. Com aparência de republicanismo, mas
com alma de vassalos do poder extraterritorial.
Eles
não falharam conosco. Eles sempre estiveram contra nós.
·
A ilusão acabou: não há neutralidade possível.
É
preciso dizer sem meias-palavras: o campo progressista precisa abandonar
imediatamente qualquer esperança de que a defesa da soberania nacional poderá
contar com a institucionalidade legislativa presidida por Hugo Motta e Davi
Alcolumbre. Essa expectativa, alimentada por setores que ainda acreditam em
pactos republicanos ou na possibilidade de consenso com elites históricas do
atraso, é não apenas ingênua — é suicida. A realidade exige clareza: não há
mais neutralidade possível no Brasil de 2025. Motta e Alcolumbre são peças
centrais de um projeto internacional de dominação informacional e
enfraquecimento do Estado democrático. Fingem moderação para manter a
legitimidade institucional, mas, nos bastidores, operam contra tudo o que
representa soberania popular, autonomia tecnológica, justiça fiscal e
democratização da informação. Seus compromissos não são com o Brasil, mas com a
manutenção de um ecossistema político financiado por plataformas
transnacionais, moldado por algoritmos controlados no exterior e estruturado
para manter a maioria do povo brasileiro fora das decisões centrais da
República. A crise provocada pelos ataques de Trump ao STF escancarou essa
realidade. Enquanto o presidente Lula defendeu publicamente a soberania do país
e condenou as ações do ex-presidente norte-americano, os líderes do Congresso
se calaram. Não moveram um dedo para proteger a integridade das instituições
nacionais. Não fizeram um gesto em defesa de Alexandre de Moraes ou do Supremo.
Esse silêncio não é institucional — é estratégico. É o silêncio dos cúmplices,
daqueles que sabem que sua permanência no poder depende justamente da
destruição dos marcos que sustentam a democracia brasileira.
O
Congresso atual foi majoritariamente eleito em campanhas digitais regadas a
impulsionamento irregular, desinformação, campanhas orquestradas e manipulação
algorítmica. É um Congresso moldado pelo caos digital, que funciona melhor
quanto mais desinformado estiver o eleitorado e quanto mais enfraquecido
estiver o Estado. E esse mesmo Congresso — presidido por Motta e Alcolumbre —
jamais será o instrumento de regulação das big techs ou de contenção do
golpismo digital. Esperar disso é como pedir ao lobo que cuide do galinheiro. O
projeto de regulação das plataformas, a taxação dos super-ricos, o
fortalecimento dos BRICS, a retomada da indústria nacional, a defesa de uma
internet pública e soberana — tudo isso passa por fora dos interesses dessa
casta política. Alcolumbre e Motta não vão se mover porque sabem que qualquer
passo em direção a um Brasil soberano significa o fim do modelo de poder que os
sustenta. Não farão isso. E é hora de dizermos isso claramente. A sociedade
civil, os movimentos populares, os comunicadores independentes, os
pesquisadores, os educadores, as periferias e a juventude precisam compreender
que a luta pela soberania não será vencida com discursos moderados nem com
acenos ao centro fisiológico. Essa luta exige nomear os sabotadores, romper com
os falsos pactos e reconstruir as bases políticas do país a partir de baixo —
com radicalidade democrática e lucidez estratégica. O tempo da conciliação
acabou. Agora é tempo de escolher de que lado se está. E Motta e Alcolumbre,
pelo que demonstraram, não estão do lado do povo. Estão do lado dos algoritmos,
do dinheiro e do silêncio cúmplice.
·
É hora de dizer — eles são nossos inimigos.
A fase
da ambiguidade acabou. Alcolumbre e Motta não são neutros, não são hesitantes,
não estão em dúvida. Eles sabem exatamente o que estão fazendo — e o que estão
fazendo é trabalhar contra o povo brasileiro, contra a soberania nacional e
contra a democracia. Estão do lado de Trump, do capital financeiro
internacional, das big techs, das fundações estrangeiras e dos think tanks
neoliberais que há anos operam para transformar o Brasil em uma colônia digital
submissa e desarticulada.
Esse
artigo não é uma simples crítica a uma nota covarde. É um diagnóstico
estratégico de uma engrenagem muito mais profunda de sabotagem institucional,
da qual Motta e Alcolumbre são peças-chave. São eles que dão o verniz de
legalidade e moderação a um projeto que atua para destruir o STF, esvaziar o
Executivo, impedir a regulação das plataformas, minar os BRICS e manter o
Brasil preso à lógica de subordinação econômica, informacional e tecnológica. Eles
não erraram — eles estão cumprindo função. E por isso devem ser tratados como
tal: inimigos políticos e históricos do projeto soberanista, democrático e
popular. Não há como disputar o futuro do Brasil confiando em quem trabalha
para entregá-lo. Não há como avançar num projeto nacional sem romper com essa
elite política que vive da servidão à ordem neoliberal internacional. A ilusão
do pacto institucional é, neste momento, o maior obstáculo à reconstrução do
país. A tarefa agora é explicitar isso à sociedade. Tirar o véu. Mostrar quem
são os verdadeiros operadores do golpe silencioso. Nomear. Expôr. Desmascarar.
E, ao mesmo tempo, reorganizar a força popular em torno de um projeto de
soberania real, que não se ajoelha diante do algoritmo, que não negocia com o
rentismo, que não teme o enfrentamento. O Brasil precisa de coragem — não de
notas diplomáticas. Alcolumbre e Motta não nos representam. E não nos enganam
mais. O tempo da conivência acabou. Agora é tempo de luta. De confronto de
ideias. De construção de outro país. E para isso, precisamos começar dizendo em
alto e bom som: esses homens são nossos inimigos. E nosso projeto é derrotá-los
— política, moral e historicamente.
Fonte:
Brasil 247

Nenhum comentário:
Postar um comentário