sábado, 12 de julho de 2025

Como chá, chocolate e maçãs podem ajudar a reduzir sua pressão sanguínea

Estamos sempre ouvindo que devemos “nos alimentar de forma mais saudável”, mas o que isso realmente significa? Mesmo os médicos às vezes têm dificuldade em oferecer orientações claras e práticas sobre quais alimentos específicos são benéficos à saúde, por que eles funcionam e quais benefícios reais as pessoas podem esperar.

Um número crescente de pesquisas está começando a oferecer algumas respostas. Junto com meus colegas, pesquisei se um grupo de compostos vegetais chamados flavan-3-óis poderia ajudar a reduzir a pressão arterial e melhorar a função dos vasos sanguíneos. Os resultados sugerem que esses compostos podem ter um potencial real para proteger a saúde do coração.

Os flavan-3-óis — às vezes chamados de flavanóis ou catequinas — são compostos vegetais naturais que pertencem à família dos flavonoides. Eles fazem parte do que dá cor às plantas e ajuda a protegê-las da luz solar e de pragas.

Os flavanóis estão presentes em alguns dos alimentos mais conhecidos: cacau, chá verde e preto, uvas, maçãs e até algumas frutas vermelhas. Aquele sabor levemente ácido ou amargo que você sente no chocolate amargo ou no chá forte? São os flavan-3-óis em ação.

Os cientistas há muito se interessam por seus efeitos na saúde. Em 2022, o estudo Cosmos (Cocoa Supplement and Multivitamin Outcomes Study), que acompanhou mais de 21.000 pessoas, descobriu que os flavonoides do cacau, mas não os de suplementos multivitamínicos, reduziram as mortes por doenças cardiovasculares em 27%.

Nosso estudo se propôs a aprofundar ainda mais este achado, focando especificamente em seus efeitos sobre a pressão arterial e a função endotelial (quão bem os vasos sanguíneos se dilatam e respondem ao fluxo sanguíneo).

Analisamos dados de 145 ensaios clínicos randomizados envolvendo mais de 5.200 participantes. Esses estudos testaram uma variedade de alimentos e suplementos ricos em flavan-3-ol, incluindo cacau, chá, uvas, maçãs e compostos isolados como a epicatequina, e mediram seus efeitos em dois marcadores cardiovasculares importantes: pressão arterial e dilatação mediada pelo fluxo (FMD), uma medida de quão bem o revestimento interno dos vasos sanguíneos funciona.

Os estudos variaram de intervenções de curto prazo (uma única dose) a intervenções de longo prazo, com duração de semanas ou meses. Em média, os participantes consumiram cerca de 586 mg de flavan-3-óis por dia; aproximadamente a quantidade encontrada em duas a três xícaras de chá, uma a duas porções de chocolate amargo, duas colheres de sopa de cacau em pó ou algumas maçãs.

O consumo regular de flavan-3-óis levou a uma queda média na pressão arterial medida em consultório de 2,8 mmHg sistólica (o número superior) e 2,0 mmHg diastólica (o número inferior).

Mas para pessoas que começaram com pressão arterial elevada ou hipertensão diagnosticada, os benefícios foram ainda maiores, com reduções de até 6–7 mmHg sistólica e 4 mmHg diastólica. Isso é comparável aos efeitos de alguns medicamentos prescritos para pressão arterial e pode reduzir significativamente o risco de ataques cardíacos e derrames.

Também descobrimos que os flavan-3-óis melhoraram a função endotelial, com um aumento médio de 1,7% na FMD após ingestão prolongada. Esse benefício apareceu mesmo em participantes cuja pressão arterial já estava normal, sugerindo que esses compostos podem ajudar a proteger os vasos sanguíneos por meio de várias vias.

Os efeitos colaterais foram raros e geralmente leves, limitando-se a pequenos problemas digestivos, sugerindo que adicionar alimentos ricos em flavan-3-óis à sua dieta é geralmente seguro.

•        Ajudando a saúde cardiovascular

Embora os benefícios tenham sido mais pronunciados em pessoas com pressão alta, mesmo aquelas com leituras normais observaram melhorias na função vascular. Isso sugere que os flavan-3-óis podem ajudar a prevenir problemas cardiovasculares antes que eles comecem.

A hipertensão arterial é um dos principais fatores que causam doenças cardíacas em todo o mundo, mesmo em níveis que não se qualificam como hipertensão total (140/90 mmHg ou mais). Diretrizes recentes da Sociedade Europeia de Cardiologia agora reconhecem que mesmo a pressão arterial “elevada” (120–139 sistólica e 70–89 diastólica) acarreta um risco aumentado.

Mudanças no estilo de vida, particularmente dieta e exercícios, são recomendadas pelos médicos como estratégias de primeira linha. Mas os pacientes e até os profissionais de saúde muitas vezes carecem de orientações claras e específicas sobre quais alimentos realmente fazem a diferença. Nossas descobertas ajudam a preencher essa lacuna, mostrando que aumentar a ingestão de flavan-3-óis por meio de alimentos cotidianos pode oferecer uma maneira simples e baseada em evidências para ajudar a saúde cardiovascular.

•        E quanto aos suplementos?

Alguns estudos testaram suplementos ou compostos isolados de flavan-3-ol, mas estes geralmente mostraram efeitos menores do que alimentos integrais, como chá ou cacau. Isso pode ser porque outros compostos benéficos em alimentos integrais atuam em conjunto, aumentando a absorção e a eficácia.

Atualmente, parece mais seguro e eficaz concentrar-se em obter flavan-3-óis a partir de alimentos, em vez de suplementos em altas doses, especialmente para pessoas que tomam medicamentos, uma vez que as interações não são totalmente compreendidas.

Os estudos que analisamos sugerem que 500-600 mg de flavan-3-óis por dia podem ser suficientes para obter benefícios. Você pode atingir essa quantidade combinando duas a três xícaras de chá verde ou preto, uma a duas porções (cerca de 56 g) de chocolate amargo ou duas a três colheres de sopa de cacau em pó, duas a três maçãs, além de outras frutas ricas em flavan-3-óis, como uvas, peras e frutas vermelhas.

Pequenas mudanças no dia a dia, como trocar um lanche açucarado por uma maçã e um pedaço de chocolate amargo, ou adicionar uma xícara extra de chá, podem melhorar gradualmente a saúde do coração ao longo do tempo. Como o teor de flavan-3-ol pode variar entre os alimentos, monitorar a pressão arterial em casa pode ajudar a verificar se isso está fazendo diferença para você.

Mais pesquisas são necessárias, especialmente em pessoas com diabetes, onde os resultados foram menos consistentes. Também precisamos entender melhor como os flavan-3-óis interagem com medicamentos, e se benefícios ainda maiores podem ser alcançados quando combinados com outros hábitos saudáveis.

Mas as evidências agora são fortes o suficiente para recomendar alimentos ricos em flavan-3-óis como parte de uma dieta saudável para o coração. À medida que os médicos buscam estratégias práticas e acessíveis de estilo de vida para os pacientes, essas descobertas nos aproximam da ideia de usar os alimentos como remédio.

É claro que os flavan-3-óis não são uma solução mágica. Eles não substituirão os medicamentos para todos. Mas, combinados com outros hábitos saudáveis, podem oferecer um impulso significativo — e delicioso — à saúde cardiovascular. E, ao contrário de muitas modas passageiras na área da saúde, não se tratam de superalimentos exóticos ou pós caros. Tratam-se de alimentos que muitos de nós já apreciamos, usados de forma um pouco mais intencional.

•        Chás anti-inflamatórios

Chás vêm da natureza e têm uso milenar. Mas será que isso é o suficiente para acreditar que eles podem tratar enfermidades com eficiência? Alguns podem mesmo ajudar a desinflamar o corpo? Eles podem ser usados à vontade? E por que nosso corpo inflama? O g1 conversou com nutricionistas e médicos para responder a essas questões.

Antes, um ALERTA: você sabe por que se fala tanto atualmente em alimentos anti-inflamatórios? A inflamação é uma resposta do sistema imune a agressões, mas pode se tornar crônica com hábitos como má alimentação, estresse e sedentarismo. A inflamação crônica está ligada a doenças como obesidade, diabetes, problemas intestinais e cardiovasculares.

“De uma maneira geral, embora promissores, os chás devem ser utilizados como coadjuvantes e não substituem terapias médicas. A resposta clínica pode variar conforme o perfil inflamatório do paciente, hábitos alimentares, estilo de vida e pela concentração dos ativos dentro dos chás consumidos”, explica a médica nutróloga Isolda Prado, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Nem toda planta ou parte da dela é indicada e segura para o preparo dos chás, destaca a nutricionista e doutora em alimentos e nutrição pela Unicamp Patrícia Berilli.

A Anvisa reconhece que há diferenças entre os chás alimentícios e os medicinais. Produtos considerados fitoterápicos pela agência sempre apresentam contraindicações. Por isso, recomenda-se uma consulta ao profissional especialista antes de sua ingesta.

O chá de gengibre, por exemplo, é reconhecido como fitoterápico e seu consumo é indicado como coadjuvante no tratamento de sintomas relacionados a queixas gastrointestinais leves e como antidispéptico.

A composição química dos chás varia em função da matéria-prima utilizada, do processamento do material e das condições de preparo. Em geral, o potencial anti-inflamatório dos chás é atribuído principalmente ao seu rico conteúdo de polifenóis e seus derivados.

Diversos chás apresentam compostos bioativos com propriedades anti-inflamatórias naturais, mas estudos clínicos (em humanos) que comprovem a eficácia dos chás com esse propósito são ainda escassos. Entre os mais estudados, estão:

1.Chá de camomila ou maçanilha (matricaria recutita l. e chamomilla recutita)

•        Parte do vegetal autorizada para o consumo: capítulos florais (flores)

•        Os benefícios do consumo deste chá envolvem a leve redução de atividade inflamatória, melhorando o sono. Possui apigenina e flavonoides, com ação calmante.

2.Chá verde e chá preto (Camellia sinensis)

•        Parte do vegetal autorizada para o consumo: folhas e talos

•        Essa planta é fonte de catequinas, com efeito antioxidante e anti-inflamatório. As ações associadas são a redução de inflamação sistêmica, melhora da função endotelial, e auxílio na prevenção de doenças crônicas.

3.Chá de erva-doce ou funcho (foeniculum vulgare)

•        Parte do vegetal autorizada para o consumo: frutos

•        Tem o potencial de melhorar sintomas intestinais, como gases e cólicas, além de leve ação anti-inflamatória local. Essas ações são particulares pela presença de anetol como ativo, que tem efeito anti-inflamatório e antiespasmódico.

4.Chá de hortelã (mentha piperita)

•        Parte do vegetal autorizada para o consumo: folhas e ramos

•        Tem ação anti-inflamatória digestiva, ajuda em cólicas e distensão abdominal.

⚠️ALERTA: Muitas espécies vegetais são autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para uso como especiarias, como rizomas (caules) de gengibre e de cúrcuma, que não estão autorizados pela agência para o preparo de chás, por exemplo.

Segundo Prado, estudos indicam que os compostos bioativos presentes nesses chás modulam a resposta inflamatória por: mecanismos de inibição da expressão de NF-κB, um fator de transcrição pró-inflamatório; redução da produção de citocinas inflamatórias como TNF-α, IL-1β e IL-6; ativação de enzimas antioxidantes endógenas como a superóxido dismutase (SOD); além de efeitos sobre o microbioma intestinal, melhorando a barreira intestinal e reduzindo a endotoxemia – condição em que toxinas liberadas por bactérias entram na corrente sanguínea e causam uma resposta inflamatória no corpo.

Estudos recentes têm mostrado que alguns chás como verde, oolong e preto têm a capacidade de modular a microbiota do intestino, o que supostamente poderia beneficiar a barreira intestinal e a inflamação sistêmica.

A ingestão de três porções de chá preto durante 12 semanas foi capaz de reduzir significativamente os níveis de proteína C-reativa (53,4% em homens e 41,1% em mulheres), uma proteína que sinaliza inflamação no corpo, em pacientes suscetíveis a doenças cardíacas isquêmicas – apontou um estudo de 2010 publicado na revista Science.

“Essas características sugerem que os chás podem auxiliar na prevenção e controle de doenças de base inflamatória como a osteoartrite, obesidade, o diabetes mellitus tipo 2, doenças inflamatórias intestinais, cardiovasculares, entre outras”, diz Berilli.

No Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o chá é o “produto constituído de uma ou mais partes de espécie vegetal inteira, fragmentada ou moída, com ou sem fermentação, tostada ou não (...). O produto pode ser adicionado de aroma e/ou especiaria para conferir aroma e/ou sabor”.

Berilli acrescenta ainda que nem todo chá é medicinal. “No Brasil, os chás são regulamentados como alimentícios ou fitoterápicos, sendo que apenas os fitoterápicos podem ter alegações de propriedade medicinal. Se usados da forma correta e como parte de uma alimentação adequada, eles podem auxiliar em várias condições de saúde e favorecer a qualidade de vida da população”, explica.

>>>> O que é a inflamação?

A inflamação é uma resposta natural de defesa e importante do sistema imunológico a agressões, como infecções, lesões ou toxinas. Essa resposta pode ser:

•        Aguda: rápida, localizada e com duração curta, como após uma infecção respiratória ou uma torção no tornozelo.

•        Crônica: prolongada, menos intensa e persistente - mesmo sem um agente agressor claro. É nesse tipo que a alimentação mais pode interferir.

“Desde os tempos de Hipócrates, sabemos que calor, vermelhidão e dor são sinais de que o corpo está lutando contra algo – uma infecção, um corte ou uma toxina. Esse “fogo” agudo recruta glóbulos brancos e substâncias chamadas citocinas para reparar o dano”, explica a endocrinologista e professora da UNIFESP Carolina Janovsky.

>>>> E por que o corpo inflama?

Nosso corpo fica inflamado por diversos motivos:

•        Alimentação inflamatória: O excesso de frutose, gorduras trans e aditivos químicos sobrecarregam o fígado e o intestino, liberando substâncias inflamatórias na corrente sanguínea.

•        Estresse crônico e poluentes ambientais: O corpo libera adrenalina e cortisol de forma contínua, enquanto metais pesados e micropartículas do ar ativam o sistema imune como se estivéssemos sempre em alerta.

•        Sedentarismo e falta de sono: A falta de movimento reduz a ação de enzimas antioxidantes; noites mal dormidas elevam o cortisol, outro combustível inflamatório.

•        Tabagismo e álcool em excesso: Álcool e cigarro causam danos oxidativos e desequilíbrio na microbiota intestinal, elevando a inflamação.

•        Obesidade ou sobrepeso: O tecido adiposo visceral produz citocinas (IL-6, TNF-α) que espalham inflamação e pioram a sensibilidade à insulina

•        Resistência à insulina: Quando as células não respondem bem à insulina, o pâncreas produz cada vez mais hormônio. Essa “hiperinsulinemia” estimula o fígado a fabricar triglicérides e gera mais estresse oxidativo.

•        Doenças autoimunes ou infecciosas: O sistema imune ataca o corpo ou responde a vírus/bactérias, causando inflamação constante.

Quais inflamações podem ser combatidas pela alimentação?

As inflamações que nosso corpo enfrenta e podem ser combatidas pela alimentação são:

•        Metabólicas: associadas ao excesso de gordura corporal, especialmente visceral. Ocorrem, por exemplo, em casos de obesidade, diabetes tipo 2, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares.

•        Intestinais: muitas vezes associada a desequilíbrios na microbiota. Podem ocorrer em casos de doença inflamatória intestinal (como Crohn e colite ulcerativa), síndrome do intestino irritável.

•        Vasculares: afetam os vasos sanguíneos, favorecendo a formação de placas de ateroma. Ocorrem em casos de aterosclerose, infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

•        Sistêmica e associada ao envelhecimento: crônica e de baixo grau, ela acompanha o envelhecimento. Ocorre com a demência, osteoporose, doenças cardiovasculares e câncer.

•        Associadas a alergias e sensibilidades alimentares: é a reação inflamatória do corpo a proteínas ou compostos alimentares. Pode ocorrer, por exemplo: com alergias alimentares (como ao leite, ovo, amendoim), doença celíaca, sensibilidade ao glúten.

 

Fonte: Por Christian Heiss, para  The Conversation Brasil/g1

 

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