sexta-feira, 4 de julho de 2025

Luís Nassif e o Xadrez da luta contra o dragão do sistema político

O poder acumulado no Congresso permite sequestrar parcela relevante do orçamento público e utilizar os recursos para sua perpetuação no poder.

<><> Peça 1 – quem é o presidente da Câmara Federal

Presidente da Câmara, indicado por Arthur Lira, orientado por Eduardo Cunha, Hugo Motta é uma pequena raposa, sem a dimensão política e a visão estratégica de seus mentores.

Em junho deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) apresentou a quarta denúncia da Operação Outside, apurando irregularidades nas obras de restauração das avenidas Alça Sudeste e Alça Sudoestes em Patos, sertão da Paraíba.

A emenda foi apresentada por Hugo Motta; o prefeito de Patos é seu pai Nabor Wanderley. Uma servidora municipal, Eulanda Ferreira, foi apontada pela PF como ponte entre a empresa favorecida e Hugo Motta, tendo atuado entre o empresários e assessores do deputado para destravar as emendas.

Não apenas isso.

Em 2015-2016 foi deflagrada a Operação Desumanidade. A PF, junto com o MPF e a Procuradoria Geral da República, investigou membros da familia de Hugo Motta por suspeitas de atos de corrupção, cometidos em 2012 e 2013, favorecendo a empresa Soconstrói.

Houve a prisão preventiva de Ilanna Motta, sua mãe. Sua avó, Francisca “Chica” Motta, então prefeita de Patos, foi afastada do cargo.

O cunhado José Willian Segundo Madruga e Renê Caroca, novo marido da avó, foram presos.

E o pai Nabor Wanderley apontado como “líder do grupo criminoso”, recebendo cerca de 10% da propina dos contratos.

A delação da Soconstrói indicou que 20% dos valores desviado das obras de Unidades Básicas de Saúde, foram usadas para financiar campanha de Hugo Motta.

<><> Peça 2 – quem é o grande líder do centrão

Segundo o jornalista Chico de Gois, autor do livro Os Ben$ que os Políticos Fazem, o grande guru do Centrão, Arthur Lira, apresentou um aumento significativo em seu patrimônio declarado entre 1996 e 2010. Em 1996, seu patrimônio era de R$ 79 mil; em 2006, passou para R$ 695 mil; e em 2010, superou R$ 2 milhões.

Ele não declarou à Justiça Eleitoral bens como um apartamento no bairro da Jatiúca, em Maceió, e a empresa D’Lira Agropecuária e Eventos, fundada em 2007, da qual era sócio com seu pai, Benedito de Lira .

Entre 2004 e 2006, Arthur Lira adquiriu quatro fazendas em Pernambuco por quase R$ 5 milhões, valores que não constam em suas declarações de bens à Justiça Eleitoral. Pagamentos foram feitos em “moeda corrente”, e parte do valor foi quitada com a entrega de apartamentos. Essas propriedades foram adquiridas enquanto Lira era deputado estadual.

<><> Peça 3 – o semi-presidencialismo

Criou-se esse ornitorrinco do semi-presidencialismo, no qual o parlamento ganha todas as prerrogativas do parlamentarismo e o Executivo não tem nem a única defesa viável, que é a capacidade de dissolver o parlamento e convocar novas eleições, em caso de impasse.

A alternativa, sugerida por alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal, é implantar definitivamente o parlamentarismo. Seria a pior das soluções. Nas longas conversas que tive com Walter Moreira Salles, que foi Ministro da Fazenda no gabinete parlamentar de Tancredo Neves, no governo João Goulart, o parlamentarismo permitia toda sorte de ingerência e de chantagem do Congresso – já que o presidente e o primeiro-ministro precisavam negociar permanentemente o voto de confiança da casa.

Mais que isso, um conjunto de medidas aprovadas nos últimos anos, aumentou exponencialmente criou a figura dos “donos” de partidos.

Foram elas:

Medida/Instrumento Ano    Efeito principal

Controle sobre Fundos Públicos (Partidário e Eleitoral)   2019–atual          Concentrado nas executivas nacionais, com pouca transparência

Fim das coligações proporcionais   2017   Aumentou dependência dos candidatos do partido

Fidelidade partidária ao partido (não ao parlamentar)    2007–2022   Permite expulsar dissidentes e controlar mandatos

Controle do tempo de rádio e TV   Desde 1997   Direção decide exposição dos candidatos e narrativa nacional

Cláusula de barreira 2017   Reduziu o número de partidos viáveis, concentrando poder nos maiores

Nesse modelo, o país tornou-se totalmente refém de uma organização espúria. O poder acumulado no Congresso permite sequestrar parcela relevante do orçamento público e utilizar os recursos para sua perpetuação no poder.

Não apenas isso. Conforma alertou o advogado Cláudio Pereira de Souza Neto, esse conjunto de normas permitiu às executivas nacionais o controle sobre os Fundos Públicos (Partidário e Eleitoral), acaba com as coligações proporcionais, aumenta a dependência dos candidatos do partido, permite às executivas expulsar dissidentes e controlar mandatos, tempo de rádio e TV. E, com a cláusula de barreiras, reduziu o número de partidos viáveis, concentrando o poder nos maiores.

<><> Peça 4 – o poder restaurador do STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) pode atuar de diversas formas para reequilibrar o sistema político brasileiro, especialmente diante do atual cenário de concentração de poder no Congresso (via emendas), enfraquecimento do Executivo e uso político do orçamento. E também se penitenciar de sua contribuição para a desinstitucionalização do país, no período 2008-2018;

Abaixo, os principais caminhos jurídicos, constitucionais e institucionais que o STF pode seguir:

>>>> 1. Revisar a constitucionalidade das emendas parlamentares impositivas

Como:

•        Julgar ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) sobre:

o        Emendas do relator (RP9) – consideradas inconstitucionais em 2021, mas ressuscitadas sob novo formato (emendas de comissão).

o        Emendas de comissão (RP8) – como no caso em que o ministro Flávio Dino suspendeu R$ 4,2 bilhões e enviou à PF.

o        Emendas do orçamento impositivo, que se tornaram quase incondicionais após a EC 100/2019.

 Objetivo:

•        Limitar o uso político do orçamento.

•        Impor obrigações de transparência, equidade e rastreabilidade na destinação de recursos.

•        Redefinir o papel do Congresso na execução orçamentária, mantendo sua função fiscalizadora, e não executiva.

>>> 2. Delimitar os poderes do Congresso frente ao Executivo e agências reguladoras

Como:

•        Julgar ações sobre:

o        Decretos presidenciais sobre tributos (IOF), como no caso relatado por Alexandre de Moraes.

o        Atos que invadam a autonomia de agências reguladoras, como na demora proposital do Senado em aprovar indicações (instrumento de chantagem).

Objetivo:

•        Restaurar o princípio da separação dos poderes, evitando o sequestro da agenda executiva por lideranças do Congresso.

•        Proteger a independência técnica de agências que hoje são pressionadas politicamente.

>>>  3. Fortalecer os mecanismos de controle e responsabilização de parlamentares

 Como:

•        Autorizar investigações e processos criminais contra parlamentares que negociam emendas por vantagem pessoal (ex: caso Josimar Maranhãozinho e outros).

•        Estimular ações por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito, incluindo parlamentares com uso irregular de verba pública.

Objetivo:

•        Reforçar a impessoalidade e legalidade no uso do orçamento público.

•        Combater a impunidade no Legislativo, demonstrando que o foro privilegiado não é blindagem.

>>> 4. Limitar juridicamente a influência de presidentes de partidos sobre mandatos e recursos

Como:

•        Rever entendimentos sobre:

o        Fidelidade partidária extrema (uso de expulsão como coerção).

o        Centralização de recursos de fundo eleitoral e partidário em mãos da executiva nacional.

 Objetivo:

•        Reduzir o poder quase monárquico dos presidentes de partido sobre parlamentares.

•        Estimular o pluralismo interno e a democracia partidária.

>>> 5. Reforçar a transparência e controle judicial sobre o orçamento da União

Como:

•        Imposição de mecanismos permanentes de auditoria judicial ou acompanhamento técnico do STF sobre a LOA (Lei Orçamentária Anual), como:

o        Limites de execução de emendas por comissões.

o        Critérios técnicos obrigatórios na destinação de recursos.

Objetivo:

•        Tornar o orçamento público mais técnico, menos político.

•        Proteger áreas negligenciadas (educação, saúde, ciência) do desvio de verbas para fins eleitorais.

>>>> Exemplo atual: Ação sobre o IOF (relatoria de Alexandre de Moraes)

•        O STF pode usar essa ação para:

o        Afirmar a legitimidade do uso do IOF como instrumento de política econômica, não sujeito à aprovação prévia do Congresso.

o        Redefinir os limites do presidencialismo orçamentário, protegendo o Executivo de ingerência excessiva do Legislativo.

o        Criar jurisprudência sobre equilíbrio fiscal e separação de competências.

•        Debate sobre IOF supera discurso rico contra pobres e ganha adesão popular

A mídia tradicional destaca, nesta quarta-feira (2), que o Partido dos Trabalhadores (PT) está inflamando o discurso de ricos contra os pobres, tendo em vista a série de vídeos explicativos que o partido lançou nas redes sociais sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

No vídeo, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) lembra que esta foi a primeira vez que o Congresso Nacional vetou o aumento do imposto, que agora segue para o Supremo Tribunal Federal (STF).

No entanto, não se trata de uma promoção do “nós contra eles”, como a mídia tradicional costuma apontar sobre as ações de governos petistas, mas sim uma construção de narrativa que está ganhando o entendimento e apoio popular, como demonstrou a jornalista Eliara Santana, no programa Desinformação & Política, na última terça-feira (1º).

Durante a última semana, a cena política brasileira foi marcada por uma reviravolta envolvendo o Congresso Nacional e o governo federal, após uma manobra conduzida pelos presidentes das casas legislativas, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP). A movimentação, inicialmente recebida como um golpe duro ao Executivo, passou a ser reavaliada sob outro prisma: o de uma disputa entre interesses de classes, escancarada no campo tributário.

Segundo análises veiculadas na mídia e repercutidas por economistas e articulistas, como Miriam Leitão, a motivação do Congresso não seria, como alegado, uma preocupação com o peso dos impostos sobre a população. “A questão não é econômica, nunca foi”, afirma Eliara.

O Brasil vive hoje um cenário de crescimento econômico, queda do desemprego e aumento da renda média, fatores que indicam relativa estabilidade fiscal.

O desconforto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com a mudança repentina no trâmite da pauta no Congresso, reforçou essa leitura. Desde o início, ele se mostrou firme, expressando surpresa com a guinada no debate.

A tentativa de desviar o foco da proposta original do governo — que busca corrigir distorções no sistema tributário — passou a ser percebida como uma estratégia articulada por setores privilegiados da elite econômica.

Ao longo da semana, a narrativa midiática foi se transformando. Se em um primeiro momento a imprensa interpretou o movimento do Congresso como derrota do governo, rapidamente essa visão foi ajustada como uma tentativa de impedir o avanço de medidas que ampliariam a justiça fiscal. “No Brasil, quem paga imposto é o pobre”, passou a ser uma frase recorrente entre analistas.

Essa guinada narrativa evidenciou o embate entre uma proposta de maior equidade tributária — como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil — e os interesses dos setores mais ricos da sociedade, historicamente beneficiados por brechas e privilégios fiscais.

“O que ocorre é exploração. Os ricos não querem pagar impostos e conseguem mobilizar o Congresso para manter seus benefícios”, continuou a apresentadora do Desinformação & Política.

A discussão não ficou restrita aos gabinetes ou aos estúdios de televisão. O discurso sobre desigualdade tributária começou a circular em outros espaços, como nas redes sociais e nas conversas cotidianas. Um exemplo simbólico foi o de um motorista de aplicativo em São Paulo, que, ao ouvir na Jovem Pan uma crítica ao governo, reforçou a ideia de que “quem está embaixo paga mais imposto”.

“É assim mesmo, né? A gente do andar de baixo paga, acaba pagando muito mais imposto, sempre, né? E aí os ricos não querem pagar imposto, não querem que a gente deixe de pagar imposto”, comentou o motorista à jornalista.

Essa circulação do discurso evidencia o alcance da questão. “O peso do discurso se percebe quando ele começa a circular por todas as camadas da população. Está se formando uma consciência coletiva sobre a injustiça fiscal no Brasil”, destacou Eliara.

A resposta do governo, articulada especialmente por Haddad, tem sido clara: não se trata de um aumento de carga tributária, mas de uma redistribuição mais justa. Essa proposta, no entanto, encontra resistência em um Congresso que tem grande representação de setores econômicos poderosos.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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