João
Filho: Tarifaço de Trump é estratégia mafiosa e golpista
O novo
tarifaço que Trump impôs ao Brasil é essencialmente golpista. Não está
sustentado por qualquer motivo econômico ou político legítimo. É só mais uma
arruaça golpista de uma extrema direita internacional articulada. O país mais
rico do mundo hoje é governado por um delinquente golpista que atua no cenário
geopolítico como um chimpanzé bêbado portando uma metralhadora.
A carta
pública do presidente dos EUA para Lula é um ataque inédito à soberania
brasileira. Todos os motivos que foram elencados para justificar a taxação em
50% dos produtos brasileiros estão baseados em mentiras grosseiras. Trump
simplesmente inventou que os EUA têm um déficit comercial com o Brasil, sendo
que é justamente o inverso o que ocorre há pelo menos 15 anos.
Ele
falseou um dado que é amplamente conhecido, registrado inclusive pelo governo
americano, colocou numa carta pública endereçada a um país que é um aliado
histórico e que se dane. A verdade não importa. A mentira é a plataforma de
comunicação da nova extrema direita internacional.
A carta
de Trump segue mentindo quando reforça a ladainha bolsonarista de que as
eleições livres estão sendo atacadas e que Jair Bolsonaro está sendo perseguido
pela justiça no Brasil. Em tom de exigência, ele ainda pede para que o seu
julgamento seja interrompido “imediatamente”. Trata-se de uma violação de
princípios básicos do direito internacional e um ataque direto e violento
contra a Constituição brasileira e os poderes judiciário e executivo.
Diferente
do que aconteceu no debate sobre aumento do
IOF,
a burguesia nacional não se alinhou ao bolsonarismo. Claro, os EUA são o nosso
segundo maior parceiro comercial, e muitos setores produtivos serão
profundamente abalados com o tarifaço. Essa é uma pauta exclusiva da família
Bolsonaro e do núcleo golpista que a cerca.
Amedrontada
com a possibilidade iminente de ir para a cadeia, o bolsonarismo decidiu usar
parte da elite nacional como uma espécie de escudo humano. Nossos patriotas não
pensaram duas vezes antes de colocar o rabo do setor agropecuário — o mais
prejudicado com o tarifaço — na reta. O agro foi um dos principais financiadores da trama golpista, mas acabou se
tornando mais um dos companheiros golpistas que foram largados feridos na
estrada.
taxação
dos mais ricos no Brasil e criticando tarifaço dos EUA (Foto: Allison
Sales/Folhapress)
Já a
grande imprensa decidiu se alinhar em defesa da soberania nacional. Claro, os
barões da imprensa sempre representarão os interesses das elites nacionais que,
neste caso, convergem com os interesses do país e do povo brasileiro.
Em editorial, o Estadão chamou a
ofensiva de Trump de “coisa de mafiosos”. Mais que isso: convocou os
“verdadeiramente brasileiros” a não serem “sabujos de um presidente americano
que envergonha a democracia”. A aventura bolsonarista é antidemocrática até
para os padrões historicamente frouxos do jornal da família Mesquita. Nessa
briga, a família Bolsonaro ficará sozinha, contando no máximo com a meia dúzia
de vira-latas golpistas que integram o seu núcleo duro.
A
definição escolhida pelo Estadão — “coisa de mafiosos”— é precisa. É
exatamente do que se trata. A extrema direita internacional se articula como
uma máfia: agredindo as instituições de poder, chantageando governos e atuando
à margem da democracia. Tudo neste episódio cheira à máfia.
Vejamos:
o deputado federal licenciado e fujão Eduardo Bolsonaro e seu assecla Paulo
Figueiredo — o neto de ditador que já foi preso em Miami por participar de esquema de propina — fizeram
questão de se apresentar como os coautores dessa intimidação à soberania e à
democracia brasileira. E, de fato, o são.
Financiado
pelo papai e por dinheiro público, Eduardo passou os
últimos meses ao lado de Figueiredo nos EUA fazendo um intenso lobby na Casa
Branca em favor do golpismo no Brasil. Após o anúncio do tarifaço, ambos escreveram uma nota que soa como um
grupo de terroristas fazendo exigências para soltar reféns.
“Uma
hora a conta chega”, começa o texto, que segue amontoando uma série de
mentiras. Ao fim, a dupla golpista detalha quais são as exigências para evitar
um mal maior para o Brasil: “Apelamos para que as autoridades brasileiras
evitem escalar o conflito e adotem uma saída institucional que restaure as
liberdades. Cabe ao Congresso liderar esse processo, começando com uma anistia
ampla, geral e irrestrita, seguida de uma nova legislação que garanta a
liberdade de expressão — especialmente online — e a responsabilização dos
agentes públicos que abusaram do poder. Sem essas medidas urgentes, a situação
tende a se agravar — especialmente para certos indivíduos e seus sustentadores.
Restam três semanas para evitar um desastre.”
Ou
seja, um deputado e um militante bolsonarista denunciado por participar
de trama golpista no Brasil estão atuando como coautores e porta-vozes de um
governo estrangeiro que nos ameaça e chantageia. Haja patriotismo para os
nossos patriotas.
Steve
Bannon, outro integrante da máfia e que já foi preso por participar
de um esquema de fraude em favor de Trump, foi ainda mais direto que Bolsonaro.
Em entrevista ao UOL, o criminoso foi
claro na chantagem: “Derrubem o processo contra Bolsonaro, que nós derrubamos
as tarifas”.
Bannon
nem cargo tem no governo Trump, mas se sente à vontade para fazer esse tipo de
ameaça a uma nação amiga dos EUA. O chefe da máfia autoriza que o criminoso
atue como porta-voz informal do seu governo. Uma máfia não segue regras e
formalidades.
Mas a
coisa ficou mais mafiosa ainda quando o senador Flávio Bolsonaro entrou em
cena. Em uma entrevista para a CNN, ele avisou que chegou a hora de dar uma
segurada nessa história de patriotismo. Segundo ele, o Japão quis bancar o
patriota na Segunda Guerra Mundial e acabou levando duas bombas atômicas.
“Como é
que sai dessa enrascada agora? A gente vai continuar com o nosso orgulho, né?
‘Somos brasileiros’? Todos nós temos orgulho de ser brasileiros, mas como é que
resolve essa situação? Se você olhar para a Segunda Guerra Mundial, o que os
Estados Unidos fez [sic] com o Japão? Lançou uma bomba atômica em Hiroshima
para demonstrar força. Qual foi a reação do Japão naquela época? Falou: ‘Olha,
nós aqui somos patriotas; isso é uma interferência dos Estados Unidos aqui no
nosso país; nós aqui vamos resistir; fora ianques’. Qual foi a consequência
três dias depois? Uma segunda bomba atômica em Nagasaki”.
Trocando
em miúdos: o Brasil capitula ou será atropelado pelos EUA. Como nos filmes de
máfia, Flávio coloca a imagem da bomba atômica sobre a mesa para tornar tudo
ainda mais ameaçador. Ele continua: “Não estamos em condições normais de exigir
nada. Ele vai fazer o que ele quiser, independente da nossa vontade. Cabe a nós
termos a responsabilidade de evitar que caiam duas bombas atômicas no Brasil,
para depois anunciar que vamos fazer anistia”.
Ou
seja, temos um senador brasileiro nos fazendo uma proposta irrecusável:
obedecemos os EUA ou sofreremos consequências terríveis, inclusive bélicas.
Isso é coisa de máfia ou não é?
Com a
ajuda da máfia trumpista, a máfia bolsonarista sequestrou parte da economia
brasileira para chantagear os poderes constituídos, tentar derrubar o
presidente eleito e livrar Bolsonaro da cadeia para colocá-lo nas urnas na
próxima eleição. É o golpismo em estado bruto.
Por
outro lado, Lula agora tem a oportunidade de surfar uma onda nacionalista e
chegar forte em 2026. Não há dúvidas de que o tarifaço prejudicará a economia,
mas não chega a ser um bicho-papão. Segundo a avaliação de economistas da XP, as tarifas devem
reduzir o PIB em 0,3 ponto em 2025. É uma briga que dá para comprar, e Lula já
sinalizou que responderá com reciprocidade.
Em
todos os países em que Trump meteu o bedelho, o candidato alinhado a ele perdeu
a eleição. Foi assim no Canadá e na Austrália. Enquanto Tarcísio
de Freitas veste o boné do MAGA e continua caninamente alinhado ao
bolsonarismo, Lula poderá encarnar a defesa dos interesses brasileiros.
Depois
do IOF, o petista ganhou mais um mote eleitoral. Já o bolsonarismo terá de
lidar com a pecha de entreguista, que sacrificou empregos brasileiros para
tentar livrar Bolsonaro da prisão.
¨
Além de absurda, trama de Eduardo Bolsonaro pode
configurar crimes de coação e traição à pátria
O
programa TVGGN 20H da última sexta-feira (12) contou com a participação do
desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Marcelo Semer, para comentar
os efeitos jurídicos da tentativa de intervenção do Judiciário brasileiro do
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e também da possível
responsabilização do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) pela trama.
O
desembargador iniciou a entrevista afirmando que esta tentativa de intervenção
foi absurda e imperialista, que apesar de outras formas explicitas de dominar
países (na cultura, comércio, guerra ou no digital), agora chegou ao
Judiciário.
“Não
imaginávamos que podia ter uma questão tão explícita como essa de dizer não sei
se estão fazendo errado, soltam o Bolsonaro e deixam ele livre e coisa e tal. É
muito difícil você ,mensurar isso porque apesar de ser o Trump, a gente não
esperava que chegasse nesse ponto de uma coisa tão grotesca, tão
explícita”, pontua
Semer.
O
desembargador pontuou ainda que, obviamente, a compra da briga do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL), investigado pela tentativa de golpe de Estado e outros
crimes, tem interesses geopolíticos e que prefere que o Trump ameace o país a
iniciar um novo conflito armado.
“Mas
o que é mais inimaginável é que ele tem uma sorte de apoiadores aqui no Brasil
que batiam palma, que pediam isso e que batem palma depois mesmo sabendo que a
gente pode perder, sei lá, 100 mil empregos, pouco importa. Pouco importa, as
pessoas não estão se importando com o país, mas estão se importando com o
Bolsonaro, com a liberdade do Bolsonaro, enfim. Com a sobrevivência do projeto
político da extrema direita, eu até acho isso muito grave”, continua o
convidado.
De
acordo com um ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o que a família
Bolsonaro fez ao enviar Eduardo aos Estados Unidos para intermediar sanções ao
país devido às investigações contra o pai, Jair, pode ser qualificado como
traição à pátria.
Consequentemente,
o desembargador não tem sugestões de como o governo deveria reagir, tendo em
vista que o fim das investigações e, consequentemente, a responsabilização de
Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe não está em discussão. Nem mesmo o
governo federal teria poder para interferir na decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF).
“Mas
veja, nós temos hoje o governador do Estado de São Paulo sugerindo aos
ministros do Supremo, não sei como, se por telefone, por conversa, não deu para
saber porque essa foi uma informação que veio assim de bastidor, sugerindo que
liberasse o Bolsonaro para a ilha dos Estados Unidos”, revelou Semer. “Eu
confesso que ainda não caiu a ficha para mim porque o que o Trump fez, ele
praticamente ofereceu um asilo ao Bolsonaro. Agora vem outro e fala assim:
‘Vamos levar o Bolsonaro lá ver o que acontece?'”, emendou.
O
anúncio do aumento das tarifas sobre produtos brasileiros importados aos
Estados Unidos em até 50% evidenciou que o clã Bolsonaro só está preocupado com
a salvação do patriarca.
“O
que me deixou muito atônito é que o Eduardo Bolsonaro, que é o filho e deputado
federal, abriu mão praticamente do seu cargo, foi lá aos Estados Unidos e fala,
há meses que ele fala que está plantando exatamente isso. Eu não sei se ele é
muito bom articulador ou o Trump quis aproveitar essa oportunidade, pouco
importa. Ele está lá financiado pelo pai, pai já falou que mandou R$ 2 milhões
para que ele pudesse se manter, etc. E basicamente o que eles estão fazendo
tentar boicotar o processo por fora. A gente chama de coação no curso do
processo”, explica
Semer.
Para o
desembargador, Eduardo pode ter cometido os crimes de coação, crime contra a
democracia e contra a pátria, além de obstrução de Justiça.
¨
Uma nova espécie de patriota. Por Urariano Mota
Há que
ser procurada uma nova definição para a palavra traidor. No Dicionário Aulete,
encontramos:
“1. Aquele
que comete traição [+ a, de : traidor à /da pátria.]
2. Que comete
traição [Nas acp. 1 e 2, sin.: desleal, infiel, pérfido;
ant.: fiel, leal.]
3. Que é perigoso
mas não o aparenta; ENGANADOR” No Dicionário Houaiss, temos: “1 que compromete; comprometedor ‘apesar do disfarce, foi denunciado pela voz t’
2 perigoso sem o parecer
3 que ou aquele que atraiçoa; traiçoeiro”
O
terrível é que essas definições não encontram abrigo no Brasil de hoje, depois
da adesão da direita à insultuosa carta de Trump para o nosso presidente Lula.
Em lugar da palavra cuja personificação era o Cabo Anselmo, aquele que entregou
Soledad Barrett, companheira grávida para a morte, tal infâmia recebeu novo
significado político.
Se não,
olhem os fatos, ou vísceras de animal expostas nesta semana:
Em
documento, as centrais sindicais denunciaram que, além de lembrar a atuação
americana na ditadura militar no Brasil, a medida trumpista seria uma “reação
hostil” às decisões dos ministros do STF:
“Trata-se,
ainda, de um conluio com o bolsonarismo, que insiste em alimentar polarizações
e estimular grupos de extrema-direita a traírem os interesses nacionais”.
Mais,
dos fatos: nas primeiras reações do governador de São Paulo Tarcísio de
Freitas, quando Trump publicou um texto em defesa de Bolsonaro, Tarcísio
rapidamente reverberou a mensagem, tratando a iniciativa como uma vitória do
bolsonarismo e atacando a legitimidade do STF para julgar o processo
criminal contra o inelegível. Em vídeo postado em seu próprio perfil, Tarcísio
aparece colocando um boné vermelho com o slogan trumpista “Make America Great
Again” (faça a América grande novamente) e diz, sorrindo, “grande dia”.
O
deputado Lindbergh Farias denunciou que a medida arbitrária de Trump é
consequência direta da atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
e das forças de extrema-direita brasileiras, que agem nos EUA de forma
antinacional para tentar pressionar o Supremo Tribunal Federal a livrar a pele
do ex-presidente Jair Bolsonaro, em julgamento por articular um golpe de Estado
entre 2022 e 8 de janeiro de 2023.
Em
resumo. O novo significado para a palavra traidor é ser bolsonarista, ou de
modo mais preciso, ser um patriota entre aspas: “patriota”. Sua mais recente
definição é, por acréscimo: aquele que defende a terra dos outros em prejuízo
da própria, nativa e desprezada pátria.
Para o
caso dessa nova espécie, transformo em paródia um lindo poema de Frei Caneca.
Que o histórico e verdadeiro patriota, herói do Brasil, me perdoe esta
adulteração:
“Entre Senhor Trump e
a pátria
Coloquei meu coração:
O Trump roubou-me todo;
A Pátria que chore em vão”.
Fonte:
The Intercept/Jornal GGN

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