sexta-feira, 4 de julho de 2025

Irã suspende cooperação com Agência Internacional de Energia Atômica

O presidente iraniano Masoud Pezeshkian ordenou nesta quarta-feira (02/07) a aplicação da lei que suspende a cooperação do Irã com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A medida segue a orientação do Parlamento iraniano, que aprovou a suspensão em 25 de junho, em resposta a um relatório da AIEA considerado tendencioso pelo governo iraniano.

O relatório da AIEA, assinado por seu diretor-geral Rafael Grossi, teria aberto caminho para uma resolução crítica do Conselho de Governadores da agência. Autoridades iranianas alegam que a postura da agência encorajou o ataque coordenado de Israel e EUA contra três instalações nucleares do país em 22 de junho – incluindo as bases de Natanz, Fordow e Isfahan. A lei foi ratificada, em tempo recorde, pelo Conselho Constitucional do Irã.

Em coletiva na terça-feira (01/07), a porta-voz do governo Fatemeh Mohajerani afirmou que os ataques causaram “danos graves” às estruturas nucleares iranianas. Ela reforçou a tese de que os bombardeios foram “planejados em conjunto” por Washington e Tel Aviv.

<><> Presidente iraniano critica os padrões duplos da AIEA

Em conversa com Emmanuel Macron por telefone na noite de domingo (29/06), Pezeshkian pediu à agência nuclear da ONU que “evite padrões duplos e defenda os direitos de todos os membros sem discriminação”.

“A questão é por que o regime sionista criminoso, que não é membro do TNP e violou todas as regras internacionais nos últimos anos, deveria se tornar uma base e referência para os relatórios da AIEA”, disse o presidente iraniano ao seu homólogo francês.

Pezeshkian criticou o chefe nuclear da ONU por fazer relatórios incorretos sobre as atividades nucleares do Irã e por se recusar a condenar os ataques militares norte-americanos e israelenses às instalações nucleares do país.  O líder persa descreveu a conduta de Grossi como uma “fonte de preocupação e criação de sérios desafios que corroem a confiança da nação iraniana”.

O regime sionista travou uma guerra de agressão contra o Irã em 13 de junho e atingiu áreas militares, nucleares e residenciais do Irã por 12 dias. Um cessar-fogo que entrou em vigor em 24 de junho.

¨      Líder supremo do Irã rejeita proposta de Trump sobre acordo nuclear: 'não é assunto dos EUA'

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou nesta quarta-feira (04/06) que o país não abandonará seu processo de enriquecimento de urânio em contraponto à recente proposta norte-americana sobre o programa nuclear iraniano, e disse que a questão não é assunto dos Estados Unidos.

“A primeira palavra que os EUA dizem é que o Irã não deve ter uma indústria nuclear e deve ser dependente dos Estados Unidos. Nossa resposta para a falta de noção norte-americana é clara: eles não podem fazer nada quanto a essa questão”, disse.

O discurso foi realizado no complexo de Haram Motahhar, na capital Teerã, por ocasião do 36º aniversário do falecimento do aiatolá Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Iraniana. A reportagem de Opera Mundi acompanhou a fala in loco. Dezenas de milhares de muçulmanos do país e de diversas partes do mundo entrecortavam o discurso do líder supremo entoando gritos de “abaixo os EUA” e “abaixo Israel” de dentro do complexo, que abriga o mausoléu de Khomeini.

A exposição do líder supremo Ali Khamenei é uma resposta à demanda da administração Trump de que o Irã não seja capaz de enriquecer urânio como parte de um novo acordo nuclear. Para o aiatolá, que citou as aplicações medicinais e científicas da indústria nuclear, para além do uso energético, os “inimigos do Irã” buscam somente privar o país de uma indústria fundamental.

“O enriquecimento de urânio é a questão-chave no setor nuclear, e é exatamente nisso que nossos adversários têm se concentrado. A ideia fundamental dos EUA é que não haja indústria nuclear, que dependamos deles para radiofármacos, energia, usinas de dessalinização e dezenas de outros campos importantes” disse Khamenei.

“Vocês, norte-americanos, têm bombas atômicas. O que lhes importa se o povo iraniano tem capacidade de enriquecimento ou não? O que lhes importa se o Irã tem uma indústria nuclear ou não?”, acrescentou.

Desde sua volta à Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos reviveu sua campanha de “pressão máxima” contra o Irã, aumentando as sanções e ameaçando bombardear o país caso Teerã não se disponha a negociações quanto à questão nuclear. Por um lado, Washington busca impedir que os iranianos sejam capazes de produzir armas nucleares. Os iranianos, por sua vez, desejam o fim das sanções.

Durante seu primeiro mandato, em 2018, Trump foi responsável por descartar o acordo nuclear iraniano e reimpôs sanções contra o país, que respondeu aumentando sua capacidade de enriquecimento de urânio.

<><> Gaza

Ao longo de seu discurso, o líder iraniano mencionou também o genocídio israelense em Gaza. “[Os países ocidentais] não param de falar de paz, não param de falar em direitos humanos, mas frente a matança de milhares de crianças inocentes, sem mencionar os que não são crianças, silêncio. Em Gaza foram martirizadas, em um curto período, milhares de crianças – de fato, mais de 20 mil crianças – e esses que tanto falam de direitos humanos não só não impediram isso, como ajudaram o opressor”, disse o aiatolá, que classificou as ações israelenses como crimes contra a humanidade.

Ali Khamenei também reforçou ao longo de seu discurso que os EUA são cúmplices de Israel e deveriam ser retirados da região, fazendo um chamado para que as nações islâmicas abandonem a neutralidade e tomem ações decisivas em defesa da Palestina.

Silêncio e cautela diplomática não são mais opções viáveis”, afirmou ele, que apontou também que a proximidade de nações da região com Israel não é garantia de segurança.

¨      Cuba diz que EUA querem ‘calar à força’ críticas ao genocídio palestino

O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, criticou na segunda-feira (09/06) a decisão do governo dos Estados Unidos de suspender os vistos de estudantes estrangeiros das universidades do país. O diplomata afirmou que querem “calar à força” quem está denunciando o genocídio de Israel na Faixa de Gaza.

Em sua conta no X, o chanceler cubano se posicionou: “ao eliminar vistos para estudantes estrangeiros em prestigiosas universidades norte-americanas, o governo dos Estados Unidos pretende silenciar à força as vozes dentro daquele país que denunciam a cumplicidade dos EUA no genocídio israelense em Gaza”. Rodríguez acrescentou ainda que “a verdade não será silenciada”.

A denúncia do chanceler vem após a suspensão de seis meses da concessão de vistos para novos estudantes em Harvard. Medida realizada em 5 de junho evidenciando as políticas imigratórias do presidente norte-americano, Donald Trump.

O Departamento de Estado norte-americano também solicitou às embaixadas a suspensão de novas datas para a solicitação de visto de estudante, enquanto organizam um guia para analisar a “avaliação e verificação” dos candidatos. 

De acordo com a emissora latina Telesur, o consulado de Havana interpretou esses posicionamentos como uma forma “clara de silenciar a dissidência e a crítica dentro do próprio território norte-americano, especialmente diante do crescente movimento em solidariedade com a Palestina”.

<><> Revogação de vistos

A Suprema Corte dos Estados Unidos considerou constitucionalmente válido o decreto de retirar o status legal temporário de 532 mil imigrantes, em 30 de maio.

Durante o julgamento, o Departamento de Justiça norte-americano definiu o decreto de Trump como “uma política migratória cuidadosamente calibrada para impedir a entrada ilegal (de imigrantes)”, e que “esta é uma medida democraticamente aprovada pela maioria dos cidadãos nas eleições de novembro (de 2024)”.

estudante brasileiro Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, foi detido em 31 de maio por agentes da polícia de imigração dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês). O jovem que estava a caminho do treino de vôlei foi alvo da política imigratória do governo republicano.

A governadora de Massachusetts – local onde está detido – Maura Healey chegou a publicar um vídeo solicitando a libertação do brasileiro, que foi solto após repercussão do caso.

<><> Cuba rechaça Memorando de Trump e denuncia coerção econômica contra o país

O Ministério das Relações Exteriores de Cuba (Minrex) rejeitou nesta terça-feira, por meio de um comunicado oficial, o Memorando Presidencial do governo dos Estados Unidos emitido em 30 de junho de 2025. O documento representa uma reedição e emenda do Memorando Presidencial de Segurança Nacional nº 5, originalmente publicado em 16 de junho de 2017, no início do primeiro mandato de Donald Trump.

“Rejeitamos os infames documentos do governo dos EUA que intensificam ainda mais o cerco e a guerra econômica contra Cuba, e que servem unicamente aos interesses daqueles que lucram com a dor, o sofrimento e as carências do nosso povo”, declarou o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, na rede social X.

O comunicado acrescenta que a decisão revela “a conduta agressiva e os propósitos hegemônicos daquele país”, e que tanto o texto original quanto sua nova versão contêm um conjunto de medidas voltadas a fortalecer ainda mais o bloqueio econômico e a provocar maiores privações ao povo cubano.

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A chancelaria cubana também denunciou a imposição de pressões sobre entidades comerciais e financeiras em qualquer parte do mundo, com o objetivo de impedir seus vínculos com Cuba. “A mesma política que incentiva ações judiciais nos tribunais dos Estados Unidos contra investidores em nosso país, que determinou a caluniosa inclusão da ilha na lista de Estados supostamente patrocinadores do terrorismo, com suas nefastas consequências para a economia nacional”, destacou o comunicado.

<><> Política hostil

Nesse contexto, Cuba denunciou que “a política hostil assim definida viola o Direito Internacional e numerosas resoluções da ONU”.

Além disso, o governo cubano classificou como agressão o uso da coerção econômica para pressionar uma nação soberana, com o objetivo de “quebrar a vontade política de toda a nação e submetê-la à ditadura hegemonista dos Estados Unidos”.

“Não é por acaso nem por capricho que, desde 1992, a Assembleia Geral da ONU exige quase unanimemente o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro”, reforça o texto.

O Ministério das Relações Exteriores também apontou que os Estados Unidos, ao justificar tanto o memorando original quanto sua reedição, utilizam termos como “democracia, direitos humanos, liberdade religiosa e outros”.

No entanto, a nota afirma que os argumentos apresentados pelos EUA são “incompatíveis com a conduta histórica abusiva e transgressora do governo norte-americano”. E denuncia o esforço contínuo para “destruir o socialismo e converter a economia cubana ao capitalismo”.

“Cuba é um país pacífico, estável, solidário e com relações amistosas com praticamente o mundo inteiro. A política que os EUA aplicam responde aos interesses estreitos de uma camarilha anticubana e corrupta que fez da agressão ao vizinho um modo de vida e um negócio altamente lucrativo”, conclui o comunicado.

¨      Breno Altman: BRICS precisa se fortalecer após ataques contra Irã

“O BRICS não vai ruir, mas está sendo colocado à prova, já que um dos seus membros [Irã] foi atacado”, afirmou o jornalista Breno Altman no programa 20 MINUTOS ANÁLISE. Para o fundador de Opera Mundi, a debilidade do bloco em não ter reagido ou emitido uma nota após os bombardeamentos de Israel e Estados Unidos contra Teerã mostra uma fragilidade e não se posiciona como uma força geopolítica.

“Em uma situação como essa do ataque norte-americano e sionista contra o Irã, sendo o Irã membro do BRICS, é nesse momento que vemos as debilidades e que não podemos escondê-las. Eu concordo que o futuro é do BRICS, mas isso não quer dizer que o presente já seja do BRICS”, disse.

Segundo ele, o BRICS não é um bloco geopolítico no sentido pleno, é uma “articulação econômica e um campo geopolítico em maturação”. E não pode ser comparado com o G7, por exemplo, ou uma aliança formal entre os países, já que o agrupamento “ainda está em um grau baixo de amadurecimento e por isso não se comporta como um bloco”.

Porém, mesmo que aponte uma vulnerabilidade do BRICS, Altman não vê a organização “ruindo”.

<><> Influência dos EUA

A influência dos Estados Unidos nas “peças moles”, para Altman, confirma a debilidade do BRICS em não se posicionar e se comportar como um bloco. O jornalista ainda afirmou que há possibilidades do governo norte-americano tentar operar dentro do Brasil para tentar impedi-lo de consolidar o agrupamento.

O especialista decreta que o endurecimento será uma “luta que passará pelas articulações internas de cada país e dentro do cenário internacional”.

Nesse sentido, o fundador de Opera Mundi também apontou a aliança entre o governo indiano de Narendra Modi com os Estados Unidos como reflexo dessa influência norte-americana: “embora a Índia tente buscar a construção de menor subalternidade no sistema capitalista, ainda segue sendo uma aliada ao governo republicano. Apesar de ter uma relação próxima à Rússia, o Modi não é uma peça de antagonismo com a liderança de Trump, já que possuem interesses geopolíticos e ideológicos em comum”.

“O BRICS se consolidará se nos estados que integram tiverem governos anti-imperialistas e da classe trabalhadora. A China é firme, justamente pela revolução que criou um Estado que não é controlado pela burguesia. Ter um governo anti-imperialista conduz que os países tenham atitudes firmes em rumo a consolidação do BRICS, sem ser afetado pela pressão da força, economia e capacidade de amedrontamento dos Estados Unidos”, complementou.

 

Fonte: Tasnim News Agency/Opera Mundi

 

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