sexta-feira, 11 de julho de 2025

Haddad vê decisão de Trump sobre tarifas como ato político e culpa família Bolsonaro por tensão com EUA

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta quinta-feira (10), que não há "racionalidade econômica" na decisão do presidente americano, Donald Trump, em aumentar as tarifas impostas a produtos brasileiros. Segundo ele, trata-se de uma decisão política (leia mais abaixo).

"Eu acredito que essa decisão é uma decisão eminentemente política, porque ela não parte de nenhuma racionalidade econômica. Não há racionalidade econômica no que foi feito ontem [quarta], uma vez que os Estados Unidos, como todos sabem, ele é super arbitrário com relação à América do Sul como um todo, e ao Brasil também", afirmou Haddad.

"O Brasil como um todo, nos últimos 15 anos, nós tivemos um déficit de bens e serviços de mais de US$ 400 bilhões dos EUA, então não há racionalidade econômica na medida que foi tomada", prosseguiu.

Haddad também culpou a família do ex-presidente Jair Bolsonaro por ter contribuído para a decisão de Trump. O ministro também fez críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

"O próprio Eduardo Bolsonaro disse a público que se não vier o perdão, as coisas tendem a piorar. Isso ele disse publicamente, fazendo todos nós acreditarmos — porque não há outra explicação — de que esse golpe contra o Brasil, contra a soberania nacional, foi medido de forças dentro do país. Até a extrema direita vai ter que reconhecer, mais cedo ou mais tarde, que deu um tiro no pé", argumentou.

As declarações do ministro foram dadas em uma entrevista ao programa "Barão Entrevista" do Canal do Barão. Ao ser questionado por um jornalista sobre Tarcísio, Haddad sugeriu que o governador de São Paulo seria alguém submisso aos EUA.

"Sobre o governador, o governador errou muito. Porque ou bem uma pessoa é candidata à presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem, desde 1822 isso acabou. O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico", pontuou.

<><> Ameaça ao Brics

Outro ponto mencionado por Haddad foram as ameaças de Trump ao Brics — bloco que agrupa países do Sul Global. O ministro detalhou a diversidade de parcerias que o Brasil vem firmando. Além disso, sinalizou que o país tem tamanho "para não pensar em se alinhar a nenhum bloco".

"Nós não mudamos a atitude em relação ao governo dos Estados Unidos respeitando a escolha do povo americano e dizendo: continuamos abertos a parcerias. Nós temos muitas áreas de interesse comum", sinalizou.

"Não há porque não voltar a discutir em bases econômicas que sejam boas para os dois lados, que sejam edificantes para as duas nações que são amigas há 200 anos", prosseguiu.

Na entrevista, Haddad também afirmou que o governo precisa melhorar a sua comunicação com a população e o enfrentamento a fake news, que, na avaliação do ministro, prejudica a imagem do Executivo e o entendimento sobre as políticas públicas implementadas.

¨      Haddad comenta posição de Tarcísio e fala em servidão a Bolsonaro: 'Candidato a vassalo'

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), comentou nesta quinta-feira (10) o posicionamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e afirmou que o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) é candidato "a vassalo".

Em uma rede social, Tarcísio atribuiu a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a atitudes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O governador disse em suas redes sociais que "a responsabilidade é de quem governa" e que "Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado".

Questionado sobre a fala, Haddad afirmou que a tarifa norte-americana não deve se manter, porque não tem realidade econômica, e que a publicação de Tarcísio representa um comportamento de servidão ao ex-presidente Bolsonaro.

"O governador [Tarcísio] errou muito. Porque ou bem uma pessoa é candidata à presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem, desde 1822 isso acabou. O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico", afirmou Haddad, em entrevista.

🔎O termo "vassalo", originalmente, se refere a um indivíduo que presta serviços e fidelidade a um senhor feudal, no sistema adotado na Idade Média. Também pode ser usado para descrever um 'súdito ou subordinado'.

As declarações do ministro foram dadas em uma entrevista ao programa "Barão Entrevista" do Canal do Barão.

Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cotado para disputar a Presidência contra o atual presidente em 2026, Tarcísio afirmou que a decisão de Trump é resultado de alinhamento do Brasil a países autoritários e defesa da censura, acrescentando que o governo petista não pode jogar a culpa no seu antecessor.

<><> Racionalidade econômica

Sobre a tarifa imposta por Trump, Haddad afirmou que a medida não deverá se sustentar por muito tempo, porque se trata de uma reação política e não há racionalidade econômica.

"Eu acredito que essa decisão é uma decisão eminentemente política, porque ela não parte de nenhuma racionalidade econômica. Não há racionalidade econômica no que foi feito ontem [quarta], uma vez que os Estados Unidos, como todos sabem, ele é super arbitrário com relação à América do Sul como um todo, e ao Brasil também", afirmou Haddad.

"O Brasil como um todo, nos últimos 15 anos, nós tivemos um déficit de bens e serviços de mais de R$ 400 bilhões de dólares dos EUA, então não há racionalidade econômica na medida que foi tomada", prosseguiu.

Haddad também culpou a família do ex-presidente Jair Bolsonaro por ter contribuído para a decisão de Trump.

"O próprio Eduardo Bolsonaro disse a público que se não vier o perdão, as coisas tendem a piorar. Isso ele disse publicamente, fazendo todos nós acreditarmos, porque não há outra explicação, de que esse golpe contra o Brasil, contra a soberania nacional, foi medido de forças dentro do país".

<><> Ofensiva tarifária

O anúncio de Trump foi recebido com espanto por especialistas no Brasil e no mundo, que destacaram a motivação política da decisão. "Ele [Trump] mencionou a iminente condenação do Bolsonaro", disse, em entrevista à GloboNews, o ex-presidente do Banco Central Alexandre Schwartsman.

"Não seria a primeira vez que os Estados Unidos usam a política tarifária para fins políticos", escreveu o economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel.

Entidades da indústria e da agropecuária brasileira também manifestaram preocupação com o anúncio e afirmaram que as taxas ameaçam empregos no setor.

¨      Governo estuda retaliação após Trump anunciar tarifa de 50% ao Brasil

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), disse que o governo vai criar um grupo de trabalho para estudar eventual retaliação à tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil para os Estados Unidos anunciadas por Donald Trump na quarta-feira (9). "Vamos criar um grupo de trabalho", afirmou o ministro.

Segundo Costa, esse grupo também vai ficar responsável por estudar novos mercados – uma forma de compensar ao menos parte das perdas da tarifa, se ela for mantida. Os canais diplomáticos também continuarão abertos e o governo brasileiro vai negociar até o dia 1º de agosto.

A tarifa de 50% sobre exportações brasileiras foi anunciada por Trump na quarta-feira (9) em uma carta pública enviada ao presidente Lula (PT).

No documento, o presidente norte-americano afirma que a tarifa será aplicada sobre "todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA", independentemente de tarifas setoriais já existentes. Produtos como aço e alumínio, por exemplo, já enfrentam barreiras semelhantes, impactando a indústria siderúrgica brasileira.

<><> Trump citou julgamento de Bolsonaro ao anunciar tarifa sobre o Brasil

Ao anunciar tarifa sobre os produtos brasileiros, Trump citou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse ser "uma vergonha internacional" o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF), chamando o processo de uma “caça às bruxas”.

O republicano ainda mencionou, sem provas, ataques do Brasil à liberdade de expressão e a empresas de tecnologia americanas. Ele se referiu, especificamente, a decisões do STF, que segundo ele teria emitido ordens de censura a plataformas de mídia social dos EUA.

Trump alegou injustiça na relação comercial com o Brasil, mas dados do governo indicam que, desde 2009, o país importa mais dos EUA do que exporta, acumulando prejuízo na balança comercial.

<><> Itamaraty considerou anúncio 'ofensivo', e Lula prometeu reciprocidade

Em reação, Lula declarou que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que a tarifa de Trump será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica.

A lei permite que o governo brasileiro adote medidas de retaliação contra países ou blocos econômicos que apliquem barreiras comerciais, legais ou políticas contra o Brasil. As respostas podem ser:

  • Sobretaxas na importação de bens e serviços
  • Suspensão de acordos ou obrigações comerciais
  • Em casos excepcionais, suspensão de direitos de propriedade intelectual, como o pagamento de royalties ou o reconhecimento de patentes.

Lula reiterou que o julgamento dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 é de competência exclusiva da Justiça brasileira.

O Itamaraty, por sua vez, devolveu a carta à embaixada dos EUA, em um gesto simbólico de protesto. Segundo fontes ouvidas pelo blog da Julia Duailibi, a embaixadora Maria Luisa Escorel considerou o teor do documento “ofensivo” e “inaceitável”.

¨      Agro e indústria dizem que sobretaxas de Trump são injustas e ameaçam empregos

A decisão de Donald Trump de apoiar Bolsonaro punindo empresas brasileiras provocou preocupações imediatas com as possíveis consequências sobre a saúde delas e, claro, sobre os empregos que oferecem.

A Associação Brasileira das Exportadoras de Carne declarou que o aumento da tarifa atrapalha o comércio e afeta negativamente o setor produtivo. A ABIEC informou que é importante que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global.

A Frente Parlamentar da Agropecuária afirmou que haverá impactos no câmbio e consequente aumento de custo de insumos importados, que isso afeta a competitividade das exportações brasileiras; que a diplomacia é o caminho mais estratégico.

A Associação dos Exportadores de Suco declarou que a sobretaxa é péssima para o setor como um todo e que atinge os próprios americanos, que há décadas têm o Brasil como principal fornecedor externo.

A Associação da Indústria do Plástico disse que a medida atinge empresas que exportam produtos de alta complexidade e que geram empregos qualificados.

A Confederação Nacional da Indústria afirmou que não há qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho. A CNI argumentou que a indústria brasileira é interligada à americana; que uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia; e enfatizou que, ao contrário do que diz o governo americano, há mais de 15 anos os Estados Unidos mantêm superávit nas relações com o Brasil.

¨      Governadores comentam 'tarifaço' de Trump e reforçam posições contra e pró-governo Lula

A decisão do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de taxar em 50% produtos brasileiros, anunciada nessa quarta-feira (9), gerou uma série de manifestações de governadores, que replicaram seus alinhamentos a favor, ou contra, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No caso dos gestores estaduais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a movimentação foi de estabelecer uma relação de causa e efeito entre a instabilidade nas relações de Lula e Trump e o motivo das novas tarifas à economia brasileira.

É o caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na publicação, ele disse que "a responsabilidade é de quem governa".

"Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado. Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil" , escreveu Tarcísio. 

  • Especialistas brasileiros e estrangeiros destacaram o caráter político da carta de Trump. O texto cita como motivo o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, criticou o posicionamento de Tarcísio, que é ex-ministro de Bolsonaro e alinhado ao ex-presidente.

"Quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil. Pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente do EUA, porque nunca se importaram de verdade com o país e o povo", escreveu a ministra.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), foi o único gestor estadual apoiador da gestão petista a se manifestar, até a última atualização desta reportagem. Ele defendeu uma resposta do governo à tentativa de interferência na soberania nacional por parte do republicano.

Os governadores usaram as redes sociais para comentar as novas tarifas dos EUA contra o Brasil.

>>>> Veja, abaixo, as manifestações:

<><> SP: Tarcísio de Freitas (Republicanos)

"Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado. Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema".

<><> MG: Romeu Zema (Novo)

"As empresas e os trabalhadores brasileiros vão pagar, mais uma vez, a conta do Lula, da Janja e do STF. Ignorar a boa diplomacia, promover perseguições, censura e ainda fazer provocações baratas vai custar caro para Minas e para o Brasil".

<><> BA: Jerônimo Rodrigues (PT)

"O Brasil não é quintal de ninguém. O presidente dos EUA, com essa decisão, taxa e castiga o setor produtivo brasileiro, que gera empregos e já tinha contratos fechados. Enquanto Lula trabalha para taxar as grandes fortunas, há quem jogue contra e prefira taxar o Brasil.

Somos um país soberano, guiado pelo respeito e pela dignidade. Não aceitaremos chantagem nem tutela de lugar nenhum. A Bahia está de mãos dadas com o Brasil e com o presidente Lula.

A terra do 2 de Julho não abre mão do respeito ao nosso povo, da nossa independência e da nossa soberania. A gente tem lado: o lado do povo brasileiro e da democracia. RESPEITE O BRASIL!"

<><> GO: Ronaldo Caiado (União)

"O presidente Lula não está fazendo nada fora do script. Pelo contrário, segue à risca o que Hugo Chávez fez na Venezuela, ao afrontar gratuitamente o governo americano.

Lá, ao sofrer represálias como as aplicadas agora ao governo brasileiro, Chávez ressuscitou Bolívar e conclamou o enfrentamento aos americanos em nome da soberania e veja o que aconteceu àquele país. Aqui, o Lula, de caso pensado, declara uma guerra contra o Congresso Nacional, tenta deflagrar uma luta de classes entre ricos e pobres (depois de ter assaltado os aposentados) e sai em ataque ao presidente dos Estados Unidos, país que sempre foi nosso aliado.

Com as medidas tomadas pelo governo americano, Lula e sua entourage tentam vender a tese da invasão da soberania do Brasil. Mas Lula não representa o sentimento patriótico do nosso povo, e muito menos tem credenciais para defender a soberania brasileira.

Lula já se ajoelhou ao narcotráfico e quer de toda maneira se aliar aos países que são verdadeiras tiranias sustentadas pelo ódio, a corrupção e o terrorismo. O que nos cabe fazer diante da gravidade do momento seria a criação de uma Comissão de Parlamentares, da Câmara e do Senado, com a missão de abrir diálogo com o governo americano.

E esclarecer ao povo dos Estados Unidos que não confundam declarações do Lula com o pensamento do povo brasileiro".

<><> RS: Eduardo Leite (PSD)

O governador enviou um posicionamento ao g1 RS. Veja:

"Em primeiro lugar, destacar que não podemos aceitar tentativas de interferência de um outro país sobre as nossas decisões, das nossas instituições brasileiras.

As instituições são feitas por pessoas, as pessoas, os seres humanos, são falíveis. Falham, erram, acertam e, naturalmente, nós temos muitas virtudes e tantos defeitos nas nossas próprias instituições, mas quem define e corrige as nossas instituições somos nós, os brasileiros, e não interferências de fora do país, isso não pode ser aceito de maneira nenhuma.

De outro lado, a gente observa o quanto que essa polarização radicalizada na política gera impactos negativos para o nosso país e a gente assiste um debate de tentar lançar culpados para cá ou para lá, quando, na verdade, o país deveria estar debruçado sobre ter negociações diplomáticas pragmáticas preservando o interesse nacional.

A gente acompanha ainda, né, incipiente, assim. Informações que se tem, na forma como vão se aplicar essas tarifas. O Rio Grande do Sul também tem negócios importantes que envolvem desde exportação para nós principalmente do tabaco, armas de fogo, tem pasta de celulose, de madeira, enfim, que são exportadas para os Estados Unidos.

Vamos acompanhar tudo isso para ver os efeitos, impactos e naturalmente as ações possíveis no âmbito local, de maneira garantir competitividade e menor impacto possível, mas eu lamento que a gente observe um tipo, uma tentativa de interferência dessa natureza no nosso país e ressalto mais uma vez que essa polarização política radicalizada está mais uma vez demonstrando o quanto que ela fere os interesses do país".

 

Fonte: g1

 

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