sexta-feira, 4 de julho de 2025

Golpistas pagam ao Google pelo disparo de e-mails patrocinados com armadilhas para fraudes

As fraudes cometidas por estelionatários no ambiente da internet estão atingindo outro patamar. Agora, as armadilhas para o golpe chegam até as possíveis vítimas em e-mails patrocinados. Ou seja: o golpista paga à plataforma para que ela envie a mensagem maliciosa.

Atenção: este e-mail é um golpe. E, para enganar o consumidor e dar a impressão de que a mensagem é real, o golpista usou artimanhas. Na caixa de entrada do Gmail, o serviço de e-mail do Google, ele apresenta a logomarca dos Correios ao se identificar como "Portal Encomendas" e destaca no título do e-mail que um suposto pedido está pendente.

A mensagem diz que existe uma encomenda aguardando regularização e oferece a armadilha: o link para que a pessoa que recebeu a mensagem inicie a suposta liberação do produto. O falso site pede dados pessoais: endereço, número de telefone, da identidade e até do passaporte. E, na sequência, também pede o número do CPF, simulando um rastreamento da encomenda.

No golpe virtual conhecido como "phishing", criminosos obtêm os dados da vítima e usam para aplicar outros golpes. Outro detalhe importante chama atenção: a mensagem falsa no Gmail informa que se trata de e-mail patrocinado. Ou seja: o remetente pagou ao Google pelo envio daquela mensagem a grupos de pessoas.

Clicando no remetente, é possível obter informações sobre quem teria pagado. É claro que o nome que consta não é o dos Correios, mas o de uma mulher e ainda um CNPJ - um registro obrigatório para todas as empresas ativas no Brasil.

O Jornal Nacional foi à localidade de Espera Feliz, na Zona da Mata, em Minas Gerais. O endereço consta como sendo da empresa que enviou o e-mail. Encontramos Ana Lívia Ferreira Alves. Ela reconheceu o CNPJ como sendo da empresa dela, mas não sabe como ele foi parar no anúncio patrocinado enviado por e-mail.

"Na verdade, eu nem tenho conhecimento para fazer isso, porque como eu disse, meu e-mail é praticamente para uso pessoal. Não tenho nem motivo para enviar para ninguém, porque não tenho nem para quem enviar. Não tenho conhecimento de outros e-mail, a não ser o meu”, diz a doméstica Lívia Ferreira Alves.

O Google afirma ter verificado a identidade do anunciante, mas aceitou enviar os e-mails com a marca dos Correios apesar de o anunciante ter o nome de uma mulher e um CNPJ de uma microempresa de serviços domésticos. O mesmo CNPJ e o mesmo endereço do anunciante aparecem em um outro anúncio, sobre renovação de carteiras de motorista - que o Fato ou Fake, do g1, já provou se tratar de mais um golpe.

A empresa ou pessoa física que paga por um e-mail patrocinado escolhe, por exemplo, o público-alvo e a localização dos destinatários. Mas não tem acesso aos endereços eletrônicos, os e-mails individuais desses destinatários. É a plataforma digital, no caso o Google, que identifica os perfis de interesse do anunciante e dispara os e-mails com a armadilha para o golpe.

Especialistas dizem que a verificação feita pelos provedores de e-mail, que deveria oferecer segurança para quem recebe os anúncios, não tem sido eficiente na prevenção de golpes.

"É um vício no serviço que eles estão oferecendo. Então, se eles estão se propondo a oferecer serviço, eles têm que oferecer de maneira de qualidade, segura para o consumidor. Como o e-mail é impulsionado, como o provedor daquele e-mail entra em uma função de garantidor ao impulsioná-lo, então entra muito mais para uma função de anúncio do que propriamente para uma função de comunicação privada. Então, eu entendo que ele também poderia ser responsabilizado”, afirma o promotor Mauro Ellovitch, do grupo de Combate a Crimes Cibernéticos.

Os Correios voltaram a esclarecer que não enviam mensagens por e-mail, SMS ou WhatsApp sobre objetos bloqueados ou pagamento de taxas; que monitoram essas fraudes contra clientes e, sempre que necessário, denunciam os casos à Polícia Federal.

Para quem está aguardando uma encomenda dos Correios, a orientação é usar o aplicativo ou o site oficial: correios.com.br, onde é possível rastrear encomendas e pagar tributos de importação com segurança.

O Google declarou que tem políticas de publicidade que os anunciantes devem seguir, e que usa uma combinação de revisão humana e inteligência artificial para identificar possíveis violações; e que só em 2024 removeu mais de 200 milhões de anúncios.

A auxiliar administrativa Maria Alice Socorro caiu em um golpe bem parecido. Recebeu um e-mail que aparentava ser dos Correios, dizendo que ela precisava pagar taxas para ter uma encomenda liberada. Como ela havia mesmo feito uma compra, acreditou e pagou mais de R$ 400:

"Era tudo direitinho, bonitinho. Você jurava que estava falando com um cara do Correio, sabe? É muito perfeito o que eles fazem. Fui pagando taxas e taxas, até que acordei. O prejuízo está enorme e a gente não sabe como fazer”, diz Maria Alice.

•        Fábricas de golpes digitais: veja como escapar de falsas ofertas de emprego

Um relatório da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), divulgado nesta semana, alertou para a expansão das fábricas de golpes cibernéticos que exploram vítimas de tráfico humano.

Essas pessoas são atraídas por falsas ofertas de emprego e acabam sendo coagidas a participar de esquemas criminosos online.

Inicialmente concentradas no Sudeste Asiático, essas operações agora atingem vítimas de, ao menos 66 países, incluindo o Brasil, segundo a organização. A Interpol classifica a situação como uma “crise global”.

As armadilhas costumam ser aplicadas em plataformas populares, como o LinkedIn e o WhatsApp.

Com o aumento desses crimes, proteger-se contra falsas ofertas de trabalho se tornou essencial. Veja a seguir dicas para evitar cair nesse tipo de golpe.

🚨 Como se proteger de golpes de falsas vagas de emprego

•        Desconfie de propostas 'boas demais'

Segundo o LinkedIn, promessas de bônus antecipados ou benefícios fora do padrão são sinais de alerta. Golpes costumam usar esse tipo de isca para despertar interesse rápido e driblar o senso crítico.

•        Sempre confirme a vaga no site oficial da empresa

Vale a pena verificar diretamente no site oficial da companhia se a vaga realmente está aberta. A dica é de Marco De Mello, diretor-executivo da empresa de segurança digital PSafe, e foi dada em uma reportagem do Fantástico.

•        Evite responder a números desconhecidos no WhatsApp

O WhatsApp é um dos meios preferidos por golpistas, justamente por ser amplamente usado. Ao iniciar uma conversa, criminosos tentam coletar o máximo de informações pessoais com perguntas sutis.

"Eles conseguem dados suficientes sobre você, como contas bancárias, endereço, muitas coisas", afirmou Verónica Becerra, especialista em cibersegurança, à BBC.

•        Ative a verificação em duas etapas

Trata-se de um mecanismo que exige mais de um fator de verificação de identidade, como a senha e um código enviado por e-mail. Essa camada extra funciona como uma proteção adicional contra acessos não autorizados.

Por isso, seja no WhatsApp, no LinkedIn ou no e-mail, vale a pena ativar a verificação em duas etapas.

•        Fique atento a erros gramaticais

Segundo o LinkedIn, ofertas de vagas com muitos erros ortográficos ou gramáticas são sinal de que o recrutador pode ser falso.

•        Desconfie se pedirem pagamento ou compra de equipamento

Golpistas podem pedir dinheiro com justificativas como “taxas de contratação” ou exigir que o candidato compre equipamentos — como computadores, celulares ou tablets. Cuidado: esse tipo de pedido é um forte indício de golpe.

•        Mulher compra carro de R$ 92 mil para golpista que enganou 40 mulheres com 'golpe do amor'

Promessas de casamento, restaurante próprio, viagens e vida a dois foram usadas por Wagner Oliveira, de 43 anos, para enganar uma moradora do Distrito Federal. A vítima, que prefere não ser identificada, chegou a financiar um carro de R$ 92 mil para presentar o suspeito, que acabou preso na última quinta-feira (26).

A TV Globo e o g1 tentam localizar a defesa de Wagner Oliveira, acusado de aplicar o "golpe do amor" em mais de 40 mulheres.

A mulher contou que conheceu Wagner em um aplicativo de relacionamentos e que, após alguns encontros, passaram a se aproximar.

“Ele também queria conhecer minha família, já estava falando em casar, queria conhecer, comprar aliança ontem. [...] Ele é muito cheio da lábia, usa muito as coisas de Deus, inclusive eu fui para igreja com ele", disse a mulher à reportagem.

<><> O golpe

Nos primeiros dias de relacionamento, Wagner começou a pedir dinheiro à vítima.

“Ele me pediu para a gente comprar um carro, para a gente viajar, me pedindo para tirar um empréstimo, para montar um restaurante. [...] Eu tirei um carro para nós no valor de R$ 92 mil e financiado de 60 vezes de aproximadamente R$ 3 mil. E ele nem questionou o valor da parcela, disse que daria para pagar, que não era para me preocupar”, afirmou.

Desconfiada do comportamento do homem, a filha da vítima pediu o nome completo do suspeito para verificar seus antecedentes. Após pesquisar, ela descobriu que o suspeito tinha passagens pela polícia por estelionato e avisou a mãe que ele já havia sido preso por golpes.

Conforme noticiado pelo g1, Wagner já havia sido preso de 2023 suspeito de enganar 26 mulheres. Com a descoberta, a vítima começou a inventar desculpas para ganhar tempo e evitar enviar mais dinheiro e procurou a Polícia Civil.

<><> Prisão

Wagner Oliveira foi preso preventivamente pela Polícia Civil (PCDF) na última quinta-feira (26/6), na Cidade Estrutural (veja vídeo acima) com a ajuda da vítima.

Com vários perfis nas redes sociais, o suspeito buscava vítimas em aplicativos de relacionamentos e se aproximava delas de maneira amorosa para obter vantagens financeira.

De acordo com a polícia, o investigado tinha como principal alvo mulheres solteiras com filhos e que teriam estabilidade financeira.

Para ganhar confiança das vítimas, Wagner se passava como empresário e alegava que precisava de dinheiro para liberar mercadorias apreendidas.

Após obter a quantia, ele mantinha o relacionamento enquanto ainda conseguia mais dinheiro ou bens das vítimas. Quando elas passavam a questionar os valores ou cobrar o pagamento, o investigado rompia a relação e as abandonava.

"Não se envolva. Procure conhecer a pessoa melhor para não passar o que eu estou passando”, alerta a vítima.

 

Fonte: g1

 

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