Genocídio
palestino: entenda dossiê que enfureceu Trump e o levou a sancionar relatora da
ONU
Na
última quarta-feira (09/07), dia em que o presidente Donald Trump elevou
para 50% as tarifas de produtos brasileiros, os Estados Unidos também
anunciaram sanções contra a
jurista italiana Francesca Albanese, relatora especial da Organização das Nações
Unidas (ONU) para os territórios palestinos ocupados por Israel. Segundo Marco
Rubio, secretário de Estado dos EUA, Albanese realiza “esforços ilegítimos e
vergonhosos para pressionar” o Tribunal Penal
Internacional (TPI) de
Haia “a agir contra funcionários, empresas e executivos dos EUA e de Israel”.
Com a decisão, qualquer bem, valor ou interesse que Albanese tenha no
território norte-americano — ou que ingresse no país a partir de agora, mesmo
que por meio de terceiros — deve ser bloqueado.
Em
resposta, Albanese afirmou que as sanções dos EUA
tentam minar seu trabalho e que continuará a denunciar o genocídio em Gaza.
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Economia do genocídio
Google,
Microsoft e a Amazon são as principais empresas de
tecnologia que
lucram com o genocídio praticado por Israel contra a população palestina na
Faixa de Gaza, de acordo com o relatório. O documento de Albanese se propõe a
destrinchar o “mecanismo corporativo que sustenta o projeto colonial
israelense”.
Intitulado “Da economia de ocupação à economia de genocídio”, o texto aponta
que essas empresas contribuem decisivamente para o deslocamento e o extermínio
dos palestinos. Ao todo, 48 empresas são mencionadas como autoras de práticas
que negam a autodeterminação do povo palestino e permitem “outras violações
estruturais, incluindo ocupação, anexação e crimes de apartheid e genocídio”.
A
jurista afirma que, antes mesmo de outubro de 2023, a parceria de Israel com as
empresas mencionadas gerava lucros a partir da ocupação de Gaza. Porém, com o
agravamento do genocídio, essa atuação “se metamorfoseou em infraestruturas
econômicas, tecnológicas e políticas mobilizadas para infligir violência em
massa e imensa destruição”.
Albanese
nomeia este novo estágio de “economia do genocídio”. Para ela, o setor privado,
incluindo seus executivos, precisa ser também responsabilizado pelas ações
contra os palestinos.
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Armazenamento de dados, inteligência artificial e comércio eletrônico
O
documento ressalta que as parcerias entre a Alphabet Inc., empresa-mãe do
Google, e a Amazon para armazenamento de dados em nuvem pelo Ministério da
Defesa de Israel, em especial no Projeto Nimbus, de 2021, destinaram cerca de
US$ 1,2 bilhão (R$ 6,48 bilhões na cotação daquele ano). Segundo o relatório, o
sistema Nimbus é utilizado por Tel Aviv no controle populacional. “Seus
servidores localizados em Israel garantem a soberania dos dados e um escudo
contra responsabilização, sob contratos favoráveis que oferecem restrições ou
supervisão mínimas”, afirmou a ONU. Em Israel está o maior centro da Microsoft
“fora dos Estados Unidos”, de acordo com o texto.
A
Amazon, por sua vez, além de participar do Projeto Nimbus, é responsável direta
pelas plataformas de comércio eletrônico nas colônias israelenses sediadas em
territórios palestinos ocupados ilegalmente, “permitindo a expansão e
participando do apartheid por meio da prestação de serviços discriminatórios”.
De
acordo com capturas de tela de um memorando interno da Google publicado pelo
jornal norte-americano Washington Post, o cofundador da empresa,
Sergey Brin, chamou as Nações Unidas de “transparentemente antissemitas” num
fórum de discussão interno da empresa. “Com todo o respeito, usar o termo
genocídio em relação a Gaza é profundamente ofensivo para muitos judeus que
sofreram com verdadeiros genocídios. E teria ainda cuidado ao citar
organizações transparentemente antissemitas, como é a ONU, em relação a essas
questões”, escreveu Brin nos materiais obtidos pelo periódico. Um porta-voz de
Brin confirmou a veracidade da afirmação.
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Petroleiras e o esforço bélico de Israel
A
brasileira Petrobras também foi mencionada no relatório da ONU como uma das
empresas que sustentam a “economia do genocídio”. Outras empresas do ramo
petroleiro também estão presentes no documento. Com maior destaque, são citadas
a BP (British Petroleum, britânica) e a Chevron (norte-americana),
além da norte-americana Drummond Company, da suíça Glencore PLC, e das
israelenses Paz Retail and Energy e NewMed Energy. “Ao abastecer Israel com
carvão, gás, petróleo e combustível, as empresas [de petróleo] estão
contribuindo para as infraestruturas civis que Israel usa para consolidar a
anexação permanente e que agora usa como arma na destruição da vida palestina
em Gaza”, diz o relatório.
O
documento de Albanese ainda afirma que essas empresas fornecem recursos que
“têm servido às Forças Armadas israelenses e à sua obliteração de Gaza”, e que
“a natureza ostensivamente civil de tal infraestrutura [fornecimento de
combustível] não exime uma empresa de responsabilidade” sobre o genocídio em
Gaza. “A BP e a Chevron também são os maiores contribuintes para as importações
israelenses de petróleo bruto, como principais proprietários do estratégico
oleoduto azeri Baku-Tbilisi-Ceyhan e do Kazakh Caspian Pipeline Consortium,
respectivamente, e de seus campos de petróleo associados”, afirma a nota 59 do
relatório. Segundo o estudo, “cada conglomerado forneceu efetivamente 8% do
petróleo bruto israelense entre outubro de 2023 e julho de 2024, complementado
por remessas de petróleo bruto de campos de petróleo brasileiros, nos quais a
Petrobras detém as maiores participações, e combustível militar para
jatos”. A nota 59 traz a única menção à petroleira brasileira do
relatório.
O anuário de 2025 da ANP aponta um
incremento nas vendas de combustíveis do Brasil para Israel de 51% em 2024, quando comparadas
com 2023, chegando a 2,98 milhões de barris. O número é bastante superior ao
incremente das exportações gerais brasileiras de combustíveis, que foi de 9%.
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Federação Única dos Petroleiros pede rompimento de relações com Israel
A
Federação Única dos Petroleiros (FUP), que reúne sindicatos dos trabalhadores
do setor de petróleo no Brasil, emitiu nota avaliando como correta a informação
do relatório de Albanese que aponta a exportação de óleo bruto de poços
brasileiros “operados em parceria com a Petrobras”.
Baseada
em dados do Dieese, a
FUP apontou que, em maio de 2025, o Brasil produziu, em média, 4,76 milhões de
barris de petróleo e gás natural por dia. A Petrobras, como operadora, foi
responsável por 4,25 milhões/dia (89% da produção nacional), dos quais
aproximadamente 1,35 milhão de barris “foi apropriado pelas empresas parceiras
nos consórcios que operam os campos petrolíferos” — entre elas, a BP e a
Chevron.
Dados
do sistema oficial do governo brasileiro para extração de estatísticas do
comércio exterior (ComexStat), utilizados pela FUP, indicam que, entre janeiro
e julho de 2024, o Brasil exportou para
Israel mais
de US$ 215 milhões (mais de R$ 1 bilhão) em “combustíveis minerais, óleos
minerais e produtos da sua destilação; matérias betuminosas; ceras minerais”.
Contatada
por Opera Mundi, a FUP defendeu que, diante dos fatos apontados no
relatório de Albanese, “o governo brasileiro rompa relações comerciais com
Israel, sobretudo no tema petróleo”.
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Petrobras diz que não exportou petróleo a Israel
Opera
Mundi contatou a Petrobras sobre a menção no relatório da ONU. A empresa
negou que realize exportações para Israel. Segundo a Petrobras, o documento da
ONU “não afirma, em nenhum momento, que a Petrobras forneceu petróleo cru e nem
que é fornecedora de combustível de aviação militar para Israel”.
Ainda
segundo a empresa, “não é possível concluir que a Petrobras foi a fornecedora”
de petróleo e combustível para o genocídio porque o documento apenas cita
“petróleo bruto de campos petrolíferos brasileiros”.
Apesar
de reconhecer que a companhia “detém as maiores participações em campos
nacionais”, não seria possível concluir, “a partir disso”, que a companhia foi
a fornecedora do petróleo bruto para Israel. “A Petrobras não é a única
produtora e exportadora de petróleo do Brasil”, complementa a nota enviada pela
assessoria de imprensa da estatal.
Em um
segundo contato com a assessoria, foi reafirmado a Opera Mundi que a
empresa não identificou exportações para Israel em nenhum poço de petróleo em
que está associada. “A companhia respeita e promove os direitos humanos,
conduzindo seus negócios de acordo com as leis e padrões internacionais, com
destaque para o Pacto Global e os Princípios Orientadores sobre Empresas e
Direitos Humanos, ambos da ONU”, finalizou a empresa.
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Netanyahu volta para casa sem um acordo de paz em Gaza,
mas ainda mantém Trump ao seu lado. Por André Roth
Benjamin
Netanyahu retornou a Israel na sexta-feira sem um cessar-fogo na guerra de
Gaza, apesar das previsões otimistas de autoridades americanas e israelenses de
que esta semana poderia proporcionar um avanço nas negociações. Mas ele não
voltou para casa completamente de mãos vazias. A visita do primeiro-ministro
israelense foi a terceira desde a posse de Donald Trump, com várias reuniões de
alto nível na Casa Branca, uma indicação de Trump para receber o Prêmio Nobel
da Paz e sugestões de Trump e do enviado especial para o Oriente Médio, Steve
Witkoff, de que a paz poderia ser alcançada em uma semana. Mas, com o fim da
viagem de Netanyahu, nenhum resultado claro havia sido alcançado. Witkoff adiou
uma viagem a Doha na terça-feira, pois ficou claro que as negociações não
haviam chegado a um ponto em que pudessem resultar em um acordo de cessar-fogo.
Enquanto
Netanyahu repetia o refrão de que um cessar-fogo poderia ser anunciado em
poucos dias, um acordo para trazer paz a mais de 2 milhões de palestinos na
Faixa de Gaza permanecia
indefinido. “Espero que possamos concluí-lo em poucos dias”, disse Netanyahu
durante uma aparição na Newsmax, uma rede de notícias conservadora e pró-Trump,
na quarta-feira. “Provavelmente teremos um cessar-fogo de 60 dias. Retirem o
primeiro lote [de reféns] e usem os 60 dias para tentar negociar um fim para
isso.”
Na
quinta-feira, ao comparecer a um culto em memória de dois funcionários da
embaixada israelense mortos em Washington, Netanyahu afirmou que Israel não abriria mão de suas exigências para a
dissolução do Hamas. "Estou promovendo uma medida que resultará em uma
libertação significativa, mas apenas sob as condições que Israel exige:
desarmamento do Hamas e desmilitarização de Gaza", disse ele. "Se não
for alcançado por meio da diplomacia, será alcançado pela força."
Várias
autoridades sugeriram durante a semana que restava apenas um ponto de discórdia
entre os negociadores em Doha: a extensão da retirada das Forças de Defesa de
Israel após a libertação de alguns dos reféns mantidos pelo Hamas. A Casa
Branca havia rejeitado um mapa inicial que deixaria Israel com zonas
significativas de controle em Gaza, o que Witkoff comparou a um "plano
Smotrich", referindo-se ao ministro das Finanças israelense linha-dura,
Bezalel Smotrich. Israel teria redesenhado esse mapa para torná-lo mais
aceitável para o governo americano.
Mas o
Hamas afirmou que havia outros desacordos, incluindo negociações sobre se o
Fundo Humanitário de Gaza, um grupo logístico apoiado por Israel e pelos EUA,
teria permissão para continuar a entregar alimentos ao território (a ONU
informou na sexta-feira que 798 pessoas morreram tentando chegar
aos locais do Fundo Humanitário de Gaza desde sua introdução em maio) e se
Israel concordaria com uma trégua permanente, o que o Hamas afirmou que não
faria. Mediadores americanos buscaram preencher a lacuna dizendo aos
intermediários do Catar que garantiriam a continuação do cessar-fogo após 60
dias, enquanto as negociações prosseguissem.
O
resultado é que, embora Netanyahu deixe os EUA sem um cessar-fogo, ele
administrou seu relacionamento com Trump por meio de garantias de alto nível de
que está buscando a paz em Gaza, ao mesmo tempo em que mantém um status quo que
os membros de sua coalizão de direita, incluindo os ministros Smotrich e Itamar
Ben-Gvir, disseram ser preferível a um acordo de paz. Para Netanyahu, a viagem
produziu imagens que reforçaram as alegações israelenses de que "não havia
luz do dia" entre ele e Trump, e ocorreu ao mesmo tempo em que o
secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou a decisão de impor sanções a Francesca Albanese , especialista
da ONU em territórios palestinos ocupados, por instar o tribunal penal
internacional a investigar autoridades israelenses e empresas americanas sobre
a guerra de Gaza. As frustrações de Trump com Netanyahu pareciam estar fervendo
há mais de um mês, quando o presidente dos EUA tentava negociar uma trégua
entre o Irã e Israel, que vinham trocando ataques aéreos e bombardeios de
mísseis enquanto Israel tentava desmantelar o programa nuclear iraniano. "Não
estou satisfeito com Israel", disse ele no gramado da Casa Branca.
"Basicamente, temos dois países que lutam há tanto tempo e com tanta
afinco que não sabem o que estão fazendo."
Isso
lembrou comentários de Robert Gates, ex-secretário de defesa dos EUA, sobre as
dificuldades de sucessivos governos da Casa Branca em administrar um aliado na
região que também tinha considerável influência política nos EUA. “Todos os
presidentes para quem trabalhei, em algum momento de sua presidência, ficavam
tão irritados com os israelenses que não conseguiam falar”, disse Gates.
Mas uma
ruptura total com os EUA teria sido desastrosa para Netanyahu, que administra
sua própria e difícil coalizão e foi alvo de uma investigação interna de
corrupção, que foi novamente adiada devido a suas viagens internacionais. E,
após ataques conjuntos contra o Irã, o primeiro-ministro israelense fez questão
de mostrar que os dois homens estavam em sintonia, ao mesmo tempo em que dava
ao governo Trump a oportunidade
de demonstrar que estava trabalhando em prol da paz em Gaza.
Elliott
Abrams, pesquisador sênior de estudos do Oriente Médio no Conselho de Relações
Exteriores em Washington, disse que o governo Trump tentou, como fez durante o
primeiro cessar-fogo de curta duração, exercer "pressão direta sobre
Israel" por meio de discussões com Netanyahu e seu principal tenente, Ron
Dermer, e "tentando pressionar o Hamas principalmente por meio dos
catarianos, quando há essas negociações em Doha". Ele acrescentou: “Não
está claro se essa pressão é eficaz”.
Hamas
esgotado concentra-se em novo objetivo desesperado: capturar um soldado
israelense. Por Jason Burke
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Hamas esgotado concentra-se em novo objetivo desesperado:
capturar um soldado israelense. Por Jason Burke
À
medida que o Hamas intensifica sua campanha insurgente contra as forças
israelenses em Gaza, ele se concentra em um novo objetivo: capturar um soldado
israelense. Na semana passada, um sargento das Forças de Defesa de Israel (IDF)
foi morto em Khan Younis, no sul de Gaza, em uma tentativa de sequestro.
Militantes do Hamas também tentaram
levar os restos mortais de Abraham Azulay, de 25 anos, mas desistiram ao serem
atacados por outras forças israelenses.
A
captura de um soldado ou de seus restos mortais ofereceria uma nova e
significativa vantagem para o Hamas, à medida que as negociações indiretas sobre
um acordo de cessar-fogo continuam, e teria um grande impacto na opinião
pública em Israel. “Esta tentativa falhou. [Mas] não há dúvida de que o Hamas
aumentará suas tentativas de fazer novos reféns, incluindo corpos de soldados e
civis mortos”, disse Michael Milstein, chefe do fórum de estudos palestinos da
Universidade de Tel Aviv.
O Hamas
ainda mantém 50 dos 250 reféns capturados durante seu ataque surpresa em 7 de
outubro de 2023, quando militantes mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, e
desencadearam o conflito em Gaza. Acredita-se que mais da metade esteja morta,
e a libertação de 28 está sendo discutida nas negociações de cessar-fogo no
Catar.
“O
Hamas pode libertar prisioneiros para estabelecer um cessar-fogo, pelo menos
por enquanto, mas também está tentando capturar mais... então está sinalizando
que qualquer acordo não será um fim permanente para o conflito geral”, disse
Abdeljawad Hamayel, um analista político baseado em Ramallah. O Hamas provou
ser especialista em explorar o valor propagandístico de ataques bem-sucedidos,
e seus canais de mídia transmitiram um vídeo da tentativa de sequestro na
semana passada. Outras imagens mostraram militantes atacando veículos blindados
e tratores israelenses.
Um
analista palestino baseado no Catar, familiarizado com as discussões
estratégicas do Hamas, afirmou: "Não se trata apenas de ganhar uma carta
na manga nas negociações, mas sim de uma parte fundamental da batalha
psicológica. O Hamas visa fortalecer seus próprios combatentes e desmoralizar
tanto os soldados israelenses em Gaza quanto os civis em Israel."
Autoridades
israelenses têm descrito repetidamente como o poderio militar do Hamas foi
degradado, e poucos analistas duvidam das pesadas baixas sofridas em Gaza pela
ala militar da organização. As Forças de Defesa de Israel (IDF) alegam ter
matado até 23.000 militantes, de um total de cerca de 30.000 no início da
guerra, sem apresentar provas. As perdas de liderança do Hamas são mais
evidentes. A maioria dos comandantes de alto e médio escalão ativos em 2023 já
morreram.
O
analista baseado no Catar disse que o Hamas pode estar mobilizando apenas
"algumas centenas" de combatentes em Gaza, mas que isso é suficiente
para seus propósitos estratégicos. “O Hamas tem apenas algumas células aqui,
mas é muito cuidadoso e preciso com seus recursos”, disseram.
Especialistas
militares dizem que o Hamas fez uma "transformação militar" durante o
conflito de 21 meses, de uma força quase convencional para uma adequada à
guerra de guerrilha, e que sua nova estratégia é mais bem adaptada à devastação
em Gaza, onde a ofensiva israelense matou 57.000 pessoas, a maioria civis, e
reduziu vastas áreas a ruínas. Uma emboscada na semana passada matou cinco
soldados e feriu nove no que resta de Beit Hanoun, outrora uma próspera cidade
no norte de Gaza, reduzida a alvenaria destruída e metal retorcido por
sucessivas ofensivas israelenses. Parte da extensa rede de túneis do Hamas
também permanece intacta, oferecendo um meio de escapar do poder aéreo e das
capacidades de vigilância de Israel.
Guy
Aviad, ex-historiador militar das Forças de Defesa de Israel (IDF) e
especialista no grupo, disse: “É um campo de batalha muito complexo para as
IDF. O Hamas está se aproveitando de todos os escombros. Eles são especialistas
em guerrilha e lutam contra Israel há 20 anos.” Os canais permanecem abertos
entre os líderes militares em Gaza e a liderança política do Hamas no Catar e
em Istambul, disseram especialistas. Apenas dois líderes políticos importantes
– incluindo o então líder Ismail Haniyeh – foram mortos
desde o início da guerra. A rede de enviados, autoridades, agentes clandestinos
e simpatizantes do grupo em grande parte do mundo islâmico e em outros lugares
também permanece praticamente intacta e continua a arrecadar fundos para a
organização.
O Hamas
governou Gaza desde 2007 e seus funcionários ainda comandam nominalmente
ministérios, autoridades municipais e muito mais, embora seu domínio sobre o
território esteja diminuindo à medida que outros atores, incluindo gangues
criminosas, coalizões de líderes comunitários e novas milícias apoiadas por
Israel, contestam sua autoridade remanescente. Trabalhadores humanitários no
território afirmam que autoridades e agentes de segurança do Hamas estão menos
presentes do que há seis meses.
As
baixas continuam a aumentar no território. Centenas de civis foram mortos desde
o início da última rodada de negociações de cessar-fogo, no domingo. Dez
soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF) foram mortos neste mês e 20 em
julho. “Estamos vendo agora uma forma de guerra de desgaste que está colocando
alguns limites ao poder de Israel e também está tendo algum efeito na opinião
pública em todo o mundo”, disse Hamayel. Milstein disse que o Hamas ansiava por
um cessar-fogo, mas não a qualquer custo. "Aqui em Israel, fizemos uma
experiência com a ideia de que cada vez mais pressão sobre o Hamas significa
que eles [eventualmente] desistirão. Bem, quanta pressão a mais você consegue
imaginar?", disse ele. "Matamos seus líderes. Destruímos Gaza. Mas
não mudamos as atitudes e demandas básicas do Hamas."
Fonte:
The Guardian

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