Financeirização
da economia e subdesenvolvimento: especificidades do Brasil
A
chamada financeirização da economia impacta o desenvolvimento de todos os
países do mundo - com suas singularidades nacionais - independentemente de sua
posição na ordem econômica internacional. O fenômeno não se manifesta apenas
através do endividamento do Estado, mas também através de vários outros
aspectos sociais e econômicos, como reestruturação do trabalho, aumento das
desigualdades, endividamento das famílias, deterioração dos serviços públicos
etc.
Há
nessa fase um predomínio dos mercados financeiros sobre a produção, as
empresas, mesmo as industriais, cada vez mais têm como base de lucro as
operações financeiras (ações, derivativos, títulos etc.), e não a produção ou
comércio de bens e serviços. As estratégias empresariais passam a privilegiar
resultados financeiros de curto prazo, como valorização das ações, em vez de
investir em longo prazo ou em inovação produtiva. Empresas de setores
produtivos passam a adotar estratégias próprias do setor financeiro: recompra
de ações, fusões especulativas, operações para maximizar o valor do acionista.
As decisões sobre emprego, produção e investimentos acabam se subordinando à
lógica financeira.
Uma
forma simples de medir o peso das finanças na economia como um todo é através
da presença de instituições financeiras, entre as maiores empresas de uma
determinada economia. Com base nos dados mais recentes, de 2024–2025, segue
abaixo um panorama, entre as 20 maiores economias (G-20), indicando quantos
bancos estão presentes entre as 10 maiores empresas de cada país. O critério
utilizado para definir as 10 principais empresas de cada país foi o de
capitalização de mercado, ou seja, o valor total de mercado de todas as ações
em circulação de uma empresa, calculado pelo preço atual da ação multiplicado
pelo número de ações emitidas. A Tabela permite avaliar o peso do setor
financeiro em cada economia, assim como algumas peculiaridades regionais
importantes.
Conforme
se pode observar, o setor bancário é muito forte entre as 10 maiores empresas
de países alguns países subdesenvolvidos da lista (Brasil, Índia, Indonésia,
África do Sul). Em economias que formam o núcleo dos países imperialistas, os
bancos têm pouco peso entre esse grupo das 10 maiores empresas. Nos EUA,
Alemanha, França e Itália, não há nenhum banco entre as maiores empresas. No
Japão, há apenas um banco entre as maiores empresas. As exceções entre os
ricos, são Canadá, com metade das 10 maiores empresas sendo bancos, e Reino
Unido, com 3 bancos entre as top 10. Nos países imperialistas centrais as
maiores empresas geralmente são ligadas à tecnologia, saúde ou energia.
Apenas
três países da lista do G-20 possuem 5 empresas financeiras, entre as 10
maiores: China, Canadá e Brasil. A China é um caso totalmente específico,
porque as cinco instituições financeiras que aparecem na lista são estatais ou
são majoritariamente controladas pelo governo chinês. Portanto, estão
subordinadas ao projeto nacional de desenvolvimento operado pelo Estado chinês,
que conta obviamente com o apoio das empresas estatais, incluindo os bancos.
Talvez por isso, a taxa de juros reais da China é, neste momento, algo em torno
de 3,15% (cerca de 1/3 a do Brasil). Entre os países imperialistas, o Canadá,
certamente figura como uma exceção. Observe-se que este país, mesmo exibindo
características de país imperialista (presença global de multinacionais de
origem canadense, participação em guerras e blocos econômicos de influência
etc.), é considerado de “segunda linha” em comparação aos principais
imperialismos, como como EUA, França, Reino Unido e Alemanha.
No
Brasil, entre as 10 maiores empresas por capitalização de mercado em 2024, 5
são bancos: pela ordem, Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Nubank e BTG
Pactual. Na lista aparece apenas um banco público, o Banco do Brasil, que é de
economia mista. O controle acionário é Estatal, a União Federal detém a maioria
das ações ordinárias (com direito a voto), mantendo o controle efetivo do
banco. Mesmo tendo objetivo de lucro para os acionistas, o banco atua em
setores estratégicos, como crédito agrícola, infraestrutura etc. O Banco do
Brasil foi listado pelo governo de Jair Bolsonaro para ser vendido, mas não foi
possível completar o serviço.
A força
do sistema financeiro no Brasil está diretamente relacionada ao sistema da
dívida pública. Entre os países do G-20, nenhum gasta tanto com os serviços da
dívida quanto o Brasil, nem mesmo a Argentina, cuja economia neste momento
corre o risco de colapso em função do endividamento externo. O pagamento dos
juros da dívida pública brasileira custou, só nos últimos 12 meses, até abril,
aproximadamente R$ 928,4 bilhões. Essa cifra equivale a 7,71% de todo o PIB do
país no período. Essa despesa com juros é o componente principal do chamado
déficit nominal do setor público, que no mesmo período alcançou R$ 939,8
bilhões (ou 7,91% do PIB). Ou seja, o chamado “problema fiscal” no Brasil,
pretexto para sucessivas retiradas de direitos dos trabalhadores, são os gastos
com os serviços da dívida pública.
Além de
ser o país do mundo que mais gasta com o serviço da dívida pública (juro e
amortizações) o Brasil apresenta outra importante especificidade nessa área: o
endividamento público, a emissão de títulos para captação de recursos, não tem
o objetivo de viabilizar investimentos ou obras públicas, como seria o normal.
O endividamento é gerado sem que ocorra um investimento ou prestação de serviço
correspondente. Cria-se uma dívida, emite-se títulos públicos, e não há nenhum
investimento que justifique a geração da dívida. Com a iniciativa, os governos
no Brasil violam a Constituição Federal, que proíbe a emissão de títulos
públicos para pagar apenas juros. É o princípio constitucional conhecido como a
"Regra de Ouro" das finanças públicas, prevista no artigo
167, inciso III, da Constituição Federal do Brasil.
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O povo vai cair na conversa de Armínio Fraga e Campos
Neto? Por Moisés Mendes
Armínio
Fraga e Roberto Campos Neto decidiram falar, não em defesa da sempre arrogante
racionalidade neoliberal, mas em nome do povo, para atacar a campanha por
justiça tributária, ou o que chamam de nós contra eles.
A Globo
subiu mais um degrau em direção a Tarcísio de Freitas e ao bolsonarismo e teve
seu dia de Record ao usar Armínio para abrir uma longa reportagem do Jornal
Nacional na semana passada.
Sem
surpresas, se a intenção fosse fazer com que o milionário ex-presidente do BC
falasse para a sua turma. Mas Armínio e os outros escalados para atacar Lula e
as esquerdas falaram olhando para os trabalhadores e os pobres.
O
Jornal Nacional apresentou um super-rico como alguém que defende os interesses
da maioria. E esse é o problema. Se a Globo acredita mesmo que Armínio fala em
nome da maioria que paga impostos e não da minoria que não paga, é porque há
algum sentido nessa tramoia.
O
Jornal Nacional nos desafia a responder à provocação feita com a exposição de
Armínio. Essa é a provocação: vocês pensam que não, mas há pobres acreditando
que Armínio defende mesmo os pobres. E em meio à exacerbação da luta dos ricos
contra todos os não ricos, e não apenas contra os pobres.
Mas não
foi sempre assim? Foi, mas pode estar piorando. A Globo apostou na amplificação
das vozes que já convenceram muita gente de que falam pelas maiorias. E que
levaram aos vários formatos da figura resumida como o pobre de direita.
Todos
os que estudam e refletem sobre o fenômeno da identificação do pobre com a
prosperidade dos milionários sabem do que se trata, do antropólogo argentino
Alejandro Grimson ao sociólogo brasileiro Jessé Souza.
O pobre
que cansou de ser pobre, que viu avós e pais trazerem essa canseira desde o
tempo em que se falava da luta de classes e de interesses coletivos, esse pobre
é puxado pela Globo, no Jornal Nacional, para a sala da hipnose individualista
de Armínio Fraga.
Armínio
não fala só para a sua turma, mas como quem entende de povo. Larguem dessa
ideia de pobres contra ricos, porque isso não dá certo. É o que dizem desde
sempre e vão repetir, porque funciona. Se não funcionasse, o cenário seria
outro.
Chegamos
ao momento em que o sofisticado discurso de Armínio se mistura sem disfarces à
fala rasa da extrema direita. Liberais e fascistas, que formaram o painel
mostrado no Jornal Nacional da semana passada, nos oferecem o retrato da
hora.
Armínio
aparece antes de Rogério Marinho e de Hugo Motta na reportagem da Globo, porque
a Faria Lima, o centrão, os bolsonaristas e os grileiros têm os mesmos
interesses e discursos, mas os ricos têm reputação. Armínio só ainda não bebeu
uísque na boca da garrafa.
O
sujeito que prega contra a correção do salário mínimo acima da inflação, pede
cortes de verbas públicas na área social e faz campanha da boca pra fora pela
tributação dos ricos é o que se apresenta falando aos pobres e combatendo a
campanha que dá voz aos pobres.
É uma
estratégia que aposta na confusão de como os trabalhadores e a classe média se
enxergam hoje. No domingo, a Folha aproveitou a ideia da Globo e colocou
Roberto Campos Neto na capa.
Com a
mesma conversa de que o nós contra eles não funciona e uma lição dirigida a
Lula: "As ideologias de esquerda têm uma obsessão com igualdade e não com
a diminuição da pobreza".
Agora
só falta Globo e Folha oferecerem a manchete a Gustavo Franco, o sujeito que
ajudou a quebrar o Brasil na presidência do Banco Central, na crise cambial do
segundo governo de Fernando Henrique.
Mas a
pergunta se mantém, impávida e desafiadora: a aposta nos milionários como voz
dos pobres pode funcionar, para pelo menos enrolar e confundir a cabeça da
classe média ressentida?
Os
recados de Armínio e Campos Neto terão o efeito que Globo e Folha esperam? Os
pobres vão continuar ouvindo os ricos liberais que se aliaram descaradamente à
extrema direita?
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Sobretaxa dos EUA contra o Brasil seria "tiro no
pé", diz Celso Amorim
O
assessor especial da Presidência, embaixador Celso Amorim, defendeu nesta
segunda-feira que o Brasil não fez nada contra os Estados Unidos para receber
ameaças de tarifas e que considera o país como um grande parceiro.
"Nós
não fizemos nada contra os Estados Unidos. Nós achamos os Estados Unidos um
grande parceiro", disse Amorim em entrevista à CNN Brasil.
O
assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda afirmou que o Brasil não
pretende colocar tarifas sobre os EUA e que seria um "tiro no pé" se
os norte-americanos começarem a impor taxas sobre os produtos brasileiros.
"O
Brasil é um dos poucos países que têm déficit (comercial) com os EUA. Então eu
acho, sinceramente, que se eles começarem a aplicar tarifa no Brasil, é um tiro
no pé."
As
falas de Amorim vêm um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, ameaçar impor tarifas comerciais adicionais de 10% aos países que se
alinharem às políticas do Brics, que ele avaliou como contrárias aos EUA.
"Qualquer
país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics terá de pagar uma
tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado por sua
atenção a esse assunto!", disse Trump em uma postagem na plataforma Truth
Social.
Trump
não esclareceu a referência às "políticas antiamericanas" em sua
publicação.
¨
Governo aposta em novo junho de 2013. Por Eduardo
Guimarães
Comunicação
do governo Lula decidiu combater fogo com fogo. A extrema-direita quer guerra
eleitoral em 2026 — e vai ter.
É
possível fazer uma analogia entre a Campanha Contra os Super-Ricos de 2025 e os
Protestos de Junho de 2013. Esta análise explora a possibilidade de traçar uma
analogia entre a campanha do governo Lula contra os super-ricos, lançada em
meados de 2025, e os protestos de junho de 2013 no Brasil.
Os
protestos de junho de 2013 começaram como uma resposta ao aumento das tarifas
de transporte público, liderados pelo Movimento Passe Livre (MPL), mas
rapidamente expandiram-se para incluir demandas mais amplas.
Aquelas
manifestações envolveram centenas de milhares de pessoas em mais de 80 cidades,
com picos de até 2 milhões de participantes simultâneos nessas cidades, como
reportado pelo diário britânico The Guardian em 21 de junho de
2013.
As
demandas incluíam combate à corrupção, melhoria nos serviços públicos como
saúde e educação, e críticas à violência policial. As redes sociais foram
fundamentais para organizar e disseminar as marchas, com o movimento sendo
descrito como uma das maiores mobilizações, então, desde 1992, segundo a
revista estadunidense Americas Quarterly.
O
impacto político daquele movimento foi significativo, contribuindo para a queda
na popularidade de Dilma Rousseff e, eventualmente, para seu impeachment em
2016, além de abrir caminho para a ascensão de Jair Bolsonaro, conforme a
revista The Atlantic em 20 de junho de 2018.
Já a
campanha contra os super-ricos, iniciada em junho de 2025, foi liderada pelo
governo Lula com foco no aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e
na proposta de taxar bilionários, bancos e casas de apostas, apelidada de
"taxação BBB".
A
narrativa dita pela mídia conservadora como "nós contra eles" foi
central, destacando a necessidade de corrigir desigualdades fiscais. O
movimento eclodiu em eventos públicos como o de Lula aparecendo com cartazes de
"taxação BBB" em Salvador, em 2 de julho de 2025.
A
pesquisa Quaest registrou 4,4 milhões de menções nas redes sociais entre 24 de
junho e 4 de julho de 2025, superando crises anteriores como o escândalo do
INSS, com hashtags como "InimigosDoPovo" e "Congresso da
Mamata" amplificando a mensagem.
O
jornal Valor Econômico, de 3 de julho de 2025, sugere que a
campanha aumentou a popularidade de Lula em cerca de 5 pontos percentuais,
descolando-o das críticas e direcionando-as ao Congresso, especialmente ao
presidente da Câmara, Hugo Motta.
A
aposta da Secom do governo federal, pois, é em forte mobilização popular,
embora em formas diferentes. Em 2013, as redes sociais foram cruciais para
organizar marchas, com milhões nas ruas, enquanto em 2025 a campanha digital
mostrou potencial em desencadear movimento semelhante, com milhões de menções
nas redes. E a estratégia promete muito mais.
A
disseminação de mensagens via hashtags, como "Revolta do Vinagre", em
2013, e "InimigosDoPovo", em 2025, confere papel central às mídias
sociais em ambos os casos.
Os dois
momentos desafiam o status quo, com os protestos de 2013
questionando o sistema político e a campanha atual pressionando o Congresso por
proteger os ricos.
A
analogia entre a campanha contra os super-ricos de 2025 e os protestos de junho
de 2013 é válida no sentido de que ambos representam momentos de mobilização
popular contra a desigualdade e o establishment político, com
redes sociais como ferramenta central.
Há,
porém, diferenças cruciais: enquanto os protestos de 2013 contribuíram para a
queda de Dilma, a campanha de 2025 fortaleceu Lula, demonstrando habilidade de
seu governo em canalizar o descontentamento popular a seu favor. E sem “Black
bloc”...
Fonte:
Brasil 247

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