terça-feira, 8 de julho de 2025

Ben Norton: BRICS se expande para 56% da população mundial e 44% do PIB global

Enquanto os Estados Unidos e Israel estavam ocupados travando uma guerra contra o Irã em junho, o BRICS anunciou discretamente que o Vietnã havia aceitado o convite do grupo para se juntar como país parceiro.

 Com a adição do Vietnã, o BRICS+ estendido agora tem 20 membros e parceiros, em julho de 2025.Os 10 membros do BRICS são:

  • Brasil  
  • Rússia  
  • Índia  
  • China  
  • África  do Sul  
  • Egito  
  • Etiópia  
  • Indonésia  
  • Irã  
  • Emirados Árabes Unidos

Os 10 parceiros do BRICS são:

  • Bielorrússia  
  • Bolívia  
  • Cuba  
  • Cazaquistão  
  • Malásia  
  • Nigéria  
  • Tailândia  
  • Uganda  
  • Uzbequistão  
  • Vietnã

Juntos, os 20 países do BRICS representam 43,93% da economia global, quando seu PIB combinado é medido em paridade de poder de compra (PPC), de acordo com dados do FMI.

Os 20 países do BRICS têm uma população combinada de 4,45 bilhões, em um total global de 8,01 bilhões em 2025, segundo dados do FMI.

Isso significa que o BRICS+ representa 55,61% da população mundial.

 O BRICS foi fundado inicialmente como BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) em 2009. A África do Sul aderiu em 2010, tornando-se BRICS.

A organização liderada pelo Sul Global se expandiu pela primeira vez na cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, em 2023, com a adição de novos membros.

Em sua cúpula de 2024 em Cazã, Rússia, o BRICS convidou mais uma dúzia de países para se juntarem como "estados parceiros".

Desde então, o grupo tem sido frequentemente chamado de BRICS+, embora não haja uma definição fixa para o termo, e ambos os nomes são usados.

O Vietnã havia sido convidado a se tornar um parceiro do BRICS na cúpula de outubro de 2024, mas só aceitou o convite em junho de 2025.

EUA falham em dividir China e Vietnã: Hanói mantém não alinhamento

A decisão do Vietnã de se juntar ao BRICS é profundamente simbólica, pois reafirma a política externa independente e o não alinhamento estratégico do país.

O próprio BRICS compartilha muitas semelhanças com o Movimento dos Não Alinhados, fundado por líderes do Sul Global anticoloniais que se recusaram a participar da Primeira Guerra Fria.

No século XXI, os EUA tentaram dividir o Vietnã da China, como parte da Segunda Guerra Fria que Washington trava contra Pequim.

O governo dos EUA planeja redirecionar cadeias de suprimentos através do Vietnã para excluir a China, em um exemplo do que foi chamado de "friendshoring" (terceirização para aliados).

Washington pressionou empresas norte-americanas a "desacoplar" tecnologicamente da China, retirar seus investimentos do país e realocá-los no Vietnã.

Essa política de dividir para conquistar foi adotada tanto pelas administrações de Donald Trump quanto de Joe Biden.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, um bilionário gestor de fundos de Wall Street, tentou recrutar Vietnã, Japão, Coreia do Sul e Índia para isolar a China, em uma estratégia que a Bloomberg descreveu como "grande cerco".

No entanto, o Vietnã resistiu firmemente às tentativas dos EUA de sabotar suas relações com a China.

Na verdade, as relações entre Hanói e Pequim melhoraram nos últimos anos, após as décadas turbulentas da Primeira Guerra Fria e do racha sino-soviético, quando o Vietnã estava muito mais próximo da URSS.

A China é o maior parceiro comercial do Vietnã. Os EUA são o segundo maior.

A ameaça de Donald Trump de impor tarifas altas ao Vietnã, cuja economia depende muito das exportações para o mercado dos EUA, só aproximou Hanói e Pequim.

Hoje, o Vietnã promove o não alinhamento, baseado na política dos "Quatro Nãos", definida pelo governo vietnamita da seguinte forma:

  1. Não participar de alianças militares;  
  2. Não se aliar a um país para agir contra outro;  
  3. Não permitir bases militares estrangeiras em território vietnamita ou usar o Vietnã como alavanca contra outros países;  
  4. Não usar força ou ameaçar usar força nas relações internacionais.

Apesar de suas diferenças geopolíticas após o racha sino-soviético, a República Popular da China e a República Socialista do Vietnã têm sistemas políticos e econômicos muito semelhantes, especialmente após ambos realizarem reformas de mercado.

A China descreve seu sistema como uma economia de mercado socialista. O Vietnã chama o seu de economia de mercado orientada para o socialismo.

Os modelos de socialismo de mercado na China e no Vietnã foram extremamente bem-sucedidos em:

  • Desenvolvimento econômico,  
  • Redução da pobreza,  
  • Aumento da renda da classe trabalhadora,  
  • Ascensão na cadeia global de valor da manufatura industrial.

¨      BRICS, o novo nome da paz mundial. Por Leonardo Attuch

A Cúpula do BRICS realizada no Rio de Janeiro marcou um divisor de águas para a construção de uma nova ordem internacional baseada na cooperação, no multilateralismo e na paz entre os povos. Diante de um cenário global dominado por guerras, sanções e instabilidade, os países do BRICS reafirmaram sua vocação histórica: promover o desenvolvimento sustentável, defender a soberania dos Estados e oferecer alternativas concretas à lógica imperial que ainda rege as relações internacionais. O BRICS, hoje, é o nome político da paz mundial.

Na sessão de abertura da cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sintetizou o novo papel do bloco ao afirmar: “Sua representatividade e diversidade o tornam uma força capaz de promover a paz e de prevenir e mediar conflitos”. Composto por 11 membros plenos e dez países parceiros, o BRICS representa hoje 48,5% da população mundial, 39% do PIB global (em paridade de poder de compra) e mais de 70% das reservas conhecidas de minerais estratégicos. 

A superação do imperialismo e do colonialismo, que durante séculos serviram de base para a dominação política, econômica e militar das nações do Sul Global pelo Norte Global, é o passo indispensável para a construção de um mundo multipolar, justo e democrático. E é exatamente isso que o BRICS está fazendo. Ao condenar as sanções unilaterais, à margem do direito internacional, e ao defender a reforma urgente do Conselho de Segurança da ONU, o grupo se posiciona como protagonista da mudança.

No discurso de Lula, ficou evidente a crítica à atual estrutura da ONU, dominada por um sistema de veto excludente: “Adiar esse processo torna o mundo mais instável e perigoso”. Ele também lembrou que é “mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para assistência ao desenvolvimento”, o que demonstra que a escassez de paz no mundo não é resultado da falta de recursos, mas da falta de vontade política por parte das potências dominantes, que se impõem pela força e pela dominação ideológica.

Outro ponto decisivo da cúpula foi a rejeição explícita à militarização do espaço e à corrida armamentista. Em sua Declaração Final, o BRICS defendeu a criação de um instrumento jurídico multilateral para garantir a sustentabilidade das atividades espaciais e evitar o uso bélico do cosmos. Além disso, expressou preocupação com os riscos crescentes de um conflito nuclear, defendendo a retomada do controle de armamentos e da diplomacia como caminho para a paz duradoura.

Entretanto, não basta falar em paz: é preciso construir as condições materiais que a sustentem. Nesse sentido, o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) foi um dos grandes marcos da cúpula. Comandado por sua presidenta Dilma Rousseff, o NDB tem ampliado suas alianças e consolidado seu papel como agente estratégico de financiamento ao desenvolvimento sustentável. A admissão de Colômbia e Uzbequistão como novos membros reforça a ambição do banco em oferecer uma alternativa real ao sistema financeiro dominado pelo Ocidente.

Com financiamento próprio, diretrizes autônomas e foco no desenvolvimento de infraestrutura, transição verde e combate à desigualdade, o NDB se apresenta como a resposta concreta à exclusão sistêmica das nações em desenvolvimento. Ele não apenas complementa, mas desafia o monopólio de instituições como FMI e Banco Mundial.

O BRICS também avançou em áreas centrais como a cooperação em saúde global, a governança da inteligência artificial, o comércio com moedas locais e a agenda de financiamento climático, consolidando-se como espaço estratégico de formulação de políticas e de articulação de interesses compartilhados.

Ao encerrar a cúpula no Rio, o presidente Lula deixou claro: o BRICS é herdeiro direto do espírito de Bandung e do Movimento dos Não-Alinhados. É o instrumento institucional da luta do Sul Global por soberania, equidade e paz. Superar o imperialismo — seja ele militar, político ou financeiro — é essencial para que o século 21 não repita os horrores do século passado.

O BRICS é hoje uma alternativa concreta para todos que anseiam por uma ordem internacional justa e ancorada no respeito entre os povos e no diálogo entre civilizações. O bloco representa a esperança de que o mundo não seja mais governado pela lógica da força, mas pela força da razão e da solidariedade. A história já começou a virar. E o BRICS escreveu um belo capítulo no Rio de Janeiro.

¨      “O Sul Global já não é mais a periferia”, diz Mauro Vieira após sucesso da cúpula dos BRICS

Em declaração à imprensa nesta segunda-feira (7), o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, celebrou os resultados da mais recente Cúpula dos BRICS, destacando o protagonismo crescente das nações do Sul Global no cenário internacional. “É motivo de muito orgulho e satisfação receber esse encontro de líderes”, afirmou o chanceler brasileiro, ressaltando o simbolismo do evento diante de um mundo “cada vez mais castigado por guerras e medidas unilaterais”.

Segundo Vieira, a reunião representa “um acontecimento extraordinário da defesa da diplomacia, da cooperação e do multilateralismo”, valores que se tornam ainda mais urgentes diante da escalada de tensões globais. O ministro reforçou o papel histórico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na fundação do BRICS, há 16 anos, e sublinhou a importância da articulação entre os países-membros: “Em poucos momentos da história foi tão urgente reunir nossos líderes para defender a paz e a cooperação internacional”.

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Vieira destacou que a atual configuração geopolítica reposiciona o Sul Global como força ativa na governança mundial. “O Sul Global já não é a periferia. Estamos na linha de frente da defesa do multilateralismo e da governança global que permita promover a paz, combater a pobreza e enfrentar a mudança do clima”, declarou.

<><> Força política, econômica e ambiental

O chanceler enumerou os dados que dimensionam o peso do bloco no mundo: o BRICS reúne metade da população global, mais de um terço do território do planeta, 44% do Produto Interno Bruto mundial em paridade do poder de compra e 25% do comércio internacional. “Reunimos nessa cidade metade dos membros do G20 nesses dois dias. As quatro últimas presidências do G20 estavam presentes. Temos aqui três das quatro presidências mais recentes das COPs das mudanças de clima”, detalhou.

Vieira também apontou a diversidade dos países reunidos na cúpula como um trunfo estratégico. Segundo ele, o evento contou com representantes de 50% dos países megadiversos do planeta, quatro dos dez maiores produtores de energia renovável e seis dos dez maiores produtores de petróleo. O Brasil também convidou nações centrais no cenário global: três integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e um membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

“A lista de participantes dá a medida do papel do BRICS na governança global”, afirmou Vieira. Para ele, os países do bloco funcionam como “esteio da defesa do multilateralismo” e podem oferecer alternativas concretas à instabilidade que marca o sistema internacional: “Hoje o BRICS é portador de soluções para o mundo em desordem. Podemos ser o berço de um novo modelo de desenvolvimento”.

¨      "O BRICS é o novo jeito de fazer o multilateralismo. Não queremos mais o mundo tutelado", diz Lula

Em declaração feita nesta segunda-feira (7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou os resultados da cúpula dos BRICS e reafirmou o papel central do grupo na construção de uma nova ordem mundial baseada na democracia, na paz e na cooperação entre os povos. Para o chefe do Executivo brasileiro, o BRICS é "o novo jeito de fazer o multilateralismo sobreviver no mundo".

A fala foi realizada após o encerramento da cúpula que reuniu chefes de Estado e representantes de dezenas de países em Kazan, na Rússia. Lula disse estar "extremamente feliz" com os avanços alcançados durante o encontro e comparou a importância do evento com a presidência brasileira do G20. "Não tenho dúvidas de que o Brasil já havia realizado a melhor reunião que o G20 já tinha feito e hoje realizou a mais importante reunião que o BRICS já fez", declarou.

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<><> Crítica ao modelo internacional e à herança da Guerra Fria

Durante sua fala, o presidente criticou a estrutura atual das instituições internacionais, destacando que o mundo de hoje precisa ser regido por novas regras e não por acordos firmados no contexto do pós-guerra. "Estamos discutindo com muita profundidade mudança estrutural, inclusive no estatuto da ONU, para recriar alguma coisa com base nos acontecimentos geopolíticos de 2024, e não de 1945", afirmou.

Lula rejeitou a lógica da tutela global por grandes potências e defendeu um novo modelo de governança internacional baseado na pluralidade e na soberania dos países. "Nos BRICS temos a convicção de que não queremos mais o mundo tutelado. A gente não quer mais Guerra Fria, desrespeito à soberania, guerra", pontuou.

Segundo ele, os valores defendidos por países saudosistas do passado, como o nazismo e o fascismo, não têm espaço no BRICS. "Aquele mundo ficou para trás. Os saudosistas daquele mundo, do nazismo e do fascismo, são outros que não estão nos BRICS."

<><> Paz, democracia e participação social

Lula enfatizou que o projeto dos BRICS não é apenas político ou econômico, mas também civilizatório. O bloco busca, segundo ele, fortalecer valores como o respeito às instituições democráticas, o multilateralismo, a justiça social e o desenvolvimento sustentável. "No BRICS a gente quer fortalecer o processo democrático, o processo multilateral, a gente quer a paz, o desenvolvimento e a participação social", concluiu. 

 

Fonte: Brasil 247

 

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