sexta-feira, 4 de julho de 2025

Ataque cibernético mais sofisticado da história do País coloca em xeque a credibilidade do sistema financeiro

Um simples Pix de R$ 18 milhões às quatro da manhã disparou o alarme que expôs o maior roubo já registrado na infraestrutura financeira brasileira. A operação, reconstruída em detalhes pelo Brazil Journal, mostra como hackers exploraram vulnerabilidades da C&M Software — empresa que faz a “mensageria” entre 293 instituições e o Banco Central — para desviar cerca de R$ 800 milhões das chamadas contas-reserva.

Segundo o Brazil Journal, o ataque começou quando um executivo da BMP, plataforma de banking as a service, foi avisado de uma transferência não autorizada. Ao checar o back-office, descobriu que outros Pix indevidos haviam saído de sua conta reserva, somando R$ 400 milhões. “Nossa parte foi de R$ 400 milhões, mas já recuperamos R$ 130 milhões”, disse o fundador da BMP, Carlos Eduardo Benitez. “Nossos clientes estão 100% protegidos. Nenhuma conta de cliente foi afetada e nenhum dado foi vazado.”

<><> Como o golpe atravessou o Sistema Brasileiro de Pagamentos

A C&M — classificada pelo BC como Provedora de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTI) — oferece APIs que permitem a fintechs se conectarem ao Sistema Brasileiro de Pagamentos (SBP) sem infraestrutura própria. Foi por essa “porta” que os criminosos, munidos de credenciais legítimas, iniciaram uma série de transferências em minutos, respeitando todos os critérios técnicos de segurança exigidos pelo BC.

“O que chegou foi uma ordem lícita, que partiu do participante do sistema, por meio de seu prestador. Era uma ordem que atendia todos os critérios de segurança do BC,” relatou uma fonte próxima à autoridade monetária ao Brazil Journal, comparando o episódio a “uma compra com chip e senha corretos num cartão de crédito”.

Para tentar conter novas fraudes, a própria C&M desabilitou temporariamente o Pix das instituições afetadas e passou a trabalhar com o BC na identificação do ponto exato de falha. “O processo de segurança é dinâmico e contínuo de aprendizado… Há lições a serem extraídas desse episódio”, acrescentou a mesma fonte do Banco Central.

<><> Conversão imediata em cripto: a rota de fuga

Depois de sacar os valores, os hackers correram para convertê-los em criptomoedas, sobretudo USDT e Bitcoin, usando provedores integrados ao Pix, mesas OTC e exchanges. Rocelo Lopes, CEO da SmartPay e criador da carteira Truther, percebeu atividade atípica às 0h18 de 30 de junho:

“Congelamos grandes somas e devolvemos às instituições envolvidas. Se o sistema tivesse mecanismos para analisar transações atípicas, esse problema não teria ocorrido… Nessa era de IA, você não ter uma AI que possa analisar isso é complicado.”

Apesar das retenções pontuais, parte do dinheiro continua circulando em blockchains, dificultando o rastreamento definitivo.

<><> Risco sistêmico e credibilidade em xeque

A invasão expõe uma fragilidade estrutural justamente no elo onde a digitalização financeira avança mais rápido: as mensagerias que conectam bancos digitais, fintechs e cooperativas ao núcleo do BC. Ao contrário dos grandes bancos, que têm links diretos, as instituições menores dependem de PSTIs terceirizadas.

Para especialistas, a combinação de contas-reserva (onde se misturam fundos próprios e de clientes), liquidação instantânea via Pix e diversificação de agentes tecnológicos criou o ambiente perfeito para um ataque coordenado em larga escala. Se o montante não for recuperado, a BMP pode sofrer perda líquida próxima de R$ 300 milhões — metade de sua liquidez pré-incidente — e outras sete instituições também reportam prejuízos relevantes.

O Banco Central e a Polícia Federal seguem examinando logs e rastros em blockchain para medir o dano real e propor novos protocolos de detecção de anomalias em tempo real. Enquanto isso, o caso já é tratado como “o ataque cibernético mais sofisticado e caro da história do País”, deixando em aberto uma pergunta crucial: até que ponto as engrenagens digitais do sistema financeiro estão preparadas para golpes cada vez mais tecnológicos e velozes?

•        O que se sabe do ataque hacker que desviou centenas de milhões de reais e afetou Pix

Uma empresa provedora de serviços de tecnologia que atende instituições financeiras sem infraestrutura de conectividade ao sistema de pagamentos Pix informou o Banco Central na quarta-feira (2/7) que sofreu um ataque cibernético aos seus sistemas.

O Banco Central e as instituições financeiras não divulgaram informações suficientes sobre o ataque para se entender quantos clientes podem ter sido afetados e quanto dinheiro teria sido desviado. O ataque teria afetado apenas instituições financeiras que são clientes da empresa de tecnologia C&M Software, o que não inclui grandes bancos.

O Banco Central não forneceu mais detalhes sobre o ataque, mas afirmou em comunicado que ordenou à empresa C&M Software que bloqueasse o acesso das instituições financeiras à infraestrutura que opera. Isso fez com que os clientes das instituições atendidas pela empresa ficassem sem acesso ao Pix na quarta-feira.

Nesta quinta-feira, a empresa voltou a poder operar. Segundo o Banco Central, "a decisão foi tomada após a empresa adotar medidas para mitigar a possibilidade de ocorrência de novos incidentes".

"As operações da C&M poderão ser restabelecidas em dias úteis, das 6h30 às 18h30, desde que haja anuência expressa da instituição participante do Pix e o robustecimento do monitoramento de fraudes e limites transacionais", afirma nota do Banco Central.

Reportagem do jornal O Globo afirma que criminosos teriam conseguido desviar recursos de contas de oito instituições financeiras, no valor de ao menos R$ 800 milhões, segundo relatos de pessoas a par do assunto. Já o jornal econômico Valor Econômico cita uma fonte que diz que cerca de R$ 400 milhões foram roubados.

Mas a informação não foi confirmada ou negada pelo Banco Central ou pelas instituições financeiras.

A Polícia Federal (PF) investigará o ataque hacker, segundo dados da Agência Brasil.

O diretor comercial da C&M Software, Kamal Zogheib, afirmou que a empresa foi vítima de um ataque cibernético que envolveu o uso fraudulento de dados de clientes — como login e senha — na tentativa de acessar seus sistemas e serviços.

A empresa administra a troca de informações entre instituições brasileiras ligadas ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

"Por orientação jurídica e em respeito ao sigilo das apurações, a C&M não comentará detalhes do processo, mas reforça que todos os seus sistemas críticos seguem íntegros e operacionais e que as medidas previstas nos protocolos de segurança foram integralmente executadas", disse a empresa em nota na quarta-feira.

Segundo a empresa, os sistemas críticos de conexão com os bancos não foram afetados e seguem funcionando.

A empresa está cooperando com o Banco Central e a Polícia Estadual de São Paulo na investigação em andamento, disse Zogheib.

O banco BMP informou à agência de notícias Reuters que, junto com outras cinco instituições, sofreu acesso não autorizado às suas contas durante o ataque, ocorrido na segunda-feira.

O BMP afirmou que as contas afetadas são contas de reservas — mantidas diretamente no Banco Central e utilizadas exclusivamente para liquidação interbancária (quando bancos pagam valores entre si), sem impacto nas contas dos clientes ou nos saldos internos.

O BMP disse que tomou todas as medidas operacionais e legais necessárias e possui garantias suficientes "para cobrir integralmente o valor impactado, sem qualquer prejuízo às suas operações ou parceiros comerciais".

Uma autoridade que tem conhecimento da investigação em andamento, que falou sob condição de anonimato à Reuters, disse que a C&M presta serviços a cerca de duas dúzias de pequenas instituições financeiras, e os valores envolvidos no ataque não chegam a bilhões de reais.

Outra fonte disse à agência que não houve perdas para os clientes.

O Banco Paulista também alegou ter sido vítima do golpe. Em um comunicado, afirmou que o ataque causou a interrupção temporária do seu serviço de Pix. Segundo o banco, a falha foi externa e não comprometeu dados sensíveis nem gerou movimentações indevidas.

O jornal Valor Econômico afirma que a empresa credsystem também teria sido afetada. Segundo o jornal, a empresa manifestou que "o impacto direto nas operações da credsystem se restringe apenas ao serviço de Pix, que está temporariamente fora do ar por determinação do BACEN (Banco Central), porém nossos clientes poderão continuar utilizando normalmente e sem custo o serviço de TED. No momento, estamos colaborando com os envolvidos para o rápido reestabelecimento do serviço."

•        PF abre inquérito para apurar ataque a sistemas de instituições financeiras; BC não foi afetado

A Polícia Federal (PF) abriu nesta quarta-feira (2) um inquérito para investigar um ataque hacker a sistemas de instituições financeiras que tiveram as contas invadidas por meio da C&M Software — empresa que presta serviços tecnológicos e conecta instituições financeiras ao Banco Central (BC).

A informação foi confirmada à GloboNews pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues.

O BC informou mais cedo nesta quarta que a C&M Software comunicou um ataque à sua infraestrutura e que determinou o desligamento do acesso das instituições às infraestruturas operadas pela empresa.

•        🔎 A C&M, alvo do ataque, é uma empresa que presta serviços de tecnologia da informação (TI) para instituições participantes do PIX. Ela é homologada pelo BC para essa função, assim como outras oito empresas no país.

<><> Acesso a sistemas do BC

Em nota, o diretor comercial da C&M Software, Kamal Zogheib, afirmou que a empresa foi vítima direta de uma ação criminosa, que envolveu o uso indevido de credenciais de clientes para tentar acessar seus sistemas e serviços de forma fraudulenta.

"A CMSW confirma que colabora ativamente com as autoridades competentes, incluindo o Banco Central e a Polícia Civil de São Paulo, nas investigações em andamento", disse.

Zogheib acrescentou que a empresa não comentará detalhes do processo por orientação jurídica e em respeito ao sigilo das investigações, mas reforçou que todos os sistemas críticos da companhia permanecem “íntegros e operacionais” e destacou que todas as medidas previstas nos protocolos de segurança foram “integralmente executadas”.

Uma das empresas afetadas, a BMP, que fornece infraestrutura para plataformas bancárias digitais, o incidente envolvendo a C&M permitiu o acesso indevido a contas de reserva de pelo menos seis instituições financeiras. O BC não informou quais instituições foram afetadas.

🔎 As contas reserva são mantidas diretamente no BC e utilizadas exclusivamente para liquidação interbancária — processo pelo qual instituições financeiras realizam transferências de recursos entre si.

Dessa forma, segundo a BMP, o ataque não teve relação com as contas de clientes finais nem com os saldos mantidos dentro da instituição.

“Reforçamos que nenhum cliente BMP foi impactado ou teve seus recursos acessados”, afirmou em nota oficial, destacando que o incidente envolveu exclusivamente recursos depositados em sua conta de reserva no BC.

“A instituição já adotou todas as medidas operacionais e legais cabíveis, e conta com colaterais suficientes para cobrir integralmente o valor impactado, sem prejuízo à sua operação ou aos seus parceiros comerciais”, informou a BMP em nota, reiterando que continua a operar normalmente.

>>>>Veja as notas sobre o caso, na íntegra

<><> Banco Central do Brasil (BC)

A C&M Software, prestadora de serviços de tecnologia para instituições provedoras de contas transacionais que não possuem meios de conexão própria, comunicou ataque à sua infraestrutura tecnológica. O Banco Central determinou à C&M o desligamento do acesso das instituições às infraestruturas por ela operadas.

<><> CMSW (C&M Software)

A CMSW [C&M Software] confirma que colabora ativamente com as autoridades competentes, incluindo o Banco Central e a Polícia Civil de SP, nas investigações em andamento.

A empresa é vítima direta da ação criminosa, que incluiu o uso indevido de credenciais de clientes para tentar acessar de forma fraudulenta seus sistemas e serviços.

Por orientação jurídica e em respeito ao sigilo das apurações, a CMSW não comentará detalhes do processo, mas reforça que todos os seus sistemas críticos seguem íntegros e operacionais, e que as medidas previstas nos protocolos de segurança foram integralmente executadas.

Grato

Diretor Comercial da CMSW

<><> BMP

NOTA OFICIAL — INCIDENTE DE SEGURANÇA NA INFRAESTRUTURA DA C&M SOFTWARE

A BMP informa que, nesta segunda-feira, foi identificada uma ocorrência de segurança envolvendo a C&M Software — empresa autorizada e supervisionada pelo Banco Central do Brasil, responsável pela mensageria que interliga instituições financeiras ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), incluindo o ambiente de liquidação do Pix.

O incidente de cibersegurança comprometeu a infraestrutura da C&M e permitiu acesso indevido a contas reserva de seis instituições financeiras, entre elas a BMP. As contas reserva são mantidas diretamente no Banco Central e utilizadas exclusivamente para liquidação interbancária — sem qualquer relação com as contas de clientes finais ou com os saldos mantidos dentro da BMP.

Reforçamos que nenhum cliente da BMP foi impactado ou teve seus recursos acessados.

No caso da BMP, o ataque envolveu exclusivamente recursos depositados em sua conta reserva no Banco Central. A instituição já adotou todas as medidas operacionais e legais cabíveis e conta com colaterais suficientes para cobrir integralmente o valor impactado, sem prejuízo à sua operação ou aos seus parceiros comerciais.

A C&M Software foi imediatamente desconectada do ambiente do Banco Central, e as autoridades competentes, incluindo o próprio BC, já estão conduzindo uma investigação detalhada sobre o ocorrido.

A BMP segue operando normalmente, com total segurança, e reforça seu compromisso com a integridade do sistema financeiro, a proteção dos seus clientes e a transparência nas suas comunicações.

Para mais informações, nossa equipe de comunicação institucional está à disposição.

São Paulo, 2 de julho de 2025

BMP

 

Fonte: Brasil 247/BBC News Brasil/g1

 

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