Ao
primeiro sinal de desdolarização mundial pelo Brics, Trump esperneia
O
presidente dos EUA, Donald Trump, não tardou a responder ao evento do Brics,
realizado neste final de semana, no Rio de Janeiro, formado por 11 importantes
nações e alianças com países do Sul Global, incluindo Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul.
O
documento oficial do bloco, divulgado neste domingo (06), foi mais brando do
que se esperava pelas reações internacionais às coerções econômicas de Donald
Trump, com a jogatina de ameaças e taxações que vem empenhando aos países.
A
expectativa era de que a 17ª Cúpula dos Líderes de Estado do Brics mostrasse
uma resposta mais dura. Mas somente um parágrafo discreto, que sequer menciona
o nome do mandatário norte-americano, foi dedicado ao tema na declaração final.
“Expressamos
sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias
unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da
Organização Mundial do Comércio (OMC)”, trouxe o documento.
No
tópico 13 do texto, os países membros do Brics afirmam que o “sistema
multilateral de comércio está há muito tempo em uma encruzilhada”, com a
“proliferação de ações restritivas ao comércio, seja na forma de aumento
indiscriminado de tarifas e de medidas não-tarifárias, seja na forma de
protecionismo sob o disfarce de objetivos ambientais”.
Não há,
no texto, nada que informe uma política efetiva ou intenções claras de reação
econômica às medidas de Donald Trump, seja na forma de bloqueios, taxações
conjuntas ou até mesmo a desdolarização – uma das iniciativas discutidas entre
os países, que buscam desatrelar o funcionamento dos bancos internacionais e
nacionais ao dólar.
Em
outro trecho, os países do Brics afirmam: “Condenamos a imposição de medidas
coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional e reiteramos que
tais medidas, na forma de, entre outras, sanções econômicas unilaterais e
sanções secundárias, têm implicações negativas de longo alcance para os
direitos humanos, incluindo os direitos ao desenvolvimento, à saúde e à
segurança alimentar da população em geral dos estados atingidos, afetando de
maneira desproporcional os pobres e as pessoas em situações vulneráveis,
aprofundando a exclusão digital e exacerbando os desafios ambientais.”
Apesar
de não constar no documento final, Lula defendeu uma nova política de
financiamento por bancos e o uso de moedas alternativas para transações entre
os países do Brics. A posição de Lula foi demonstrada em discurso da reunião do
Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics, que foi realizada na
sexta-feira (04), um evento inaugural prévio à Cúpula dos Líderes.
Antes
de acenar para a defesa da desdolarização, que foi também enfatizada no
discurso do presidente russo, Vladimir Putin, posteriormente, Lula falou do
cenário global “cada vez mais instável, marcado pelo ressurgimento do
protecionismo e do unilateralismo”.
“É por
isso que a discussão de vocês sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio
é extremamente importante. É complicado, eu sei. Tem problemas políticos, eu
sei. Mas se a gente não encontrar uma nova fórmula, a gente vai terminar o
século 21 igual a gente começou o século 20 e isso não será benéfico para
humanidade”, foi a fala de Lula.
Dois
dias depois, de forma mais incisiva, Vladimir Putin também defendeu o aumento
do uso de moedas locais no comércio entre os países do Brics, dando diretrizes
mais claras sobre como isso seria feito, com um sistema de liquidação e
depósito para os países membros, que não tenha que utilizar o dólar como moeda
comercial, fortalecendo as economias internas.
Ele
participou da Cúpula por videochamada, na manhã deste domingo (06). Ele lembrou
que uso da moeda da Rússia, o rublo, e de outros membros do Brics chegou a 90%
das transações com o país no último ano. O presidente russo concluiu que esse
era um exemplo do caráter multipolar das relações internacionais, que já está
migrando, ou seja, deixando a concentração monetária dos EUA.
Diferente
das falas, no texto da Cúpula, os países adotaram uma posição mais sutil e
afirmaram de forma generalizada que apoiam “um sistema multilateral de comércio
baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo, não
discriminatório e consensual, com a OMC em seu núcleo”.
¨
Trump faz nova ameaça a países alinhados aos Brics
O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou que os
países alinhados às políticas da aliança dos Brics que vão contra
os interesses dos EUA serão atingidos por uma tarifa adicional de 10%.
Trump
critica há muito tempo os Brics, uma organização cujos membros incluem Brasil, China, Rússia e Índia, entre outros,
criada para impulsionar a posição internacional desses países e desafiar os EUA
e a Europa Ocidental.
"Qualquer
país que se aliar às políticas antiamericanas dos Brics será cobrado com
uma tarifa adicional de 10%. Não
haverá exceções a essa política", escreveu Trump nas redes sociais.
O prazo
para os países chegarem a um acordo tarifário com os EUA foi marcado para 9 de
julho, mas os impostos parecem que vão entrar em vigor agora a partir de 1º de
agosto.
Até o
momento, os EUA firmaram acordos comerciais apenas com o Reino Unido e o Vietnã.
A Casa
Branca pareceu anunciar outro adiamento na implementação das tarifas.
Inicialmente, elas foram suspensas a partir de abril por três meses, data que
expira agora no início de julho.
Mas, no
final da semana passada, um novo limite a partir de agosto começou a ser
mencionado.
Questionado
sobre se os impostos mudariam a partir de 9 de julho ou 1º de agosto, Trump
disse no domingo (06/07): "Serão tarifas, as tarifas serão tarifas."
Ele
acrescentou que entre dez e 15 cartas serão enviadas aos países esta semana,
informando-os sobre a nova alíquota tarifária caso um acordo não seja
alcançado.
O
Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, esclareceu que os impostos
entrarão em vigor em 1º de agosto.
No
entanto, o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou posteriormente que
essa data não indicava um novo prazo.
Desde
que assumiu o cargo em janeiro, Trump anunciou uma série de impostos
sobre a importação de produtos de outros países, argumentando que
eles impulsionarão a indústria americana e protegerão empregos.
Em
abril, no que o presidente americano chamou de o "Dia da Libertação",
ele anunciou uma onda de novos impostos sobre produtos de países ao redor do
mundo, embora tenha rapidamente suspendido seus planos mais agressivos para
permitir três meses de negociações.
A
ameaça de Trump aos países que cooperarem com os países do Brics surgiu após os
membros do bloco criticarem as políticas tarifárias dos EUA, além de proporem
reformas no Fundo Monetário Internacional (FMI) e na valorização das principais
moedas além do dólar.
No ano
passado, a lista de membros dos Brics expandiu-se para além de Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul, e passou a incluir também Egito, Etiópia,
Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Os
países do bloco representam mais da metade da população mundial.
Os
líderes dos Brics, que realizam uma cúpula de dois dias
no Rio de Janeiro iniciada no último final de semana, pediram
reformas nas instituições globais e posicionaram a aliança como uma plataforma
para a diplomacia em meio à escalada de conflitos comerciais e tensões
geopolíticas.
Uma
declaração conjunta dos ministros das finanças dos países dos Brics divulgada
no domingo (06/07) criticou as tarifas como uma ameaça à economia global, que
segundo eles traz "incerteza às atividades econômicas e comerciais
internacionais".
Andrew
Wilson, secretário-geral adjunto da Câmara Internacional do Comércio, sediada
na França, afirmou que seria desafiador para os países deixarem de fazer
negócios com a China.
Ele
disse ao programa Today, da BBC: "Afastar-se da China, em vários setores,
é algo muito mais difícil de se alcançar na prática no mundo."
"Se
observarmos o domínio da China em vários setores — veículos elétricos, baterias
e, particularmente, terras raras e ímãs —, não há alternativas viáveis à produção
chinesa."
Durante
a reunião dos Brics no Brasil, os líderes também condenaram os ataques militares de Israel e EUA
ao Irã em junho,
afirmando que eles representam uma violação do direito internacional.
Ao
longo de 12 dias, Israel e os EUA lançaram bombas e mísseis em alvos iranianos,
como algumas instalações nucleares, antes que um cessar-fogo fosse acordado.
A
cúpula dos Brics contou com a presença de líderes mundiais, como o
primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente sul-africano Cyril
Ramaphosa.
O
presidente da China, Xi Jinping, não compareceu ao evento e foi substituído
pelo premiê Li Qiang.
O
presidente da Rússia, Vladimir Putin, que tem um mandado de prisão do Tribunal
Penal Internacional contra ele por supostos crimes de guerra na Ucrânia,
participou da cúpula pela internet.
Em
2024, Trump chegou a ameaçar com tarifas de 100% sobre os países do Brics se
eles adotassem uma moeda própria que rivalizasse com o dólar americano.
¨ Trump e secretário de
comércio dos EUA dizem que tarifas serão adiadas até 1º de agosto, gerando
confusão
Donald
Trump disse que seu governo planeja começar a enviar cartas na segunda-feira
aos parceiros comerciais dos EUA ditando novas tarifas, em meio à confusão
sobre quando as novas taxas entrarão em vigor.
“Podem
ser 12, talvez 15 [cartas]”, disse o presidente aos repórteres , “e também
fizemos acordos, então teremos uma combinação de cartas e alguns acordos foram
feitos”.
O governo Trump disse que
cartas serão enviadas notificando os parceiros comerciais que não chegarem a um
acordo até 9 de julho sobre tarifas mais altas que entrarão em vigor em 1º de
agosto.
Com a
pausa de 90 dias nas tarifas anunciada anteriormente prevista para
terminar em 9 de julho, o presidente foi questionado se as novas taxas
entrariam em vigor esta semana ou em 1º de agosto, como algumas autoridades
sugeriram.
"Não,
haverá tarifas, as tarifas, as tarifas serão, as tarifas", começou o presidente, incerto.
"Acho que a maioria dos países estará pronta até 9 de julho, sim. Ou uma
carta ou um acordo."
Percebendo
a confusão, seu secretário de comércio, Howard Lutnick, interrompeu e
acrescentou: "Mas elas entram em vigor em 1º de agosto. As tarifas entram em vigor em 1º de agosto, mas o
presidente está definindo as taxas e os acordos agora."
Em
abril, Trump anunciou uma tarifa
básica de 10% na maioria dos países e taxas adicionais de até 50%, embora mais
tarde tenha adiado a data efetiva para todas as taxas, exceto as de 10%, até 9
de julho.
A nova
data de 1º de agosto oferece aos países mais três semanas de alívio, mas também
coloca os importadores em um longo período de incerteza devido à falta de
clareza em torno das tarifas.
Depois
que a UE e os EUA passaram o fim de semana em negociações para tentar chegar a
um acordo antes de 9 de julho, havia grandes esperanças de que os dois lados
estivessem próximos de um "acordo de princípio".
O
porta-voz comercial da UE, Olof Gill, disse na segunda-feira que Trump e a
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tiveram uma “boa troca”
no domingo.
“Queremos
chegar a um acordo com os EUA. Queremos evitar tarifas. Acreditamos que elas
causam prejuízos. Queremos alcançar resultados vantajosos para todos, não
resultados em que todos perdem”, disse Gill a repórteres em uma coletiva de
imprensa em Bruxelas.
“Estamos
totalmente preparados para chegar a um acordo em princípio até quarta-feira e
estamos trabalhando a todo vapor para isso”, acrescentou.
Em uma
atualização em sua plataforma de mídia social Truth Social, Trump disse que os
EUA começariam a entregar “Cartas de TARIFAS e/ou acordos” a partir do meio-dia
(horário do leste dos EUA) na segunda-feira.
Ele
também ameaçou aplicar uma taxa extra de 10% aos países do Brics (Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul) depois que os líderes do bloco emitiram
uma declaração conjunta no domingo, em uma cúpula no Rio de Janeiro, levantando
"sérias preocupações sobre o aumento de medidas tarifárias
unilaterais", que, segundo eles, poderiam prejudicar a economia global.
Trump
escreveu: “Qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas dos BRICS
pagará uma tarifa ADICIONAL de 10%. Não haverá exceções a essa política.”
O
governo chinês respondeu que se opõe ao uso de tarifas como ferramenta para
coagir terceiros. Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da
China, afirmou que o uso de tarifas não beneficia ninguém.
As
bolsas de valores asiáticas recuaram na segunda-feira em meio à confusão sobre
o ponto de corte tarifário. O Nikkei japonês perdeu 0,3%, enquanto as ações
sul-coreanas recuaram 0,7%. O índice MSCI, o mais amplo de ações da
Ásia-Pacífico fora do Japão, recuou 0,1%.
As
ações europeias apresentaram desempenho misto. No Reino Unido, o índice blue
chip FTSE 100 caiu 0,3%, com Shell e BP apresentando as maiores quedas,
impulsionadas pela queda dos preços do petróleo. O índice alemão Dax subiu
0,3%, enquanto na França o Cac 40 permaneceu praticamente estável. O Stoxx
Europe 600, que acompanha as maiores empresas do continente, também permaneceu
estável.
Os
metais industriais recuaram, com o cobre recuando 0,6%, para US$ 9.808 a
tonelada na Bolsa de Metais de Londres. O alumínio recuou 1,1%, para US$ 2.561
a tonelada na bolsa, onde todos os principais metais estavam em baixa na manhã
de segunda-feira.
Scott
Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, disse à CNN no domingo que vários
grandes anúncios de acordos comerciais poderiam ocorrer nos próximos dias,
observando que a UE havia feito um bom progresso em suas negociações.
A UE
está exigindo alívio imediato das tarifas sobre carros, que agora estão em
29,5%, e redução das tarifas sobre aço, como parte de um acordo-quadro no
estilo do Reino Unido que está sendo negociado.
Bessent
disse que Trump também enviaria cartas a 100 países menores com os quais os EUA
não têm muito comércio, notificando-os de que enfrentariam tarifas mais altas,
inicialmente definidas em 2 de abril e depois suspensas até 9 de julho.
Fonte:
BBC News Brasil

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