terça-feira, 8 de julho de 2025

Ao primeiro sinal de desdolarização mundial pelo Brics, Trump esperneia

O presidente dos EUA, Donald Trump, não tardou a responder ao evento do Brics, realizado neste final de semana, no Rio de Janeiro, formado por 11 importantes nações e alianças com países do Sul Global, incluindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O documento oficial do bloco, divulgado neste domingo (06), foi mais brando do que se esperava pelas reações internacionais às coerções econômicas de Donald Trump, com a jogatina de ameaças e taxações que vem empenhando aos países.

A expectativa era de que a 17ª Cúpula dos Líderes de Estado do Brics mostrasse uma resposta mais dura. Mas somente um parágrafo discreto, que sequer menciona o nome do mandatário norte-americano, foi dedicado ao tema na declaração final.

“Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, trouxe o documento.

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No tópico 13 do texto, os países membros do Brics afirmam que o “sistema multilateral de comércio está há muito tempo em uma encruzilhada”, com a “proliferação de ações restritivas ao comércio, seja na forma de aumento indiscriminado de tarifas e de medidas não-tarifárias, seja na forma de protecionismo sob o disfarce de objetivos ambientais”.

Não há, no texto, nada que informe uma política efetiva ou intenções claras de reação econômica às medidas de Donald Trump, seja na forma de bloqueios, taxações conjuntas ou até mesmo a desdolarização – uma das iniciativas discutidas entre os países, que buscam desatrelar o funcionamento dos bancos internacionais e nacionais ao dólar.

Em outro trecho, os países do Brics afirmam: “Condenamos a imposição de medidas coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional e reiteramos que tais medidas, na forma de, entre outras, sanções econômicas unilaterais e sanções secundárias, têm implicações negativas de longo alcance para os direitos humanos, incluindo os direitos ao desenvolvimento, à saúde e à segurança alimentar da população em geral dos estados atingidos, afetando de maneira desproporcional os pobres e as pessoas em situações vulneráveis, aprofundando a exclusão digital e exacerbando os desafios ambientais.”

Apesar de não constar no documento final, Lula defendeu uma nova política de financiamento por bancos e o uso de moedas alternativas para transações entre os países do Brics. A posição de Lula foi demonstrada em discurso da reunião do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics, que foi realizada na sexta-feira (04), um evento inaugural prévio à Cúpula dos Líderes.

Antes de acenar para a defesa da desdolarização, que foi também enfatizada no discurso do presidente russo, Vladimir Putin, posteriormente, Lula falou do cenário global “cada vez mais instável, marcado pelo ressurgimento do protecionismo e do unilateralismo”.

“É por isso que a discussão de vocês sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio é extremamente importante. É complicado, eu sei. Tem problemas políticos, eu sei. Mas se a gente não encontrar uma nova fórmula, a gente vai terminar o século 21 igual a gente começou o século 20 e isso não será benéfico para humanidade”, foi a fala de Lula.

Dois dias depois, de forma mais incisiva, Vladimir Putin também defendeu o aumento do uso de moedas locais no comércio entre os países do Brics, dando diretrizes mais claras sobre como isso seria feito, com um sistema de liquidação e depósito para os países membros, que não tenha que utilizar o dólar como moeda comercial, fortalecendo as economias internas.

Ele participou da Cúpula por videochamada, na manhã deste domingo (06). Ele lembrou que uso da moeda da Rússia, o rublo, e de outros membros do Brics chegou a 90% das transações com o país no último ano. O presidente russo concluiu que esse era um exemplo do caráter multipolar das relações internacionais, que já está migrando, ou seja, deixando a concentração monetária dos EUA.

Diferente das falas, no texto da Cúpula, os países adotaram uma posição mais sutil e afirmaram de forma generalizada que apoiam “um sistema multilateral de comércio baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo, não discriminatório e consensual, com a OMC em seu núcleo”.

¨      Trump faz nova ameaça a países alinhados aos Brics

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, alertou que os países alinhados às políticas da aliança dos Brics que vão contra os interesses dos EUA serão atingidos por uma tarifa adicional de 10%.

Trump critica há muito tempo os Brics, uma organização cujos membros incluem BrasilChinaRússia e Índia, entre outros, criada para impulsionar a posição internacional desses países e desafiar os EUA e a Europa Ocidental.

"Qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas dos Brics será cobrado com uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política", escreveu Trump nas redes sociais.

O prazo para os países chegarem a um acordo tarifário com os EUA foi marcado para 9 de julho, mas os impostos parecem que vão entrar em vigor agora a partir de 1º de agosto.

Até o momento, os EUA firmaram acordos comerciais apenas com o Reino Unido e o Vietnã.

A Casa Branca pareceu anunciar outro adiamento na implementação das tarifas. Inicialmente, elas foram suspensas a partir de abril por três meses, data que expira agora no início de julho.

Mas, no final da semana passada, um novo limite a partir de agosto começou a ser mencionado.

Questionado sobre se os impostos mudariam a partir de 9 de julho ou 1º de agosto, Trump disse no domingo (06/07): "Serão tarifas, as tarifas serão tarifas."

Ele acrescentou que entre dez e 15 cartas serão enviadas aos países esta semana, informando-os sobre a nova alíquota tarifária caso um acordo não seja alcançado.

O Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, esclareceu que os impostos entrarão em vigor em 1º de agosto.

No entanto, o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou posteriormente que essa data não indicava um novo prazo.

Desde que assumiu o cargo em janeiro, Trump anunciou uma série de impostos sobre a importação de produtos de outros países, argumentando que eles impulsionarão a indústria americana e protegerão empregos.

Em abril, no que o presidente americano chamou de o "Dia da Libertação", ele anunciou uma onda de novos impostos sobre produtos de países ao redor do mundo, embora tenha rapidamente suspendido seus planos mais agressivos para permitir três meses de negociações.

A ameaça de Trump aos países que cooperarem com os países do Brics surgiu após os membros do bloco criticarem as políticas tarifárias dos EUA, além de proporem reformas no Fundo Monetário Internacional (FMI) e na valorização das principais moedas além do dólar.

No ano passado, a lista de membros dos Brics expandiu-se para além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e passou a incluir também Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Os países do bloco representam mais da metade da população mundial.

Os líderes dos Brics, que realizam uma cúpula de dois dias no Rio de Janeiro iniciada no último final de semana, pediram reformas nas instituições globais e posicionaram a aliança como uma plataforma para a diplomacia em meio à escalada de conflitos comerciais e tensões geopolíticas.

Uma declaração conjunta dos ministros das finanças dos países dos Brics divulgada no domingo (06/07) criticou as tarifas como uma ameaça à economia global, que segundo eles traz "incerteza às atividades econômicas e comerciais internacionais".

Andrew Wilson, secretário-geral adjunto da Câmara Internacional do Comércio, sediada na França, afirmou que seria desafiador para os países deixarem de fazer negócios com a China.

Ele disse ao programa Today, da BBC: "Afastar-se da China, em vários setores, é algo muito mais difícil de se alcançar na prática no mundo."

"Se observarmos o domínio da China em vários setores — veículos elétricos, baterias e, particularmente, terras raras e ímãs —, não há alternativas viáveis ​​à produção chinesa."

Durante a reunião dos Brics no Brasil, os líderes também condenaram os ataques militares de Israel e EUA ao Irã em junho, afirmando que eles representam uma violação do direito internacional.

Ao longo de 12 dias, Israel e os EUA lançaram bombas e mísseis em alvos iranianos, como algumas instalações nucleares, antes que um cessar-fogo fosse acordado.

A cúpula dos Brics contou com a presença de líderes mundiais, como o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.

O presidente da China, Xi Jinping, não compareceu ao evento e foi substituído pelo premiê Li Qiang.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, que tem um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional contra ele por supostos crimes de guerra na Ucrânia, participou da cúpula pela internet.

Em 2024, Trump chegou a ameaçar com tarifas de 100% sobre os países do Brics se eles adotassem uma moeda própria que rivalizasse com o dólar americano.

¨      Trump e secretário de comércio dos EUA dizem que tarifas serão adiadas até 1º de agosto, gerando confusão

Donald Trump disse que seu governo planeja começar a enviar cartas na segunda-feira aos parceiros comerciais dos EUA ditando novas tarifas, em meio à confusão sobre quando as novas taxas entrarão em vigor.

“Podem ser 12, talvez 15 [cartas]”, disse o presidente aos repórteres , “e também fizemos acordos, então teremos uma combinação de cartas e alguns acordos foram feitos”.

governo Trump disse que cartas serão enviadas notificando os parceiros comerciais que não chegarem a um acordo até 9 de julho sobre tarifas mais altas que entrarão em vigor em 1º de agosto.

Com a pausa de 90 dias nas tarifas anunciada anteriormente prevista para terminar em 9 de julho, o presidente foi questionado se as novas taxas entrariam em vigor esta semana ou em 1º de agosto, como algumas autoridades sugeriram.

"Não, haverá tarifas, as tarifas, as tarifas serão, as tarifas", começou o presidente, incerto. "Acho que a maioria dos países estará pronta até 9 de julho, sim. Ou uma carta ou um acordo."

Percebendo a confusão, seu secretário de comércio, Howard Lutnick, interrompeu e acrescentou: "Mas elas entram em vigor em 1º de agosto. As tarifas entram em vigor em 1º de agosto, mas o presidente está definindo as taxas e os acordos agora."

Em abril, Trump anunciou uma tarifa básica de 10% na maioria dos países e taxas adicionais de até 50%, embora mais tarde tenha adiado a data efetiva para todas as taxas, exceto as de 10%, até 9 de julho.

A nova data de 1º de agosto oferece aos países mais três semanas de alívio, mas também coloca os importadores em um longo período de incerteza devido à falta de clareza em torno das tarifas.

Depois que a UE e os EUA passaram o fim de semana em negociações para tentar chegar a um acordo antes de 9 de julho, havia grandes esperanças de que os dois lados estivessem próximos de um "acordo de princípio".

O porta-voz comercial da UE, Olof Gill, disse na segunda-feira que Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tiveram uma “boa troca” no domingo.

“Queremos chegar a um acordo com os EUA. Queremos evitar tarifas. Acreditamos que elas causam prejuízos. Queremos alcançar resultados vantajosos para todos, não resultados em que todos perdem”, disse Gill a repórteres em uma coletiva de imprensa em Bruxelas.

“Estamos totalmente preparados para chegar a um acordo em princípio até quarta-feira e estamos trabalhando a todo vapor para isso”, acrescentou.

Em uma atualização em sua plataforma de mídia social Truth Social, Trump disse que os EUA começariam a entregar “Cartas de TARIFAS e/ou acordos” a partir do meio-dia (horário do leste dos EUA) na segunda-feira.

Ele também ameaçou aplicar uma taxa extra de 10% aos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) depois que os líderes do bloco emitiram uma declaração conjunta no domingo, em uma cúpula no Rio de Janeiro, levantando "sérias preocupações sobre o aumento de medidas tarifárias unilaterais", que, segundo eles, poderiam prejudicar a economia global.

Trump escreveu: “Qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas dos BRICS pagará uma tarifa ADICIONAL de 10%. Não haverá exceções a essa política.”

O governo chinês respondeu que se opõe ao uso de tarifas como ferramenta para coagir terceiros. Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, afirmou que o uso de tarifas não beneficia ninguém.

As bolsas de valores asiáticas recuaram na segunda-feira em meio à confusão sobre o ponto de corte tarifário. O Nikkei japonês perdeu 0,3%, enquanto as ações sul-coreanas recuaram 0,7%. O índice MSCI, o mais amplo de ações da Ásia-Pacífico fora do Japão, recuou 0,1%.

As ações europeias apresentaram desempenho misto. No Reino Unido, o índice blue chip FTSE 100 caiu 0,3%, com Shell e BP apresentando as maiores quedas, impulsionadas pela queda dos preços do petróleo. O índice alemão Dax subiu 0,3%, enquanto na França o Cac 40 permaneceu praticamente estável. O Stoxx Europe 600, que acompanha as maiores empresas do continente, também permaneceu estável.

Os metais industriais recuaram, com o cobre recuando 0,6%, para US$ 9.808 a tonelada na Bolsa de Metais de Londres. O alumínio recuou 1,1%, para US$ 2.561 a tonelada na bolsa, onde todos os principais metais estavam em baixa na manhã de segunda-feira.

Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, disse à CNN no domingo que vários grandes anúncios de acordos comerciais poderiam ocorrer nos próximos dias, observando que a UE havia feito um bom progresso em suas negociações.

A UE está exigindo alívio imediato das tarifas sobre carros, que agora estão em 29,5%, e redução das tarifas sobre aço, como parte de um acordo-quadro no estilo do Reino Unido que está sendo negociado.

Bessent disse que Trump também enviaria cartas a 100 países menores com os quais os EUA não têm muito comércio, notificando-os de que enfrentariam tarifas mais altas, inicialmente definidas em 2 de abril e depois suspensas até 9 de julho.

 

Fonte: BBC News Brasil

 

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