terça-feira, 8 de julho de 2025

Afinal, o Brasil é um país comunista ou capitalista?

Nos últimos anos, o debate sobre o modelo econômico adotado pelo Brasil ganhou força, especialmente em tempos de polarização política. Com a alternância entre governos mais alinhados à centro-esquerda (como os do PT) e governos de direita ou extrema direita (como o de Jair Bolsonaro), muitos brasileiros passaram a se perguntar: afinal, o Brasil é um país de esquerda ou de direita? Capitalista ou comunista?

Para entender essa discussão, é importante, primeiro, esclarecer os conceitos centrais.

<><> Diferenças entre comunismo e capitalismo

>>>> Capitalismo:

O capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção, no livre mercado e na busca do lucro. Nele, empresas e indivíduos decidem o que produzir, como produzir e para quem produzir, com pouca interferência do Estado. A concorrência e a lógica da oferta e demanda são os principais mecanismos de regulação econômica.

>>> Comunismo:

O comunismo, por outro lado, é uma ideologia político-econômica proposta por Karl Marx e Friedrich Engels que prevê a eliminação da propriedade privada dos meios de produção. Em sua forma mais pura (nunca plenamente realizada), o comunismo defende uma sociedade sem classes, sem Estado, onde os recursos são coletivamente controlados e distribuídos conforme as necessidades de cada um.

É importante lembrar que nenhum país na história chegou ao "comunismo pleno" como Marx imaginou. Os regimes que se autodenominaram comunistas, como a União Soviética, a China maoísta ou a Coreia do Norte, na verdade implementaram formas de socialismo de Estado, com forte centralização do poder político e econômico — o que é bem diferente da teoria original.

<><> Existe algum país comunista no mundo hoje?

Não. Nenhum país do mundo vive sob um regime comunista pleno. O que existem são países governados por partidos comunistas ou socialistas, mas com modelos híbridos. A China, por exemplo, é governada pelo Partido Comunista Chinês, mas sua economia é de mercado.

Outros exemplos, como Cuba e a Coreia do Norte, mantêm economias centralizadas, mas enfrentam sérios problemas econômicos e forte isolamento internacional graças aos bloqueios comerciais norte-americanos. Mesmo nesses casos, há concessões ao mercado e à iniciativa privada em níveis variados.

<><> E o Brasil, afinal?

O Brasil é, sem dúvidas, um país capitalista. Sua economia é baseada na propriedade privada, na livre iniciativa, e o Estado atua como regulador e prestador de serviços, mas não como controlador absoluto da economia. O setor privado responde pela maior parte da produção, emprego e geração de riqueza.

Mesmo em governos considerados de esquerda, como os do Partido dos Trabalhadores (PT), o modelo capitalista não foi abandonado. Houve políticas de redistribuição de renda, programas sociais (como o Bolsa Família), aumento do papel do Estado em certos setores estratégicos e expansão de investimentos públicos, mas sempre dentro da lógica de uma economia de mercado.

Já no governo Bolsonaro, houve um discurso forte em favor da redução do Estado e da privatização, embora, na prática, poucas reformas estruturais tenham sido implementadas.

Com a volta de Lula ao poder em 2023, muitos críticos — especialmente de direita — acusaram o governo de querer "transformar o Brasil em uma nova Venezuela". No entanto, essa comparação não se sustenta. O Brasil mantém instituições democráticas, liberdade de mercado, e políticas públicas que, embora progressistas em alguns aspectos, estão longe de configurar um sistema comunista.

<><> O fantasma do comunismo no Brasil

O medo de que o Brasil "vire comunista" é, em grande parte, fruto de desinformação política, retórica ideológica e uso estratégico do termo 'comunismo' como ameaça. Na prática, o Brasil continua sendo uma democracia capitalista com fortes desigualdades sociais, e o debate sobre esquerda e direita está mais relacionado a modelos de gestão, prioridades de governo e políticas públicas, do que à adoção de um novo sistema econômico radical.

Em resumo: o Brasil não é e nunca foi comunista — e está muito longe de ser.

•        Como estão os países socialistas hoje?

O século XX foi intensamente marcado por revoluções populares inspiradas nas ideias de Karl Marx, que levaram diversos países a adotarem regimes socialistas. Durante a Guerra Fria, o mundo se dividiu entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, encabeçado pela União Soviética. Após a queda da URSS em 1991, o socialismo entrou em declínio global, e o neoliberalismo passou a dominar o cenário econômico. No entanto, alguns países mantiveram estruturas socialistas ou foram fortemente influenciados por esse legado. Como estão esses países hoje, em termos econômicos, sociais e políticos?

<><> Os países socialistas hoje:

>>> 1. Cuba, por exemplo, continua sendo uma das últimas nações do continente americano a manter um regime socialista. Governado pelo Partido Comunista de Cuba, o país enfrenta sérias dificuldades econômicas, agravadas pelo embargo dos Estados Unidos, em vigor desde os anos 1960. Apesar de ter bons indicadores sociais, como alta taxa de alfabetização e sistema de saúde público, Cuba vive uma crise profunda: há escassez de alimentos, energia e medicamentos, aumento da pobreza causada principalmente pelo embargo incessante dos americanos. Nos últimos anos, reformas pontuais permitiram algum grau de atividade privada, mas o controle estatal ainda é predominante.

>>> 2. Vietnã, por outro lado, seguiu um caminho distinto. Também sob controle de um partido único comunista, o país iniciou uma abertura econômica a partir de 1986 com a política do Ð?i M?i (renovação), adotando o que chama de “economia de mercado com orientação socialista”. Isso permitiu um crescimento econômico notável nas últimas décadas. O Vietnã tornou-se um polo de manufatura, atraindo investimentos estrangeiros e exportando para o mundo inteiro. Socialmente, a pobreza diminuiu e a qualidade de vida melhorou.

>>> 3. A Rússia, após o colapso da União Soviética, abandonou oficialmente o socialismo e adotou o capitalismo. No entanto, o país seguiu um modelo concentrado de poder, com grande influência do Estado na economia e forte presença do autoritarismo político. Sob o comando de Vladimir Putin desde o final dos anos 1990, a Rússia voltou a assumir um papel geopolítico central, mas enfrenta hoje duras sanções internacionais devido à guerra na Ucrânia. Ainda que consiga manter estabilidade com exportações de petróleo e gás, o país lida com inflação, fuga de capitais e crescente isolamento diplomático. Socialmente, a repressão aumentou, e a liberdade de imprensa e os direitos civis se deterioraram significativamente.

>>> 4. A China representa talvez o caso mais emblemático de adaptação do socialismo ao mundo moderno. Governada pelo Partido Comunista Chinês, ela transformou sua economia desde as reformas de Deng Xiaoping nos anos 1980. Hoje, é a segunda maior economia do mundo, com presença global em áreas como tecnologia, infraestrutura e comércio internacional. A China manteve o controle político econômico, mas permitiu ampla participação do setor privado e a ascensão de grandes conglomerados empresariais. O crescimento econômico elevou milhões de pessoas da pobreza, mas o país enfrenta novos desafios como as crescentes tensões comerciais com os EUA.

>>> 5. A Coreia do Norte permanece como um dos regimes mais fechados do mundo. Comandada por Kim Jong-un, mantém uma estrutura estatal centralizada baseada no "juche", que prega a autossuficiência nacional. Pouco pode ser dito sobre a economia local e a situação social, já que o país é fechado para o mundo, tendo contato econômico profundo apenas com a China. O que se sabe é que a Coreia do Norte sofre de embargos pesadíssimos pelo Ocidente e é fortemente militarizada, tendo um programa nuclear bélico muito bem desenvolvido. O país também nunca encerrou formalmente a Guerra com a Coreia do Sul, apesar de nas últimas décadas os dois tenham se esforçado para uma eventual unificação.

Ao observar esses cinco casos, nota-se que o socialismo real, como idealizado no século XX, praticamente não existe mais em sua forma original. Cada país seguiu um caminho distinto: Cuba e Coreia do Norte resistem com seus modelos rígidos, mas enfrentam severas crises; já a Rússia se reinventou como uma potência capitalista autoritária, ainda marcada por traços do passado soviético. A "derrota" do bloco socialista na Guerra Fria não significou o desaparecimento completo do socialismo, mas sim sua transformação em experiências híbridas, contraditórias e profundamente marcadas pelas pressões internas e externas do mundo contemporâneo.

 

Fonte: Fórum

 

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