Julian
Rodrigues: ‘Laicidade, pluralismo e liberdade individual’
“Os
fariseus fazem uma armadilha para apanhar Jesus em alguma palavra.
Primeiramente, eles começam elogiando Jesus, dizendo que Ele é verdadeiro e não
se deixa influenciar pela opinião dos outros. Depois, eles perguntam a Jesus,
se é lícito ou não pagar o imposto a César. César era governador e pertencia ao
império Romano na época e, como sabemos, o Império Romano governava Israel.
Jesus usou como sempre de uma grande sabedoria para dar a resposta e não disse
nada que lhe comprometesse ou comprometesse seus discípulos. Se Jesus
respondesse que não deveria pagar o imposto a César, iriam dizer que Ele era
contra o Império Romano. E se Ele dissesse que tinha que pagar iriam dizer que
Ele estava ao lado do governo e não ao lado do povo. De todas as formas, queriam
apanhar Jesus na resposta que Ele disse.Assim, Jesus pede que lhe apresentem a
moeda e pergunta qual a figura que está na moeda, e eles responderam: de César.
Diante disso, sabiamente Jesus responde “Dai, pois a César o que é de César, e
a Deus o que é de Deus” (Mateus 22, 21). Nessa resposta, sutilmente
Jesus quer dizer que todos devem cumprir com as suas obrigações, seja com o
governo ou seja com Deus.”
·
Sinal dos tempos
Cabe
sobretudo aos não cristãos e aos cristãos de esquerda uma urgentíssima missão:
defender o núcleo progressista dos supostos ensinamentos de um camponês judeu
(I.N.R.I) analfabeto de origem aramaica que supostamente viveu no século I da
Era comum – mais conhecida como ano 1 depois de Cristo.
Há
muito está estabelecida a existência de um certo judeu da Galileia, pregador
messiânico, na executado pelas autoridades coloniais do império Romano. A
influência da religião cristã oficial na Europa e nas América teria se iniciado
por volta do século IV da Era comum – e segue firme e forte até os dias de
hoje, para o bem e para o mal.
O
fato é que “nestes dias tão estranhos” quando a poeira nem se dá mais ao
trabalho de se esconder pelos cantos acabou sobrando para nosotras:
ateus, cartesianos, racionalistas, iluministas, newtonianos, darwinistas,
feministas, existencialistas, marxistas, nietzschianos, leninistas, punks,
céticos, agnósticas e admiradoras de Bergoglio (o papa peronista) uma trivial
tarefa: resgatar, defender e divulgar o legado progressista do Novo
testamento.
É
preciso disputar Jesus com os fascistas, fariseus modernos, mercadores da fé.
Um bando de homens feios, brochas, machistas, racistas, homofóbicos,
autoritários – e, sobretudo, cínicos.
“A
César o que é de César, a Deus o que é de Deus”. Nada mais atual. A liberdade
religiosa, pilar de qualquer regime democrático, é indissociável dos princípios
da laicidade, do pluralismo, da garantia das liberdades individuais, da
igualdade, da defesa e promoção dos direitos humanos.
A
história registra: o Estado laico é uma conquista da luta das classes
subalternas, das minorias políticas, das mulheres, comunistas e cientistas. Dos
cristãos perseguidos pelos romanos, dos mulçumanos esmagados por cristãos em
suas “cruzadas”, das mulheres carbonizadas nas fogueiras, dos judeus caçados
por centenas de anos, obrigados a se esconder, mudar de nome, negar sua fé,
estigmatizados desde a Inquisição até os campos nazistas – hoje, triste e
ironicamente, o Estado de Israel faz com os palestinos coisas similares às que
os nazistas fizeram com os judeus 80 anos atrás.
Antes
mesmo de me considerar marxista tornei-me fã de Ludwig Feuerbach: “não foi deus
quem criou o homem, mas sim foi o homem quem criou deus à sua imagem e
semelhança”. (A propósito Caetano sempre teve razão, e quem há de negar
que “só é possível filosofar em alemão”.
Voltando
ao tema do artigo: é hora de ensinar cristianismo aos cristãos. Em defesa da
pluralidade religiosa e do Estado laico. Sim life is hard, mas, cá
entre nós, também muito divertida. De real e de viés.
¨
No radar geopolítico.
Por Ruben Bauer Naveira
O
complexo xadrez geopolítico atual com suas múltiplas guerras, desdolarização e
as eleições nos EUA
·
Israel
Já
há semanas Israel vem emitindo sinais de que irá desfechar uma grande ofensiva
contra o Líbano, para destruir o Hezbollah. Isso seria altamente temerário,
posto que o Hezbollah: passou as últimas duas décadas construindo uma rede de
túneis e bunkers subterrâneos por todo o sul do Líbano;
adquiriu vasta experiência de combate ao lutar por anos na guerra civil da
Síria, e; acumulou um estoque estimado em cerca de 150 mil mísseis e foguetes
apontados para Israel.
Para
tornar tudo mais surreal, Israel vem anunciando abertamente que atacará o
Líbano, ou seja, abrindo mão deliberadamente de qualquer elemento-surpresa, o
qual seria absolutamente essencial para se atacar um inimigo fortemente
entrincheirado. Os líderes israelenses vêm demonstrando imensa presunção (overconfidence)
ao abordarem seus planos, algo que soa muito estranho.
A
que conclusão a que se poderia chegar? A resposta é daquelas tão aterradoras
que soa inverossímil: Israel estaria se preparando para empregar armas
nucleares táticas contra o Líbano. Cabe lembrar que Israel não possui mais
qualquer “freio” ético ou moral para suas ações, haja visto o que tem feito em
Gaza.
·
Ataques “da Ucrânia” a
território russo
As
aspas aqui são devidas a não haver nenhum ataque “da Ucrânia” a território
russo, somente ataques por parte da OTAN. A cada ataque, são satélites
americanos que fornecem as coordenadas do alvo, as quais são programadas por
instrutores (sic) da OTAN em armas igualmente ocidentais. A Ucrânia sequer fica
tomando conhecimento dos alvos (para reduzir o risco de espionagem pelos
russos, e porque não é necessário mesmo), ela apenas empresta a “cara”, para
poder levar toda a culpa: é ucraniano somente o piloto que decola e solta o
míssil em um ponto pré-determinado, ou o agente infiltrado em território russo
que solta o drone.
Como
o território russo é gigantesco, é absolutamente impossível as defesas
antiaéreas do país cobri-lo integralmente, assim elas protegem apenas aqueles
ativos mais importantes. Desta forma os ataques continuarão, e em muitos casos
serão bem-sucedidos, especialmente contra a população civil, para procurar
convencê-la de que Vladimir Putin é incompetente para protegê-la. Ontem mesmo
(domingo 23 de junho, pela manhã), a OTAN…, ops, Ucrânia lançou uma
bomba de fragmentação sobre uma multidão de banhistas em uma praia na Crimeia,
matando cinco pessoas inclusive duas crianças e ferindo mais de uma centena,
muitos gravemente.
Os
americanos adorariam provocar uma guerra entre a Europa e a Rússia, fazendo dos
europeus o seu novo proxy-bucha-de-canhão após o extermínio em
combate da população masculina adulta da Ucrânia (afora aqueles que conseguiram
escapar do país). Porém, algumas coisas os americanos não querem, de jeito
nenhum: participar diretamente dessa guerra; que soldados americanos sejam
atingidos (somente na base aérea de Rammstein na Alemanha há cerca de 40 mil
deles), e; levar os russos a empregar armas nucleares táticas. Ou seja, eles
querem mais uma guerra localizada, não a Terceira Guerra Mundial (nuclear) –
vai gostar de andar na corda bamba assim lá na Ucrânia. Então, os americanos
necessitam “dosar” os ataques da OT…, diacho, Ucrânia em território russo, de
modo a não chegar ao ponto de obrigar os russos a uma retaliação que venha a
cruzar algumas daquelas linhas vermelhas. E, ao mesmo tempo em que eles vêm
dosando, eles esticam a corda para testar os limites da Rússia…
Os
russos, por sua vez, até aqui não têm retaliado diretamente esses ataques, e
muito provavelmente continuarão sem retaliá-los (a menos que a OTAN “pegue
pesado” demais, por exemplo, atingindo alguma instalação nuclear, civil ou
militar, dos russos). Afinal, a Rússia está vencendo a guerra na Ucrânia, assim
ela não precisa morder a isca da escalada jogada pela OTAN. Isso não significa
que os russos não estejam retaliando, eles estão, só que de forma indireta (por
exemplo, fornecendo armamento de ponta aos inimigos do Ocidente, vide a recente
visita de Vladimir Putin à Coreia do Norte; é de se ver também como o Kremlin
reagirá à anunciada invasão por Israel do Líbano).
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Desdolarização
No
último dia 09 de junho expirou um acordo de 50 anos entre os Estados Unidos e a
Arábia Saudita para venda do petróleo saudita exclusivamente em dólares. Não
há, e nem vai haver, confirmação oficial desta não-renovação por parte dos
sauditas, assim a coisa passa como se não tivesse acontecido. Porém foi abalado
um dos pilares da hegemonia do dólar no mundo.
De
todo modo, o restante do mundo (fora Rússia e China) ainda não consegue
desdolarizar as suas economias, porque lhes falta um sistema de pagamentos
análogo ao SWIFT e, principalmente, porque ainda não existe uma moeda (que terá
necessariamente que ser supranacional) alternativa ao dólar que se imponha como
novo padrão de referência mundial.
China
e Rússia vêm trabalhando muito duro nisso, e a ideia é que tanto o novo sistema
de pagamentos quanto a nova moeda venham a ser adotados no âmbito dos BRICS – e
as novas adesões de países ao grupo certamente trarão como critério a vontade
política pelos novos países de embarcarem nessa empreitada (a propósito, não
foi apenas a Argentina que declinou de sua adesão aos BRICS, a Arábia Saudita
até o momento não confirmou o seu ingresso que deveria ter ocorrido a 01 de
janeiro, deixando-o “em suspenso” – o jogo é bruto).
Será
o sucesso dessa nova moeda que representará o prego final no caixão do dólar, e
assim China e Rússia se cercarão de todos os cuidados (além de procurarem o
melhor timing) para lançá-la.
·
Eleições nos EUA
Ainda
é muito cedo para prever que “Donald Trump vai ganhar”, em especial porque
o deep state (que banca Joe Biden) nunca larga o osso
facilmente. Os americanos até já cunharam uma expressão, “october surprise”,
para se referir a algum evento bombástico que acontece muito próximo da data
das eleições (que são em novembro), como uma tentativa de última hora de virar
o jogo junto ao eleitorado.
Até
o momento, os rumores mais fortes para essa “surprise” falam de uma
renúncia de Joe Biden ao cargo de presidente às vésperas da convenção nacional
do partido democrata (em setembro, o que consistiria em uma “september
surprise” rs). Kamala Harris seguraria a presidência até janeiro, um(a)
outro(a) candidato(a) mais competitivo(a) seria ungido(a) na convenção (se for
a própria Kamala só se os democratas estiverem muito desesperados), e Biden
levaria sozinho para a aposentadoria (ou para o túmulo, se o deep state optar
por algo mais dramático) as culpas americanas pela Ucrânia e por Gaza. A
conferir.
De
todo modo, o primeiro debate televisionado Joe Biden X Donald Trump será
quinta-feira agora, dia 27/06, na CNN, e será decisivo para revelar
a capacidade (ou incapacidade) de Biden vir a enfrentar Trump nas urnas. Será a
prova de fogo para os planos para essa “surprise”.
Fonte:
A Terra é Redonda
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