Encefalite: consequência da dengue pode
deixar sequelas graves
A dengue pode evoluir
para quadros graves, principalmente após a segunda infecção. Diante de um cenário
histórico da doença no Brasil — o país já registrou mais de 740 mil casos
prováveis da infecção e 151 mortes confirmadas, segundo o Ministério da Saúde —
conhecer as complicações decorrentes da dengue é fundamental para buscar ajuda
médica de maneira precoce e realizar o tratamento mais adequado.
Uma das complicações
mais graves é a encefalite, uma inflamação severa no cérebro que pode ocorrer
em decorrência de uma infecção por vírus, como é o caso da dengue. Se não
tratada, pode resultar em sequelas motoras e da fala, além de paralisia. Em
alguns casos, pode levar ao óbito.
“A encefalite
relacionada à dengue pode ocorrer quando o vírus afeta diretamente o cérebro,
causando uma resposta inflamatória. Isso acontece devido à capacidade do
patógeno atravessar a barreira hematoencefálica, uma proteção que o cérebro tem
contra microrganismos”, explica Diogo Haddad, neurologista do Hospital Nove de
Julho, à CNN.
“A resposta do sistema
imunológico à infecção também pode contribuir para a inflamação do cérebro”,
completa o especialista.
A seguir, entenda mais
sobre a encefalite, seus sintomas, formas de tratamento e quando ela pode
surgir como uma consequência da dengue.
• O que é encefalite?
A encefalite é uma
inflamação que atinge o parênquima cerebral, o tecido do cérebro. De acordo com
Sarosh Irani, neurologista e pesquisador da Mayo Clinic, a condição pode ser
dividida em dois tipos:
• Encefalite infecciosa: causada por um
vírus que invade o cérebro. Além da dengue, pode ocorrer com herpes e
enterovírus, por exemplo;
• Encefalite autoimune: desencadeada por
uma infecção em outras partes do corpo ou por um tumor. Em 90% dos casos, a
causa exata não é conhecida.
<<<< Quais
são os sintomas?
Os sintomas de
encefalite podem incluir febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço,
confusão mental, convulsões, fraqueza muscular ou problemas motores, e
alterações na consciência. “Em casos graves, pode progredir para coma”, afirma
Diogo.
No caso da encefalite
autoimune, podem, ainda, surgir mudanças de comportamento, perda de memória,
problemas de compreensão da realidade (psicose) e alucinações.
• Em quais casos a encefalite pode ser uma
complicação da dengue?
De acordo com Diogo, a
encefalite por dengue é mais comum nos quadros graves da doença e pode
acometer, principalmente, os grupos de risco.
“Indivíduos com
sistema imunológico comprometido, como crianças pequenas, idosos ou pessoas com
condições que afetam a imunidade, podem ter um risco maior de desenvolver
complicações graves, incluindo a encefalite”, explica o neurologista.
• Como prevenir a encefalite infecciosa?
Para Sarosh Irani, “a
prevenção é um desafio importante”. “Não temos medidas preventivas consistentes
para essas doenças. Apenas algumas causas infecciosas podem ser evitadas com a
vacinação”, afirma.
Porém, o especialista
acrescenta que, no caso da dengue, a prevenção pode ser feita tentando impedir
o vetor, o mosquito Aedes aegypti. Isso inclui o uso de repelentes
industrializados adequados para esse inseto, instalação de telas em janelas e
portas e eliminação de acúmulo de água parada.
“A vacinação contra a
dengue, disponível em algumas regiões, também pode ajudar na prevenção da
doença e suas complicações”, acrescenta Diogo.
• Como é feito o tratamento da encefalite
por dengue?
O tratamento da
encefalite causada por dengue tem o objetivo de aliviar os sintomas e prevenir
outras complicações de saúde.
“Isso pode incluir a
administração de fluidos intravenosos para hidratação, medicamentos para
controlar a febre e a dor e, em casos de convulsões, o uso de
anticonvulsionantes”, explica Diogo. Pacientes com quadros graves podem
necessitar de tratamento em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Com o tratamento
adequado, o paciente com encefalite por dengue pode se recuperar bem,
principalmente se a condição for diagnosticada e tratada precocemente. “No
entanto, dependendo da gravidade da inflamação e da resposta ao tratamento,
algumas pessoas podem apresentar sequelas neurológicas, como problemas de
memória, dificuldades de aprendizagem, ou alterações de comportamento”, afirma.
Nesses casos, o acompanhamento médico após a recuperação é essencial.
“Um dos nossos
principais objetivos é descobrir como podemos educar outros neurologistas e
médicos em todo o mundo para identificar pacientes precocemente e dar-lhes um
tratamento precoce”, completa Irani.
Fonte: CNN Brasil
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