Queimadura
nos olhos após uso de sérum para cílios: internautas relatam reações e médicos
fazem alerta
Consumidoras
alegam terem sido diagnosticadas com queimaduras nas córneas depois de usar um
sérum para cílios e sobrancelhas da marca Wepink, criada pela influenciadora
Virgínia Fonseca. O g1 ouviu médicos especialistas que fazem um alerta para os
cuidados no uso de produtos aplicados próximos aos olhos. (Entenda mais abaixo)
O
produto faz parte da linha de cosméticos da influenciadora e é vendido com a
promessa de aumentar o volume e estimular o crescimento de cílios e
sobrancelhas. Em um site de reclamações, há pelo menos uma dezena de relatos de
pessoas que alegam ter comprado o produto e terem tido problemas nos olhos.
O g1
procurou a empresa responsável pelo produto, mas não obteve resposta até a
última atualização desta reportagem.
Lidiane
Herculano é uma delas. A cabeleireira conta que após usar o produto nos cílios
e sobrancelhas passou a ter uma visão embaçada e foi diagnosticada com uma
queimadura.
Especialistas
explicam que seria preciso uma análise do produto para saber o motivo da
queimadura. No entanto, alertam que a embalagem informa que o cosmético foi
testado dermatologicamente, mas não menciona testes oftalmológicos — que
avaliam a segurança do uso em contato direto com os olhos. Segundo os médicos,
esse tipo de teste é essencial em produtos que podem atingir a região ocular.
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Consumidora alega queimadura nas córneas
O g1
conversou com Lidiane, de 45 anos, que é cabeleireira. Ela conta que aplicou o
sérum nos cílios antes de dormir, em 13 de junho. Ela conta que não havia
nenhuma informação no site alertando sobre restrições quanto ao uso noturno.
Na hora
de aplicar, a cabeleireira diz que chegou a sentir uma leve ardência, mas achou
que era uma reação normal. Horas depois, durante a madrugada, ao ir ao
banheiro, Lidiane percebeu que a visão estava “nublada” e, ao acender a luz,
enxergava tudo “acinzentado”. Ela lavou os olhos com água e soro fisiológico e
voltou a dormir, acreditando que estaria melhor ao acordar.
No dia
seguinte, ainda com a visão embaçada, ela procurou atendimento médico e recebeu
o diagnóstico, segundo ela, de queimadura nas córneas.
“A
oftalmologista disse que minhas córneas estavam queimadas e me passou quatro
colírios, incluindo antibiótico e lubrificante ocular. Durante o dia, a
nebulosidade aumentou. Na manhã seguinte, eu não conseguia abrir os olhos de
tanta dor”, relata.
Lidiane
chegou a procurar uma segunda opinião médica, mas segundo ela, os dois médicos
diagnosticaram queimaduras nas córneas.
“Parecia
gilete cortando os meus olhos. Eu precisava forçar os olhos para soltar a água
acumulada, porque não conseguia abri-los. A maior sequela foi emocional, porque
eu fiquei com medo de não voltar a enxergar. Fiquei quatro dias totalmente
dependente. Hoje, não passo mais nada no rosto nem nos olhos”, desabafa.
Além
dela, no Reclame Aqui, site que reúne reclamações de clientes online, há ao
menos dez relatos de usuárias que alegam ter tido problemas e precisado de
atendimento médico após reação do produto nos olhos. O produto não é um
lançamento e há reclamações desde 2023.
• Veja os relatos abaixo:
-
"Assim que usei o Wedrop nos meus cílios, o produto me deu uma alergia que
parecia que tinha um ferro dentro dos meus olhos. Doeu muito e um inchaço
imenso. Tive que sair correndo pro pronto socorro e o oftalmologista me
informou que o produto tinha afetado as minhas córneas", escreveu uma
consumidora em uma reclamação em 12 de junho de 2025.
-
"Há dois dias usei o Wedrop, e isso ocasionando uma inflamação no meu olho
direito", escreveu outra consumidora em 3 de maio de 2024.
-
"Comprei o Wedrop para fortalecer os cílios e sobrancelhas e quando passei
nos cílios tive uma alergia séria. Estou com o olho todo inchado, vermelho e
adquiri uma doença nos cílios", comentou outra consumidora em agosto de
2023.
Segundo
Lidiane, os advogados da empresa Wepink chegaram a entrar em contato com ela,
mas não deram um esclarecimento sobre o que pode ter acontecido.
O g1
acionou a Wepink, mas aguardava o retorno até a publicação.
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Olhos são sensíveis e é preciso cuidado
O
oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês, Newton Kara José Junior, analisou a
composição do produto e afirma que, em uma análise preliminar, os compostos
presentes no sérum Wedrop têm potencial para agredir a superfície ocular e que,
por isso, o produto não deveria entrar em contato direto com os olhos.
Ele
ainda ressalta que, mesmo aprovado pela Anvisa, o produto é liberado para fim
cosmético e não como medicamento, por isso não são exigidos todos os testes.
“A
Anvisa aprova o produto como cosmético para uso nos cílios. Como não é um
medicamento, ele não passa por estudos rigorosos de eficácia e segurança. Não
foi considerada a possibilidade de contato com os olhos nem foram realizados
testes para esse tipo de exposição”, afirma o médico.
O g1
consultou um perito químico, que analisou os compostos do produto. André Luiz
Carneiro Simões, que é perito e professor de química no Senai, cita que a
maioria dos compostos têm segurança dermatológica, mas que alguns podem ser
alérgicos ao olhos.
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Alguns dos componentes que ele cita são:
• O Imidazolidinyl Uera é um conservante
que pode ser um doador de formaldeído, que pode liberar pequenas quantidades
com o tempo;
• A Triethanolamine é utilizada para
ajuste de pH e pode irritar pele e mucosa em concentrações elevadas. O risco
principal é ocular e dérmica;
• Acrylates Copolymer, um copolímero,
normalmente é considerado seguro e inerte, porém traços de monômero residual
podem estar presentes e com isso causar também irritação e alergia;
• PPG-5-Ceteth-20 pode causar leve e
moderada irritação ocular.
André
Luiz reforça que é preciso uma análise minuciosa do lote dos produtos que
causaram a queimadura para entender qual o problema: se é um problema na
composição ou se essas pessoas estão dentro da faixa estática daquelas que
podem apresentar alergia.
"A
gente tem componentes que têm algum risco alérgico, mas é preciso lembrar que
as reações são muito individuais. Cada pessoa pode apresentar uma reação
diferente ou não apresentar nada, pois cada individuo pode ter resistência
maior ou menor frente a algum dos componentes. É preciso análise em
laboratório, explica.
O que
dizem os médicos
De
acordo com o oftalmologista Sergio Felberg, especialista em córnea do Hospital
do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE), mesmo produtos seguros para a
pele e aprovados pela Anvisa podem causar danos oculares se atingirem os olhos.
Ele
explica que produtos com substâncias ácidas ou formulações alcoólicas são
especialmente perigosos, podendo provocar irritação, toxicidade e danos aos
tecidos oculares.
“Algumas
reações podem ser suficientemente tóxicas para causar danos oculares
permanentes e comprometimento irreversível da visão”, alerta Felberg.
Por
isso, para o médico oftalmologista e diretor da Sociedade Brasileira de
Oftalmologia, Cesar Motta, a recomendação é que não haja o uso de produtos na
área dos olhos sem a prescrição médica.
Motta
ainda explica que queimaduras químicas na córnea costumam provocar dor intensa.
O tempo de recuperação varia conforme a gravidade da lesão, e as sequelas podem
incluir desde abrasões até perfurações.
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O que fazer em caso de reação nos olhos
Quanto
maior o tempo de exposição e mais tardio o atendimento, maior o risco de
sequelas. O médico Sergio Felberg orienta duas ações imediatas:
• Lavar abundantemente os olhos com água
filtrada, mineral, soro fisiológico ou até mesmo água corrente, caso não haja
outra opção. O ideal é agir o mais rápido possível.
• Procurar atendimento médico de urgência,
para adoção de medidas que evitem complicações permanentes.
Fonte:
g1

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