Luís
Nassif: Xadrez para entender porque o Brasil entrou na mira de Trump
Eduardo
Bolsonaro tornou-se o elo com a política brasileira. Participou de eventos de
Bannon. Também sofreu influência de Olavo de Carvalho
Steve
Bannon está de volta. O grande ideólogo inicial de Donald Trump foi
provisoriamente ofuscado por Ellon Musk e, agora, volta à cena.
Todo o
esquema Trump move-se apenas por dinheiro. Não interessava a Elon Musk
envolver-se em quizilas com países, para não prejudicar seus negócios com
parceiros comerciais. Trump o manteve como conselheiro devido aos polpudos
financiamentos de campanha recebidos. E, provavelmente, à sua capacidade de
trabalhar os grandes bancos de dados públicos e montar modelos de negócios em
cima deles.
Como já
descrevi em artigos anteriores, o modelo de projeção de poder dos Estados
Unidos foi remodelado. Antes, era pelo poder das armas e do dólar. Depois,
trocaram as alianças militares por pactos com o sistema Judicial. Surgem daí a
Operação Lava Jato Brasil, Coréia, França, a operação contra a FIFA, na qual
agentes norte-americanos prenderam dirigentes da FIFA em pleno território
suiço.
Esse
modelo veio acompanhado pelas primeiras incursões das big techs, com os
algoritmos ajudando a criar o apoio na opinião pública, convalidando os
movimentos políticos da Justiça e ajudando a expandir a ultradireita
norte-americana, que forneceu a base ideológica das sucessivas primaveras. E,
no centro dela, Steve Bannon e sua frase célebre: “A maior ameaça ao avanço da
direita é Lula”.
Vamos
entender melhor o fenômeno Steve Bannon e as ideias por trás da ofensiva de Donald
Trump contra o Brasil, com a ajuda de pesquisas feitas em sistemas de
Inteligência Artificial.
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Peça 1 – o início de Bannon
Steve
Bannon nasceu em 1953, de família católica de classe trabalhadora. O pai era
operador de telefonia e veterano da guerra da Coreia. Bannon serviu por sete
anos na Marinha dos Estados Unidos e tornou-se assistente do Chefe de
“Operações Navais do Pentágono”. Depois de deixar a Marinha, obteve MBA pela
Harvard Business School e mestrado em estudos de segurança nacional na
Georgetown University.
Terminou
no mercado financeiro, primeiro como banqueiro de investimentos no Goldman Sach
e, depois, em sua própria firma de investimentos, a Bannon & CO focado na
mídia. Acabou investindo na indústria cinematográfica, como produtor de filmes.
Todos seus filmes já tinham componentes ideológicos:
- In the Face of Evil: Reagan’s War in Word and Deed (2004) –
- documentário de
exaltação à Ronald Reagan e à guerra fria contra o comunismo. A
repercussão do documentário abriu-lhe os olhos para o mercado da
ultradireita, que começava a se formar.
- Generation Zero
(2010)
- Documentário
sobre a crise financeira de 2008 sob a ótica da “teoria dos ciclos
históricos” (Fourth Turning). Nele, afirma que os baby boomers
corromperam os valores norte-americanos, levando a um colapso inevitável.
O documentário teve forte influência retórica nos discursos da campanha
de Trump.
- Occupy Unmasked
(2012)
- Documentário
(produtor executivo) crítico ao movimento Occupy Wall Street, apresentado
como movimento violento e manipulado por interesses marxistas. O
apresentador era Andrew Breitbart.
- The Undefeated
(2011)
- Documentário e,
homenagem a Sarah Palin, ex-governadora do Alasca e ícone da direita
populista. A intenção foi prepará-la para uma possível candidatura à
presidência.
- orchbearer
(2016)
- Documentário
com Phil Robertson (Duck Dynasty), em defesa da moral cristã contra o que
Bannon vê como a decadência ocidental.
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Peça 2 – o início da militância e o alt-right
Em
2012, Bannon tornou-se presidente executivo do site Breitbart News, de
extrema-direita, fundado por Andrew Breitbart, adotando postura
ultranacionalista, anti-imigração e conspiracionista, ligado ao movimento
alt-right.
Esse
movimento surgiu nos Estados Unidos em 2010, com posições nacionalistas,
identitárias, anti-imigração, antiglobalistas e racistas e xenofóbicas. Nasceu
combatendo tanto a esquerda como a direita tradicional. Projetou-se na campanha
de Donald Trump em 2015-2016.
Em
2017, promoveu a Marcha em Charlottesville (“Unite the Right”), episódio que
associou definitivamente o movimento ao supremacismo branco e violência.
A
partir daí, a ultradireita ganha dimensões internacionais, com algumas
diferenças entre si.
>>>>
Quadro Comparativo: Alt-right, Nova Direita Europeia e Direita Populista
Brasileira
|
Característica |
Alt-right
(EUA) |
Nova
Direita Europeia |
Nova
Direita Brasileira |
|
Origem |
EUA
(década de 2010) |
França,
Itália, Hungria, Polônia (anos 1990–2000) |
Brasil
pós-junho de 2013; consolida-se em 2018 |
|
Ideologia
central |
Nacionalismo
branco, identitarismo, antiglobalismo |
Nacionalismo
cultural, antimulticulturalismo, protecionismo |
Antipetismo,
liberalismo econômico + conservadorismo moral |
|
Postura
sobre imigração |
Extremamente
hostil, com discurso racial |
Restritiva,
com foco em cultura/identidade nacional |
Contrária
a políticas pró-imigrantes, mas tema menos central |
|
Inspirações
históricas |
Supremacismo
branco, paleoconservadorismo |
Nova
Direita francesa (Alain de Benoist), identitarismo |
Olavo
de Carvalho, Escola Austríaca, evangélicos |
|
Atuação
política |
Fora
do sistema tradicional (fora do GOP mainstream) |
Disputa
institucional com partidos nacionalistas (ex: Le Pen, Orbán) |
Infiltração
institucional (PL, Republicanos, Exército, igrejas) |
|
Mídia
e redes sociais |
4chan,
Gab, Breitbart, podcasts conspiratórios |
TV
alternativa (RT, Sputnik), redes sociais |
YouTube,
Telegram, canais bolsonaristas, Jovem Pan, Terça Livre |
|
Papel
da religião |
Marginal
(alguns neopagãos ou ateus) |
Cristandade
europeia como “raiz cultural” |
Cristianismo
evangélico e catolicismo conservador como eixo central |
|
Teorias
influentes |
“Grande
Substituição”, QAnon, Declínio Ocidental |
Teoria
da substituição demográfica, “etnopluralismo” |
Marxismo
cultural, Escola de Frankfurt, Foro de São Paulo |
|
Lideranças |
Richard Spencer, Steve Bannon, Milo Yiannopoulos |
Marine
Le Pen, Matteo Salvini, Viktor Orbán |
Jair
Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Zé Trovão, Carla Zambelli |
Há
algumas diferenças entre elas:
- Alt-right é
mais abertamente racializada e radicalizada, com laços com milícias e
supremacismo.
- Nova Direita
Europeia articula sua agenda de forma mais “culta”, usando filosofia
e teoria social, apesar de também flertar com o autoritarismo.
- Direita
populista brasileira mistura liberalismo econômico (Paulo Guedes,
MBL) com conservadorismo religioso e teorias conspiratórias; é mais
reativa e polarizada do que elaborada conceitualmente.
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Peça 3 – a Quarta Reviravolta
A
ultradireita passa a assumir as mesmas posições, mesmo em países tão díspares
como Rússia, Estados Unidos e Brasil – aqui, com as tentativas do ex-deputado
ex-comunista e ex-Ministro Aldo Rebelo.
A
teoria de Bannon é batizada de Quarta Reviravolta, a de Aleksandr Dugin, de
Quarta Teoria e a de Aldo, o Quinto Movimento. No final da linha, os quintos do
inferno.
- Dugin busca uma
ordem tradicional antimoderna, em que a Rússia lidera uma civilização
eurasiana contra o Ocidente liberal.
- Bannon quer
salvar o Ocidente rejeitando o liberalismo e restaurando a moral cristã
tradicional, em conflito com China e globalismo.
- Aldo Rebelo
propõe um nacionalismo soberanista e produtivista, com raízes no
trabalhismo e crítica ao imperialismo e com a ordem mantida por militares.
📌 Convergências
- Todos defendem
Estados fortes, rejeição à ordem liberal global e valorização das
tradições culturais nacionais.
- Todos atacam o
que chamam de “globalismo”, ainda que com sentidos distintos (financeiro,
cultural ou imperialista).
- Todos valorizam
a identidade nacional como núcleo de resistência frente a pressões
externas.
A
Quarta Reviravolta de Bannon baseia-se em uma teoria da história proposta pelos
autores norte-americanos William Strauss e Neil Howe no livro The Fourth
Turning: An American Prophecy (1997). Ela descreve a história como uma
sequência cíclica de quatro “turnings” (reviravoltas) que se repetem
aproximadamente a cada 80 a 100 anos — o tempo de uma vida humana.
>>>
High (Alta) – Primavera
- Exemplo
histórico: Pós-Segunda
Guerra Mundial (1946–1964)
- Características:
- Instituições
fortes
- Ordem social
consolidada
- Otimismo
coletivo
- Indivíduos: Geração do
dever, conformista (ex: “Geração Silenciosa”)
2.
Awakening (Despertar) – Verão
- Exemplo histórico: Revolução
Cultural dos anos 1960–70
- Características:
- Questionamento
de valores e instituições
- Ressurgência do
individualismo
- Movimentos
sociais e espirituais
- Indivíduos: Jovens
idealistas e contraculturais (ex: baby boomers)
3.
Unraveling (Desfazer) – Outono
- Exemplo
histórico: Anos
1980–2000 (Reaganismo, polarização política)
- Características:
- Declínio da
confiança nas instituições
- Individualismo
extremo
- Crescente
desigualdade e tensão social
4.
Crisis (Crise) – Inverno ⛔
- Exemplo histórico: Grande
Depressão + Segunda Guerra Mundial (1929–1945)
- Características:
- Ruptura
institucional
- Conflitos
sociais ou guerras
- Colapso ou
reconstrução total da ordem
- Resultado: Um novo
ciclo começa após a “refundação”.
A
teoria prevê que os EUA (e o mundo ocidental) estão atualmente na Quarta
Reviravolta (desde 2008, com a crise financeira).
- Eventos
catalisadores: Crise
de 2008, ascensão do populismo, pandemia de COVID-19, guerra na Ucrânia,
ataques à democracia, instabilidade global.
- Segundo Bannon e
outros entusiastas da teoria, o clímax ocorrerá por volta de 2030, e
pode resultar em:
- Revolução
política
- Guerra civil ou
internacional
- Colapso de
instituições
- Reforma do
sistema econômico
A
teoria influenciou Steve Bannon, que passou a ver Trump como o líder capaz de
conduzir os EUA por essa “crise regeneradora”. Também influenciou discursos
sobre colapso do “establishment” e o nascimento de uma nova ordem
(nacionalista, religiosa e anti-globalista).
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Peça 4 – a influência no Brasil
A influência
no Brasil deu-se no campo ideológico, em estratégias de comunicação,
mobilização de massas e construção de narrativa de “crise sistêmica”.
Eduardo
Bolsonaro tornou-se o principal elo com a política brasileira. Participou de
eventos organizados por Bannon. Tambémn sofreu influência de Olavo de Carvalho,
que semeou os primeiros conceitos, abrindo espaço para as ideias de Bannon.
- Canais
como Brasil Paralelo, Terça Livre (hoje
extinto), Pleno News e Jovem Pan replicaram elementos
centrais da teoria:
- Discurso
apocalíptico (fim da civilização, ameaça comunista)
- Desprezo pelas
instituições republicanas
- Exaltação da
“refundação moral” baseada na família, Deus e pátria
>>>>
Elementos da Quarta Reviravolta no Discurso Bolsonarista
|
Elemento
da Teoria |
Tradução
no Brasil |
Exemplos |
|
Crise
sistêmica |
“Corrupção
das instituições”, “STF aparelhado”, “sistema contra o povo” |
Ataques
ao STF, TSE, imprensa |
|
Liderança
forte |
Messianismo
político, culto ao “salvador da pátria” |
Discurso
de que Bolsonaro era “o escolhido por Deus” |
|
Guerra
cultural |
Ataque
ao progressismo, marxismo cultural, escolas |
Escola
sem Partido, perseguição a artistas e professores |
|
Mobilização
geracional |
Jovens
contra a “velha política” |
Influência
sobre influenciadores digitais, conservadorismo jovem |
|
Novo
ciclo |
“Brasil
acima de tudo, Deus acima de todos” |
Propostas
de intervenção militar, nova Constituição |
O
Brasil entrou na mira de Steve Bannon a partir da eleição de Bolsonaro em 2018.
Bannon declarou apoio direto à campanha de Bolsonaro e ofereceu consultoria
informal. Defendeu que o Brasil era essencial para a revolução populista
mundial e declarou que Lula era a maior ameaça à expansão da ultradireita.
A
influência da Quarta Reviravolta no Brasil levou à construção de uma narrativa
de “crise terminal” que justificaria uma ruptura autoritária travestida de
regeneração patriótica.
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Peça 5 – a influência de Lula
Desde
2018, Bannon passou a ver Lula como a maior ameaça à direita mundial, por
vários motivos:
- Influência em
redes globais de esquerda: Lula é apontado por Bannon como um
articulador da esquerda internacional, que pode moldar narrativas e
alianças progressistas.
- Impacto
ideológico estratégico: Vencer o Brasil representa vencer um marco
decisivo contra o avanço populista de direita.
- Capacidade de
mobilização:
Lula possui base sindical e popular forte, e mantém relações positivas com
atores globais (BRICS, Europa, ONU) — o que dá escala à sua influência.
- Após a prisão e
posterior libertação de Lula (2018–2021):
- Bannon passou a
citar Lula como um símbolo da “volta da esquerda globalista”.
- Ele o descrevia
como uma figura com forte apelo popular, que poderia rearticular a
esquerda latino-americana.
5. Durante
a campanha de 2022:
- Em podcasts e
entrevistas (como no “War Room”), Bannon chamou Lula de “criminoso
comunista” e “fantoche do globalismo”.
- Afirmou que
Lula, ao voltar ao poder, seria “mais perigoso que nunca”, pois teria
apoio internacional (especialmente da Europa, China e setores da ONU) e
representaria uma coalizão anti-Bolsonaro e anti-Trump.
Essa é
a razão do Brasil ter se tornado o centro da disputa da civilização contra a
destruição proposta pela ultra-direita. E a razão das eleições de 2026 seram
essenciais nessa guerra.
Fonte:
Jornal GGN

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