Luís
Nassif: Truculência de Trump faz renascer o nacionalismo brasileiro
Nessa
loucura tarifária do governo Trump, o Brasil foi o único caso em que se alegou
questão política. Na prática, igualam o Brasil às sanções impostas ao Irã,
Venezuela e Cuba.
Estão
em jogo dois pontos essenciais para o projeto Trump. O primeiro, a tentativa de
substituir os poderes nacionais pelo poder das big techs. E o Brasil, graças ao
Supremo Tribunal Federal e ao Ministro Alexandre Moraes, transformou-se na
principal cidadela global contra o poder absoluto das grandes plataformas. O
segundo motivo são os BRICS e o papel central do Brasil nas articulações
geopolíticas.
A
truculência de Trump vai provocar problemas imediatos. Mas, a médio prazo,
levará cada vez mais os países a saírem da órbita de uma potência errática – os
Estados Unidos – em direção a outra potência, que defende o multilateralismo e
a colaboração entre nações.
Internamente,
ficam caracterizados os crimes de lesa-pátria da família Bolsonaro e exposta a
submissão vergonhosa do governador Tarcísio de Freitas ao Make America Great
Again.
Politicamente,
a truculência de Trump conseguiu o feito inédito da montagem da grande feita
midiática em favor do Brasil. O nacionalismo poderá se converter em uma grande
bandeira, a ser empunhada por Lula.
O
Estadão antecipou seu editorial para, com o título “Coisa de mafiosos”,
proclamar “que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E
que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de
um presidente americano que envergonha a democracia”. O Jornal Nacional se
redimiu de edições recentes com reportagens expressando a indignação ante a
truculência de Trump.
Haverá
desafios pela frente. Um deles é a definição de estratégias para os produtos
brasileiros a serem taxados pelos Estados Unidos.
A
balança comercial com os Estados Unidos registrou os seguintes números de
janeiro a junho.
As
principais exportações brasileiras são de insumos industriais elaborados,
categoria que engloba aço laminado, alumínio refinado, polietileno, solventes
industriais, resinas plásticas, PVC, placas de circuito impresso etc.
É o
único setor em que o mercado norte-americano é dominante para o Brasil.
Em
2024, o Brasil exportou aproximadamente 4,08 milhões de toneladas de
produtos siderúrgicos para os Estados Unidos, representando cerca de 42,6% do
total das exportações brasileiras desse setor. Em valor, essas
exportações corresponderam a cerca de US$ 2,99 bilhões, dos
quais US$ 2,3 bilhões foram referentes a produtos
semielaborados (como placas de aço).
Dados
oficiais do governo brasileiro (ministério e Aço Brasil) indicam que,
entre janeiro e março de 2025, o volume exportado para os EUA cresceu 40% em
relação ao mesmo período do ano anterior, atingindo 661,1 mil toneladas
em março, e acumulando um aumento de 34% no trimestre.
O
volume de carne bovina exportada pelo Brasil para os Estados Unidos em 2024 foi
de aproximadamente 229 000 toneladas, gerando uma receita de cerca
de US$ 1,35 bilhão.
Esse
volume dos EUA representou cerca de 7,9% do total das
exportações brasileiras de carne bovina em 2024, considerando que o volume
total foi de 2,89 milhões de toneladas .
>>>
Com a ajuda da Inteligência Artificial, há as seguintes alternativas de
mercado:
1.
Produtos Siderúrgicos
- Mercado atual
(EUA):
~42% das exportações brasileiras.
- Alternativas
principais:
- México – já é
comprador relevante, tem acordo com Mercosul.
- União Europeia – demanda
por aço verde pode favorecer o Brasil, mas barreiras ambientais são
crescentes.
- Turquia –
importante polo de reexportação e transformação.
- Sudeste
Asiático (Vietnã,
Indonésia, Tailândia) – em expansão industrial.
- China – mais
difícil, pois é autossuficiente, mas pode importar semiacabados.
2.
Carnes (bovina, suína, de frango)
- Mercado atual
(EUA):
~8% da carne bovina brasileira.
- Alternativas
principais:
- China e Hong
Kong –
principais compradores (carne bovina e frango).
- Emirados Árabes
Unidos e Arábia Saudita – carnes halal, crescente
demanda.
- Egito e Irã – forte
demanda por carne bovina congelada.
- Indonésia,
Filipinas e Malásia – mercado em expansão.
- Chile e Egito – para
carne suína.
Mas há
uma alternativa melhor. O governo poderia conceder isenção aos produtores, mais
financiamento do BNDES, para direcionarem a carne para o Bolsa Família.
3.
Petróleo bruto e derivados
- Mercado atual
(EUA):
relevante para petróleo leve brasileiro.
- Alternativas
principais:
- China e Índia – principais
compradores.
- Países europeus – após
sanções à Rússia, buscam diversificar fontes.
- Chile e
Argentina –
para derivados.
4.
Celulose e Papel
- Mercado atual
(EUA):
importante, mas não dominante.
- Alternativas
principais:
- China e União
Europeia –
principais destinos.
- Índia e
Indonésia –
setor industrial em crescimento.
5.
Produtos Químicos e Fertilizantes (quando aplicável)
- Mercado atual
(EUA):
importante para químicos finos.
- Alternativas
principais:
- América Latina –
crescente demanda por químicos industriais.
- África
Subsaariana –
emergente para fertilizantes.
- Ásia (Índia,
Vietnã) –
uso agrícola e industrial crescente.
Já as
importações dos Estados Unidos concentram-se mais em motores e máquinas,
aeronaves e demais produtos da indústria de transformação.
¨
A tarifa Bolsonaro. Por
Felipe Bueno
Fazer a
América grande de novo é apequenar e colocar sob seu guarda-chuva as nações ao
redor, não em termos de proteção, mas antes de submissão.
Já
vivemos isso. Os livros de História contam. Mais ainda, nossos ancestrais
também.
Os
mecanismos da imposição variam por causa do estágio tecnológico e das condições
geopolíticas de cada momento histórico.
Pois
estamos em 2025.
Olhando
em retrospectiva, dá quase para ter uma sensação de saudade do tempo em que
Henry Kissinger era um dos homens mais poderosos do planeta Terra. A coisa
parecia, no mínimo, menos histriônica e caricata.
Do
ponto de vista da presidência dos Estados Unidos, reconheçamos os avisos dados:
houve uma linha sucessória de pessoas muito menores que os cargos que ocuparam,
linha da qual fazem parte, por exemplo, Richard Nixon, Ronald Reagan e George
W. Bush.
E,
pensando bem, olhando novamente em retrospectiva, dá – quase, por favor – para
ter uma sensação de saudade até de George W. Bush, porque há estágios e
estágios de histrionismo, auto-indulgência e perversidade.
Mas
estamos em 2025.
Portanto
vale, numa comunicação oficial por escrito cujo objeto são relações comerciais
em nome de um Estado, relatar a outro, ambos soberanos, que o primeiro está
impondo restrições ao segundo por um punhado de dólares, mas também porque seus
fãs abaixo do Equador ainda não silenciaram o ressentimento da derrota de 2022.
Esta é
a era inteligente, como dizem alguns turistas a passeio em Lisboa,
e nela o disfarce de sobriedade e ponderação outrora usado por chefes de Estado
se faz desnecessário, uma vez que metade do mundo se comporta infantilmente nos
moldes de um cercadinho bolsonarista.
Uso
essa expressão sabendo do risco que corro ao, lá adiante, ver que contribuí,
com 22 letras, para o estabelecimento do ex-presidente do Brasil como uma
causa, defendida obviamente em primeiro lugar por sua família e depois por um
grande contingente de pessoas. Algo maior do que ele é e merece ser.
Um
catalisador de baixa qualidade e alto nível de impurezas, tóxico, que aparenta
num primeiro momento aumentar a velocidade da reação química, mas que no médio
prazo desencadeia um processo irreversível de autodestruição.
Que já
proporcionou subprodutos ainda mais nocivos, e não estamos falando da família.
Mas
serve – e como! – para os interesses de quem está vendo tudo isso lá de cima.
Quem me
bajula está comigo; com os outros, que estão do lado oposto do balcão, converso
por meio de ameaças, gritos e murros na mesa (poderiam ser marteladas também,
como fez em determinada oportunidade um de seus clones brasileiros mais
dissimulados).
No
entanto, e aí reside uma esperança, parte do séquito, ou devemos talvez chamar
de torcida, apesar da coceira da ideologia, move-se mais pelo bolso que pelo
coração. Esse contingente sabe que, em duas décadas, nossa pauta de exportações
para a China passou de menos de 3% para quase 30% do total. Sabe também que
nossa balança comercial com o país de Trump está vermelha (que horror!) há mais
de década e meia. Sendo assim, ainda que boa parte desse grupo adorasse, por
gosto pessoal, usar o boné vermelho MAGA, o futuro de seus luxos e dos luxos de
seus herdeiros não permite tais arroubos.
Se os
caixeiros-viajantes brasileiros de ideologias baratas e falsas narrativas já há
tempos se pronunciaram e estão se articulando lá fora, cabe agora aos
exportadores de verdade perceber que é hora de trocar a estupidez pela
civilidade.
Pois em
algum momento o séquito deixa de ser útil, e não raro tarde demais.
Talvez
o profeta Elon Musk possa nos ajudar com respostas a algumas perguntas.
¨
Como Trump ganhou dinheiro com as tarifas sobre o Brasil
Se
ainda houver instituições públicas nos Estados Unidos, a SEC (a CVM
norte-americana) terá um grande escândalo para apurar, com as tarifas de Donald
Trump contra o Brasil.
Às
13:32 horas de ontem, investidores compraram enorme quantidade de dólares
americanos e vendeu BRL (o real) a descoberto. O anúncio da tarifa de 50%
aconteceu às 16:19. Nesse momento, o trader saiu instantaneamente de sua
operação.
Segundo
cálculos de analistas norte-americanos, a alavancagem de moedas é de 10 a 20
vezes. O trader ganhou 2,5% na operação, o que equivale a um lucro de 25% a 50%
em menos de 3 horas.
A
denúncia foi feita por Spencer Hakimian, operador norte-americano fundador da
Tolou Capital Management. que concluiu: “É a administração mais abertamente
corrupta de todos os tempos”.
Se a
SEC não sucumbiu à destruição das instituições norte-americanas, a apuração da
denúncia poderá ser a base para um processo de impeachment.
¨
Ao apoiar nova agressão de Trump, Tarcísio carimba na
testa a marca de inimigo do Brasil
O governador
de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apontado pelas elites financeiras como o
candidato a presidente em 2026, se mostrou novamente um capacho, um serviçal do
Estados Unidos contra os interesses do Brasil. Sua recente manifestação em
apoio à decisão do presidente estadunidense Donald Trump de impor uma tarifa de
50% sobre todas as exportações brasileiras ultrapassa qualquer limite da
disputa ideológica. É traição.
Sim,
traição. E das mais evidentes. A carta de Trump enviada ao presidente Lula,
além de arrogante, representa uma tentativa direta de interferência nos
assuntos internos do Brasil. Ao citar Jair Bolsonaro, que responde a processo
no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado, como
justificativa para uma retaliação econômica contra todo o país, Trump
ultrapassa a linha do aceitável nas relações internacionais. Mais grave ainda:
o ataque não é apenas ao governo Lula, mas à soberania do Estado brasileiro e à
independência de seus Poderes, especialmente o Judiciário.
Diante
de tamanho absurdo, a atitude que se espera de qualquer autoridade brasileira —
independentemente do partido — é de repúdio. Mas o que fez Tarcísio? Em vez de
condenar o tarifaço, saiu novamente em defesa do agressor. Tentou culpar o
presidente Lula, afirmando que a medida dos EUA seria resultado de uma “agenda
ideológica” do governo brasileiro. Como se o Brasil devesse ajoelhar-se diante
de um governo estrangeiro que, sob um pretexto mentiroso, tenta chantagear o
país com prejuízos bilionários.
Tarcísio
de Freitas, ao tomar partido de Trump e não do Brasil, não se coloca como um
crítico do governo federal — o que seria legítimo em uma democracia —, mas como
um aliado de um projeto estrangeiro de desestabilização do Brasil. Um
governador que age assim não está do lado de seu povo, mas a serviço de outra
nação. Sua postura não é apenas antipatriótica: é antibrasileira. Está mais
próximo de um agente político dos interesses norte-americanos do que de um
servidor público eleito para defender os interesses de São Paulo e do Brasil.
Não é a
primeira vez que Tarcísio se alinha com agendas e personagens da
extrema-direita global. Em 2023, o governador viajou a Israel em meio à
escalada do conflito na Faixa de Gaza para encontrar-se com o primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu, no momento em que o mundo inteiro condenava o massacre de
civis palestinos. Na ocasião, declarou apoio irrestrito à ofensiva militar que
já ceifava dezenas de milhares de vidas inocentes, incluindo mulheres e
crianças. E ainda ousa acusar outros de ideologização?
A
população paulista precisa estar atenta e reagir. O governador do estado mais
populoso e economicamente relevante do país não pode se comportar como cabo
eleitoral internacional de Trump. Muito menos como defensor de medidas que
afetam diretamente a economia nacional e, sobretudo, a economia de São Paulo,
cujos setores exportadores — da indústria ao agronegócio — sofrerão os maiores
impactos do tarifaço.
Em vez
de defender a diplomacia, a legalidade e a soberania do país, Tarcísio de
Freitas optou por aplaudir a sanção econômica imposta por um presidente
estrangeiro com motivações políticas torpes. Escolheu ficar do lado de quem
ameaça a estabilidade das instituições brasileiras e a segurança jurídica do
nosso país. Isso terá um custo político para ele.
O
presidente Lula, por sua vez, respondeu à altura. Convocou reunião de
emergência, articulou reação com base na recém-aprovada Lei de Reciprocidade
Econômica e defendeu com firmeza os interesses do povo brasileiro. Em sua
declaração, reafirmou que o Brasil é uma nação soberana, com instituições
independentes e que não aceitará ser tutelada ou ameaçada.
De um
lado, um presidente que defende o Brasil. Do outro, um governador que aplaude
quem o agride. A história saberá separar quem esteve ao lado do país e quem
tentou entregá-lo. A máscara caiu, Tarcísio. E o que ficou à mostra foi a marca
de inimigo do Brasil.
Fonte:
Jornal GGN/Brasil 247

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