sexta-feira, 11 de julho de 2025

Luís Nassif: Truculência de Trump faz renascer o nacionalismo brasileiro

Nessa loucura tarifária do governo Trump, o Brasil foi o único caso em que se alegou questão política. Na prática, igualam o Brasil às sanções impostas ao Irã, Venezuela e Cuba.

Estão em jogo dois pontos essenciais para o projeto Trump. O primeiro, a tentativa de substituir os poderes nacionais pelo poder das big techs. E o Brasil, graças ao Supremo Tribunal Federal e ao Ministro Alexandre Moraes, transformou-se na principal cidadela global contra o poder absoluto das grandes plataformas. O segundo motivo são os BRICS e o papel central do Brasil nas articulações geopolíticas.

A truculência de Trump vai provocar problemas imediatos. Mas, a médio prazo, levará cada vez mais os países a saírem da órbita de uma potência errática – os Estados Unidos – em direção a outra potência, que defende o multilateralismo e a colaboração entre nações.

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Internamente, ficam caracterizados os crimes de lesa-pátria da família Bolsonaro e exposta a submissão vergonhosa do governador Tarcísio de Freitas ao Make America Great Again.

Politicamente, a truculência de Trump conseguiu o feito inédito da montagem da grande feita midiática em favor do Brasil. O nacionalismo poderá se converter em uma grande bandeira, a ser empunhada por Lula.

O Estadão antecipou seu editorial para, com o título  “Coisa de mafiosos”, proclamar “que  o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia”. O Jornal Nacional se redimiu de edições recentes com reportagens expressando a indignação ante a truculência de Trump.

Haverá desafios pela frente. Um deles é a definição de estratégias para os produtos brasileiros a serem taxados pelos Estados Unidos.

A balança comercial com os Estados Unidos registrou os seguintes números de janeiro a junho.

As principais exportações brasileiras são de insumos industriais elaborados, categoria que engloba aço laminado, alumínio refinado, polietileno, solventes industriais, resinas plásticas, PVC, placas de circuito impresso etc.

É o único setor em que o mercado norte-americano é dominante para o Brasil.

Em 2024, o Brasil exportou aproximadamente 4,08 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos para os Estados Unidos, representando cerca de 42,6% do total das exportações brasileiras desse setor.  Em valor, essas exportações corresponderam a cerca de US$ 2,99 bilhões, dos quais US$ 2,3 bilhões foram referentes a produtos semielaborados (como placas de aço). 

Dados oficiais do governo brasileiro (ministério e Aço Brasil) indicam que, entre janeiro e março de 2025, o volume exportado para os EUA cresceu 40% em relação ao mesmo período do ano anterior, atingindo 661,1 mil toneladas em março, e acumulando um aumento de 34% no trimestre.

O volume de carne bovina exportada pelo Brasil para os Estados Unidos em 2024 foi de aproximadamente 229 000 toneladas, gerando uma receita de cerca de US$ 1,35 bilhão. 

Esse volume dos EUA representou cerca de 7,9% do total das exportações brasileiras de carne bovina em 2024, considerando que o volume total foi de 2,89 milhões de toneladas .

>>> Com a ajuda da Inteligência Artificial, há as seguintes alternativas de mercado:

1. Produtos Siderúrgicos

  • Mercado atual (EUA): ~42% das exportações brasileiras.
  • Alternativas principais:
    • México – já é comprador relevante, tem acordo com Mercosul.
    • União Europeia – demanda por aço verde pode favorecer o Brasil, mas barreiras ambientais são crescentes.
    • Turquia – importante polo de reexportação e transformação.
    • Sudeste Asiático (Vietnã, Indonésia, Tailândia) – em expansão industrial.
    • China – mais difícil, pois é autossuficiente, mas pode importar semiacabados.

2. Carnes (bovina, suína, de frango)

  • Mercado atual (EUA): ~8% da carne bovina brasileira.
  • Alternativas principais:
    • China e Hong Kong – principais compradores (carne bovina e frango).
    • Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita – carnes halal, crescente demanda.
    • Egito e Irã – forte demanda por carne bovina congelada.
    • Indonésia, Filipinas e Malásia – mercado em expansão.
    • Chile e Egito – para carne suína.

Mas há uma alternativa melhor. O governo poderia conceder isenção aos produtores, mais financiamento do BNDES, para direcionarem a carne para o Bolsa Família.

3. Petróleo bruto e derivados

  • Mercado atual (EUA): relevante para petróleo leve brasileiro.
  • Alternativas principais:
    • China e Índia – principais compradores.
    • Países europeus – após sanções à Rússia, buscam diversificar fontes.
    • Chile e Argentina – para derivados.

4. Celulose e Papel

  • Mercado atual (EUA): importante, mas não dominante.
  • Alternativas principais:
    • China e União Europeia – principais destinos.
    • Índia e Indonésia – setor industrial em crescimento.

5. Produtos Químicos e Fertilizantes (quando aplicável)

  • Mercado atual (EUA): importante para químicos finos.
  • Alternativas principais:
    • América Latina – crescente demanda por químicos industriais.
    • África Subsaariana – emergente para fertilizantes.
    • Ásia (Índia, Vietnã) – uso agrícola e industrial crescente.

Já as importações dos Estados Unidos concentram-se mais em motores e máquinas, aeronaves e demais produtos da indústria de transformação.

¨      A tarifa Bolsonaro. Por Felipe Bueno

Fazer a América grande de novo é apequenar e colocar sob seu guarda-chuva as nações ao redor, não em termos de proteção, mas antes de submissão.

Já vivemos isso. Os livros de História contam. Mais ainda, nossos ancestrais também.

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Os mecanismos da imposição variam por causa do estágio tecnológico e das condições geopolíticas de cada momento histórico.

Pois estamos em 2025.

Olhando em retrospectiva, dá quase para ter uma sensação de saudade do tempo em que Henry Kissinger era um dos homens mais poderosos do planeta Terra. A coisa parecia, no mínimo, menos histriônica e caricata.

Do ponto de vista da presidência dos Estados Unidos, reconheçamos os avisos dados: houve uma linha sucessória de pessoas muito menores que os cargos que ocuparam, linha da qual fazem parte, por exemplo, Richard Nixon, Ronald Reagan e George W. Bush.

E, pensando bem, olhando novamente em retrospectiva, dá – quase, por favor – para ter uma sensação de saudade até de George W. Bush, porque há estágios e estágios de histrionismo, auto-indulgência e perversidade.

Mas estamos em 2025.

Portanto vale, numa comunicação oficial por escrito cujo objeto são relações comerciais em nome de um Estado, relatar a outro, ambos soberanos, que o primeiro está impondo restrições ao segundo por um punhado de dólares, mas também porque seus fãs abaixo do Equador ainda não silenciaram o ressentimento da derrota de 2022.

Esta é a era inteligente, como dizem alguns turistas a passeio em Lisboa, e nela o disfarce de sobriedade e ponderação outrora usado por chefes de Estado se faz desnecessário, uma vez que metade do mundo se comporta infantilmente nos moldes de um cercadinho bolsonarista.

Uso essa expressão sabendo do risco que corro ao, lá adiante, ver que contribuí, com 22 letras, para o estabelecimento do ex-presidente do Brasil como uma causa, defendida obviamente em primeiro lugar por sua família e depois por um grande contingente de pessoas. Algo maior do que ele é e merece ser.

Um catalisador de baixa qualidade e alto nível de impurezas, tóxico, que aparenta num primeiro momento aumentar a velocidade da reação química, mas que no médio prazo desencadeia um processo irreversível de autodestruição.

Que já proporcionou subprodutos ainda mais nocivos, e não estamos falando da família.

Mas serve – e como! – para os interesses de quem está vendo tudo isso lá de cima.

Quem me bajula está comigo; com os outros, que estão do lado oposto do balcão, converso por meio de ameaças, gritos e murros na mesa (poderiam ser marteladas também, como fez em determinada oportunidade um de seus clones brasileiros mais dissimulados).

No entanto, e aí reside uma esperança, parte do séquito, ou devemos talvez chamar de torcida, apesar da coceira da ideologia, move-se mais pelo bolso que pelo coração. Esse contingente sabe que, em duas décadas, nossa pauta de exportações para a China passou de menos de 3% para quase 30% do total. Sabe também que nossa balança comercial com o país de Trump está vermelha (que horror!) há mais de década e meia. Sendo assim, ainda que boa parte desse grupo adorasse, por gosto pessoal, usar o boné vermelho MAGA, o futuro de seus luxos e dos luxos de seus herdeiros não permite tais arroubos.

Se os caixeiros-viajantes brasileiros de ideologias baratas e falsas narrativas já há tempos se pronunciaram e estão se articulando lá fora, cabe agora aos exportadores de verdade perceber que é hora de trocar a estupidez pela civilidade.

Pois em algum momento o séquito deixa de ser útil, e não raro tarde demais.

Talvez o profeta Elon Musk possa nos ajudar com respostas a algumas perguntas.

¨      Como Trump ganhou dinheiro com as tarifas sobre o Brasil

Se ainda houver instituições públicas nos Estados Unidos, a SEC (a CVM norte-americana) terá um grande escândalo para apurar, com as tarifas de Donald Trump contra o Brasil.

Às 13:32 horas de ontem, investidores compraram enorme quantidade de dólares americanos e vendeu BRL (o real) a descoberto. O anúncio da tarifa de 50% aconteceu às 16:19. Nesse momento, o trader saiu instantaneamente de sua operação.

Segundo cálculos de analistas norte-americanos, a alavancagem de moedas é de 10 a 20 vezes. O trader ganhou 2,5% na operação, o que equivale a um lucro de 25% a 50% em menos de 3 horas.

A denúncia foi feita por Spencer Hakimian, operador norte-americano fundador da Tolou Capital Management. que concluiu: “É a administração mais abertamente corrupta de todos os tempos”.

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Se a SEC não sucumbiu à destruição das instituições norte-americanas, a apuração da denúncia poderá ser a base para um processo de impeachment.

¨      Ao apoiar nova agressão de Trump, Tarcísio carimba na testa a marca de inimigo do Brasil

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apontado pelas elites financeiras como o candidato a presidente em 2026, se mostrou novamente um capacho, um serviçal do Estados Unidos contra os interesses do Brasil. Sua recente manifestação em apoio à decisão do presidente estadunidense Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras ultrapassa qualquer limite da disputa ideológica. É traição.

Sim, traição. E das mais evidentes. A carta de Trump enviada ao presidente Lula, além de arrogante, representa uma tentativa direta de interferência nos assuntos internos do Brasil. Ao citar Jair Bolsonaro, que responde a processo no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado, como justificativa para uma retaliação econômica contra todo o país, Trump ultrapassa a linha do aceitável nas relações internacionais. Mais grave ainda: o ataque não é apenas ao governo Lula, mas à soberania do Estado brasileiro e à independência de seus Poderes, especialmente o Judiciário.

Diante de tamanho absurdo, a atitude que se espera de qualquer autoridade brasileira — independentemente do partido — é de repúdio. Mas o que fez Tarcísio? Em vez de condenar o tarifaço, saiu novamente em defesa do agressor. Tentou culpar o presidente Lula, afirmando que a medida dos EUA seria resultado de uma “agenda ideológica” do governo brasileiro. Como se o Brasil devesse ajoelhar-se diante de um governo estrangeiro que, sob um pretexto mentiroso, tenta chantagear o país com prejuízos bilionários.

Tarcísio de Freitas, ao tomar partido de Trump e não do Brasil, não se coloca como um crítico do governo federal — o que seria legítimo em uma democracia —, mas como um aliado de um projeto estrangeiro de desestabilização do Brasil. Um governador que age assim não está do lado de seu povo, mas a serviço de outra nação. Sua postura não é apenas antipatriótica: é antibrasileira. Está mais próximo de um agente político dos interesses norte-americanos do que de um servidor público eleito para defender os interesses de São Paulo e do Brasil.

Não é a primeira vez que Tarcísio se alinha com agendas e personagens da extrema-direita global. Em 2023, o governador viajou a Israel em meio à escalada do conflito na Faixa de Gaza para encontrar-se com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no momento em que o mundo inteiro condenava o massacre de civis palestinos. Na ocasião, declarou apoio irrestrito à ofensiva militar que já ceifava dezenas de milhares de vidas inocentes, incluindo mulheres e crianças. E ainda ousa acusar outros de ideologização?

A população paulista precisa estar atenta e reagir. O governador do estado mais populoso e economicamente relevante do país não pode se comportar como cabo eleitoral internacional de Trump. Muito menos como defensor de medidas que afetam diretamente a economia nacional e, sobretudo, a economia de São Paulo, cujos setores exportadores — da indústria ao agronegócio — sofrerão os maiores impactos do tarifaço.

Em vez de defender a diplomacia, a legalidade e a soberania do país, Tarcísio de Freitas optou por aplaudir a sanção econômica imposta por um presidente estrangeiro com motivações políticas torpes. Escolheu ficar do lado de quem ameaça a estabilidade das instituições brasileiras e a segurança jurídica do nosso país. Isso terá um custo político para ele.

O presidente Lula, por sua vez, respondeu à altura. Convocou reunião de emergência, articulou reação com base na recém-aprovada Lei de Reciprocidade Econômica e defendeu com firmeza os interesses do povo brasileiro. Em sua declaração, reafirmou que o Brasil é uma nação soberana, com instituições independentes e que não aceitará ser tutelada ou ameaçada.

De um lado, um presidente que defende o Brasil. Do outro, um governador que aplaude quem o agride. A história saberá separar quem esteve ao lado do país e quem tentou entregá-lo. A máscara caiu, Tarcísio. E o que ficou à mostra foi a marca de inimigo do Brasil.

 

Fonte: Jornal GGN/Brasil 247

 

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