sábado, 12 de julho de 2025

Jeferson Miola: A virada da conjuntura

A conjuntura virou espetacularmente a favor do governo Lula e do campo democrático nas últimas semanas.

Dois fatos imprevistos e surpreendentes –a “fortuna” de Maquiavel– estão na raiz dessa mudança de ares políticos.

Essa virada começou com a eficiente reação do governo e da esquerda à manobra traiçoeira dos presidentes da Câmara e do Senado que, aliados à oposição direitista e bolsonarista, derrotaram o governo na votação do IOF.

O governo então vestiu o “uniforme do embate” e capitaneou a reação à maioria anti-povo do Congresso e setores econômicos poderosos que são os reais donos da maioria dos mandatos parlamentares.

O ataque de Trump ao Brasil como forma de pressão para o STF arquivar o julgamento do Bolsonaro e outros bandidos civis e fardados sedimentou a mudança da conjuntura pró-governo.

Os dois fatos provocaram uma erupção política com desdobramentos benéficos ao governo. No intervalo de poucos dias Lula ganhou dois presentes políticos valiosos, que deverão ter efeitos relevantes na eleição de 2026.

Trump tem sido um cabo eleitoral ruinoso para seus aliados fascistas em várias partes do mundo. E não está sendo diferente com o bolsonarismo no Brasil.

O candidato anti-Lula abençoado pela mídia, pela Faria Lima, por Bolsonaro e pelo rentismo –o capitão do Exército Tarcísio de Freitas– pagará com enorme desgaste a atitude vassala diante do ataque de Trump à soberania nacional.

Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do último ditador João Figueiredo [1979/1985], confessaram o crime de alta traição em associação com governo estrangeiro para derrubar a democracia, vinculando diretamente o bolsonarismo a esse ataque à soberania do país.

A maior parte das reações internas à agressão de Trump e Bolsonaro foram instantâneas. Lula estabeleceu rapidamente um padrão de resposta altiva e digna, e mandou o Itamaraty devolver a carta mentirosa de Trump ao encarregado de negócios dos EUA.

Até mesmo a mídia hegemônica criticou a medida duramente, e inclusive setores empresariais antagônicos ao governo e vinculados ao bolsonarismo se somaram às críticas a Trump.

Em contraste com todas as reações tempestivas, Davi Alcolumbre e Hugo Motta precisaram de 24 horas pra se manifestarem. E o fizeram por meio de um comunicado pífio e medroso.

Para não desagradar bolsonaristas vira-latas, eles se omitiram a respeito da grave ameaça à Suprema Corte do país. Essa omissão dos chefes da Câmara e do Senado ficou ainda mais chocante depois que Steve Bannon revelou o gangsterismo da ação trumpista: “Derrubem o processo contra Bolsonaro [no STF], que derrubamos as tarifas”, declarou em entrevista a Mariana Sanches/UOL.

A tibieza de Motta e Alcolumbre em relação ao ataque Trump-bolsonarista contrasta com a petulância das votações anti-povo do Congresso, o que os enfraquece ainda mais perante a população.

Enquanto para o bolsonarismo e para a direita caudatária do fascismo o impacto dos dois fatos é desastroso, para Lula e para o campo democrático o resultado é profundamente virtuoso.

Depois da adversariedade da maioria congressual inimiga do povo, o governo agora ganhou o mote do inimigo externo para a campanha eleitoral de 2026 que, diga-se de passagem, há muito tempo foi antecipada pela oposição.

Esses dois fatos da conjuntura romperam a espiral de dificuldades do governo e liberaram uma potente energia política e social, colocando o governo e a esquerda na ofensiva política. O jogo que até algumas semanas atrás parecia perdido para o governo está agora recém começando.

<><> Lula volta a utilizar boné com frase “o Brasil é dos brasileiros” após agressões de Trump

Em meio à tensão diplomática com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta sexta-feira (11) de um evento no Espírito Santo usando um boné com a inscrição “O Brasil é dos brasileiros”. O gesto, simbólico, reforça a estratégia de defesa da soberania adotada pelo governo diante da taxação anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros.

O boné já havia sido usado por Lula em fevereiro, logo após as eleições para os comandos da Câmara e do Senado, e voltou a aparecer agora como sinal de resistência. O acessório foi interpretado por aliados como um recado direto ao ex-presidente norte-americano, que comunicou a criação de uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras a partir de 1º de agosto.

Apesar do tom firme, o governo brasileiro ainda pretende buscar um caminho diplomático. Lula afirmou que tentará negociar com os Estados Unidos, mas, caso o diálogo não avance, o país está preparado para aplicar medidas de reciprocidade, ou seja, retaliar com tarifas similares sobre produtos norte-americanos.

A justificativa apresentada por Trump na carta enviada a Lula — de que os EUA teriam déficit na balança comercial com o Brasil — é contestada por dados oficiais, que apontam o contrário. Além da questão comercial, Trump utilizou o comunicado para criticar o julgamento de Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal por crimes como tentativa de golpe de Estado e organização criminosa.

A resposta de Lula e de seu governo tem sido centrada na defesa da autonomia institucional e do respeito à soberania nacional. “O presidente Lula presta continência a uma única bandeira, a bandeira do Brasil”, declarou o advogado-geral da União, Jorge Messias, durante o evento. Já o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também adotou tom duro: “Com o ataque dos EUA, nós sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da pátria”.

¨      Tarifaço de Trump inaugura nova etapa da luta pela soberania nacional. Por José Reinaldo Carvalho

O anúncio das novas tarifas unilaterais impostas pelo presidente estadunidense Donald Trump contra o Brasil marca um momento decisivo e dramático nas relações internacionais do País — e, mais do que isso, inaugura uma nova etapa na luta histórica do povo brasileiro por sua completa emancipação nacional. A gravidade do episódio não permite tergiversações. Trata-se de um ato de agressão direta, uma ofensiva econômica, uma guerra comercial declarada contra o Brasil, com objetivos geopolíticos claros: submeter nossa soberania, enfraquecer nossa economia e sabotar qualquer projeto nacional de desenvolvimento autônomo.

Com justa razão, manifesta-se a indignação de amplos setores patrióticos, democráticos e progressistas do país. O Brasil não aceita sanções, primeiro porque não se submete, como asseverou, com postura altaneira, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. E rechaça as razões invocadas pelo inquilino da Casa Branca, que se arvora em juiz sobre o que convém ou não ao exercício das prerrogativas constitucionais dos Poderes republicanos brasileiros. Bolsonaro e sua caterva de golpistas serão julgados e poderão ser severamente condenados quer queira ou não seu suserano norte-americano. É preciso também enfatizar que a guerra comercial desencadeada fere os princípios e normas internacionais. O pressuposto para resolver qualquer diferendo entre Estados nacionais é o diálogo, não a coerção, o supremacismo, o exclusivismo e ordens imperiais. Para dirimir conflitos é que existem o direito internacional e as instâncias cujo mister é o exercício do multilateralismo. 

É fundamental compreender o contexto mais amplo em que esta medida se insere. Não é um ato isolado, mas parte de uma política sistemática de "pressão máxima" que os Estados Unidos têm adotado para conter a ascensão do Sul Global. A tarifa imposta ao Brasil — país-chave no BRICS e na organização de um mundo multipolar — é uma retaliação direta ao êxito da recente Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, que reafirmou o compromisso das nações emergentes com a construção de uma nova ordem internacional, baseada no respeito mútuo, na cooperação solidária e no multilateralismo genuíno.

A mensagem de Trump é clara: para ele, o fortalecimento do BRICS e de qualquer alternativa ao domínio absoluto dos EUA é inaceitável. Daí o gesto brutal. Daí o ataque. Daí a tentativa de sufocar economicamente quem ousa resistir a ditames e lutar por plena soberania.

Mas o gesto de Trump também expõe algo ainda mais profundo: a decadência do imperialismo norte-americano, que já não consegue sustentar- se, a não ser pela força, pela chantagem e pelo revanchismo. Quando o imperialismo estadunidense lança mão de tarifas unilaterais, sanções, bloqueios e ameaças, ele confessa sua falência como centro dirigente do mundo. Seus métodos de imposição, que outrora encontravam eco na chamada “comunidade internacional”, hoje geram crescente repulsa global.

Nesse cenário, os patriotas devem fazer uma denúncia urgente e demonstrar que o concubinato do bolsonarismo com o trumpismo pode causar danos irreversíveis ao Brasil. A aliança entre Trump e Bolsonaro — cuja herança ideológica e política ainda contamina partes do aparelho de Estado — está na base dessa nova agressão. Essa união entre extremistas de direita representa um pacto antinacional, que sacrifica o interesse do povo brasileiro em nome da subordinação cega aos desígnios do imperialismo. A crítica à "aliança espúria entre Donald Trump e o bolsonarismo" não deve ser apenas retórica, mas um alerta necessário sobre os riscos que corremos. Não devemos iludir como se fôssemos um gigante deitado em berço esplêndido, imunes a agressões externas. 

A resposta, portanto, não pode ser tímida, muito menos protocolar. O momento exige envergadura histórica. O Brasil precisa fazer ecoar, nacional e internacionalmente, sua recusa ao ditame de Trump. É hora de unidade ampla, democrática, patriótica e popular, em torno de um projeto de reconstrução nacional, que defenda o desenvolvimento com soberania, reindustrialização com inclusão, cooperação com independência e direitos para o povo. É hora de unir todas as forças democráticas, progressistas e anti-imperialistas numa frente única ampla em defesa do país, de seu povo e de seu futuro.

Não se trata apenas de responder a uma medida econômica. Trata-se de compreender que o tarifaço é um divisor de águas. Ele revela que o Brasil não pode mais se iludir com um sistema internacional dominado pelo hegemonismo norte-americano. Mostra que, para avançar no desenvolvimento, será preciso romper amarras. Que a luta contra as sanções é, na essência, a luta pelo direito de existir como nação independente.

O povo brasileiro — que já enfrentou ditaduras, dominação colonial e  neocolonialista e golpes de todo tipo — tem uma longa história de resistência. E é essa força que precisamos convocar neste novo ciclo. Um ciclo de enfrentamento à dominação externa, de combate à herança submissa do bolsonarismo e de mobilização popular por transformações profundas na sociedade brasileira.

É neste marco que a ofensiva de Trump deve ser enfrentada. Não como um episódio isolado, mas como o estopim de uma grande virada histórica. O tarifaço deve ser o catalisador de uma nova etapa de nossa luta, a luta pela emancipação plena do Brasil — econômica, política, tecnológica e cultural.

Em nome da soberania nacional, do desenvolvimento, da justiça social e da paz entre os povos, o Brasil deve erguer-se, ao lado dos demais países do Sul Global, como protagonista ativo da nova ordem que está nascendo.

A luta nos convoca. E o povo brasileiro, como tantas vezes provou, saberá responder à altura do desafio.

¨      Lula adotou tom adequado em resposta a Trump, avaliam ministros do STF

Em reação às recentes declarações de Donald Trump e à adoção de tarifas contra produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articulou com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a resposta institucional do Brasil. De acordo com fontes do STF, o presidente conversou diretamente com ministros como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.

Nas ligações, o presidente afirmou que reagiria ao ex-presidente norte-americano e reforçou que, se necessário, o Brasil aplicará a lei da reciprocidade tarifária, ressaltando a importância da soberania nacional.

“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, declarou Lula em publicação nas redes sociais.

O presidente também respondeu à menção feita por Trump ao processo sobre a trama golpista envolvendo Jair Bolsonaro, afirmando que o caso é de competência "apenas da Justiça Brasileira" e que “não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.

Ministros do Supremo avaliam que o tom adotado por Lula desde o início da crise foi adequado e defendem que as respostas ao ex-presidente dos EUA devem continuar sendo conduzidas pelo Poder Executivo e pelo Itamaraty.

Segundo integrantes do STF, a tentativa de pressão por parte de Trump não deve ter impacto sobre os julgamentos em curso na Corte. Como exemplo, lembram a recente decisão do Supremo que ampliou a responsabilidade das plataformas digitais por conteúdos publicados por terceiros — uma medida que também enfrentou forte reação internacional.

 

Fonte: Brasil 247

 

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