Jeferson
Miola: A virada da conjuntura
A
conjuntura virou espetacularmente a favor do governo Lula e do campo
democrático nas últimas semanas.
Dois
fatos imprevistos e surpreendentes –a “fortuna” de Maquiavel– estão na raiz
dessa mudança de ares políticos.
Essa
virada começou com a eficiente reação do governo e da esquerda à manobra
traiçoeira dos presidentes da Câmara e do Senado que, aliados à oposição
direitista e bolsonarista, derrotaram o governo na votação do IOF.
O
governo então vestiu o “uniforme
do embate” e
capitaneou a reação à maioria anti-povo do Congresso e setores econômicos
poderosos que são os reais donos da maioria dos mandatos parlamentares.
O
ataque de Trump ao Brasil como forma de pressão para o STF arquivar o
julgamento do Bolsonaro e outros bandidos civis e fardados sedimentou a mudança
da conjuntura pró-governo.
Os dois
fatos provocaram uma erupção política com desdobramentos benéficos ao governo.
No intervalo de poucos dias Lula ganhou dois presentes políticos valiosos, que
deverão ter efeitos relevantes na eleição de 2026.
Trump
tem sido um cabo eleitoral ruinoso para seus aliados fascistas em várias partes
do mundo. E não está sendo diferente com o bolsonarismo no Brasil.
O
candidato anti-Lula abençoado pela mídia, pela Faria Lima, por Bolsonaro e pelo
rentismo –o capitão do Exército Tarcísio de Freitas– pagará com enorme desgaste
a atitude vassala diante do ataque de Trump à soberania nacional.
Eduardo
Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do último ditador João Figueiredo
[1979/1985], confessaram o crime de alta traição em associação com governo
estrangeiro para derrubar a democracia, vinculando diretamente o bolsonarismo a
esse ataque à soberania do país.
A maior
parte das reações internas à agressão de Trump e Bolsonaro foram instantâneas.
Lula estabeleceu rapidamente um padrão de resposta altiva e digna, e mandou o
Itamaraty devolver a carta mentirosa de Trump ao encarregado de negócios dos
EUA.
Até
mesmo a mídia hegemônica criticou a medida duramente, e inclusive setores
empresariais antagônicos ao governo e vinculados ao bolsonarismo se somaram às
críticas a Trump.
Em
contraste com todas as reações tempestivas, Davi Alcolumbre e Hugo Motta
precisaram de 24 horas pra se manifestarem. E o fizeram por meio de um
comunicado pífio e medroso.
Para
não desagradar bolsonaristas vira-latas, eles se omitiram a respeito da grave
ameaça à Suprema Corte do país. Essa omissão dos chefes da Câmara e do Senado
ficou ainda mais chocante depois que Steve Bannon revelou o gangsterismo da
ação trumpista: “Derrubem o processo contra Bolsonaro [no STF], que derrubamos
as tarifas”, declarou em entrevista a Mariana Sanches/UOL.
A
tibieza de Motta e Alcolumbre em relação ao ataque Trump-bolsonarista contrasta
com a petulância das votações anti-povo do Congresso, o que os enfraquece ainda
mais perante a população.
Enquanto
para o bolsonarismo e para a direita caudatária do fascismo o impacto dos dois
fatos é desastroso, para Lula e para o campo democrático o resultado é
profundamente virtuoso.
Depois
da adversariedade da maioria congressual inimiga do povo, o governo agora
ganhou o mote do inimigo externo para a campanha eleitoral de 2026 que, diga-se
de passagem, há muito tempo foi antecipada pela oposição.
Esses
dois fatos da conjuntura romperam a espiral de dificuldades do governo e
liberaram uma potente energia política e social, colocando o governo e a
esquerda na ofensiva política. O jogo que até algumas semanas atrás parecia
perdido para o governo está agora recém começando.
<><>
Lula volta a utilizar boné com frase “o Brasil é dos brasileiros” após
agressões de Trump
Em meio
à tensão diplomática com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) participou nesta sexta-feira (11) de um evento no Espírito Santo
usando um boné com a inscrição “O Brasil é dos brasileiros”. O gesto,
simbólico, reforça a estratégia de defesa da soberania adotada pelo governo
diante da taxação anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros.
O boné
já havia sido usado por Lula em fevereiro, logo após as eleições para os
comandos da Câmara e do Senado, e voltou a aparecer agora como sinal de
resistência. O acessório foi interpretado por aliados como um recado direto ao
ex-presidente norte-americano, que comunicou a criação de uma tarifa de 50%
sobre importações brasileiras a partir de 1º de agosto.
Apesar
do tom firme, o governo brasileiro ainda pretende buscar um caminho
diplomático. Lula afirmou que tentará negociar com os Estados Unidos, mas, caso
o diálogo não avance, o país está preparado para aplicar medidas de
reciprocidade, ou seja, retaliar com tarifas similares sobre produtos
norte-americanos.
A
justificativa apresentada por Trump na carta enviada a Lula — de que os EUA
teriam déficit na balança comercial com o Brasil — é contestada por dados
oficiais, que apontam o contrário. Além da questão comercial, Trump utilizou o
comunicado para criticar o julgamento de Jair Bolsonaro, réu no Supremo
Tribunal Federal por crimes como tentativa de golpe de Estado e organização
criminosa.
A
resposta de Lula e de seu governo tem sido centrada na defesa da autonomia
institucional e do respeito à soberania nacional. “O presidente Lula presta
continência a uma única bandeira, a bandeira do Brasil”, declarou o
advogado-geral da União, Jorge Messias, durante o evento. Já o ministro da Casa
Civil, Rui Costa, também adotou tom duro: “Com o ataque dos EUA, nós sabemos
quem são os brasileiros e quem são os traidores da pátria”.
¨ Tarifaço de Trump
inaugura nova etapa da luta pela soberania nacional. Por José Reinaldo Carvalho
O
anúncio das novas tarifas unilaterais impostas pelo presidente estadunidense
Donald Trump contra o Brasil marca um momento decisivo e dramático nas relações
internacionais do País — e, mais do que isso, inaugura uma nova etapa na luta
histórica do povo brasileiro por sua completa emancipação nacional. A gravidade
do episódio não permite tergiversações. Trata-se de um ato de agressão direta,
uma ofensiva econômica, uma guerra comercial declarada contra o Brasil, com
objetivos geopolíticos claros: submeter nossa soberania, enfraquecer nossa
economia e sabotar qualquer projeto nacional de desenvolvimento autônomo.
Com
justa razão, manifesta-se a indignação de amplos setores patrióticos,
democráticos e progressistas do país. O Brasil não aceita sanções, primeiro
porque não se submete, como asseverou, com postura altaneira, o presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva. E rechaça as razões invocadas pelo
inquilino da Casa Branca, que se arvora em juiz sobre o que convém ou não ao
exercício das prerrogativas constitucionais dos Poderes republicanos
brasileiros. Bolsonaro e sua caterva de golpistas serão julgados e poderão ser
severamente condenados quer queira ou não seu suserano norte-americano. É
preciso também enfatizar que a guerra comercial desencadeada fere os princípios
e normas internacionais. O pressuposto para resolver qualquer diferendo entre
Estados nacionais é o diálogo, não a coerção, o supremacismo, o exclusivismo e
ordens imperiais. Para dirimir conflitos é que existem o direito internacional
e as instâncias cujo mister é o exercício do multilateralismo.
É
fundamental compreender o contexto mais amplo em que esta medida se insere. Não
é um ato isolado, mas parte de uma política sistemática de "pressão
máxima" que os Estados Unidos têm adotado para conter a ascensão do Sul
Global. A tarifa imposta ao Brasil — país-chave no BRICS e na organização de um
mundo multipolar — é uma retaliação direta ao êxito da recente Cúpula do BRICS
no Rio de Janeiro, que reafirmou o compromisso das nações emergentes com a
construção de uma nova ordem internacional, baseada no respeito mútuo, na
cooperação solidária e no multilateralismo genuíno.
A
mensagem de Trump é clara: para ele, o fortalecimento do BRICS e de qualquer
alternativa ao domínio absoluto dos EUA é inaceitável. Daí o gesto brutal. Daí
o ataque. Daí a tentativa de sufocar economicamente quem ousa resistir a
ditames e lutar por plena soberania.
Mas o
gesto de Trump também expõe algo ainda mais profundo: a decadência do
imperialismo norte-americano, que já não consegue sustentar- se, a não ser pela
força, pela chantagem e pelo revanchismo. Quando o imperialismo estadunidense
lança mão de tarifas unilaterais, sanções, bloqueios e ameaças, ele confessa
sua falência como centro dirigente do mundo. Seus métodos de imposição, que
outrora encontravam eco na chamada “comunidade internacional”, hoje geram
crescente repulsa global.
Nesse
cenário, os patriotas devem fazer uma denúncia urgente e demonstrar que o
concubinato do bolsonarismo com o trumpismo pode causar danos irreversíveis ao
Brasil. A aliança entre Trump e Bolsonaro — cuja herança ideológica e política
ainda contamina partes do aparelho de Estado — está na base dessa nova
agressão. Essa união entre extremistas de direita representa um pacto
antinacional, que sacrifica o interesse do povo brasileiro em nome da
subordinação cega aos desígnios do imperialismo. A crítica à "aliança
espúria entre Donald Trump e o bolsonarismo" não deve ser apenas retórica,
mas um alerta necessário sobre os riscos que corremos. Não devemos iludir como
se fôssemos um gigante deitado em berço esplêndido, imunes a agressões
externas.
A
resposta, portanto, não pode ser tímida, muito menos protocolar. O momento
exige envergadura histórica. O Brasil precisa fazer ecoar, nacional e
internacionalmente, sua recusa ao ditame de Trump. É hora de unidade ampla,
democrática, patriótica e popular, em torno de um projeto de reconstrução
nacional, que defenda o desenvolvimento com soberania, reindustrialização com
inclusão, cooperação com independência e direitos para o povo. É hora de unir
todas as forças democráticas, progressistas e anti-imperialistas numa frente
única ampla em defesa do país, de seu povo e de seu futuro.
Não se
trata apenas de responder a uma medida econômica. Trata-se de compreender que o
tarifaço é um divisor de águas. Ele revela que o Brasil não pode mais se iludir
com um sistema internacional dominado pelo hegemonismo norte-americano. Mostra
que, para avançar no desenvolvimento, será preciso romper amarras. Que a luta
contra as sanções é, na essência, a luta pelo direito de existir como nação
independente.
O povo
brasileiro — que já enfrentou ditaduras, dominação colonial e
neocolonialista e golpes de todo tipo — tem uma longa história de
resistência. E é essa força que precisamos convocar neste novo ciclo. Um ciclo
de enfrentamento à dominação externa, de combate à herança submissa do
bolsonarismo e de mobilização popular por transformações profundas na sociedade
brasileira.
É neste
marco que a ofensiva de Trump deve ser enfrentada. Não como um episódio
isolado, mas como o estopim de uma grande virada histórica. O tarifaço deve ser
o catalisador de uma nova etapa de nossa luta, a luta pela emancipação plena do
Brasil — econômica, política, tecnológica e cultural.
Em nome
da soberania nacional, do desenvolvimento, da justiça social e da paz entre os
povos, o Brasil deve erguer-se, ao lado dos demais países do Sul Global, como
protagonista ativo da nova ordem que está nascendo.
A luta
nos convoca. E o povo brasileiro, como tantas vezes provou, saberá responder à
altura do desafio.
¨ Lula adotou tom
adequado em resposta a Trump, avaliam ministros do STF
Em
reação às recentes declarações de Donald Trump e à adoção de tarifas contra
produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articulou com
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a resposta institucional do Brasil.
De acordo com fontes do STF, o presidente conversou diretamente com ministros
como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e o presidente da Corte, Luís Roberto
Barroso.
Nas
ligações, o presidente afirmou que reagiria ao ex-presidente norte-americano e
reforçou que, se necessário, o Brasil aplicará a lei da reciprocidade
tarifária, ressaltando a importância da soberania nacional.
“O
Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser
tutelado por ninguém”, declarou Lula em publicação nas redes sociais.
O
presidente também respondeu à menção feita por Trump ao processo sobre a trama
golpista envolvendo Jair Bolsonaro, afirmando que o caso é de competência
"apenas da Justiça Brasileira" e que “não está sujeito a nenhum tipo
de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
Ministros
do Supremo avaliam que o tom adotado por Lula desde o início da crise foi
adequado e defendem que as respostas ao ex-presidente dos EUA devem continuar
sendo conduzidas pelo Poder Executivo e pelo Itamaraty.
Segundo
integrantes do STF, a tentativa de pressão por parte de Trump não deve ter
impacto sobre os julgamentos em curso na Corte. Como exemplo, lembram a recente
decisão do Supremo que ampliou a responsabilidade das plataformas digitais por
conteúdos publicados por terceiros — uma medida que também enfrentou forte
reação internacional.
Fonte:
Brasil 247

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