Crise
no IOF: Presidentes de partidos veem Lula distante e dizem que nunca foram
procurados para reuniões
Presidentes
de partidos com ministérios no governo Lula afirmam nunca terem sido procurados
para reuniões diretas com o presidente.
A
queixa dos líderes partidários surge no momento em que cresce o desgaste na
relação entre Executivo e Legislativo, especialmente por conta do cabo de
guerra envolvendo a derrubada do aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras
(IOF).
Caciques
ouvidos pela TV Globo relataram um distanciamento de Lula na articulação
política. Apesar de contarem com ministérios na Esplanada desde o início do
terceiro mandato, presidentes do MDB, do União Brasil, do PP e até mesmo do
PSD, apontam pouco ou nenhum contato quase com o presidente da República.
Lula já
demonstrou a aliados o interesse em se aproximar dos presidentes das legendas,
de maneira a afinar a governabilidade do seu terceiro mandato. Apesar disso, os
comandantes partidários deixam claro que isso nunca aconteceu.
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Interações, só em eventos
Os
presidentes partidários restringiram suas interações com Lula a eventos, mas
sem oportunidade para discutir sua relação com o governo, bem como propostas e
projetos de interesse do Planalto.
O MDB,
um dos maiores partidos do país, está no governo desde o primeiro dia da atual
gestão, ocupando três ministérios: Cidades, Transportes e Planejamento.
No
entanto, fontes próximas ao presidente nacional da legenda, Baleia Rossi,
deixam clara a insatisfação pela falta de convites de Lula e apontam que ele
jamais foi convidado por Lula para discutir o cenário político ou trabalhar por
uma melhor sinergia entre o partido e o Palácio do Planalto.
Situação
semelhante é relatada pelo União Brasil. Em entrevista ao programa Estúdio I,
da GloboNews, nesta quarta-feira (2), o presidente do União Brasil, Antonio
Rueda, foi taxativo: "Desde que assumi a legenda, jamais fui chamado por
Lula para uma conversa."
O
partido conta com duas pastas no governo: o Ministério das Comunicações (que
teve Juscelino Filho como titular e foi posteriormente assumido por Frederico
de Siqueira Filho, aliado da cúpula do partido) e o Ministério do Turismo.
No PP –
que possui o Ministério do Esporte com André Fufuca –, o presidente da sigla,
senador Ciro Nogueira (PI), é enfático ao afirmar que vê Lula "totalmente
afastado dos partidos políticos".
Ciro
afirma que nunca foi convidado para uma reunião com Lula, e "se fosse
convidado, não aceitaria". Ex-ministro da Casa Civil no governo de Jair
Bolsonaro e ainda um dos principais aliados do ex-presidente, Ciro faz parte da
ala do partido que defende um "desembarque total" do governo.
No caso
do PSD, que também ocupa ministérios na Esplanada, o pragmatismo de Gilberto
Kassab dilui a insatisfação da sigla com o governo. Ele afirma ter estado com
Lula em apenas três ocasiões, desde o início do mandato, em janeiro de 2023,
mas não se queixa de distanciamento.
Secretário
de Governo e Relações Institucionais do governo de Tarcísio de Freitas
(Republicanos), em São Paulo, Kassab já fez críticas públicas à equipe
econômica do governo e tem enfatizado sua associação com o governador.
• Motta defende harmonia entre Poderes e
diz que discordâncias são naturais na democracia
Em meio
a tensões recentes entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, o
presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu
nesta terça-feira (2) uma convivência harmônica entre os Poderes, mesmo diante
de divergências.
Na
semana passada, o Congresso derrubou de decretos do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva que aumentavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
“Tem
sido uma relação de muito diálogo, uma relação de respeito, porém de
independência, como rege a nossa Constituição. Nós temos procurado, com essa
independência, manter uma convivência harmônica, porque quem ganha com isso é o
país”, afirmou Motta, durante entrevista ao videocast do Esfera Brasil, em
Lisboa.
O
presidente da Câmara destacou que a harmonia não significa concordância
automática entre os Poderes.
“Harmonia
não obriga que um Poder concorde com tudo que o outro faça. Há divergência, há
discussão, há discordância. E isso é natural da democracia”, declarou.
• Após cobrança de parlamentares, governo
paga quase R$ 8 bilhões em emendas represadas
As
últimas semanas foram marcadas por uma série de liberações e pagamentos de
emendas parlamentares indicadas por deputados e senadores em 2025. Mas a medida
não se limitou a valores deste ano.
Segundo
levantamento feito pelo g1, apenas em 2025, o Executivo já pagou R$ 7,8 bilhões
em indicações parlamentares ao Orçamento feitas em anos anteriores, comumente
chamadas de "restos a pagar". O valor representa 90% do que foi pago
em 2024 de emendas represadas.
A maior
parte dos "restos" pagos pelo governo dizem respeito a emendas
aprovadas entre 2023 e 2024. São R$ 6,6 bilhões (57,4%), de um total de R$ 11,6
bilhões que esperavam por pagamentos no começo do ano.
Em um
intervalo de duas semanas, o governo federal pagou R$ 1,2 bilhão em emendas
empenhadas e travadas entre os anos de 2015 e 2024.
A
liberação desses recursos "represados" é uma das cobranças feitas por
parlamentares a lideranças do Planalto.
Deputados
e senadores também têm criticado um suposto atraso do Executivo no pagamento
das indicações feitas ao Orçamento deste ano, já que boa parte delas é de
execução obrigatória e eles não entendem o motivo de não serem liberadas com
mais velocidade.
A
insatisfação com o ritmo dos repasses foi um dos fatores apontados pelos
congressistas para a derrota do governo na derrubada do decreto que aumentava
alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
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'Restos a pagar'
O
governo começou o ano de 2025 com 19.165 emendas de anos anteriores pendentes
de pagamento. Juntas, as indicações somam R$ 33,4 bilhões.
A maior
parte desse montante corresponde a emendas impositivas (individuais e de
bancada), cujos valores o governo é obrigado a pagar.
Desde o
início do ano, o Executivo já quitou 4.286 emendas, o equivalente a R$ 7,5
bilhões. Ainda aguardam pagamento outras 14.879 indicações, que totalizam R$
25,5 bilhões.
No
mesmo período, o governo federal reservou R$ 4,5 bilhões para emendas aprovadas
no Orçamento de 2025. Até agora, no entanto, apenas R$ 1 bilhão em emendas
foram efetivamente pagas.
Em
março deste ano, o Congresso aprovou um projeto que libera o pagamento de
recursos que foram cancelados entre 2019 e 2022, incluindo as emendas
parlamentares.
A
proposta atinge os recursos que foram reservados (empenhados) dentro do
orçamento para uma finalidade específica, mas não liquidados. Uma despesa é
liquidada quando é executada, ou seja, quando o governo recebe a obra. É a
etapa que antecede o pagamento que a administração pública faz pelo serviço
prestado.
Além
disso, só serão contemplados projetos cuja licitação já tenha sido iniciada. De
acordo com a proposta, a aplicação do dinheiro precisa respeitar a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) e regras de transparência de emendas
parlamentares, que viraram lei no ano passado.
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O que foi pago
As
emendas parlamentares são separadas por tipo de resultado primário, que define
a forma como elas devem ser pagas pelo governo. Atualmente, são três tipos:
• Bancada: quando os parlamentares de um
mesmo estado se juntam para definir onde aplicar recursos; o governo é obrigado
a pagá-las.
• Comissão: quando os membros de comissões
permanentes temáticas do Congresso se reúnem para definir a aplicação; o
governo não é obrigado a pagá-las.
• Individual: definidas individualmente
por cada um dos 594 parlamentares (deputados e senadores) do Congresso; o
governo é obrigado a pagá-las.
Além
dessas, entre 2020 e 2022, as emendas de relator – apelidadas de
"orçamento secreto" – eram definidas pelo relator do orçamento da
União e não traziam as identificações de quais parlamentares tinham feito as
indicações. A categoria foi considerada inconstitucional pelo STF em 2022.
As
emendas individuais foram as maiores beneficiadas pelos pagamentos pelo governo
até agora, com quase R$ 3,4 bilhões quitados. Em seguida aparecem as emendas de
bancadas, com R$ 2 bilhões, seguida das emendas de comissão (R$ 1,8 bilhão) e
emendas de relator, com R$ 587 milhões.
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Beneficiados
Dentre
os mais parlamentares mais contemplados, estão os senadores Irajá (PSD-TO), que
teve R$ 71 milhões em emendas pagas, e Izalci Lucas (PL-DF), com R$ 53 milhões.
No terceiro lugar aparece a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), com R$ 30
milhões.
Um dos
mais vocais opositores do governo, deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS), também
foi um dos principais contemplados, aparecendo em terceiro lugar entre os
deputados, com R$ 27,5 milhões em emendas pagas. Na lista ainda aparecem nomes
como o do deputado afastado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que teve 21 emendas
pagas, em um total de R$ 16 milhões, e do ex-deputado federal Chiquinho Brazão
(S/Partido-RJ), com R$ 9 milhões.
Há
também emendas de ministros do atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), como a chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi
Hoffmann. Responsável por liberar os pagamentos de emendas, a ministra (que
também é deputada pelo Paraná) foi atendida em 16 emendas, a grande maioria de
2024, totalizando R$ 7,6 milhões.
Também
foram pagas emendas da ministra do Planejamento Simone Tebet (que ocupou o
mandato de senadora pelo Mato Grosso do Sul), com R$ 2 milhões, e do ministro
da Agricultura Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e senador pelo Mato
Grosso), com R$ 1,3 milhões.
Os
presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e Senado
Federal, Davi Alcolumbre (União-AP), tiveram cinco emendas pagas, que juntas
somaram R$ 1,9 milhões (R$ 755 mil de Alcolumbre e R$ 1,2 milhão de Motta).
• Alcolumbre alerta Lula sobre clima de
"guerra de classes" e cobra fim de ataques ao Congresso
Em meio
às tensões entre Executivo e Legislativo, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) enviou um agradecimento ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(União-AP), pela aprovação de medidas provisórias nos últimos dois dias. A
mensagem, foi transmitida pelo líder do governo no Congresso, senador Randolfe
Rodrigues (PT-AP).
Segundo
a coluna do jornalista Valdo Cruz, do g1, durante o diálogo com Randolfe,
Alcolumbre se mostrou disposto a retomar as negociações com o governo, mas
classificou como perigosa a atuação de setores ligados ao PT e ao próprio
governo que, de acordo com ele, estariam incentivando ataques ao Congresso e
estimulando uma “guerra de classes”. O senador também teria afrmado que esse
tipo de campanha representa um risco para a democracia.
Randolfe
comprometeu-se a transmitir a Lula as preocupações manifestadas por Alcolumbre.
Interlocutores relataram que o presidente do Senado avalia negativamente o uso
das redes sociais para alimentar um clima de confronto, o que, segundo ele, só
contribui para aprofundar divisões no país. “O governo tem todo o direito de
defender a ‘justiça tributária’, mas não criando um clima de divisão no país
entre ricos e pobres”, teria dito Alcolumbre, em relação a tensão gerada pela
derrubada do decreto presidencial que elevava o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF).
Mais
cedo, Alcolumbre já havia recebido o secretário-executivo do Ministério da
Fazenda, Dario Durigan. A reunião, solicitada por Durigan, visava reabrir o
canal de negociação entre Executivo e Legislativo. No encontro, o presidente do
Senado reforçou estar aberto ao diálogo, mas reiterou críticas à postura de
confronto adotada por aliados do governo, especialmente contra o presidente da
Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A
crítica ganhou ainda mais força após a circulação de vídeos nas redes sociais,
supostamente produzidos com uso de inteligência artificial, que retratam Motta
de forma depreciativa. Nas peças, sem identificação de autoria, o parlamentar é
chamado de “Hugo Não se Importa”, aparecendo em eventos com empresários ricos
enquanto “ri dos pobres”.
A
ofensiva digital gerou forte reação. Irritado, Motta cobrou providências e,
diante da pressão, os articuladores políticos de Lula se apressaram em
defendê-lo publicamente. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi
Hoffmann, usou as redes sociais para afrmar que “o debate, a divergência, a
disputa política fazem parte da democracia. Mas nada disso autoriza os ataques
pessoais e desqualificados nas redes sociais contra o presidente da Câmara,
deputado Hugo Motta, o que repudio”.
Na
mesma linha, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), destacou que
“apesar do revés enfrentado recentemente pelo governo na votação do IOF, isso
não pode ser usado como justificativa para ataques pessoais dirigidos a Hugo
Motta”. Guimarães também defendeu a continuidade do debate sobre a reforma
tributária, ressaltando que a bandeira do governo é contra desigualdades
estruturais, e não contra indivíduos. “Nossa luta não se dirige contra
indivíduos, mas em favor de princípios e propostas”, concluiu.
Fonte:
g1/Brasil 247

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