sábado, 12 de julho de 2025

Chás emagrecedores? Veja quais são os riscos e como eles atuam no organismo

Você já deve ter se deparado com posts nas redes sociais que mostram chás com a promessa de serem emagrecedores. Com o frio, os chás estão em alta e essas bebidas milenares podem, de fato, ajudar em vários aspectos da saúde — como atuarem como calmantes, digestivos, anti-inflamatórios, diuréticos e expectorantes. Mas, quando o assunto é perda de peso, especialistas ouvidos pelo g1 explicam que não é bem assim.

Nutricionistas e nutrólogos consultados pela reportagem destacam que alguns chás podem ter um papel coadjuvante no processo de emagrecimento, ajudando a reduzir a retenção de líquidos, aumentar a ingestão de água (o que é essencial na perda de peso) e oferecer leve efeito termogênico.

🚨 No entanto, é importante reforçar: esses chás não são emagrecedores. Não há evidência científica de que eles, sozinhos, aumentem o gasto calórico ou promovam a perda de peso. Quando associados a uma dieta equilibrada e exercícios físicos, podem contribuir de forma complementar.

🚨 Também é necessário cuidado: alguns chás não são indicados para todas as pessoas. O chá de hibisco, por exemplo, é contraindicado para pessoas com pressão baixa, gestantes e lactantes. O de gengibre também exige atenção. (Entenda mais abaixo)

>>>> Veja a lista de chás e como eles podem te ajudar

•        ➡️ Chá verde (Camellia sinensis):

Rico em catequinas e cafeína, o chá verde estimula o metabolismo e favorece a queima de gordura, explica a médica nutróloga e diretora da ABRAN, Eline Soriano. Ele pode atuar como termogênico e antioxidante, e também ajudar na retenção de líquidos, desde que acompanhado de dieta e exercícios.

🚨 Atenção: o chá verde é considerado hepatotóxico — pode causar danos ao fígado quando consumido em excesso. É essencial acompanhamento profissional para incluí-lo na dieta.

•        ➡️ Chá de hibisco (Hibiscus sabdariffa):

Estudos mostram que o chá de hibisco pode contribuir na redução do colesterol ruim, além de ter efeito diurético, auxiliando na diminuição do inchaço.

Segundo a nutricionista Patrícia Davidson, ele também possui antioxidantes que favorecem o metabolismo e pode inibir a enzima amilase, que transforma o amido em açúcar — o que pode ajudar na redução da absorção de carboidratos.

•        ➡️ Chá de erva-doce (Foeniculum vulgare):

Tem propriedades que ajudam na digestão, reduzem gases e desconfortos abdominais — sendo ideal após as refeições. Também atua como diurético ao estimular a função renal.

•        ➡️ Chá mate (Ilex paraguariensis):

Segundo a nutricionista Davidson, o chá mate é versátil: tem ação antioxidante, estimula a digestão, reduz o apetite e tem efeito termogênico.

🚨 Mas é preciso cuidado: isso vale apenas para o chá feito com a erva natural — versões industrializadas e adoçadas não têm o mesmo efeito.

Além disso, a cafeína presente na planta pode ser perigosa se consumida em excesso. A dose recomendada varia, mas adultos saudáveis podem consumir entre 300 e 400 mg de cafeína por dia.

“Em pessoas com doenças cardiovasculares, ou em doses elevadas, a cafeína pode causar insônia, taquicardia, ansiedade ou aumento da pressão arterial”, alerta Davidson.

•        ➡️ Chá de gengibre:

O gengibre é amplamente estudado e tem efeito comprovado sobre o sistema digestivo, podendo ajudar com desconfortos abdominais e enjoos.

No emagrecimento, tem leve ação termogênica, mas insuficiente para causar perda de peso por si só.

🚨 Pessoas com cálculos biliares ou distúrbios de coagulação devem evitar o consumo, pois o gengibre pode estimular a bile ou interferir na coagulação sanguínea. Em excesso, pode causar problemas gastrointestinais.

<><> Coadjuvantes, mas não ‘milagrosos’

A nutróloga Eline Soriano reforça que não existe chá milagroso. O uso deve ser complementar a um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada, prática de exercícios, bom sono e controle do estresse.

“O principal papel dos chás é favorecer processos como melhora do metabolismo, redução de inchaço e controle do apetite. Mas, sozinhos, não provocam perda de peso”, diz Soriano.

O uso excessivo ou inadequado pode causar efeitos adversos como desidratação, alterações de pressão, problemas gastrointestinais ou prejudicar a absorção de nutrientes.

A recomendação média é de até 200 ml, duas vezes ao dia, dependendo do histórico de saúde da pessoa.

🚨 Atenção aos suplementos com chás e promessas de emagrecimento. Em 2022, em São Paulo, uma mulher morreu após ingerir cápsulas de um suplemento com chá.

<><> Quais cuidados devemos ter ao ingerir chás em geral?

•        Origem da planta: o maior risco está na coleta sem conhecimento botânico. Pode haver contaminação, identificação errada ou presença de toxinas.

•        Dosagem e preparo: o excesso de infusão ou uso prolongado pode sobrecarregar o fígado e rins. As embalagens costumam orientar a quantidade de sachês por dia e tempo de infusão. O uso excessivo pode levar a efeitos adversos, mesmo em plantas seguras.

•        Interações medicamentosas: alguns chás interagem com fármacos. O chá verde interage com anticoagulantes, por exemplo.

•        Grupos vulneráveis: gestantes, lactantes, crianças e pessoas com doenças crônicas devem usar apenas com orientação profissional.

<><> Chás digestivos

A digestão é o processo de transformar os alimentos em partículas menores para que os nutrientes possam ser absorvidos e utilizados pelas células. Ela começa na boca e passa pelo estômago, intestino delgado e grosso. Mas muitos fatores contribuem para problemas de digestão e alguns chás podem ajudar neste processo, de forma natural e sem a necessidade de medicamentos, dependendo do caso.

Mas será que os chás têm contraindicações? Qual quantidade de chás podemos consumir por dia? Quais cuidados devemos ter ao ingerir chás? E quais de fato são bons para a digestão?

>>> Diversos chás são reconhecidos pela ciência por seus efeitos benéficos na digestão, como:

➡️ Chá de hortelã-pimenta (Mentha piperita)

•        Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas e ramos

•        Auxilia no alívio de cólicas, gases e a sensação de empachamento, pois o mentol presente na planta tem efeito antiespasmódico. Ajuda a relaxar os músculos do trato digestivo. Reduz gases e alivia a sensação de inchaço e os sintomas de refluxo. Pesquisas indicam benefícios no tratamento da síndrome do intestino irritável (SII) e dispepsia funcional.

➡️ Chá de carqueja (Baccharis genistelloides):

•        Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas

•        Auxilia na digestão, especialmente quando há refluxo ou má digestão de alimentos gordurosos, e também pode ajudar na função do fígado.

➡️ Chá de camomila (Matricaria chamomilla):

•        Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: capítulos florais

•        Além de calmante, é útil em casos de má digestão e cólicas leves, especialmente por seu efeito relaxante sobre o trato gastrointestinal. Ajuda a aliviar cólicas e desconforto estomacal e possui propriedades anti-inflamatórias.

➡️ Chá de erva-doce (Foeniculum vulgare):

•        Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: frutos

•        Ajuda a reduzir o inchaço. Combate gases, cólicas e promove um alívio geral após refeições pesadas, por conter compostos com ação carminativa e anti-inflamatória. Estudos comprovam seu efeito contra cólicas e distensão abdominal.

➡️ Chá de boldo (Peumus boldus):

•        Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas

•        É bastante conhecido por estimular a produção da bile, ajudando na digestão de gorduras e na função hepática, embora seu uso deva ser moderado devido à presença de alcaloides (compostos químicos orgânicos produzidos principalmente por plantas).

➡️ Chá verde (Camellia sinensis):

•        Partes do vegetal autorizadas pela Anvisa: folhas e talos

•        Compostos do chá verde, como catequinas, podem melhorar o metabolismo e ter efeitos protetores sobre o fígado e intestinos, apontam estudos.

➡️Chá de gengibre:

•        Estudos indicam que o gengibre pode ser eficaz na redução de náuseas e vômitos, especialmente em casos de enjoo matinal e pós-operatório. Suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes se relacionam a uma substância chamada gengirol.

•        OBS: A Anvisa reconhece o chá de gengibre como fitoterápico, com contraindicações. Por isso, recomenda-se uma consulta ao profissional especialista antes de sua ingesta.

“Essas plantas são tradicionalmente utilizadas para aliviar desconfortos gástricos, melhorar a digestão e combater sintomas como gases, náuseas e sensação de estufamento”, explica o nutricionista pós-graduado em nutrição clínica funcional Guilherme Rodrigues Miranda Lopes.

O médico nutrólogo e docente dos cursos de pós-graduação da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) Fabiano Robert acrescenta que, embora muitos estudos sejam promissores, é importante lembrar que mais pesquisas são necessárias para confirmar esses efeitos e determinar as dosagens ideais.

>>>> Cuidados ao comprar os chás

O ideal é que os chás sejam comprados a granel, em lugares de boa procedência, porque muitas vezes podem estar com fungos, contaminados ou com pesticidas, destaca a nutricionista Nathali Loyola.

Ao escolher um chá, verifique no rótulo a quantidade diária recomendada para o consumo. A recomendação indicada e segura por especialistas é de 2 a 3 xícaras por dia.

Além disso, recomenda-se o consumo no dia do preparo, já que ocorrem perdas significativas dos compostos bioativos com o tempo, mesmo quando armazenados sob refrigeração.

>>>> O que pode prejudicar a digestão?

•        Alimentação inadequada: gordura em excesso retarda a digestão (alimentos fritos, embutidos, carnes gordas e fast food); falta de fibras dificulta o trânsito intestinal, provocando constipação; alimentos ultraprocessados, como embutidos, contêm aditivos que podem irritar o sistema digestivo; ingestão excessiva de açúcar ou lactose pode causar fermentação e gases, especialmente em quem tem intolerâncias.

•        Estresse e ansiedade: afetam a produção de enzimas digestivas e o fluxo intestinal, podendo causar azia, dor abdominal ou diarreia.

•        Doenças e condições de saúde, como gastrite, refluxo, síndrome do intestino irritável (SII), intolerâncias alimentares, doença de Crohn, doenças hepáticas, pancreáticas ou da vesícula também prejudicam a digestão.

•        Maus hábitos, como comer rápido demais, exagerar na quantidade, beber muito líquido durante as refeições e deitar-se logo após comer.

“Os alimentos ultraprocessados, ricos em nitritos e nitratos, além da dieta rica em açúcares, pode levar a um desequilíbrio, com liberação de endotoxinas bacterianas que podem promover um pequeno processo inflamatório quando absorvidas em excesso, levando a sintomas como inchaço abdominal e até as vezes diarreias leves”, explica o gastrocirurgião Alvaro Faria.

O médico acrescenta ainda que normalmente recomenda-se tomar os chás mornos ou não muito quentes, preferencialmente após as refeições mais pesadas e com pouco ou nenhum açúcar. Mas mesmo isso merece atenção:

“Se você estiver precisando frequentemente de chás para auxiliar a digestão, pode ser um sinal de que algo não está bem com sua saúde gastrointestinal, e uma visita ao especialista deve ser considerada”, diz Faria.

<><> Chás calmantes

Oferecer um chá é um gesto comum em muitas culturas pelo mundo, cada uma com seus significados, rituais e tradições. No Brasil, o “chazinho” é mais usado para a saúde e aconchego. E pensar que um chá pode acalmar não é somente crença popular, mas é algo que tem fundamento científico.

Alguns chás podem ter um efeito positivo na busca pelo combate ao estresse, como os de camomila, melissa e flor de maracujá., entre outros. E desestressar é essencial para evitar doenças e viver com mais equilíbrio, clareza mental e bem-estar.

Por serem naturais, eles auxiliam no combate ao estresse, ansiedade leve e insônia inicial, explica a nutricionista clínica funcional Nathali Loyola. “Eles possuem compostos bioativos que atuam em mecanismos neuroquímicos e fisiológicos relacionados à regulação do sistema nervoso central e do sistema nervoso autônomo”, explica.

“Uma única planta medicinal não fará efeito sozinha. É preciso um equilíbrio em todo estilo de vida do indivíduo. Os estudos servem para nos assegurar que o consumo é seguro em infusões, para alívio dos sintomas como ansiedade, estresse, insônia e agitação. Eles não possuem efeitos colaterais, mas antes de usar qualquer chá, procure sempre um profissional da saúde habilitado para orientar”, afirma Loyola.

Nutricionistas e nutrólogos ouvidos pelo g1 explicaram como alguns chás calmantes agem no organismo. Entenda:

1.Camomila

Amplamente usado para o relaxamento, alivia dores tensionais e desconfortos gastrointestinais relacionados ao estresse. É rico em apigenina, flavonoide que se liga a receptores que, quando aumentados, promovem o relaxamento e sedação leve.

O efeito calmante ocorre no uso contínuo, trazendo uma qualidade melhor do sono e tensões musculares.

2.Erva-cidreira (melissa)

Conhecida como ansiolítico leve natural, possui ácido rosmarínico, que reduz a liberação de cortisol e o impacto do estresse oxidativo no sistema nervoso. Seu uso pode gerar mais sensação de bem-estar, além de induzir ao sono de forma mais rápida e a menos despertares noturnos. Seu uso contínuo tem função coadjuvante na proteção cognitiva, foco e clareza mental de quem vive sob estresse.

3.Flor de maracujá (passiflora)

Seu efeito tranquilizante atua diretamente sobre o sistema nervoso central, sendo indicada em casos de insônia leve. Diversos artigos comprovam sua ação ansiolítica. Muitas pessoas pensam que é o fruto que tem essa ação, mas sua flor que concentra o maior benefício.

O flavonoide vitexina promove uma pequena sedação e redução da hiperatividade mental e a isovitexina que contribui para um sono relaxante. Seu uso contínuo pode trazer sensação de tranquilidade progressiva ao longo dos dias e menos hiperatividade e pensamentos acelerados.

4.Hortelã

Embora não seja sedativa por si só, contribui para o bem-estar geral, aliviando desconfortos físicos que podem atrapalhar o relaxamento, como dores de cabeça ou má digestão.

Efeitos comprovados, mas sutis

Segundo o nutricionista especialista em Nutrição Clínica Funcional Guilherme Rodrigues Miranda Lopes, os de camomila, valeriana e passiflora são amplamente os mais estudados em pesquisas clínicas.

A médica nutróloga Aline Rodrigues Zanetta, membro do comitê científico da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), acrescenta que os efeitos dos chás são geralmente mais sutis que os dos fármacos, e o uso deles deve ser complementar, não substitutivo, em quadros psiquiátricos moderados a graves.

 

Fonte: Bem Estar/g1

 

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