Chás
emagrecedores? Veja quais são os riscos e como eles atuam no organismo
Você já
deve ter se deparado com posts nas redes sociais que mostram chás com a
promessa de serem emagrecedores. Com o frio, os chás estão em alta e essas
bebidas milenares podem, de fato, ajudar em vários aspectos da saúde — como
atuarem como calmantes, digestivos, anti-inflamatórios, diuréticos e
expectorantes. Mas, quando o assunto é perda de peso, especialistas ouvidos
pelo g1 explicam que não é bem assim.
Nutricionistas
e nutrólogos consultados pela reportagem destacam que alguns chás podem ter um
papel coadjuvante no processo de emagrecimento, ajudando a reduzir a retenção
de líquidos, aumentar a ingestão de água (o que é essencial na perda de peso) e
oferecer leve efeito termogênico.
🚨 No entanto, é importante reforçar:
esses chás não são emagrecedores. Não há evidência científica de que eles,
sozinhos, aumentem o gasto calórico ou promovam a perda de peso. Quando
associados a uma dieta equilibrada e exercícios físicos, podem contribuir de
forma complementar.
🚨 Também é necessário cuidado: alguns
chás não são indicados para todas as pessoas. O chá de hibisco, por exemplo, é
contraindicado para pessoas com pressão baixa, gestantes e lactantes. O de
gengibre também exige atenção. (Entenda mais abaixo)
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Veja a lista de chás e como eles podem te ajudar
• ➡️ Chá verde (Camellia
sinensis):
Rico em
catequinas e cafeína, o chá verde estimula o metabolismo e favorece a queima de
gordura, explica a médica nutróloga e diretora da ABRAN, Eline Soriano. Ele
pode atuar como termogênico e antioxidante, e também ajudar na retenção de
líquidos, desde que acompanhado de dieta e exercícios.
🚨 Atenção: o chá verde é considerado
hepatotóxico — pode causar danos ao fígado quando consumido em excesso. É
essencial acompanhamento profissional para incluí-lo na dieta.
• ➡️ Chá de hibisco
(Hibiscus sabdariffa):
Estudos
mostram que o chá de hibisco pode contribuir na redução do colesterol ruim,
além de ter efeito diurético, auxiliando na diminuição do inchaço.
Segundo
a nutricionista Patrícia Davidson, ele também possui antioxidantes que
favorecem o metabolismo e pode inibir a enzima amilase, que transforma o amido
em açúcar — o que pode ajudar na redução da absorção de carboidratos.
• ➡️ Chá de erva-doce
(Foeniculum vulgare):
Tem
propriedades que ajudam na digestão, reduzem gases e desconfortos abdominais —
sendo ideal após as refeições. Também atua como diurético ao estimular a função
renal.
• ➡️ Chá mate (Ilex
paraguariensis):
Segundo
a nutricionista Davidson, o chá mate é versátil: tem ação antioxidante,
estimula a digestão, reduz o apetite e tem efeito termogênico.
🚨 Mas é preciso cuidado: isso vale
apenas para o chá feito com a erva natural — versões industrializadas e
adoçadas não têm o mesmo efeito.
Além
disso, a cafeína presente na planta pode ser perigosa se consumida em excesso.
A dose recomendada varia, mas adultos saudáveis podem consumir entre 300 e 400
mg de cafeína por dia.
“Em
pessoas com doenças cardiovasculares, ou em doses elevadas, a cafeína pode
causar insônia, taquicardia, ansiedade ou aumento da pressão arterial”, alerta
Davidson.
• ➡️ Chá de gengibre:
O
gengibre é amplamente estudado e tem efeito comprovado sobre o sistema
digestivo, podendo ajudar com desconfortos abdominais e enjoos.
No
emagrecimento, tem leve ação termogênica, mas insuficiente para causar perda de
peso por si só.
🚨 Pessoas com cálculos biliares ou
distúrbios de coagulação devem evitar o consumo, pois o gengibre pode estimular
a bile ou interferir na coagulação sanguínea. Em excesso, pode causar problemas
gastrointestinais.
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Coadjuvantes, mas não ‘milagrosos’
A
nutróloga Eline Soriano reforça que não existe chá milagroso. O uso deve ser
complementar a um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada, prática
de exercícios, bom sono e controle do estresse.
“O
principal papel dos chás é favorecer processos como melhora do metabolismo,
redução de inchaço e controle do apetite. Mas, sozinhos, não provocam perda de
peso”, diz Soriano.
O uso
excessivo ou inadequado pode causar efeitos adversos como desidratação,
alterações de pressão, problemas gastrointestinais ou prejudicar a absorção de
nutrientes.
A
recomendação média é de até 200 ml, duas vezes ao dia, dependendo do histórico
de saúde da pessoa.
🚨 Atenção aos suplementos com chás e
promessas de emagrecimento. Em 2022, em São Paulo, uma mulher morreu após
ingerir cápsulas de um suplemento com chá.
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Quais cuidados devemos ter ao ingerir chás em geral?
• Origem da planta: o maior risco está na
coleta sem conhecimento botânico. Pode haver contaminação, identificação errada
ou presença de toxinas.
• Dosagem e preparo: o excesso de infusão
ou uso prolongado pode sobrecarregar o fígado e rins. As embalagens costumam
orientar a quantidade de sachês por dia e tempo de infusão. O uso excessivo
pode levar a efeitos adversos, mesmo em plantas seguras.
• Interações medicamentosas: alguns chás
interagem com fármacos. O chá verde interage com anticoagulantes, por exemplo.
• Grupos vulneráveis: gestantes,
lactantes, crianças e pessoas com doenças crônicas devem usar apenas com
orientação profissional.
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Chás digestivos
A
digestão é o processo de transformar os alimentos em partículas menores para
que os nutrientes possam ser absorvidos e utilizados pelas células. Ela começa
na boca e passa pelo estômago, intestino delgado e grosso. Mas muitos fatores
contribuem para problemas de digestão e alguns chás podem ajudar neste
processo, de forma natural e sem a necessidade de medicamentos, dependendo do
caso.
Mas
será que os chás têm contraindicações? Qual quantidade de chás podemos consumir
por dia? Quais cuidados devemos ter ao ingerir chás? E quais de fato são bons
para a digestão?
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Diversos chás são reconhecidos pela ciência por seus efeitos benéficos na
digestão, como:
➡️ Chá de hortelã-pimenta (Mentha piperita)
• Partes do vegetal autorizadas pela
Anvisa: folhas e ramos
• Auxilia no alívio de cólicas, gases e a
sensação de empachamento, pois o mentol presente na planta tem efeito
antiespasmódico. Ajuda a relaxar os músculos do trato digestivo. Reduz gases e
alivia a sensação de inchaço e os sintomas de refluxo. Pesquisas indicam
benefícios no tratamento da síndrome do intestino irritável (SII) e dispepsia
funcional.
➡️ Chá de carqueja (Baccharis genistelloides):
• Partes do vegetal autorizadas pela
Anvisa: folhas
• Auxilia na digestão, especialmente
quando há refluxo ou má digestão de alimentos gordurosos, e também pode ajudar
na função do fígado.
➡️ Chá de camomila (Matricaria chamomilla):
• Partes do vegetal autorizadas pela
Anvisa: capítulos florais
• Além de calmante, é útil em casos de má
digestão e cólicas leves, especialmente por seu efeito relaxante sobre o trato
gastrointestinal. Ajuda a aliviar cólicas e desconforto estomacal e possui
propriedades anti-inflamatórias.
➡️ Chá de erva-doce (Foeniculum vulgare):
• Partes do vegetal autorizadas pela
Anvisa: frutos
• Ajuda a reduzir o inchaço. Combate
gases, cólicas e promove um alívio geral após refeições pesadas, por conter
compostos com ação carminativa e anti-inflamatória. Estudos comprovam seu
efeito contra cólicas e distensão abdominal.
➡️ Chá de boldo (Peumus boldus):
• Partes do vegetal autorizadas pela
Anvisa: folhas
• É bastante conhecido por estimular a
produção da bile, ajudando na digestão de gorduras e na função hepática, embora
seu uso deva ser moderado devido à presença de alcaloides (compostos químicos
orgânicos produzidos principalmente por plantas).
➡️ Chá verde (Camellia sinensis):
• Partes do vegetal autorizadas pela
Anvisa: folhas e talos
• Compostos do chá verde, como catequinas,
podem melhorar o metabolismo e ter efeitos protetores sobre o fígado e
intestinos, apontam estudos.
➡️Chá de gengibre:
• Estudos indicam que o gengibre pode ser
eficaz na redução de náuseas e vômitos, especialmente em casos de enjoo matinal
e pós-operatório. Suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes se
relacionam a uma substância chamada gengirol.
• OBS: A Anvisa reconhece o chá de
gengibre como fitoterápico, com contraindicações. Por isso, recomenda-se uma
consulta ao profissional especialista antes de sua ingesta.
“Essas
plantas são tradicionalmente utilizadas para aliviar desconfortos gástricos,
melhorar a digestão e combater sintomas como gases, náuseas e sensação de
estufamento”, explica o nutricionista pós-graduado em nutrição clínica
funcional Guilherme Rodrigues Miranda Lopes.
O
médico nutrólogo e docente dos cursos de pós-graduação da Associação Brasileira
de Nutrologia (ABRAN) Fabiano Robert acrescenta que, embora muitos estudos
sejam promissores, é importante lembrar que mais pesquisas são necessárias para
confirmar esses efeitos e determinar as dosagens ideais.
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Cuidados ao comprar os chás
O ideal
é que os chás sejam comprados a granel, em lugares de boa procedência, porque
muitas vezes podem estar com fungos, contaminados ou com pesticidas, destaca a
nutricionista Nathali Loyola.
Ao
escolher um chá, verifique no rótulo a quantidade diária recomendada para o
consumo. A recomendação indicada e segura por especialistas é de 2 a 3 xícaras
por dia.
Além
disso, recomenda-se o consumo no dia do preparo, já que ocorrem perdas
significativas dos compostos bioativos com o tempo, mesmo quando armazenados
sob refrigeração.
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O que pode prejudicar a digestão?
• Alimentação inadequada: gordura em
excesso retarda a digestão (alimentos fritos, embutidos, carnes gordas e fast
food); falta de fibras dificulta o trânsito intestinal, provocando constipação;
alimentos ultraprocessados, como embutidos, contêm aditivos que podem irritar o
sistema digestivo; ingestão excessiva de açúcar ou lactose pode causar
fermentação e gases, especialmente em quem tem intolerâncias.
• Estresse e ansiedade: afetam a produção
de enzimas digestivas e o fluxo intestinal, podendo causar azia, dor abdominal
ou diarreia.
• Doenças e condições de saúde, como
gastrite, refluxo, síndrome do intestino irritável (SII), intolerâncias
alimentares, doença de Crohn, doenças hepáticas, pancreáticas ou da vesícula
também prejudicam a digestão.
• Maus hábitos, como comer rápido demais,
exagerar na quantidade, beber muito líquido durante as refeições e deitar-se
logo após comer.
“Os
alimentos ultraprocessados, ricos em nitritos e nitratos, além da dieta rica em
açúcares, pode levar a um desequilíbrio, com liberação de endotoxinas
bacterianas que podem promover um pequeno processo inflamatório quando
absorvidas em excesso, levando a sintomas como inchaço abdominal e até as vezes
diarreias leves”, explica o gastrocirurgião Alvaro Faria.
O
médico acrescenta ainda que normalmente recomenda-se tomar os chás mornos ou
não muito quentes, preferencialmente após as refeições mais pesadas e com pouco
ou nenhum açúcar. Mas mesmo isso merece atenção:
“Se
você estiver precisando frequentemente de chás para auxiliar a digestão, pode
ser um sinal de que algo não está bem com sua saúde gastrointestinal, e uma
visita ao especialista deve ser considerada”, diz Faria.
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Chás calmantes
Oferecer
um chá é um gesto comum em muitas culturas pelo mundo, cada uma com seus
significados, rituais e tradições. No Brasil, o “chazinho” é mais usado para a
saúde e aconchego. E pensar que um chá pode acalmar não é somente crença
popular, mas é algo que tem fundamento científico.
Alguns
chás podem ter um efeito positivo na busca pelo combate ao estresse, como os de
camomila, melissa e flor de maracujá., entre outros. E desestressar é essencial
para evitar doenças e viver com mais equilíbrio, clareza mental e bem-estar.
Por
serem naturais, eles auxiliam no combate ao estresse, ansiedade leve e insônia
inicial, explica a nutricionista clínica funcional Nathali Loyola. “Eles
possuem compostos bioativos que atuam em mecanismos neuroquímicos e
fisiológicos relacionados à regulação do sistema nervoso central e do sistema
nervoso autônomo”, explica.
“Uma
única planta medicinal não fará efeito sozinha. É preciso um equilíbrio em todo
estilo de vida do indivíduo. Os estudos servem para nos assegurar que o consumo
é seguro em infusões, para alívio dos sintomas como ansiedade, estresse,
insônia e agitação. Eles não possuem efeitos colaterais, mas antes de usar
qualquer chá, procure sempre um profissional da saúde habilitado para
orientar”, afirma Loyola.
Nutricionistas
e nutrólogos ouvidos pelo g1 explicaram como alguns chás calmantes agem no
organismo. Entenda:
1.Camomila
Amplamente
usado para o relaxamento, alivia dores tensionais e desconfortos
gastrointestinais relacionados ao estresse. É rico em apigenina, flavonoide que
se liga a receptores que, quando aumentados, promovem o relaxamento e sedação
leve.
O
efeito calmante ocorre no uso contínuo, trazendo uma qualidade melhor do sono e
tensões musculares.
2.Erva-cidreira
(melissa)
Conhecida
como ansiolítico leve natural, possui ácido rosmarínico, que reduz a liberação
de cortisol e o impacto do estresse oxidativo no sistema nervoso. Seu uso pode gerar
mais sensação de bem-estar, além de induzir ao sono de forma mais rápida e a
menos despertares noturnos. Seu uso contínuo tem função coadjuvante na proteção
cognitiva, foco e clareza mental de quem vive sob estresse.
3.Flor
de maracujá (passiflora)
Seu
efeito tranquilizante atua diretamente sobre o sistema nervoso central, sendo
indicada em casos de insônia leve. Diversos artigos comprovam sua ação
ansiolítica. Muitas pessoas pensam que é o fruto que tem essa ação, mas sua
flor que concentra o maior benefício.
O
flavonoide vitexina promove uma pequena sedação e redução da hiperatividade
mental e a isovitexina que contribui para um sono relaxante. Seu uso contínuo
pode trazer sensação de tranquilidade progressiva ao longo dos dias e menos
hiperatividade e pensamentos acelerados.
4.Hortelã
Embora
não seja sedativa por si só, contribui para o bem-estar geral, aliviando
desconfortos físicos que podem atrapalhar o relaxamento, como dores de cabeça
ou má digestão.
Efeitos
comprovados, mas sutis
Segundo
o nutricionista especialista em Nutrição Clínica Funcional Guilherme Rodrigues
Miranda Lopes, os de camomila, valeriana e passiflora são amplamente os mais
estudados em pesquisas clínicas.
A
médica nutróloga Aline Rodrigues Zanetta, membro do comitê científico da
Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), acrescenta que os efeitos dos chás
são geralmente mais sutis que os dos fármacos, e o uso deles deve ser
complementar, não substitutivo, em quadros psiquiátricos moderados a graves.
Fonte:
Bem Estar/g1

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