terça-feira, 8 de julho de 2025

Após papelão de Motta em Lisboa, Câmara nega explicação sobre jato da FAB para ida ao evento

No primeiro dia do Fórum de Lisboa, na quarta-feira (2), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), protagonizou um papelão ao fugir dos jornalistas que o aguardavam para uma entrevista. Em vez de cumprir sua promessa de conversar com a imprensa, ele se retirou pelos fundos do evento, gerando desconforto e aumentando a desconfiança sobre suas atitudes, àquela altura muito criticadas pela sociedade por conta de suas sabotagens ao governo Lula (PT) e em defesa dos setores mais ricos do país. Após esse incidente vergonhoso e cercado de embaraços, agora a Câmara dos Deputados se nega a fornecer informações sobre o uso de um jato da Força Aérea Brasileira (FAB) utilizado por Motta para viajar ao evento na capital portuguesa.

A viagem, realizada na noite de segunda-feira (30), foi feita em um jato executivo Legacy VC99, que, segundo fontes, estava lotado. O ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também foi citado por alguns órgãos de imprensa como um dos passageiros. Quando o caso foi revelado, a assessoria de Motta indicou que quaisquer esclarecimentos sobre relação ao uso do avião deveriam ser encaminhados diretamente à Câmara por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Foi o que a colunista Malu Gaspar, do diário carioca O Globo fez, mas depois de enviar o pedido a resposta que ela recebeu foi negativa. A Câmara alegou que a lista de passageiros de voos da FAB é confidencial por questões de segurança.

A recusa em fornecer a informação gerou críticas de entidades como a Transparência Brasil, que classificou a postura do Legislativo como um "ato alarmante". Nem mesmo os nomes das pessoas que viajaram com Motta foram revelados, algo a atmosfera em torno do presidente da Câmara ainda mais turva, uma vez que não há motivos para que tal informação seja escondida.

<><> Papelão em Lisboa

Durante sua participação no 13º Fórum Jurídico de Lisboa, Motta protagonizou um episódio que gerou grande desconforto. Na manhã de quarta-feira (2), após a cerimônia de abertura e duas breves falas nas duas primeiras mesas de debates, o presidente da Câmara prometeu conceder uma entrevista coletiva na saída do recinto. Como estava no centro das atenções do universo político nacional, mais de 50 jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos se dirigiram para o backdrop instalado na porta da reitoria da Universidade de Lisboa para aguardá-lo.

No entanto, Motta não cumpriu a promessa. Informações de colaboradores do evento indicaram que ele havia deixado o local pelos fundos, evitando contato com a imprensa. Esse episódio reforçou ainda mais a impressão de que o jovem parlamentar se sente acuado por possíveis questionamentos sobre suas ações políticas, especialmente após sua postura contrária e de confronto ao governo Lula (PT).

Alinhado com figuras da extrema direita bolsonarista, assim como irmanado ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Motta tem sido uma figura crucial nas operações sujas de sabotagem aberta ao governo federal.

A recente derrubada do aumento do IOF, em uma manobra conjunta com o Senado, gerou forte reação do Planalto e foi judicializada por Lula, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). No último dia do Fórum de Lisboa, o ministro Alexandre de Moraes, a quem a questão foi remetida, decidiu convocar uma sessão de reconciliação entre as partes para amornar os ânimos.

A recusa em explicar o uso do jatinho da FAB e o comportamento evasivo durante sua passagem por Lisboa evidenciam a crescente tensão política e a falta de transparência no comando da Câmara. A viagem, realizada a bordo de um jato militar, levantou mais uma vez dúvidas sobre as prioridades e o compromisso de Hugo Motta com a transparência pública e com as questões que afligem a população.

•        Motta usou grupo Esfera, que faz lobby para ricaços, para vazar recado a Lula pelo Jornal Nacional

O conchavo entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a mídia liberal e o lobby de endinheirados que desencadearam o golpe dos ricaços contra Lula ao barrar as mudanças no Imposto de Operações Financeiras (IOF) ficou ainda mais nítido na edição do Jornal Nacional, da TV Globo, desta quarta-feira (3).

Após driblar jornalistas, fugindo de uma entrevista coletiva marcada no Fórum de Lisboa - como foi revelado pela Fórum -, Motta mandou seu recado a Lula por meio do Jornal Nacional ao vazar um trecho de entrevista concedida ao videocast do Esfera Brasil, grupo de lobby empresarial criado por João Carlos Camargo, presidente da CNN Brasil, para dar suporte ao ex-governo Jair Bolsonaro.

A fala foi pinçada para encaixar perfeitamente na reportagem do principal jornal da família Marinho. Renata Vasconcellos leu a abertura do texto dizendo que "o presidente da Câmara, Hugo Motta, defendeu nesta quarta-feira (2) que é preciso haver uma convivência harmônica entre os Poderes da República que garanta uma relação de independência entre o Legislativo e o Executivo".

De forma capciosa, o JN tenta jogar a responsabilidade pela guerra declarada pelo Congresso ao dizer que "o presidente Lula também se manifestou".

"Ele afirmou que o recurso no STF para tentar manter o aumento do IOF é um direito do governo", disse a apresentadora em relação a Lula, sem explicar que a medida da Câmara foi inconstitucional e usurpou os poderes do Executivo.

Na fala cirúrgica ao grupo Esfera, Motta aparece de forma serena, com fala mansa, para pregar a "pacificação". O mesmo vídeo foi vazada para William Waack, demitido da Globo por racismo e que apresenta um dos principais jornais da emissora de João Camargo.

"Nós temos procurado, com essa independência, poder manter uma convivência harmônica, porque quem ganha com isso é o país. Ter harmonia não obriga que um Poder concorde com tudo que o outro faça. Há divergência, há discussão, há discordância, e isso é natural da democracia”, diz um manso Motta no vídeo vazado.

O vídeo é apenas um pequeno trecho que foi vazado apenas para a Globo e a CNN de uma entrevista de Motta ao videocast da Esfera que será publicada nas redes apenas nesta sexta-feira (3).

Em nenhum momento, no entanto, o JN mostra Lula diante de uma multidão nas ruas de Salvador erguendo uma placa em que pede a "taxação dos super ricos" - mesmo com uma reportagem ampla sobre o 2 de Julho na Bahia. A foto, de Ricardo Stuckert, foi rapidamente colocada no Flickr oficial da Presidência. Em seguida, a imagem foi publicada na rede X do presidente.

"Mais justiça tributária e menos desigualdade. É sobre isso", escreveu na publicação.

<><> Jantar com ricaços

À entrevista de Motta ao videocast do grupo lobista aconteceu após o presidente da Câmara participar de um jantar para recepção das autoridades no Fórum de Lisboa, que acontece anualmente na capital portuguesa, e é conhecido como GilmarPalooza, por ser organizado pelo Instituto de Direito Público (IDP), que tem como sócio o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

Virou tradição também a recepção feita às autoridades por João Camargo e Flávio Rocha, dono da Riachuelo, em um jantar na noite que antecede o evento na mansão do empresário, apoiador contumaz de Bolsonaro, em Portugal.

Nas redes, Motta apareceu sorridente em fotos divulgados pelo presidente do Esfera e da CNN. Em uma das fotos, Motta aprece ao lado de João Camargo e de Guilherme Derrite, Secretário de Segurança Pública do governo Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que vem sendo cortejado pela Terceira Via para ser o candidato anti-Lula.

"Promovemos pela @esferabr hoje em Lisboa uma recepção aos convidados do XIII Fórum Jurídico, que ocorre a partir desta quarta. Aproveitamos a oportunidade para apresentar os detalhes do novo estudo do Instituto Esfera, que aborda a importância da inteligência financeira no enfrentamento à lavagem de dinheiro", escreveu João Camargo, agradecendo primeiramente a Hugo Motta.

Além de Motta e de ministros do Supremo, como Mendes e Luís Roberto Barroso, participaram do jantar o presidente da Cosan, Rubens Ometto - lobista das pertolíferas transnacionais no Brasil -, o presidente da Febraban, Isaac Sidney; o deputado Arthur Lira (PP-AL), o governador de Goiás Ronaldo Caiado (União) e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, entre outros.

•        Desmontando o papo do Véio da Havan sobre “milionários que deixarão o Brasil”

Luciano Hang, o bilionário ultrabolsonarista que ficou conhecido em todo o Brasil por suas vestes sociais ufanistas e pela alcunha de ‘Véio da Havan’, em referência à sua rede de lojas, está de volta e agora com uma história que pode ser tranquilamente considerada uma das coisas mais patéticas e inacreditáveis da história da internet. Mas as alegações apresentadas por ele também não se sustentam, são falsas, servindo apenas para mostrar a real preocupação dos magnatas de salvarem o próprio bolso e não pagarem impostos justos, largando o peso tributário no lombo do trabalhador.

A postagem feita pelo empresário neste domingo (6) traz dados de uma suposta pesquisa realizada pela consultoria britânica de migração de investimentos Henley & Partners, que teria colocado os milionários brasileiros na 6ª colocação mundial entre os ricaços “que mais precisam migrar de país” para se livrar do que eles consideram "impostos abusivos". Os fujões seriam aproximadamente 1.200 em 2025 e a ladainha surge na esteira do embate entre o governo Lula (PT) e o Congresso Nacional por conta do projeto de aumento da faixa de isenção de Imposto de Renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil mensais, que em termos de arrecadação seria compensada por meio de um ajuste para cima nos impostos dos super-ricos, que pagam praticamente nada no Brasil.

O texto de Hang é alarmista, escandaloso, prega o caos, mas, ao fim e ao cabo, apenas revela uma malandragem dos 1% mais ricos do Brasil que contam qualquer história da carochinha para que não haja justiça tributária no país, o que implicaria em menos impostos para quem trabalha e um aumento para a plutocracia que vive nababescamente.

Para mostrar que a publicação do Véio da Havan é um papo-furado, que apenas visa criar alarde nas redes e gerar desespero nos “fãs de bilionários”, a Fórum fez uma análise dos sistemas tributários em relação a milionários e bilionários nos EUA, União Europeia, Canadá, Japão, Argentina, México e Suíça, comparando-os ao do Brasil.

<><> Comparação que acaba com o chororô

Nos EUA, os super-ricos enfrentam uma carga tributária consideravelmente mais pesada do que no Brasil. Por lá, as alíquotas de imposto de renda podem chegar a 39,6%, enquanto no Brasil param em 27,5%. Além disso, os norte-americanos pagam impostos significativos sobre ganhos de capital, dividendos e heranças, cobranças que praticamente inexistem para os bilionários brasileiros, que seguem blindados pela isenção de lucros e dividendos e pela falta de imposto sobre grandes fortunas.

Já na União Europeia, a realidade é ainda mais desigual em comparação ao Brasil. Os países-membros aplicam, em média, alíquotas de imposto de renda de 42,8%, com tributos pesados sobre dividendos, heranças e até patrimônio em várias nações, lembrando que os valores variam de país para país do bloco. Essa estrutura garante maior progressividade e redistribuição de renda, expondo o Brasil como um território que facilita a fuga de responsabilidade fiscal dos mais abastados.

Quando falamos do Canadá, um outro país lembrado pelo bom padrão de vida de seus habitantes, também o contraste fica reforçado: lá, os mais ricos chegam a pagar até 53,53% de imposto de renda, enfrentam taxação alta sobre dividendos e ganhos de capital e, mesmo sem imposto sobre heranças, compensam com tributos na transferência de ativos. No Brasil, esse mesmo grupo desfruta de brechas que aliviam consideravelmente sua contribuição, deixando a maior parte do peso nas costas da população trabalhadora.

No Japão, a discrepância se mantém evidente. Os ricos japoneses estão sujeitos a alíquotas de renda que ultrapassam 55%, além de pagarem tributos relevantes sobre dividendos e heranças, que podem chegar a 55%. Enquanto isso, os milionários brasileiros seguem beneficiados por uma estrutura fiscal que, na prática, os poupa de qualquer contribuição proporcional à sua fortuna.

Mesmo no México, que costuma ser visto como um país de economia emergente semelhante ao Brasil, os ricos arcam com uma carga tributária mais robusta. Com imposto de renda de até 35%, taxação de dividendos e uma carga efetiva superior, o sistema mexicano, ainda que tenha suas limitações, consegue exigir mais dos milionários do que o modelo brasileiro, marcado por isenções que privilegiam a elite. Ainda que lá não exista, assim como no Brasil, taxação sobre grandes fortunas, há pesados impostos sobre propriedades, o que faz com que esses bacanas paguem significativas alíquotas sobre ativos imobiliários.

Na Argentina, apesar de crises econômicas recorrentes, o cenário é semelhante: quem detém grandes fortunas paga mais. A alíquota de renda chega a 35%, há cobrança de imposto sobre dividendos e um tributo específico sobre grandes fortunas, algo sequer cogitado no Brasil de forma real até agora. Ainda que a tributação sobre heranças se equivalha à do Brasil, no conjunto, o sistema argentino onera mais quem tem muito dinheiro.

Por fim, até a Suíça, famosa por atrair fortunas do mundo todo, impõe uma carga mais alta do que o Brasil quando se considera renda, dividendos e imposto sobre patrimônio. Embora cantões suíços sejam flexíveis em heranças e ganhos de capital, o país consegue exigir mais dos super-ricos do que o Brasil, que, na prática, funciona como um verdadeiro paraíso fiscal doméstico.

<><> O escândalo é terrorismo psicológico e manobra

Diante dos dados expostos, a única pergunta que fica é: para onde esses ricaços e magnatas iriam? Sair do Brasil para qualquer uma dessas nações ricas ou mesmo para países socioeconomicamente semelhantes ao Brasil acarretaria o pagamento de impostos maiores. E não é só isso.

A balela mostra-se ainda maior se pensarmos que essas pessoas, saindo do país, não retiraram seus negócios daqui. É uma lógica simples. O que faria o dono de um banco, instalaria suas agências todas em outro país e fecharia suas unidades e seu mercado por aqui? O mesmo vale para qualquer outro ramo. Quem produz seja lá o que for, vidro, pipoca, peças automotivas, móveis, eletrônicos, ou ainda os prestadores de serviço, o que fariam? Teletransportariam suas produções para a Europa, ou para o México? O próprio Hang, ele fecharia suas 180 megalojas em território brasileiro e passaria a vender de ursinhos de pelúcia a enxovais de cama, mesa e banho (fabricados na China) em novas unidades abertas nos EUA e no Canadá?

O que se extrai dessa histeria toda é a certeza de que a gritaria recomeçou agora quando o topo da pirâmide notou que uma possível mudança no sistema de impostos, que cobrará mais dos mais ricos, como em qualquer lugar do mundo, pode estar a caminho, o que apenas alinharia o Brasil às demais nações em termos de justiça tributária.

•        Sabe quem disse que iria taxar os super-ricos? Pois é, ele mesmo PAULO GUEDES

A lembrança é ótima e foi trazida pelo jurista Lenio Streck em sua conta do X, antigo Twitter, neste sábado (5). Com a irônica legenda “na boa!!!! Oiçam!”, Lenio recorda uma entrevista de Paulo Guedes, ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro. Nela, ele dá exatamente a mesma receita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se digladia com o Congresso para conseguir realizar, ou seja, taxar os super-ricos.

“E nós estamos deixando subir um pouco o Imposto de Renda, que é justamente onde você pega, que é progressivo”, disse Guedes na época. “Falta acertar lá embaixo? Falta, falta corrigir tabela do Imposto de Renda, falta isentar mais. Mas aí, você tem que pegar lá em cima, entendeu? A turma do segundo andar”, alertava o ex-ministro.

<><> Mega-bilionários

Ele lembra que naquele ano, “60 mil pessoas receberam 300 bilhões e pagaram zero. Não tô falando de banqueiros. Nós estamos falando de mais do que isso. Nós estamos falando de mega-bilionários. É o que eu sempre disse. Você não tem vergonha de ser rico. Você tem que ter vergonha de não pagar imposto. Se um funcionário seu paga 27,5%, por que você paga zero?”, encerra.

 

Fonte: Fórum

 

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