A
rede de túneis do Hamas
Embora
seja incerto dar a dimensão exata da rede de túneis do Hamas, especula-se que
sua estrutura pode alcançar até 500 km de extensão, com os túneis mais
profundos podendo chegar a 70 metros de profundidade. Diferentes dos túneis que
atravessam a fronteira de Gaza com a finalidade de invadir o território
israelense, os túneis no interior de Gaza estão equipados com eletricidade,
iluminação e trilhos para assegurar a presença de militantes em seu interior
por longos períodos.
O Hamas
usa esses túneis para escapar da observação e dos ataques israelenses,
concentrando equipamentos e seu quartel-general no interior deles. Mesmo Israel
enfrentando a estrutura dos túneis de Gaza há bastante tempo, ainda não
conseguiu inutilizá-los.*
Inicialmente
projetados para burlar o cerco em Gaza, os túneis atendiam a necessidade de
ligar os dois lados da fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza, em particular
a cidade de Rafah, cortada ao meio pelo muro de separação na fronteira. Dessa
forma, além de suprir as necessidades econômicas e comerciais, abastecendo a
população de Gaza, os túneis possibilitavam que os palestinos mantivessem
contato com familiares de ambos os lados do muro.
Além da
função de abastecimento e comércio, os túneis de Gaza, segundo Weizman
(2025),** têm origem ligada à técnica de escavação de águas profundas praticada
por antigas tribos locais. Sendo a disponibilidade de água na Faixa de Gaza
muito escassa, tribos palestinas desenvolveram técnicas muito eficientes de
escavar o subsolo à procura de água em profundidades de até cem metros.
Assim,
os túneis de Gaza na fronteira surgem da necessidade de ligação com o mundo
exterior a partir da combinação de técnicas de escavação de poços profundos com
as rotas comerciais, que percorrem a região e ligam Gaza, desde tempos antigos,
a lugares muito distantes, estendendo-se do norte da África, na costa da Líbia,
ao Eufrates, no atual Iraque.
Da
técnica de escavar poços profundos aliada à vocação para o comércio, surgiu a
engenhosidade dos túneis como projeto de luta anticolonial, combinando
conhecimentos indígenas, aproveitamento das rotas de comércio e a
luta armada palestina.
Como se
sabe os túneis eram de famílias palestinas que não tinham ligação com grupos
armados e muito menos propósitos militares. No entanto, a Faixa de Gaza há
muito tempo é sinônimo de cerco; por isso os túneis passaram a ser instrumentos
de luta contra as medidas de bloqueio.
Lembra
Weizman (2025) que na história das guerras de cerco os túneis são a maneira de
contornar o cerco e de abastecer uma cidade sitiada. Antes de tudo, a
utilização de túneis é uma maneira de chegar à retaguarda de um exército e
atacá-lo de onde menos se espera. Sua engenharia representa uma forma de
sobreviver ao bloqueio.
De
rotas comerciais, os túneis de Gaza tornaram-se meios para atacar os
israelenses. Concretamente, foram feitas escavações sob as bases militares do
inimigo com o objetivo de sequestrar soldados e colocar bombas debaixo de suas
bases. Essa mudança de finalidade de tais rotas só ocorreu quando, em 2007, o
Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza.
Logo
suas lideranças perceberam o potencial dos túneis e a oportunidade de organizar
uma resistência baseada em camadas a partir de uma extensa rede rizomática de
túneis, que permite o tráfego e abastecimento de material bélico para o seu
interior, além da própria projeção de poder em ações de sabotagem ou até mesmo
de ataque contra guarnições israelenses próximas da fronteira de Gaza.
Se na
Primeira Guerra Mundial, no cenário de guerra de trincheiras, eram os mineiros
que escavavam túneis e colocavam explosivos sob as linhas alemãs, cem anos
depois são os combatentes do Hamas que estão a usá-los como uma estratégia de
resistência.
Muito
da capacidade palestina de resistir e de sobreviver e, acima de tudo, de ser um
desafio militar real às forças israelenses tem a ver com a rede de túneis de
Gaza. Este projeto arquitetônico que tem origem no conhecimento local e que
surgiu como uma rede social, que conecta superfície e profundidade com milhões
de nós e suas conexões, permite a Gaza não só respirar, mas também lutar e
resistir às forças de ocupação israelense.
Túneis
que inicialmente foram escavados entre a fronteira do Egito e da Faixa de Gaza
têm sido usados para o contrabando de uma variedade de itens e constituído uma
das principais linhas de fornecimento de armas, explosivos e recrutas armados
para a resistência palestina. Além da necessidade de ligação com o mundo
externo, por conta do bloqueio de Gaza, os túneis configuram uma verdadeira
rede de comunicação, que permite aos membros do Hamas se locomoverem por
bairros e áreas de difícil acesso de Gaza, permanecendo móveis e operantes no
espaço subterrâneo (WEIZMAN, 2012; 2025).
Conhecido
como Metrô de Gaza ou Gaza Inferior, mais do que abrigar combates e
equipamentos militares, o sistema de túneis é composto por estruturas de
concreto reforçado, água canalizada e ambientes climatizados. Essas estruturas
aparentemente são fortes o suficiente para resistir à maioria dos ataques
aéreos de Israel. A maioria dos túneis possuem diversos pontos de acesso e
rotas, partindo de casas, edifícios, campos abertos e plantações.
Suas
principais rotas convergem para uma rota principal e ramificam-se novamente em
várias passagens separadas que levam a diferentes pontos dentro e fora de Gaza,
para o Egito e até mesmo para Israel. Dessa forma, se uma entrada é descoberta
e desligada ou um túnel desmorona, outros podem continuar a ser utilizados e
novos túneis de acesso podem ser escavados e conectados com a rota principal
(WEIZMAN, 2012; 2025).
Israel
acusa frequentemente o Hamas de escavar túneis em Gaza por baixo de escolas,
mesquitas ou hospitais. Assim, os israelenses alegam que os grupos armados
palestinos usam instalações civis para fins militares. Embora, na maioria das
vezes, Israel não apresente provas contundentes dessa prática, uma vez que o
espaço urbano está sendo utilizado como campo de batalha e os conflitos ocorrem
em todos os lugares, seja pela resistência palestina a se entrincheirar no
espaço urbano seja pelo ataque indiscriminado de Israel às cidades palestinas,
instalações e edifícios civis acabam fazendo parte, de uma forma ou de outra, à
dinâmica espacial do combate urbano.
Com a
função de ligar e estabelecer conexão entre rotas e pontos diferentes fora de
Gaza e no seu interior, túneis interligados sob áreas urbanas permitem que os
grupos palestinos se movam rapidamente entre posições de ataque e de defesa e,
como amplamente divulgado na internet,*** podem ainda ser escavados rapidamente
para abrir caminho para fugas ou ataques-surpresa.
Os
túneis são um elemento vital na estratégia de guerra do Hamas, que os usa para
esconder e transportar foguetes, cujas plataformas de lançamento podem ser
ocultadas ou montadas e desmontadas rapidamente, para evitar que suas posições
sejam facilmente localizadas e atacadas por Israel.
Embora
sejam eficientes em desativar esses lançamentos por meio de sistemas de
localização rápida, as forças israelenses têm dificuldade em desbaratar
lançamentos feitos a partir de estruturas instaladas no interior do solo e de
dentro de edifícios, o que dificulta sua identificação e destruição.
Israel
usufrui do controle do espaço aéreo naquela região; entretanto, seu sistema de
defesa antiaéreo, conhecido como Iron Dome, tem enfrentado
dificuldades com lançamentos múltiplos de foguetes vindos de Gaza, que, em ação
combinada com outros artefatos, foram capazes de saturar as defesas antiaéreas
e atingir áreas povoadas no interior do território israelense.****
Além do
uso dos túneis para dificultar a localização das posições de lançamento de
foguetes, as estruturas construídas pelos palestinos possuem muitas outras
serventias de uso no combate, podendo os túneis ser equipados com explosivos,
funcionando, assim, como túneis-bomba. Por meio de câmeras instaladas nos
túneis, a entrada de tropas israelenses pode ser facilmente notada e as
armadilhas em suas seções internas podem, então, ser acionadas contra os
intrusos.
Agindo
assim, as facções palestinas têm se beneficiado do emprego dos túneis no
combate urbano em Gaza e, por meio de câmeras instaladas no terreno, que saem
dos túneis como se fossem escotilhas, têm sido capazes de observar o campo de
batalha em tempo real mesmo quando a movimentação dos soldados israelenses é
restrita ao interior de casas e edifícios, dentro de estruturas urbanas; de
modo geral, nesses lugares os combatentes palestinos também conseguem
monitorá-los por meio de sistemas de câmeras combinadas, que mostram a posição
exata dos soldados israelenses no interior dessas edificações.
Com
base em equipamentos de vigilância, o Hamas foi efetivo em coordenar as suas
ações e capaz de realizar uma série de emboscadas e ataques-surpresas,
detonando explosivos no interior de edifícios ou insurgindo na retaguarda do
inimigo. Nessas ações, combatentes palestinos foram vistos em inúmeros vídeos
saindo do interior de túneis, próximos de veículos israelenses, para atacar o
inimigo com armas antitanques e instalar explosivos magnéticos nos blindados,
que, acoplados à armadura, eram detonados por dispositivos remotos logo em
seguida.
Especialmente
contra blindados israelenses, uma tática comum dos combatentes do Hamas
consistiu em instalar explosivos improvisados na traseira de tanques. Como
parte de sua característica e engenharia, tanques de guerra possuem a blindagem
menos espessa na traseira; por isso, essa superfície é mais vulnerável,
constituindo um ponto fraco, que os combatentes palestinos procuraram explorar
a seu favor.
Em tais
ações, com propósito de atingir tanques, os combatentes palestinos se
aproximavam dos blindados e depositavam cargas explosivas próximas da traseira
do veículo, com o intuito de causar danos maiores com a detonação dos
explosivos, e evacuavam rapidamente, antes que os pilotos dos tanques e
soldados israelenses pudessem notar sua presença.
Em
muitos dos ataques registrados em vídeos que se tornaram conhecidos pela
divulgação e cobertura em grupos e nas redes sociais, as equipes atacantes são
vistas saindo de túneis subterrâneos que dão acesso a áreas mais amplas e
abertas, onde muitas das vezes se concentram os tanques, ou simplesmente
atacavam realizando disparos do interior dos edifícios e de seus escombros,
contando com a vantagem operacional de conhecimento do ambiente caótico, típico
de uma batalha urbana.
Ademais,
em vídeos propagados na internet, insurgentes palestinos são vistos se
movimentando no interior dos prédios, passando por janelas e buracos feitos nas
paredes, uma tática usada anteriormente por soldados israelenses em operações
urbanas. Em tais operações os israelenses se habituaram a romper paredes ou
estruturas de laje, evitando, assim, circular em áreas abertas para não serem
atingidos por atiradores ou fogo de infantaria.
Muitas
dessas táticas implicam preparo do terreno, e os defensores, apoiando-se no
espaço urbano como dispositivo de defesa, também as empregavam como forma de
ataque, realizando operações de sabotagem e ataques-surpresa a partir de vários
níveis ou camadas, movendo-se da superfície do espaço urbano às camadas
subterrâneas mais profundas do interior de Gaza. A ação combinada do espaço
urbano e de estruturas subterrâneas em múltiplas camadas permitiu ao Hamas e a
outras facções palestinas usar diferentes estratégias de resistência espacial,
ao transformar a Faixa de Gaza em um espaço de resistência ante as ações de
ocupação colonial de Israel.
Assim,
as contra-estratégias palestinas para combater as forças israelenses definiram
um conjunto de relações sociais e dinâmicas espaciais que delimitam e afirmam o
controle palestino sobre uma área geográfica como território simbólico e de
pertencimento; portanto, também de resistência. Este espaço, que na verdade
consiste no campo de batalha, pode então ser entendido como um espaço de
dimensões flexíveis e elásticas, ou seja, em sentido mais estratégico, em
aspecto volumétrico, concebido, então, em termos específicos, de acordo com
Weizman (2002, 2004, 2012), como volume político.****** Espaço esse organizado
em razão de várias camadas, permitindo aos palestinos combater as forças
israelenses. Por isso, agora, as forças invasoras buscam sua total destruição.
No
geral, esta forma de resistência espacial rizomática esteve apoiada no espaço
urbano e demais estruturas subterrâneas profundas, constituindo um dispositivo
de defesa descentralizado que se manteve funcional a partir de numerosas
ramificações. Vale dizer, ainda, que o corpo rizomático******* funciona como um
organismo que se modifica e se adapta às mais diversas situações do campo de
batalha, ora contraindo-se, ora expandindo-se. Nesse aspecto, esse corpo
rizomático também apresenta múltiplas entradas e saídas.
Por
esses meios, muitas vezes, os grupos palestinos alcançaram êxito e foram mais
efetivos em situação de combate, preparando emboscadas e escavando túneis no
andamento do conflito. Tais ações permitiram aos palestinos manter a circulação
de seus ativos e conectar os nós do corpo rizomático em ações combinadas de
resistência. Dessa forma, os palestinos foram capazes de implementar diferentes
modos de luta armada e resistência em diferentes espaços e tempos no campo de
batalha.
Emprego
de armas antitanque e explosivos improvisados em operação de insurgência do
Hamas contra a FDI em Rafah, sul de Gaza. Na filmagem dois combatentes
palestinos avançam a partir de uma abertura no chão e, ao saírem de túneis
subterrâneos, correm em direção aos tanques israelenses. No vídeo publicado
pelo Hamas, soldados e tanques israelenses são marcados com cor vermelha,
identificados como alvos, também com uma seta vermelha, enquanto os palestinos
são identificados pela cor verde, em referência ao Hamas.
Após
instalarem explosivos na traseira de dois tanques, os combatentes rapidamente
evadem o local por uma abertura, mesmo local onde assistimos um terceiro
combatente aparecer portando uma arma antitanque, disparada na sequência contra
um terceiro blindado israelense.
Na
filmagem, no momento em que os combatentes palestinos evadem o local pelo
interior do túnel escutam-se ainda o estrondo da detonação dos explosivos
instalados próximo aos tanques e o grito dos combatentes palestinos: “Allahu
Akbar” – frase que em árabe significa “Alá é Grande” ou “Alá é o Maior”.
¨
O desespero em Gaza
"Meus
filhos choram de fome a noite toda."
O
barbeiro Mohammed Emad al-Din mora na Faixa de Gaza e é pai de dois
filhos.
"Eles
só comeram um pequeno prato de lentilhas nos últimos dias", ele conta.
"Na semana passada, um quilo de farinha custava US$ 80 [cerca de R$
440]."
Emad
al-Din precisou deixar de trabalhar quando um bombardeio israelense destruiu os
painéis solares da sua barbearia, contou ele ao correspondente da BBC em Gaza,
Rushdi Abualouf, que informa de Istambul, na Turquia. Agora, ele não consegue
pagar pela comida para alimentar sua família.
Os
preços dos alimentos aumentaram exponencialmente desde o início da guerra na
região, em outubro de 2023, sobretudo devido às restrições impostas por Israel.
No
início de julho, o preço da farinha, que é um alimento básico, era 3 mil vezes
mais alto que antes da guerra, segundo denunciou o Programa Mundial de
Alimentos (PMA) da ONU.
A
agência alertou que a Faixa de Gaza enfrenta uma situação de fome extrema em
todo o território, devido às graves restrições de acesso a alimentos em Gaza e ao
colapso do mercado local.
"A
situação é a pior que vi até hoje", declarou o diretor-executivo adjunto
de operações do PMA, Carl Skow, depois de visitar Gaza no início deste mês.
Este
panorama fez com que, apenas nas últimas 24 horas, pelo menos 19 palestinos
(incluindo várias crianças) morressem de fome na Faixa de Gaza, segundo um
funcionário do Ministério da Saúde do território.
Um
deles é Yehia, um bebê de três meses de Alaa Al-Najjar, que morreu de
desnutrição, segundo os médicos, no Hospital Nasser da cidade de Khan Younis,
no sul de Gaza.
O
número total de mortos na Faixa de Gaza já supera 59 mil pessoas, além de 142
mil feridos, segundo o Ministério.
<><>
Ataque a Deir al-Balah
Os
moradores da Faixa de Gaza também enfrentam, agora, um novo deslocamento.
O
exército israelense ordenou a evacuação da cidade de Deir al-Balah, no centro
do território, onde foi iniciada uma operação terrestre nesta segunda-feira
(21/7), pela primeira vez desde o início do conflito.
A
cidade abriga dezenas de milhares de refugiados, além de grande parte dos
funcionários da ONU e de agências humanitárias que operam na Faixa de Gaza.
Por não
ter sido, até agora, cenário de combates terrestres, existem mais edifícios de
pé em Deir al-Balah do que em outras partes da Faixa de Gaza. Ali também
funcionam pontos de atendimento médico, a usina dessalinizadora que fornece
água potável e sistemas de eliminação de resíduos.
Uma das
razões que, segundo fontes israelenses, levaram o exército a não realizar
anteriormente incursões em Deir al-Balah foi porque se acredita que o Hamas
poderá ter escondido ali parte dos reféns israelenses que ainda estão vivos.
Até o
momento, não se sabe ao certo o que pode ter feito os militares israelenses
mudarem de opinião.
A
situação dos hospitais é crítica em toda a Faixa de Gaza, segundo declarou ao
correspondente da BBC o porta-voz do hospital Al-Aqsa em Deir al-Balah, Khalil
al-Daqran.
"Os
hospitais já não conseguem fornecer alimentos aos pacientes, nem aos
funcionários", contou o médico. "Muitos deles são fisicamente
incapazes de continuar trabalhando, devido à fome extrema."
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Desnutrição infantil
Os
centros médicos da Faixa de Gaza já não contam nem mesmo com produtos básicos,
como leite em pó e fórmulas infantis, segundo al-Daqran.
"Os
hospitais não podem fornecer uma única mamadeira com leite às crianças que
passam fome, pois todas as fórmulas infantis estão esgotadas no mercado",
afirma ele.
Os
números publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Unicef
mostram níveis de desnutrição infantil alarmantes.
Somente
em maio, mais de 5 mil crianças menores de cinco anos receberam tratamento por
desnutrição aguda em Gaza. Mais de 600 delas apresentavam desnutrição aguda
grave, uma doença potencialmente mortal.
Israel
impôs um bloqueio férreo da Faixa de Gaza no último mês de março, quando rompeu
o cessar-fogo estabelecido com o Hamas em janeiro.
Depois
de 11 semanas sem a entrada de um único caminhão de ajuda humanitária na Faixa
de Gaza, Israel começou, em maio, a canalizar a ajuda
através de uma entidade privada norte-americana conhecida como "Fundação
Humanitária de Gaza".
Esta
entidade é amplamente criticada pela ONU e por
outros grupos de ajuda, que a consideram "uma abominação" e uma
"armadilha mortal".
Desde
que a fundação passou a se encarregar da distribuição da ajuda, quase 1 mil
pessoas morreram por disparos do exército israelense, quando
tentavam conseguir ajuda para suas famílias.
No
domingo (20/7), uma grande multidão de pessoas esperava a chegada dos caminhões
de ajuda alimentar da ONU no norte de Gaza. Eles conseguiram deter um desses
caminhões e levar sacos de farinha.
Testemunhas
afirmam que eles levantaram as mãos quando os soldados israelenses começaram a
disparar. Ainda assim, o tiroteio continuou, segundo a correspondente da BBC em
Jerusalém, Yolande Knell.
O
Programa Mundial de Alimentos afirma que havia francoatiradores e ocorreram
disparos de tanques. Morreram pelo menos 67 pessoas.
O
exército israelense refuta estas versões e afirma que suas forças pressentiram
uma ameaça imediata, realizando disparos de advertência.
O
exército apresentou imagens que mostram seus soldados em pé, enquanto uma
multidão de palestinos parecia cercar um caminhão de ajuda já sem a carga.
Nesta
segunda-feira (21/7), era possível observar colunas de fumaça subindo de Deir
al-Balah, após o início das operações israelenses.
A
organização beneficente britânica Ajuda Médica para os Palestinos afirma que a
situação na cidade é "extremamente grave", segundo a chefe de
comunicação da entidade, Mai Elawawda. Ela destacou que estavam ocorrendo
bombardeios perto do seu escritório.
Os
veículos militares "estão a apenas 400 metros dos nossos colegas e de suas
famílias, que passaram uma noite de angústia depois de se transportarem para
lá", contou ela.
A
população está evacuando a cidade, segundo Elawawda. Ela afirma que a maior
parte das pessoas não sabe para onde ir.
"Uma
colega nos contou que a região está tomada por bombardeios e ataques de
helicópteros e que o medo aumenta cada vez mais, tanto de ficar, quanto de
tentar sair", segundo ela.
Fonte:
Por Márcio José Mendonça, em A Terra é Redonda/BBC News Mundo

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