segunda-feira, 2 de junho de 2025

Os estudantes chineses rejeitados nos EUA e na China por temores de que sejam espiões

Xiao Chen compareceu ao consulado americano em Xangai na manhã de quinta-feira (29/05), horas depois de Washington anunciar que revogaria "agressivamente" os vistos de estudantes chineses. A jovem de 22 anos tinha um agendamento para o visto: ela viajaria para Michigan no outono para estudar comunicação. Após uma conversa "amigável", ela foi informada de que seu pedido havia sido rejeitado. Nenhuma explicação foi dada. "Me sinto como uma planta aquática à deriva, levada pelo vento e pela tempestade", disse ela, usando uma expressão chinesa comum para descrever seu sentimento de incerteza e desamparo. Ela estava esperançosa porque já tinha recebido a carta de aceitação da universidade. E acreditava ter sido poupada dos anúncios explosivos do governo americano dos últimos dias.

Primeiro, o governo do presidente Donald Trump decidiu encerrar a capacidade da Universidade de Harvard de admitir estudantes internacionais — uma medida que desde então foi bloqueada na Justiça. Depois Washington anunciou que havia suspendido os agendamentos para vistos para todos os estudantes estrangeiros.

Agora, Chen está pronta para seu plano B. "Se eu não conseguir um visto, provavelmente tirarei um ano sabático. Depois, vou esperar para ver se as coisas melhoram no ano que vem", diz ela. Um visto válido pode não ser suficiente, porque estudantes com visto podem ser "retidos no aeroporto e deportados". "É ruim para todos os estudantes chineses."

Essa foi uma semana desanimadora para os estudantes internacionais nos EUA e talvez ainda mais difícil para os cerca de 280 mil estudantes chineses que viram seu país ser alvo de críticas. A secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, acusou Harvard de estar em coordenação com o Partido Comunista Chinês. O secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que a ação contra estudantes chineses nos EUA incluiria "aqueles com vínculos com o Partido Comunista Chinês ou que estudam em áreas críticas". Isso poderia afetar um amplo segmento de estudantes — visto que a filiação ao Partido Comunista é comum entre autoridades, empreendedores, empresários e até mesmo artistas e celebridades na China. Pequim classificou as medidas do governo Trump como uma "ação politicamente motivada e discriminatória", e seu ministério das Relações Exteriores apresentou um protesto formal.

No passado, a China enviava o maior número de estudantes internacionais para os campi americanos. Mas esses números diminuíram à medida que as relações entre os dois países se deterioraram.  Uma Pequim mais poderosa e cada vez mais assertiva agora desafia Washington pela supremacia em praticamente tudo — do comércio à tecnologia.

O primeiro mandato de Trump já havia causado problemas para os estudantes chineses. Em 2020, ele assinou uma ordem proibindo estudantes e pesquisadores chineses ligados às forças armadas de Pequim de obter vistos americanos. Essa ordem permaneceu em vigor durante a presidência de Joe Biden. Washington nunca esclareceu o que constitui esses "laços" com as Forças Armadas, levando muitos estudantes a terem seus vistos revogados ou serem recusados ​​nas fronteiras dos EUA, às vezes sem explicação adequada.

Um deles, que preferiu não ser identificado, afirmou que o departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) cancelou seu visto ao chegar a Boston em agosto de 2023. Ele havia sido aceito em um programa de pós-doutorado na Universidade Harvard. Ele estudava medicina regenerativa com especialização em câncer de mama e havia concluído seu mestrado em uma instituição de pesquisa militar na China. O estudante afirmou que não era membro do Partido Comunista e que sua pesquisa não tinha nada a ver com as Forças Armadas. "Me perguntaram qual era a relação entre minha pesquisa e os assuntos de defesa da China", disse ele à BBC na época. "Eu disse a eles: 'como o câncer de mama pode ter algo a ver com a defesa nacional? Se vocês sabem, por favor, me digam.'" Ele acredita que nunca teve chances de ser aprovado porque as autoridades já haviam se decidido. Ele se lembrou de um deles perguntando: "Foi o Xi Jinping quem comprou a mala para você?"

O que era surpreendente no começo, ou até mesmo chocante, gradualmente foi se normalizando, na medida em que mais e mais estudantes chineses lutavam para obter vistos ou admissão para estudar ciência e tecnologia em universidades americanas. Cao, formado em psicologia e com pesquisa focada em neurociência, passou o último ano acadêmico se candidatando a programas de doutorado nos EUA.

Ele se formou em universidades de primeira linha, com credenciais que poderiam levá-lo a uma instituição da Ivy League (a mais prestigiada dos EUA). Mas, das mais de 10 instituições para as quais se candidatou, apenas uma lhe fez uma oferta. Os cortes de Trump na pesquisa biomédica prejudicaram sua sorte — mas a desconfiança em torno dos pesquisadores chineses também foi um fator.

Acusações e rumores de espionagem, especialmente em assuntos delicados, têm atormentado cidadãos chineses em universidades americanas nos últimos anos, chegando a arruinar algumas carreiras. "Um dos professores chegou a me dizer: 'Hoje em dia, quase não fazemos propostas para estudantes chineses, então não posso te dar uma entrevista'", disse Cao à BBC em fevereiro. "Sinto-me como um grão em uma ampulheta. Não consigo fazer nada."

Para os estudantes chineses que se formaram em universidades americanas, retornar à China também não tem sido fácil. Eles já foram elogiados como sendo uma ponte da China com o resto do mundo. Mas agora estão descobrindo que os seus diplomas, antes cobiçados, não geram mais a mesma reação. Chen Jian (que preferiu não revelar seu nome verdadeiro) disse que rapidamente percebeu que sua graduação em uma universidade americana havia se tornado um obstáculo.

Quando retornou em 2020, estagiou em um banco estatal e perguntou a um supervisor se havia a possibilidade de seguir lá, como empregado. O supervisor não disse isso diretamente, mas Chen entendeu a mensagem: "Os funcionários devem ter diplomas locais. Pessoas como eu (com diplomas estrangeiros) nem sequer receberão uma resposta." Mais tarde, ele percebeu que "realmente não havia colegas com diplomas universitários estrangeiros no departamento." Ele retornou aos EUA, fez mestrado na Universidade Johns Hopkins e agora trabalha na gigante chinesa de tecnologia Baidu. Mas, apesar de seu diploma em uma prestigiosa universidade americana, Chen não se sente em vantagem devido à forte concorrência de formados na China. O que também não ajuda é a desconfiança em torno de graduados estrangeiros. Pequim intensificou os avisos sobre espiões estrangeiros, alertando a população civil para que ficasse atenta a figuras suspeitas.

Em abril, a proeminente empresária chinesa Dong Mingzhu disse aos acionistas em uma reunião a portas fechadas que sua empresa, a fabricante de eletrodomésticos Gree Electric, "nunca" contrataria chineses com formação estrangeira "porque há espiões entre eles". "Não sei quem é e quem não é", declarou Dong, em comentários que vazaram e viralizaram. Dias depois, a agência americana de inteligência CIA divulgou vídeos promocionais incentivando autoridades chinesas insatisfeitas com o governo a se tornarem espiãs e fornecerem informações confidenciais. "Seu destino está em suas mãos", dizia o vídeo. A desconfiança em relação aos estrangeiros, à medida que os EUA e a China se distanciam cada vez mais, é uma reviravolta surpreendente para muitos chineses que se lembram de ter crescido em um país muito diferente.

Zhang Ni, que também se recusou a revelar seu nome verdadeiro, diz ter ficado "muito chocada" com os comentários de Dong. A jovem de 24 anos se formou recentemente em jornalismo pela Universidade de Columbia, em Nova York. Ela afirma que "não tem interesse em trabalhar na Gree Electric", mas o que a surpreendeu foi a mudança de atitude. O fato de tantas empresas chinesas "não gostarem de nada que possa ser associado a assuntos internacionais" contrasta fortemente com a infância de Zhang: uma infância "repleta de conversas sobre as Olimpíadas e a Expo Mundial". "Sempre que víamos estrangeiros, minha mãe me incentivava a conversar com eles para praticar meu inglês", diz ela.

Essa disposição para trocar ideias e aprender sobre o mundo exterior parece estar diminuindo na China, segundo muitos. E os EUA, que antes atraíam tantos jovens chineses, não são mais tão acolhedores. Zhang não consegue deixar de pensar em uma piada que um amigo fez em um jantar de despedida antes de ela partir para os EUA. Foi um comentário leviano que agora resume o medo em Washington e Pequim: "Não vá virar uma espiã."

¨      Os latinos que fogem a pé dos EUA para o Canadá em busca de refúgio

A enorme ponte que atravessa as Cataratas do Niágara, na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos, se tornou um pesadelo para Araceli e sua família. Ela e seu companheiro, ambos salvadorenhos na faixa dos 30 anos, atravessaram a imponente Ponte do Arco-Íris com as duas filhas, de 4 e 14 anos, em 17 de março. Eles chegaram ao posto de controle de fronteira canadense com uma mala e documentos que, conforme acreditavam, garantiriam que logo se reencontrariam com os irmãos de Araceli em solo canadense — e que deixariam para trás o medo de serem deportados dos EUA durante o segundo mandato do presidente americano, Donald Trump. Mas o plano fracassou. Não apenas uma, mas duas vezes. No Canadá, eles tiveram a entrada negada, e foram forçados a retornar à sua condição de migrantes irregulares nos EUA, onde os aguardava uma cela, uma dolorosa separação e a maior angústia que vivenciaram nos últimos anos. Araceli conversou com a BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, de um refúgio na fronteira norte dos EUA antes de conseguir entrar no Canadá, algo que ela conseguiu após uma terceira tentativa complexa como solicitante de asilo.

Esta é a história deles.

<><> A exceção à regra

Em 2005, entrou em vigor o Acordo de Terceiro País Seguro entre o Canadá e os EUA, segundo o qual os solicitantes de asilo devem buscar proteção como refugiados no primeiro país seguro que chegarem. "Os EUA são o único país designado como um terceiro país seguro pelo Canadá sob a Lei de Imigração e Proteção de Refugiados", informa seu site. Portanto, ao pedir proteção nos EUA como um país seguro, eles não podem fazer isso no Canadá. Mas, como toda regra, esta também tem algumas exceções. Uma delas é que se alguém que chega dos EUA puder provar que tem um parente próximo no Canadá, e que esse parente atende a certos requisitos, a pessoa pode entrar no país e iniciar seu pedido de refúgio. E foi essa exceção que Araceli tentou aproveitar, já que seu irmão mais velho mora no Canadá e atende aos requisitos. Ela tomou essa decisão depois de viver como indocumentada nos EUA por mais de uma década, assim como seu companheiro e sua filha mais velha. A filha mais nova nasceu em Nova Jersey, então ela é a única na família com passaporte americano.

Nos EUA, Araceli construiu uma vida e tentou dar início ao processo de solicitação de asilo, mas não obteve sucesso. "Me cobraram uma grana, dizendo que eu ia ter um visto de trabalho. Paguei a um advogado, mas nunca me responderam se foi aprovado ou não", ela recorda. Araceli tem 12 irmãos e, assim como ela, vários deixaram El Salvador devido a problemas de segurança na comunidade rural onde cresceram. Dois deles conseguiram chegar ao Canadá, apresentar seu caso e serem admitidos. O mais velho, que está lá há mais tempo, já é cidadão, e o outro está em processo de solicitação de asilo.

Então, em janeiro de 2025, quando o segundo mandato do presidente Trump começou, e vieram à tona notícias de batidas e deportações em massa de imigrantes, algumas com destino a El Salvador, Araceli temeu o pior, e decidiu pedir ajuda ao irmão. Juntos, eles reuniram os documentos para comprovar o parentesco na fronteira. "Nós solicitamos os documentos por meio da Prefeitura de Los Ranchos, da minha comunidade, e meu irmão também me deu sua certidão de nascimento", ela explica. Araceli e a família desmontaram sua casa nos EUA, e se despediram da vida que haviam construído. "Quando chegamos ao posto de fronteira, perguntaram o que iríamos fazer. Dissemos que queríamos pedir refúgio no Canadá, e entregamos nossa papelada. Eu tinha todos os documentos originais. Eles levaram tudo, até nossa mochila, e ficamos sem nada. Nos levaram para uma sala de espera", lembra Araceli.

Eles passaram a noite toda lá. De vez em quando, agentes de imigração faziam perguntas a Araceli com a ajuda de um intérprete que traduzia entre inglês e espanhol por telefone. Até que eles disseram que havia um problema com a solicitação. "Encontraram um pequeno detalhe: na minha certidão [de nascimento], meu pai só tinha um sobrenome, e na do meu irmão, tinha dois. Mas, no verso, havia a explicação." E embora esse esclarecimento explicasse que tais imprecisões são comuns em El Salvador, o agente negou a entrada da família no Canadá.

<><> 'Segunda tentativa'

A família voltou resignada e angustiada por enfrentar seu maior medo: ser separada e deportada. No posto de controle americano, eles foram colocados em um quarto sem janelas e sem banheiro. "Nós quatro passamos 14 dias naquela cela", conta Araceli, esclarecendo que eles tinham permissão para sair para usar o banheiro, mas quase não podiam ficar ao ar livre. De lá, eles ligaram para o irmão dela, e ele procurou a assistência jurídica de uma organização canadense que apoia migrantes. Dias depois, a advogada Heather Neufeld assumiu o caso da família.

Como não era possível se comunicar com Araceli, a advogada entrou em contato com a ONG Justice for Migrant Families, que atua em Buffalo, em Nova York, perto da fronteira. Jennifer O'Connor, diretora da organização, foi ao posto de controle várias vezes para fazer a ponte com Araceli e apoiá-la com a documentação legal para seu caso. "Na segunda vez que estive lá, me reuni com Araceli. Enviei os documentos para a organização canadense e para a advogada Neufeld. Depois, a levaram de volta para a cela. Mas, antes de eu sair, me disseram: 'Espera, espera. Houve uma mudança de status. Estão chamando ela de volta. Querem que ela volte para o outro lado.'"

Araceli lembra que "dois agentes vieram até a cela, e disseram algo como: 'Parabéns, vocês vão para o Canadá.'" Mas aquilo tudo foi muito inesperado, e não estava claro quem estava mandando chamar eles de volta nem por quê. O'Connor se despediu antes da família entrar no posto de controle. E embora desta vez tudo tenha sido mais rápido, a entrada deles foi novamente negada. "Me disseram a mesma coisa, embora fosse outro agente. 'Fomos generosos demais', ele afirmou, 'ao recebê-los aqui de novo. Os EUA vão ver o que fazer com vocês'." O problema agora era que essa segunda viagem ao lado canadense foi considerada como uma reconsideração do caso, a única a que a família tem direito de acordo com as regulamentações do país. A rigor, no entanto, a família não retornou por vontade própria, mas porque as autoridades americanas mandaram. E isso foi parte do argumento apresentado pela advogada ao solicitar uma reconsideração oficial às autoridades canadenses. "Enviamos todas as provas com nossos argumentos ao Serviço de Imigração do Canadá. Eles nos mandaram uma carta de uma frase afirmando que não iriam mudar a decisão inicial, então a única opção que restava era entrar com uma petição em um tribunal federal", explica Neufeld.

<><> Confusão na migração

Segundo a advogada, o caso de Araceli e sua família mostra que os agentes da fronteira canadense cometeram um erro. "Ninguém deveria ter que passar pelo que eles passaram. Eles não agiram como fizeram no passado com outros clientes, nem aceitaram fazer uma entrevista quando normalmente fariam", afirmou Neufeld. A BBC News Mundo questionou a Agência de Serviços de Fronteira do Canadá sobre os motivos para não realizar uma entrevista com o irmão de Araceli, mas o departamento respondeu por meio de seu porta-voz que eles não podem fornecer informações sobre casos específicos, já que a privacidade dos solicitantes é protegida por lei.

O fato é que a família foi obrigada a retornar para o outro lado da fronteira. "O impacto dessa decisão foi ainda maior para a família porque, hoje em dia, não se trata apenas de ser enviado para os EUA. Há um risco imediato de detenção e deportação", observa Neufeld. Como de fato aconteceu com Araceli e sua família, quando chegaram de volta aos EUA, eles foram separados — e o pai foi enviado para um centro de detenção do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês). "Chegaram a dizer que nos dariam três minutos para nos despedir porque meu marido seria levado para um centro de detenção", recorda Araceli, com a voz embargada. Após a despedida, os agentes colocaram uma corrente no pé de Araceli e permitiram que ela saísse do posto de controle com as filhas. O'Connor conseguiu encontrar uma vaga para elas em um refúgio local para migrantes. Era um lugar seguro de onde elas podiam aguardar até que seu caso fosse levado a um tribunal federal.

<><> Endurecimento na fronteira norte

De acordo com números oficiais do governo dos EUA, que reúne estatísticas da Patrulha da Fronteira e do Escritório de Operações de Campo, foram realizadas 13.547 apreensões ao longo de toda a fronteira norte até março de 2025. Este dado mostra uma diminuição de aproximadamente 70% em comparação com os dados registrados no primeiro trimestre de 2024, o que indica que o número de pessoas que tentam atravessar para os EUA a partir do Canadá diminuiu significativamente. No caso inverso, ou seja, de pessoas que tentam atravessar para o Canadá a partir dos EUA, houve um aumento, pelo menos daqueles que fizeram um pedido oficial de asilo na mesma fronteira.

De acordo com os dados que a Agência de Serviços de Fronteira do Canadá compartilhou com a BBC News Mundo, o número de casos de migrantes que solicitam refúgio no país e que são devolvidos aos EUA aumentou este ano, e até dobrou no mês passado em relação ao ano anterior. Enquanto, em abril de 2024, 180 pessoas, incluindo adultos e crianças, não foram considerados elegíveis para iniciar o processo de asilo em postos de controle de fronteira, em abril de 2025, este número aumentou para 359. E talvez um dos indicadores que melhor reflete este fenômeno seja o número de menores que atravessaram para o Canadá como parte de um processo de solicitação de refúgio, e foram devolvidos aos EUA. No primeiro trimestre de 2024, foram registrados 54 menores nesta situação, enquanto no mesmo período de 2025, foram contabilizados 104.

O que os dados sugerem, portanto, é que há cada vez mais famílias, como a de Araceli, que buscam se beneficiar de alguma exceção para que o Canadá as receba como solicitantes de asilo. "Eu sei, por meio de colegas, que há muita gente que está fazendo a solicitação na fronteira porque tem família no Canadá, mas que várias foram rejeitadas porque a Agência de Serviços de Fronteira está mais rigorosa agora, acredito eu que por causa da política nos EUA", diz Neufeld. No entanto, um porta -voz da Agência de Serviços de Fronteira do Canadá afirmou à BBC News Mundo: "Não implementamos mudanças nas políticas nem nos processos". Embora também tenha confirmado que em dezembro de 2024, "o Canadá anunciou o investimento de 1,3 bilhão de dólares canadenses para reforçar a segurança na fronteira e fortalecer o sistema de imigração". E que "uma das medidas propostas consiste em aumentar o número de expulsões de pessoas não admitidas no Canadá. A agência se comprometeu a aumentar o número de expulsões de 16 mil para 20 mil (um aumento de 25%) nos anos fiscais de 2025-2026 e 2026-2027".

<><> Desfecho temporário

Uma semana após o caso de Araceli e sua família ter sido escalado, o tribunal federal designou uma advogada como representante da imigração, com a qual Neufeld conseguiu uma negociação preliminar. "Tive várias conversas com a advogada que representa o Departamento de Migração do Canadá, e chegamos ao acordo de que eles anulariam a decisão negativa, e permitiriam que a família retornasse à fronteira com toda a documentação, mas sem garantir que eles seriam admitidos, dado que a decisão (neste caso) é dos Serviços de Fronteira", explica. Foi assim que, em 5 de maio, sete semanas após a primeira tentativa, Araceli cruzou a ponte e retornou ao posto de fronteira. A diferença é que, desta vez, ela estava acompanhada da sua advogada. "Passamos cerca de 12 horas no porto de imigração. Aparentemente, agora é mais frequente que eles demorem tanto para revisar os casos", diz Neufeld.

A boa notícia é que, depois desta longa espera, o Canadá permitiu que Araceli e suas filhas entrassem no país e iniciassem sua solicitação oficial de asilo. "Quando eles abriram as portas e disseram: 'Bem -vindas ao Canadá, e boa sorte na vida nova', senti uma imensa alegria, é indescritível", contou Araceli à rede CBC. "Minhas filhas me deram muita força", ela acrescentou. Mas foi uma celebração agridoce porque seu companheiro ainda estava nos EUA imerso em um processo legal. A família contratou um advogado que assumiu o caso. "Eles conseguiram que ele fosse libertado sob fiança, algo que não é permitido em todos os centros de detenção. Toda a família teve de fazer um grande esforço, tiveram que vender coisas para pagar", conta Neufeld. Ele conseguiu sair e se apresentar novamente na fronteira: no dia 19 de maio, depois de passar 13 horas no posto de controle, ele foi autorizado a entrar no Canadá. "Foi um processo muito frustrante porque, apesar de termos fornecido muitas provas, foi muito difícil convencer o agente da relação de parentesco", explica Neufeld.

Foi assim que a história desta família teve um desfecho positivo, mas não definitivo, porque agora eles vão iniciar o processo de solicitação de asilo — e pode levar dois anos até que tenham uma audiência com um juiz canadense para decidir se ele permite ou não a permanência deles. E, de acordo com a advogada, o caso desta família reflete as mudanças que surgiram recentemente na fronteira norte. "Há muito mais Aracelis, só não sabemos onde estão, ou que situação estão enfrentando. A maioria das pessoas não tem a capacidade de lutar para que seus direitos sejam respeitados."

 

Fonte: BBC News

 

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