João
Filho: Hugo Motta ativa ‘modo Eduardo Cunha’ e Centrão frita Lula de olho em
2026
O
governo federal sofreu sua maior derrota política nesta semana. Não conseguiu
aprovar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, o IOF — leia-se
imposto dos mais ricos — e se viu mais uma vez nas cordas da luta política
depois de ser apunhalado pelas costas.
Após
costurar com as lideranças do Congresso um acordo pela aprovação do aumento do
IOF, o governo Lula foi atropelado em uma votação surpresa, liderada na calada
da noite pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba. Por
383 votos a 98, o decreto que aumentaria o IOF foi revogado pelos deputados.
No
Senado, a votação foi simbólica, mas o presidente Davi Alcolumbre, do União
Brasil do Amapá, disse em privado que, se houvesse votação, 60 dos 81 senadores
teriam aprovado a revogação. O próprio Alcolumbre promulgou a decisão e fez
questão de deixar claro que se tratava de uma “derrota para o governo” que foi
“construída a várias mãos”.
Poucos
menos de 20 dias antes, em uma noite de domingo, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, e outros ministros do governo se reuniram com os presidentes
das casas legislativas e líderes partidários. O encontro ocorreu na casa
oficial do presidente da Câmara e terminou pouco antes da meia-noite.
Ao sair
da reunião, Motta exaltou o acordo e disse se tratar de uma “noite histórica”.
Em entrevista coletiva ao lado de Haddad e Alcolumbre, o presidente da Câmara
festejou a forma como o acordo foi costurado: “Tivemos pela primeira vez uma
reunião conjunta, com líderes da Câmara e do Senado e ministros”.
Toda
essa empolgação com o acordo que aumentaria o imposto dos ricos não durou
muito. Dias depois, Motta passou a dar declarações indicando que a boa relação
com o governo em torno do tema havia azedado. Dos 383 votos que derrubaram o
decreto, 242 vieram de partidos que têm ministérios no governo Lula.
Não é
novidade que os critérios de governabilidade já não são mais os mesmos. Depois
que o orçamento foi sequestrado pelo Congresso, não há mais garantia de que a
concessão de cargos ministeriais resultará em votos no legislativo.
A
gestão Lula vem acumulando derrotas acachapantes graças ao apoio dos partidos
com os quais está dividindo fatias do governo. Há que se rever os fundamentos
do governo de coalizão. Trata-se de uma tarefa complicadíssima. Não há soluções
prontas no horizonte.
É
importante lembrar que este não é um governo de esquerda. É um governo formado
por uma frente ampla com partidos de centro, direita e esquerda. Este era o
único caminho viável para impedir a permanência da extrema direita fascista e
golpista no poder e possibilitar alguma governabilidade depois da eleição. A
segunda parte não está acontecendo.
O
acordo feito na casa de Motta parecia ser um respiro para o governo, mas foi
uma breve ilusão. A maneira sórdida e traíra como a votação foi feita soou como
uma declaração de guerra ao governo. O fato é que Lula está encalacrado: se
conceder ministérios para setores da direita não está rendendo frutos para o
governo, retirá-los pode ser ainda pior.
O
Congresso brasileiro, comandado majoritariamente pela direita e extrema
direita, sequestrou o governo. Resta saber como Lula governará nesse último ano
e meio que resta para o pleito presidencial. O cenário está feio para os
governistas. O movimento de Motta e Alcolumbre está claramente condicionado
pelas próximas eleições.
Ficaram
evidentes na apunhalada ao governo as digitais do senador Ciro Nogueira
(leia-se bolsonarismo), do PP do Piauí. Apenas dois minutos depois de Motta
anunciar nas redes sociais que colocaria a votação que derrubou o decreto do
IOF em pauta, Ciro Nogueira compartilhou a publicação. O entrosamento é claro.
A
guinada dos presidentes das casas legislativas contou com a intervenção
bolsonarista, visando as eleições de 2026. Não restam dúvidas de que a corrida
eleitoral é o pano de fundo dessa movimentação. Sem poder aumentar impostos dos
ricos, o governo será obrigado a buscar novas fontes de receitas.
Segundo
cálculos do Ministério da Fazenda, a derrubada do decreto impacta em R$ 10
bilhões a arrecadação federal. A direita e a extrema direita tentaram empurrar
o governo para um beco sem saída. Para fechar as contas, o governo teria que
fazer mais novos cortes no orçamento, o que inevitavelmente prejudicaria os
programas sociais.
Lula e
Haddad foram colocados nessa sinuca de bico faltando pouco mais de um ano para
a eleição. Motta deu sinais claros de que a conversa com o governo passará a
ser outra. Ele está disposto a interditar todas as ações do governo e fazê-lo
sangrar até o fim do mandato. O objetivo é evidente: enfraquecer Lula para as
eleições e tentar inviabilizar sua candidatura.
As
comparações de Motta com Eduardo Cunha são inevitáveis. Até o dia da votação do
impeachment, o governo de Dilma Rousseff foi inviabilizado ao se ver minado
pelas pautas bombas de Cunha no Congresso. Não é à toa que Motta já tem sido
chamado de Eduardo Cunha 2.0. O espírito golpista segue vivíssimo!
Enquanto
corre para proteger o dinheiro dos ricos, a direita brasileira articula para
empurrar a conta para os mais pobres e jogar esse ônus eleitoral no colo de
Lula. Isso fica ainda mais nítido através da postura do deputado Arthur Lira,
do PP de Alagoas, que resolveu adiar a entrega do parecer sobre o projeto que
isenta de cobrança de Imposto de Renda os brasileiros que ganham até R$ 5 mil.
Para
que pressa no momento em que o governo está sangrando em praça pública, não é
mesmo? A popularidade do governo está em queda e é bom para eles que continue
assim. Lula está sendo fritado pelo Centrão, conhecido também como direita
brasileira, com o apoio, claro, do bolsonarismo.
Além de
fritar Lula, o todo-poderoso Centrão pressiona o bolsonarismo a apresentar
Tarcísio como candidato. Eles já sinalizaram que não aceitarão o jogo de cena
que Jair Bolsonaro pretende fazer se colocando como candidato até o último
minuto do segundo tempo.
Apesar
de fazer os dois lados comerem em sua mão, o Centrão terá um lado na eleição
presidencial: o da extrema direita. Os rumos que a política brasileira está
tomando estão cada vez mais preocupantes para progressistas e democratas em
geral. O Centrão é quem dá as cartas e todas elas estão indo para o campo
bolsonarista.
O
retorno do bolsonarismo golpista e fascistoide ao poder pode representar o fim
da democracia como a conhecemos. O governo tem muito o que trabalhar
politicamente para chegar vivo nas vésperas da eleição. Daqui até lá o
Congresso atuará sob o modo sabotagem, com Hugo Motta incorporando Eduardo
Cunha.
• Governo vai ter que combinar
combatividade e sabedoria para romper o cerco. Por Bepe Damasco
Saiu na
sexta-feira (27) o resultado da PNAD Contínua do IBGE. Os 6,2% de desemprego no
trimestre encerrado em maio são a menor taxa para o período desde o início da
série histórica da pesquisa, há 13 anos. Mas sabe qual a importância que isso
tem para a Faria Lima, as Organizações Globo e a grande maioria do Congresso
Nacional?
Nenhuma.
A
inflação segue em trajetória de queda, os preços dos alimentos estão cedendo, o
dólar está cotado a menos de R$ 5,50, o PIB contraria os analistas do mercado e
sobe como em poucos países do planeta.
No entanto, advinha qual o valor que o Centrão, os comentaristas e
articulistas da mídia comercial e os engravatados do mercado dão a este ótimo
ambiente econômico?
Nenhum.
Fora os
avanços econômicos, o governo exibe vários programas sociais exitosos. Assim,
só restou para a direita, a extrema-direita e a imprensa comercial apelar para
chavões alarmistas, como "desequilíbrio fiscal",
"estrangulamento fiscal" e "apagão fiscal"
E
dane-se se isso tem algum amparo na realidade.
A
revogação do decreto do governo sobre o IOF, por parte do Congresso Nacional,
leva a três conclusões óbvias:
1. Deputados e senadores sabem que Lula tem
muito para mostrar na campanha pela reeleição e querem forçar o governo a
sagrar seu coração eleitoral, que são os investimentos e programas sociais. A
conta deles é simples: sem o IOF, só vai restar ao governo cortar na carne em
saúde e educação, por exemplo.
2. A cúpula do Congresso rompeu, de cabeça
pensada, os canais de diálogo e negociação com o governo. Qualquer proposta
pregando o diálogo padece, portanto, de vício de origem. É impossível negociar
com quem não quer negociar.
3. A direita já decidiu que Tarcísio de
Freitas é o seu candidato e a tendência é que, pelo menos institucionalmente,
partidos como União Brasil, Progressistas, Republicanos, etc, que têm
ministérios no governo, não apoiarão a candidatura à reeleição do presidente
Lula.
De nada
adiantarão convites para viagens ao exterior na comitiva presidencial, almoços,
jantares e conversas que atravessam horas a fio. Na cabeça dos luminares do
Centrão, a fórmula para vencer a eleição passa por sabotar o governo, inclusive
engavetando projetos de forte apelo popular, como a isenção de IR para quem
ganha até R$ 5 mil.
A
saída, então, passa pelo rompimento com o Congresso? De jeito algum.
É
preciso tensionar as bancadas com mais realizações, manter canais com
lideranças intermediárias da Câmara e do Senado, convencer o presidente Lula a
se encontrar de forma mais frequente com deputados e senadores e escalar mais
ministros para a interlocução com eles.
Não há
a menor garantia de que essa ofensiva dará certo, mas o afastamento completo
seria um caminho perigoso.
Por
outro lado, o governo não pode abrir mão da luta política, deixando claro nesta
queda de braço quem defende os pobres e quem está ao lado dos ricos. Fica a
sugestão para o ministro Sidônio Pereira, da Secom: por que que não uma
campanha com esse propósito?
Não dá
para entender porque o presidente Lula não ocupou até agora uma cadeia de rádio
e TV para explicar didaticamente a importância do pequeno aumento do IOF para a
justiça tributária e o equilíbrio das contas públicas.
E, por
fim, com todos os riscos de segurança, que podem ser perfeitamente mitigados
pela equipe do presidente com o apoio dos movimentos sociais, não terá chegado
a hora de Lula ir ao encontro do povo? Não em eventos chapa branca, mas em
manifestações amplas de prestação pública de contas de seu governo.
Ah, mas
isso é antecipação de campanha, dirão muitos. Mas, e daí? Os adversários já
colocaram o bloco na rua. Há momentos na política em que o excesso de moderação
é péssimo conselheiro.
• "O Congresso trabalha ativamente
para derrotar Lula em 2026", afirma Rui Costa Pimenta
Em entrevista à TV 247, na sexta-feira, 20 de
junho, o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, fez
uma avaliação contundente da conjuntura política brasileira, acusando o
Congresso Nacional de atuar deliberadamente para inviabilizar a reeleição do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. “O Congresso está trabalhando
pela derrota eleitoral do Lula”, declarou.
Para
Rui, o movimento parlamentar vai além de uma simples sabotagem institucional.
“Não é apenas sabotagem”, afirmou. Segundo ele, o presidente da Comissão Mista
de Orçamento, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ao dificultar a execução
de recursos federais, dá sinais de um projeto mais profundo: desmontar as bases
do governo Lula e preparar o terreno para uma eleição presidencial “sem Lula e
sem Bolsonaro”.
“Todos
já estão percebendo que está sendo armada a eleição sem Lula e sem Bolsonaro”,
alertou. Para o dirigente do PCO, essa articulação sugere um pacto da elite
política e econômica para manter o controle sobre o sistema sem permitir
qualquer alternativa de caráter popular ou minimamente reformista.
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“Para ter impacto, é preciso ter briga feia”
Rui
Costa Pimenta também criticou o que classificou como postura excessivamente
conciliadora do governo federal diante dos ataques institucionais. “E não
adianta falar que a culpa é do Congresso. Para ter impacto, é preciso ter briga
feia”, afirmou, defendendo uma postura mais incisiva por parte do Palácio do
Planalto diante do avanço conservador.
Na
entrevista, ele resgatou a declaração do rapper Mano Brown, que disse que Lula
é bom, mas o sistema é podre. Rui concordou e complementou: “Se Lula é bom e o
sistema é podre, como diz Mano Brown, cabe ao presidente denunciar o sistema”.
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Tarcísio e o risco de uma “máquina de moer carne”
O
presidente do PCO também comentou sobre as articulações da direita em torno de
uma candidatura alternativa à de Bolsonaro. Segundo ele, o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas, desponta como nome viável do campo conservador, mas
representa um risco severo para os trabalhadores.
“Se
Tarcísio for eleito, será uma máquina de moer carne”, declarou, sugerindo que
seu governo seria de extrema hostilidade à classe trabalhadora e à soberania
nacional.
Apesar
disso, Rui reconhece a inteligência política de Jair Bolsonaro em relação ao
seu entorno: “Do círculo bolsonarista, o mais inteligente é o próprio Jair
Bolsonaro”.
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“Lula terá que ser mais Getúlio do que Getúlio Vargas foi”
Rui
concluiu a entrevista com uma analogia histórica que resume seu diagnóstico da
encruzilhada enfrentada pelo presidente da República. “Neste momento, Lula terá
que ser mais Getúlio do que Getúlio Vargas foi para Lula não ter um fim de
carreira inglório”, disse, apontando para a necessidade de uma guinada mais
combativa e popular no governo.
A
entrevista de Rui Costa Pimenta à TV 247 escancara as tensões crescentes entre
o Executivo e o Legislativo, além de colocar em perspectiva o desafio que Lula
enfrenta para manter sua base de sustentação diante de uma elite que, segundo o
dirigente, está operando ativamente para neutralizar sua liderança e
inviabilizar seu projeto político.
• Base aliada do atual mandato de Lula é a
mais infiel em 30 anos
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um dos cenários políticos
mais delicados de seus três mandatos. Com a base de apoio mais infiel no
Congresso Nacional em três décadas, o governo tem encontrado dificuldades para
aprovar projetos estratégicos e enfrenta crescente desgaste político às
vésperas das eleições de 2026.
Segundo
levantamento publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o índice de
infidelidade entre partidos formalmente aliados ao Palácio do Planalto atingiu
patamares inéditos desde a redemocratização. Siglas como União Brasil, PP e
Republicanos, embora componham a base, têm adotado posturas ambíguas e, em
diversas votações, se alinhado à oposição.
A
fragmentação da base preocupa o núcleo político do governo, que vê a
dificuldade de articulação como um dos principais entraves para a agenda de
Lula. Em votações decisivas, parte significativa dos parlamentares desses
partidos se posicionou contra o governo, comprometendo medidas consideradas
essenciais pela equipe econômica e social.
Além
disso, líderes de partidos aliados vêm resistindo a assumir postos no Executivo
ou a indicar nomes de confiança para o primeiro escalão, o que expõe o grau de
insatisfação e revela o enfraquecimento da governabilidade.
O
presidente Lula já sinalizou de forma mais explícita a intenção de disputar a
reeleição em 2026, mas o ambiente político segue instável.
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Ameaças eleitorais
O enfraquecimento
da base e o clima de insatisfação têm alimentado articulações em torno de
possíveis adversários para 2026. Governadores como Tarcísio de Freitas
(Republicanos), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), surgem como nomes
competitivos no campo conservador, enquanto alas do Centrão demonstram
disposição de abandonar o governo caso o cenário político e econômico não se
reverta.
Fonte:
The Intercept/Brasil 247

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