segunda-feira, 30 de junho de 2025

João Filho: Hugo Motta ativa ‘modo Eduardo Cunha’ e Centrão frita Lula de olho em 2026

O governo federal sofreu sua maior derrota política nesta semana. Não conseguiu aprovar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, o IOF — leia-se imposto dos mais ricos — e se viu mais uma vez nas cordas da luta política depois de ser apunhalado pelas costas.

Após costurar com as lideranças do Congresso um acordo pela aprovação do aumento do IOF, o governo Lula foi atropelado em uma votação surpresa, liderada na calada da noite pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba. Por 383 votos a 98, o decreto que aumentaria o IOF foi revogado pelos deputados.

No Senado, a votação foi simbólica, mas o presidente Davi Alcolumbre, do União Brasil do Amapá, disse em privado que, se houvesse votação, 60 dos 81 senadores teriam aprovado a revogação. O próprio Alcolumbre promulgou a decisão e fez questão de deixar claro que se tratava de uma “derrota para o governo” que foi “construída a várias mãos”. 

Poucos menos de 20 dias antes, em uma noite de domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros ministros do governo se reuniram com os presidentes das casas legislativas e líderes partidários. O encontro ocorreu na casa oficial do presidente da Câmara e terminou pouco antes da meia-noite.

Ao sair da reunião, Motta exaltou o acordo e disse se tratar de uma “noite histórica”. Em entrevista coletiva ao lado de Haddad e Alcolumbre, o presidente da Câmara festejou a forma como o acordo foi costurado: “Tivemos pela primeira vez uma reunião conjunta, com líderes da Câmara e do Senado e ministros”.

Toda essa empolgação com o acordo que aumentaria o imposto dos ricos não durou muito. Dias depois, Motta passou a dar declarações indicando que a boa relação com o governo em torno do tema havia azedado. Dos 383 votos que derrubaram o decreto, 242 vieram de partidos que têm ministérios no governo Lula.

Não é novidade que os critérios de governabilidade já não são mais os mesmos. Depois que o orçamento foi sequestrado pelo Congresso, não há mais garantia de que a concessão de cargos ministeriais resultará em votos no legislativo.

A gestão Lula vem acumulando derrotas acachapantes graças ao apoio dos partidos com os quais está dividindo fatias do governo. Há que se rever os fundamentos do governo de coalizão. Trata-se de uma tarefa complicadíssima. Não há soluções prontas no horizonte.

É importante lembrar que este não é um governo de esquerda. É um governo formado por uma frente ampla com partidos de centro, direita e esquerda. Este era o único caminho viável para impedir a permanência da extrema direita fascista e golpista no poder e possibilitar alguma governabilidade depois da eleição. A segunda parte não está acontecendo.

O acordo feito na casa de Motta parecia ser um respiro para o governo, mas foi uma breve ilusão. A maneira sórdida e traíra como a votação foi feita soou como uma declaração de guerra ao governo. O fato é que Lula está encalacrado: se conceder ministérios para setores da direita não está rendendo frutos para o governo, retirá-los pode ser ainda pior.

O Congresso brasileiro, comandado majoritariamente pela direita e extrema direita, sequestrou o governo. Resta saber como Lula governará nesse último ano e meio que resta para o pleito presidencial. O cenário está feio para os governistas. O movimento de Motta e Alcolumbre está claramente condicionado pelas próximas eleições.

Ficaram evidentes na apunhalada ao governo as digitais do senador Ciro Nogueira (leia-se bolsonarismo), do PP do Piauí. Apenas dois minutos depois de Motta anunciar nas redes sociais que colocaria a votação que derrubou o decreto do IOF em pauta, Ciro Nogueira compartilhou a publicação. O entrosamento é claro.

A guinada dos presidentes das casas legislativas contou com a intervenção bolsonarista, visando as eleições de 2026. Não restam dúvidas de que a corrida eleitoral é o pano de fundo dessa movimentação. Sem poder aumentar impostos dos ricos, o governo será obrigado a buscar novas fontes de receitas.

Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, a derrubada do decreto impacta em R$ 10 bilhões a arrecadação federal. A direita e a extrema direita tentaram empurrar o governo para um beco sem saída. Para fechar as contas, o governo teria que fazer mais novos cortes no orçamento, o que inevitavelmente prejudicaria os programas sociais.

Lula e Haddad foram colocados nessa sinuca de bico faltando pouco mais de um ano para a eleição. Motta deu sinais claros de que a conversa com o governo passará a ser outra. Ele está disposto a interditar todas as ações do governo e fazê-lo sangrar até o fim do mandato. O objetivo é evidente: enfraquecer Lula para as eleições e tentar inviabilizar sua candidatura.

As comparações de Motta com Eduardo Cunha são inevitáveis. Até o dia da votação do impeachment, o governo de Dilma Rousseff foi inviabilizado ao se ver minado pelas pautas bombas de Cunha no Congresso. Não é à toa que Motta já tem sido chamado de Eduardo Cunha 2.0. O espírito golpista segue vivíssimo!

Enquanto corre para proteger o dinheiro dos ricos, a direita brasileira articula para empurrar a conta para os mais pobres e jogar esse ônus eleitoral no colo de Lula. Isso fica ainda mais nítido através da postura do deputado Arthur Lira, do PP de Alagoas, que resolveu adiar a entrega do parecer sobre o projeto que isenta de cobrança de Imposto de Renda os brasileiros que ganham até R$ 5 mil.

Para que pressa no momento em que o governo está sangrando em praça pública, não é mesmo? A popularidade do governo está em queda e é bom para eles que continue assim. Lula está sendo fritado pelo Centrão, conhecido também como direita brasileira, com o apoio, claro, do bolsonarismo.

Além de fritar Lula, o todo-poderoso Centrão pressiona o bolsonarismo a apresentar Tarcísio como candidato. Eles já sinalizaram que não aceitarão o jogo de cena que Jair Bolsonaro pretende fazer se colocando como candidato até o último minuto do segundo tempo.

Apesar de fazer os dois lados comerem em sua mão, o Centrão terá um lado na eleição presidencial: o da extrema direita. Os rumos que a política brasileira está tomando estão cada vez mais preocupantes para progressistas e democratas em geral. O Centrão é quem dá as cartas e todas elas estão indo para o campo bolsonarista.

O retorno do bolsonarismo golpista e fascistoide ao poder pode representar o fim da democracia como a conhecemos. O governo tem muito o que trabalhar politicamente para chegar vivo nas vésperas da eleição. Daqui até lá o Congresso atuará sob o modo sabotagem, com Hugo Motta incorporando Eduardo Cunha.

•        Governo vai ter que combinar combatividade e sabedoria para romper o cerco. Por Bepe Damasco

Saiu na sexta-feira (27) o resultado da PNAD Contínua do IBGE. Os 6,2% de desemprego no trimestre encerrado em maio são a menor taxa para o período desde o início da série histórica da pesquisa, há 13 anos. Mas sabe qual a importância que isso tem para a Faria Lima, as Organizações Globo e a grande maioria do Congresso Nacional?

Nenhuma.

A inflação segue em trajetória de queda, os preços dos alimentos estão cedendo, o dólar está cotado a menos de R$ 5,50, o PIB contraria os analistas do mercado e sobe como em poucos países do planeta.  No entanto, advinha qual o valor que o Centrão, os comentaristas e articulistas da mídia comercial e os engravatados do mercado dão a este ótimo ambiente econômico?

Nenhum.

Fora os avanços econômicos, o governo exibe vários programas sociais exitosos. Assim, só restou para a direita, a extrema-direita e a imprensa comercial apelar para chavões alarmistas, como "desequilíbrio fiscal", "estrangulamento fiscal" e "apagão fiscal"

E dane-se se isso tem algum amparo na realidade.

A revogação do decreto do governo sobre o IOF, por parte do Congresso Nacional, leva a três conclusões óbvias:

1.       Deputados e senadores sabem que Lula tem muito para mostrar na campanha pela reeleição e querem forçar o governo a sagrar seu coração eleitoral, que são os investimentos e programas sociais. A conta deles é simples: sem o IOF, só vai restar ao governo cortar na carne em saúde e educação, por exemplo.

2.       A cúpula do Congresso rompeu, de cabeça pensada, os canais de diálogo e negociação com o governo. Qualquer proposta pregando o diálogo padece, portanto, de vício de origem. É impossível negociar com quem não quer negociar.

3.       A direita já decidiu que Tarcísio de Freitas é o seu candidato e a tendência é que, pelo menos institucionalmente, partidos como União Brasil, Progressistas, Republicanos, etc, que têm ministérios no governo, não apoiarão a candidatura à reeleição do presidente Lula.

De nada adiantarão convites para viagens ao exterior na comitiva presidencial, almoços, jantares e conversas que atravessam horas a fio. Na cabeça dos luminares do Centrão, a fórmula para vencer a eleição passa por sabotar o governo, inclusive engavetando projetos de forte apelo popular, como a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil.

A saída, então, passa pelo rompimento com o Congresso? De jeito algum.

É preciso tensionar as bancadas com mais realizações, manter canais com lideranças intermediárias da Câmara e do Senado, convencer o presidente Lula a se encontrar de forma mais frequente com deputados e senadores e escalar mais ministros para a interlocução com eles.

Não há a menor garantia de que essa ofensiva dará certo, mas o afastamento completo seria um caminho perigoso.

Por outro lado, o governo não pode abrir mão da luta política, deixando claro nesta queda de braço quem defende os pobres e quem está ao lado dos ricos. Fica a sugestão para o ministro Sidônio Pereira, da Secom: por que que não uma campanha com esse propósito?

Não dá para entender porque o presidente Lula não ocupou até agora uma cadeia de rádio e TV para explicar didaticamente a importância do pequeno aumento do IOF para a justiça tributária e o equilíbrio das contas públicas.

E, por fim, com todos os riscos de segurança, que podem ser perfeitamente mitigados pela equipe do presidente com o apoio dos movimentos sociais, não terá chegado a hora de Lula ir ao encontro do povo? Não em eventos chapa branca, mas em manifestações amplas de prestação pública de contas de seu governo.

Ah, mas isso é antecipação de campanha, dirão muitos. Mas, e daí? Os adversários já colocaram o bloco na rua. Há momentos na política em que o excesso de moderação é péssimo conselheiro.

•        "O Congresso trabalha ativamente para derrotar Lula em 2026", afirma Rui Costa Pimenta

 Em entrevista à TV 247, na sexta-feira, 20 de junho, o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, fez uma avaliação contundente da conjuntura política brasileira, acusando o Congresso Nacional de atuar deliberadamente para inviabilizar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. “O Congresso está trabalhando pela derrota eleitoral do Lula”, declarou.

Para Rui, o movimento parlamentar vai além de uma simples sabotagem institucional. “Não é apenas sabotagem”, afirmou. Segundo ele, o presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ao dificultar a execução de recursos federais, dá sinais de um projeto mais profundo: desmontar as bases do governo Lula e preparar o terreno para uma eleição presidencial “sem Lula e sem Bolsonaro”.

“Todos já estão percebendo que está sendo armada a eleição sem Lula e sem Bolsonaro”, alertou. Para o dirigente do PCO, essa articulação sugere um pacto da elite política e econômica para manter o controle sobre o sistema sem permitir qualquer alternativa de caráter popular ou minimamente reformista.

<><> “Para ter impacto, é preciso ter briga feia”

Rui Costa Pimenta também criticou o que classificou como postura excessivamente conciliadora do governo federal diante dos ataques institucionais. “E não adianta falar que a culpa é do Congresso. Para ter impacto, é preciso ter briga feia”, afirmou, defendendo uma postura mais incisiva por parte do Palácio do Planalto diante do avanço conservador.

Na entrevista, ele resgatou a declaração do rapper Mano Brown, que disse que Lula é bom, mas o sistema é podre. Rui concordou e complementou: “Se Lula é bom e o sistema é podre, como diz Mano Brown, cabe ao presidente denunciar o sistema”.

<><> Tarcísio e o risco de uma “máquina de moer carne”

O presidente do PCO também comentou sobre as articulações da direita em torno de uma candidatura alternativa à de Bolsonaro. Segundo ele, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, desponta como nome viável do campo conservador, mas representa um risco severo para os trabalhadores.

“Se Tarcísio for eleito, será uma máquina de moer carne”, declarou, sugerindo que seu governo seria de extrema hostilidade à classe trabalhadora e à soberania nacional.

Apesar disso, Rui reconhece a inteligência política de Jair Bolsonaro em relação ao seu entorno: “Do círculo bolsonarista, o mais inteligente é o próprio Jair Bolsonaro”.

<><> “Lula terá que ser mais Getúlio do que Getúlio Vargas foi”

Rui concluiu a entrevista com uma analogia histórica que resume seu diagnóstico da encruzilhada enfrentada pelo presidente da República. “Neste momento, Lula terá que ser mais Getúlio do que Getúlio Vargas foi para Lula não ter um fim de carreira inglório”, disse, apontando para a necessidade de uma guinada mais combativa e popular no governo.

A entrevista de Rui Costa Pimenta à TV 247 escancara as tensões crescentes entre o Executivo e o Legislativo, além de colocar em perspectiva o desafio que Lula enfrenta para manter sua base de sustentação diante de uma elite que, segundo o dirigente, está operando ativamente para neutralizar sua liderança e inviabilizar seu projeto político.

•        Base aliada do atual mandato de Lula é a mais infiel em 30 anos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta um dos cenários políticos mais delicados de seus três mandatos. Com a base de apoio mais infiel no Congresso Nacional em três décadas, o governo tem encontrado dificuldades para aprovar projetos estratégicos e enfrenta crescente desgaste político às vésperas das eleições de 2026.

Segundo levantamento publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o índice de infidelidade entre partidos formalmente aliados ao Palácio do Planalto atingiu patamares inéditos desde a redemocratização. Siglas como União Brasil, PP e Republicanos, embora componham a base, têm adotado posturas ambíguas e, em diversas votações, se alinhado à oposição.

A fragmentação da base preocupa o núcleo político do governo, que vê a dificuldade de articulação como um dos principais entraves para a agenda de Lula. Em votações decisivas, parte significativa dos parlamentares desses partidos se posicionou contra o governo, comprometendo medidas consideradas essenciais pela equipe econômica e social.

Além disso, líderes de partidos aliados vêm resistindo a assumir postos no Executivo ou a indicar nomes de confiança para o primeiro escalão, o que expõe o grau de insatisfação e revela o enfraquecimento da governabilidade.

O presidente Lula já sinalizou de forma mais explícita a intenção de disputar a reeleição em 2026, mas o ambiente político segue instável.

<><> Ameaças eleitorais

O enfraquecimento da base e o clima de insatisfação têm alimentado articulações em torno de possíveis adversários para 2026. Governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), surgem como nomes competitivos no campo conservador, enquanto alas do Centrão demonstram disposição de abandonar o governo caso o cenário político e econômico não se reverta.

 

Fonte: The Intercept/Brasil 247

 

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