Israel
como laboratório da escalada fascista e a segunda Nakba em Gaza
Em
1948, o êxodo de pelo menos
711 mil árabes palestinos em função da Guerra Árabe-Israelense, que está
nas origens do surgimento do Estado de Israel, ocasionou o evento histórico que
se convencionou chamar de Nakba, palavra que significa catástrofe ou desastre. Na
análise do filósofo húngaro radicado há décadas no Brasil, Peter Pál Pelbart, o que ocorre agora
com o genocídio conduzido
por Netanyahu em Gaza reedita,
de modo ainda mais brutal, esse episódio no Oriente Médio. Esta “é
uma segunda Nakba. Num certo sentido,
pior do que a anterior”.
Uma das
coisas mais chocantes é o fato de que, ao contrário
do Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial, que para a
maioria do mundo era desconhecido, hoje vemos em tempo real
o massacre “de
centenas de crianças, mulheres, idosos, multidões famélicas deambulando à cata
de algum alimento e agonizando por falta de cuidado médico. Hoje, quando se vê
e se sabe do genocídio em curso, cabe insistir em que a inação, a neutralidade
e o silêncio se tornam cumplicidade. É intolerável o que acontece, e ainda mais
intolerável testemunhar em silêncio”.
Para Pelbart, Israel se
desvela como “um laboratório privilegiado de escalada fascista e expansionista,
onde ademais se experimentam novas tecnologias de Inteligência
Artificial (IA) no
extermínio em massa. Claro que nada disso ocorre sem resistência, mas a voz
dissidente é abafada pelo rufar dos tambores da guerra”.
Desde
que se aliou à extrema-direita, Netanyahu ajudou a reforçar “todos os
traços regressivos que já estavam presentes na sociedade israelense há anos,
sobretudo após o 7 de outubro de 2023. O estado de
exceção atingiu ainda mais brutalmente a população palestina em Israel e
nos territórios ocupados, com incursões, detenções, assassinatos, aumento da
truculência policial contra as manifestações e violência contra as
dissidências”. O filósofo acrescenta que a Europa não consegue romper
com a culpabilidade por ter gestado o Holocausto: hoje, paira o sentimento
de que se deve apoiar o governo israelense de modo incondicional, sem qualquer
tipo de crítica, que é classificada pela propaganda como antissemita.
Retomando
o legado da filosofia de Emmanuel Lévinas, um dos mais
importantes pensadores judeus do século XX, Pelbart acentua a
importância do primado da ética e da alteridade, que vêm antes
da ontologia e do Ser. Quando priorizou a
alteridade, Lévinas “ousou desafiar o identitarismo judaico e seu
etnocentrismo, ainda que não utilizasse esses termos. O que melhor expressa tal
ética da alteridade é o Rosto do Outro, que diz: ‘Não Matarás’. Ora, quando
constatamos que a televisão israelense se recusa a transmitir os rostos dos
palestinos agonizantes em Gaza, nos quais se leem a fome, a sede, o
desespero, a súplica, só podemos concluir que a sociedade israelense está
doente e se encontra nas antípodas da ética defendida por Lévinas”.
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Confira a entrevista.
·
Por que boa parte do mundo se cala diante do genocídio em
Gaza ou da sua relativização?
Peter
Pál Pelbart – A Europa nunca conseguiu se livrar da culpa por
ter sido o palco do Holocausto. Assim, ela se vê
obrigada a expiar sua culpa apoiando incondicionalmente o governo de Israel. O
receio dos europeus, mas não só, é que qualquer divergência em relação à
política israelense seja interpretada como uma atitude antissemita, o que
cutucaria velhos monstros que o continente prefere deixar intocados. Já com
os Estados Unidos, trata-se de uma aliança estratégica e geopolítica cuja
natureza supremacista vai ficando cada dia mais evidente.
Ademais,
é grande a influência dos evangélicos fanaticamente defensores
de Israel no governo Trump, para quem muçulmanos, islâmicos e
palestinos são todos virtualmente terroristas. Mais profundamente, Israel
pertence ao Norte, no sentido ideológico, geopolítico, militar, e desfruta de
seus privilégios, entre os quais a certeza da impunidade, seja qual for a
política de opressão em relação aos palestinos ou de expansionismo em relação
aos vizinhos.
·
IHU – O que torna esse genocídio tão peculiar? Esta é uma
outra Nakba? Por quê?
Peter
Pál Pelbart – Sim, é uma segunda Nakba. Num certo sentido,
pior do que a anterior. Eis alguns dados. Em 1947-1948, tratava-se para o
nascente Estado de Israel de fazer com que a população palestina
abandonasse suas casas, aldeias, cidades a fim de garantir a maioria
demográfica judaica no território que lhe era destinado pela partilha. Ao longo
dos combates, porém, Israel ampliou substancialmente suas fronteiras,
engolindo grandes nacos do que deveria ser o Estado da Palestina. Ao todo,
por volta de 750 mil palestinos foram expulsos ou fugiram, transformando-se em
refugiados. O número total de mortos foi de 1% da população palestina – e uma
proporção equivalente do lado israelense.
Agora,
a estimativa é que Israel tenha massacrado 2,5% da população. Se
forem contabilizados os soterrados e desaparecidos, a cifra pode chegar ao
dobro. Em outros termos, é possível que no fim a cifra de mortos alcance 5% da
população palestina – ou seja, cinco vezes mais do que na primeira Nakba.
O sofrimento imposto a uma população de mais de dois milhões ao longo de ano e
meio de bombardeios, aniquilação das cidades, confinamento, fome, sede, falta
completa de medicamentos, evacuação de uma região a outra, destruição de
hospitais, escolas, mesquitas talvez supere a tragédia da primeira Nakba.
·
Que aproximações e distanciamentos são adequados para se
pensar no Holocausto judeu e no genocídio em Gaza?
Peter
Pál Pelbart - Creio que hoje o mais urgente é chamar a atenção para um
aspecto nessa comparação. Durante a Segunda Guerra Mundial, o mundo NÃO
sabia da existência dos campos de concentração alemães, das câmaras de
gás, dos fornos crematórios, das milhões de vítimas dizimadas em escala
industrial. Hoje TODOS vemos ao vivo e em cores os
massacres de centenas de crianças, mulheres, idosos, multidões famélicas
deambulando à cata de algum alimento e agonizando por falta de cuidado médico.
Não se
trata, portanto, de quantificar o sofrimento e participar da Olimpíada do
Horror para decidir qual povo levará a medalha do mais sofrido. Hoje,
quando se vê e se sabe do genocídio em curso, cabe insistir em que a inação, a
neutralidade e o silêncio se tornam cumplicidade. É intolerável o que acontece,
e ainda mais intolerável testemunhar em silêncio.
·
Como avalia o apoio norte-americano a Israel na condução
desse conflito?
Peter
Pál Pelbart – É a aliança estratégica e geopolítica do Norte
branco contra os “descartáveis” do Sul do mundo. A força bruta como modus
operandi. Os Estados Unidos podem reivindicar
o Canadá ou a Groenlândia, assim como Israel se sente
no direito de invadir Gaza ou anexar a Cisjordânia. É a lei do
mais forte.
·
É correto analisar esse conflito dentro do registro das
derivações neofascistas pelas quais passam inúmeras democracias no mundo,
incluindo EUA e Israel? Por quê?
Peter
Pál Pelbart – A Nakba antecede
em muito a atual deriva neofascista. Contudo, é inegável
que desde que Netanyahu se aliou à extrema-direita, todos os traços
regressivos que já estavam presentes na sociedade israelense há anos
recrudesceram, sobretudo depois do 7 de outubro de 2023. O estado de exceção atingiu ainda
mais brutalmente a população palestina em Israel e nos territórios ocupados,
com incursões, detenções, assassinatos, aumento da truculência policial contra
manifestações e violência contra as dissidências.
Os
ataques frontais contra o sistema judiciário, anteriores ao ataque
do Hamas, retornaram com força alguns meses depois, através de táticas
de lawfare.
Um desejo generalizado de vingança, de punição coletiva, de “solução final”
para o problema palestino virou assunto público e se acirrou com a quebra do
cessar-fogo em março e a barbárie subsequente. Na verdade, o supremacismo
étnico e a fúria bélica tomaram conta de boa parte da população. Mais e
mais Israel aparece aos olhos do mundo como um laboratório privilegiado de
escalada fascista e expansionista, onde ademais se experimentam novas
tecnologias de Inteligência Artificial (IA) no extermínio em massa.
Claro que nada disso ocorre sem resistência, mas a voz dissidente é abafada
pelo rufar dos tambores da guerra.
·
Críticas à política estatal de Netanyahu em Gaza são
rebatidas por alguns setores judaicos como antissemitismo. Por que essa
classificação está incorreta?
Peter
Pál Pelbart – Israel pretende ser representante dos judeus do mundo
todo. E faz crer que ser judeu é equivalente a ser sionista. E que ser sionista
é apoiar incondicionalmente o Estado de Israel. Ora, essa equação é um engodo.
Nem todo judeu é sionista, nem todo sionista apoia a política atual
de Israel, nem todo judeu apoia a política da atual coalizão. Faz parte,
porém, da propaganda israelense acusar toda crítica ao governo israelense de
antissemita.
É uma
maneira de desqualificar os críticos, intimidar os judeus e utilizar a história
do antissemitismo para justificar
a política do atual governo israelense. Nos últimos meses temos presenciado
este paradoxo: manifestações de estudantes judeus nas universidades
estadunidenses e alemãs contra os massacres em Gaza e em favor dos
palestinos, reprimidas com violência pela polícia local sob a alegação de serem
antissemitas.
·
Por outro lado, a campanha israelense em Gaza fomenta o
ódio aos judeus, indiscriminadamente. Como analisa a reedição dessa
intolerância no contexto atual?
Peter
Pál Pelbart – Se Israel pretende falar e agir em nome dos judeus
do mundo, deveria saber que seus crimes acabarão respingando sobre os judeus do
mundo todo. Parte do antissemitismo deriva dessa associação. Claro,
quando ela se compõe com uma tradição antissemita que remonta a séculos, o
resultado é o mais inquietante. O combate ao antissemitismo hoje passa pela
crítica ativa, feita por judeus em todo o mundo, à escalada fascista
israelense. É preciso reativar a tradição crítica, progressista, ética e libertária
do que Enzo Traverso chamou de
modernidade judaica.
·
Em carta aberta aos judeus, o senhor evoca a ética
judaica a partir de Emmanuel Lévinas. Qual é o compromisso da Filosofia frente
a esse conflito?
Peter
Pál Pelbart – Emmanuel Lévinas é um dos
maiores pensadores judeus do século XX. Ele sobreviveu à perseguição nazista e
sorveu o melhor da tradição judaica para pensá-la. Em contraposição a Heidegger, que, no entanto, o
inspirou parcialmente, sustentou que antes da ontologia vem a ética – antes
do Ser, o Outro. Ao priorizar a alteridade, ousou desafiar o
identitarismo judaico e seu etnocentrismo, ainda que não utilizasse esses
termos. O que melhor expressa tal ética da alteridade é o Rosto do Outro,
que diz: “Não Matarás”. Ora, quando constatamos que a televisão israelense se
recusa a transmitir os rostos dos palestinos agonizantes em Gaza, nos quais se
leem a fome, a sede, o desespero, a súplica, só podemos concluir que a
sociedade israelense está doente e se encontra nas antípodas da ética defendida
por Lévinas.
A
filosofia não pode permanecer indiferente ao que se passa em nosso presente.
Seria preciso tornar a epiderme das pessoas mais irritável, diria Foucault. A filosofia deve
combater a baixeza de seu tempo, lembra Deleuze. Cabe ao pensamento
intervir no seu tempo, contra o seu tempo, em favor, esperemos, de um tempo que
virá, diz Nietzsche.
·
IHU – Agamben tem
sido um dos autores fundamentais para pensarmos como a exceção se converte em
regra e como ela opera amparada no estado democrático de direito. Em que
aspectos Gaza se converte em um grande campo de concentração e prova que o
binômio soberania-governamentalidade segue mais operativo e paradoxal do que
nunca?
Peter
Pál Pelbart – O campo de concentração é o paradigma biopolítico
contemporâneo, diz Agamben. Isso se confirma a cada dia. O que não
imaginávamos é que assistiríamos em tempo real, pela televisão, a redução de
milhões de pessoas à condição de vida nua. O grau de visibilidade planetária
que tal operação atingiu nos faz suspeitar que fomos catapultados a um novo
patamar de normalização da exceção e de sua espetacularização escancarada. Como
em Kafka, o mais espantoso é
que o espantoso já não espanta ninguém.
¨
Médicos Sem Fronteiras denuncia sistema mortal de ajuda
de Israel e EUA em Gaza
O
sistema de distribuição de alimentos de Israel e dos Estados Unidos em Gaza,
iniciado há um mês, está matando a população palestina, forçando-a a escolher
entre morrer de fome ou arriscar suas vidas por suprimentos mínimos. Com
mais de 500 pessoas mortas e quase 4 mil feridas enquanto tentavam buscar
comida, esse esquema é um massacre disfarçado de ajuda humanitária e deve ser
imediatamente interrompido.
Médicos
Sem Fronteiras (MSF) apela às autoridades israelenses e seus aliados para que
ponham fim ao cerco imposto à entrada de alimentos, combustíveis, suprimentos
médicos e humanitários e voltem ao sistema humanitário pré-existente,
coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O
desastre em curso foi orquestrado pela organização Gaza Humanitarian
Foundation (GHF sigla em inglês), apoiada por Israel e pelos Estados
Unidos. A forma como os suprimentos são distribuídos força milhares
de palestinos, que passam fome devido a um cerco israelense de mais de 100
dias, a caminhar longas distâncias para chegar aos quatro pontos de entrega e
lutar por restos de alimentos. Esses locais impedem que mulheres, crianças,
idosos e pessoas com deficiência tenham acesso à ajuda, enquanto pessoas são
mortas e feridas em um processo caótico.
Mesmo
diante de tanta violência, a cada nova atrocidade não há quase nenhuma reação —
quanto mais condenação — por parte da comunidade internacional, que parece
resignada com o seu papel de permitir e perpetuar uma campanha compatível com
padrões de genocídio. Isso não pode continuar.
"Os
quatro locais de distribuição, todos localizados em áreas sob o controle total
das forças israelenses depois que as pessoas foram deslocadas à força de lá,
são do tamanho de campos de futebol cercados por pontos de vigilância, montes
de terra e arame farpado. A entrada cercada tem apenas um ponto de acesso para
entrar ou sair", explica Aitor Zabalgogeazkoa, coordenador de emergência
de MSF em Gaza. "Os trabalhadores da GHF deixam cair os paletes e as
caixas de alimentos e abrem as cercas, permitindo que milhares de pessoas
entrem de uma só vez e lutem até o último grão de arroz."
"Se
as pessoas chegam cedo e se aproximam dos postos de controle, são alvejadas. Se
chegarem na hora certa, mas houver um excesso de pessoas e elas pularem os
montes e os arames, serão alvejadas", relata Zabalgogeazkoa. “Se chegarem
tarde, não deveriam estar lá porque é uma ‘zona evacuada’, então são baleadas.”
Todos
os dias, as equipes de MSF veem pacientes que foram mortos ou feridos tentando
conseguir comida em um desses locais.
"Muitas
pessoas estavam sendo diretamente alvejadas. Isso não é ajuda. É uma armadilha
mortal", constata Hani Abu Soud, membro da comunidade no centro de saúde
primária de Al-Mawasi. "Eles iam nos matar um por um. Estávamos
com fome, estávamos apenas tentando alimentar nossos filhos. O que mais posso
fazer? Um saco de lentilhas custa cerca de 30 a 40 shekels [cerca de 45 e
65 reais]". "Não temos esse dinheiro. A morte se tornou mais barata
do que a sobrevivência."
À
medida que as distribuições continuam, as equipes médicas notaram um aumento
acentuado no número de pacientes com ferimentos a bala. No hospital de campanha
de MSF em Deir Al-Balah, o índice de pessoas com esse tipo de lesão cresceu
190% na segunda semana de junho, em comparação com a semana anterior.
Os
hospitais que ainda funcionam em Gaza estão devastados, operando com
suprimentos mínimos de analgésicos, anestésicos e sangue. Hospitais em
pleno funcionamento teriam dificuldades para lidar com um número tão alto de
pacientes com traumas, que tomam as salas de emergência todos os dias.
Os
pacientes feridos buscam ajuda em clínicas de saúde básica ou hospitais de
campanha, já que as instalações de saúde maiores, com equipamentos para
oferecer tratamento para traumas violentos, foram danificadas pelos ataques de
Israel, e muitas não funcionam mais.
A
clínica de MSF em Al Mawasi, que normalmente não está equipada para tratar
pacientes com traumas, recebeu 423 pessoas feridas nos locais de distribuição
desde 7 de junho.
Dez ou
mais pacientes com ferimentos violentos chegam dos locais de distribuição todos
os dias. Essas lesões exigem tratamento imediato, como transfusões de sangue ou
cirurgia, que as equipes médicas não podem oferecer em uma clínica de saúde
básica.
Os
pacientes são encaminhados para os poucos hospitais que ainda funcionam, como o
hospital Nasser, mas, com a escassez de assistência médica, MSF recebeu relatos
de pessoas feridas em locais de distribuição de ajuda que morreram devido aos
ferimentos antes de receberem tratamento.
Sem
comida na tenda que compartilhava com sua família, Ashraf, de 17 anos, foi a um
local de distribuição em 23 de junho. "Eu disse que era muito perigoso.
Ele falou que queria comprar algo para a irmã", conta Hanan, mãe de
Ashraf. "Trinta minutos depois, ele me ligou, pedindo ajuda. Ele havia
sido baleado. Essa ‘ajuda’ (o atual sistema de distribuição de alimentos) está
encharcada de sangue." Ashraf estava sendo tratado na clínica de saúde
básica em Al Mawasi.
A ajuda
não deve ser controlada por uma parte em guerra para promover seus objetivos
militares. As autoridades israelenses usaram uma tática deliberada de privação
de alimentos contra os palestinos em Gaza. Israel transformou o suprimento de
comida em uma arma, negando-o às pessoas e, depois, limitando-o a um volume
baixíssimo, em uma violação total do direito humanitário internacional.
Os
princípios humanitários existem para permitir a facilitação da assistência
àqueles que mais precisam dela, com dignidade. A ajuda deve ser fornecida em
escala, de acordo com esses princípios.
A
população em Gaza tem necessidade vital e imediata do restabelecimento de um
sistema de assistência genuíno e de um cessar-fogo sustentado para sua própria
sobrevivência.
Fonte: Entrevista
com Peter Pál Pelbart, para IHU/MSF

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