sábado, 28 de junho de 2025

O nó górdio do Sistema Internacional

O mundo observa apreensivo à escalada entre Israel, EUA e Irã no Oriente Médio, região que equaciona múltiplas variáveis do complexo e perigoso jogo estratégico internacional.

“[…] ainda toda a Frígia, onde na cidade de Górdio viu a carruagem da qual tanto se fala, ligada por um laço em casca de sorveira; e a esse respeito contaram-lhe uma história segundo a qual os habitantes do país consideravam verdadeira profecia que aquele que pudesse desatar esse laço era predestinado a ser um dia rei de toda a terra. Assim diz o vulgo que Alexandre, não podendo desfazer esse laço, porque dele não se viam as extremidades em virtude de estarem estas envolvidas por várias voltas e entremeios que se interpenetravam, desembainhou a espada e cortou o nó pela metade, de sorte que se viram então as várias extremidades do laço.” – Plutarco. 

Os ataques de Israel e EUA ao Irã desencadearam uma escalada perigosa não só para o Oriente Médio, mas para o mundo. A operação contra o programa nuclear iraniano tem por objetivo estratégico mais aparente eliminar as aspirações do Irã à soberania como potência regional, ao buscar neutralizar seu programa nuclear. Mas há outras razões na mesa.  

O uso do programa nuclear iraniano, por Israel e EUA, como ameaça para justificar uma intervenção tem sido uma carta recorrente, há anos, e, após o escândalo da falsificação de provas no Iraque, em 2003, é necessário cuidado com essas alegações. Signatário do Tratado de Não proliferação Nuclear (TNP), o Irã tem sido, por muito tempo, inspecionado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e vinha cumprindo o acordo nuclear assinado em 2015, mediado com ajuda de Brasil e Turquia – diferente de Israel, que jamais admitiu, mas possui um número estimado de ogivas nucleares entre 90-400, segundo o consenso dos especialistas. Após o rompimento unilateral do acordo por Trump, em 2018, do ponto de vista da segurança do Irã, a confiança no Ocidente se deteriorou, incentivando a busca da última instância das garantias de soberania no sistema internacional contemporâneo, sobretudo em vista do histórico recente de países como Iraque Síria e Líbia. O país tem imensa importância estratégica no tabuleiro geopolítico contemporâneo, encontra-se no meio de um “nó górdio” estratégico, nos termos da famosa anedota de Plutarco sobre Alexandre, que se passa também na Pérsia. 

Este texto não visa esmiuçar todas as tramas desse “nó”, mas analisar seus “fios” principais, de modo a apresentar um diagnóstico holístico das fricções em curso no sistema internacional enquanto sintomas de uma “doença” sistêmica, uma crise no equilíbrio de poder pós-Guerra Fria, cujos nexos se encontram na guerra contra a nação persa. 

<><> Crise 

Após vinte anos de estabilidade entre as grandes potências e o fim da Guerra Fria, fricções entre a superpotência hegemônica e potências regionais em ascensão iniciaram um processo de desgaste daquela ordem internacional. Não é simples estabelecer o “marco zero” desse processo. A fenomenologia em questão, um movimento sistêmico internacional, é constituída por muitas variáveis, e o Oriente Médio, cenário da mais recente escalada, amarra todas as pontas em um complexo nó. 

Fundamentalmente, antigos problemas geopolíticos estão reemergindo e a fratura histórica Norte/Sul (centro e periferia), após as utopias não cumpridas da globalização, vai se tornando cada vez mais exposta. Esses movimentos “tectônicos” causam crescente transtorno ao sistema internacional, que vive uma crise traduzida nas fricções que escalam regionalmente. Dentre elas, um conflito na Ucrânia, que segue há três anos sem solução, opondo atores nucleares cada vez mais distantes de um consenso; outro em estado embrionário na Ásia Pacífico, entre China e EUA, e; no Oriente Médio, o cenário mais complexo, permeado por múltiplos atores e interesses, com a destruição sistemática de nações pela política externa ocidental, o avanço do colonialismo sionista e, agora, o conflito direto entre Israel e Irã. Completam o quadro novas tensões na geopolítica da América Latina, que se tornou área de interesse para chineses e russos, levando ao recrudescimento da ingerência dos EUA sobre os países da região. Tantas fricções regionais são sintomáticas de uma doença crônica que compromete o equilíbrio de poder entre as potências, única real garantia de estabilidade na ordem internacional. 

As origens dessa inflexão em curso no sistema internacional remontam à política externa dos EUA e seus aliados no Oriente Médio. A destruição de países inteiros visando a derrubada de regimes hostis aos interesses ocidentais, sob a “defesa da democracia”, gestou problemas como o Estado Islâmico e tragédias humanitárias que extrapolam a capacidade das instituições internacionais, e a disposição das nações ocidentais, para cooperar com a garantia dos valores ratificados na Carta da ONU. 

Ato contínuo, o protagonismo do Ocidente, marca da modernidade, vem cedendo espaço ao bloco eurasiano composto por Rússia e China, que aos poucos equipara e ultrapassa os EUA em diversos setores da economia e tecnologia, e investe em suas forças armadas para ombrear com a superpotência também no campo militar. Regionalmente, já é possível aos chineses avançar, pressionando a Ásia Pacífico a uma corrida armamentista. E a Rússia também retorna à grande estratégia após o retraimento nos anos 1990 sob tutela ocidental, e reage aos avanços da OTAN sobre suas fronteiras. Uma Guerra Fria 2.0 parece se ensaiar em contexto multipolar, mais complexo, que certamente forçará mais as comportas da dissuasão nuclear. Em síntese, esses casos são pontas do nosso “nó”, que se articula no Irã, que, mesmo após anos de sanções, segue com seu programa nuclear no contexto de uma aliança com russos e chineses, assumindo importância central no jogo internacional. 

Temos, portanto, um antagonismo irredutível entre potências nucleares, na forma de fricções regionais que articulam, como variável comum, a desidratação de poder dos EUA, cuja presença ostensiva em todos os ecossistemas estratégicos sofre progressiva pressão de atores regionais, levando a uma crise aparentemente terminal do equilíbrio de poder pós-Guerra Fria, baseado na hegemonia estadunidense sobre sistemas de segurança regionais conformados ao “xerifado” da superpotência. 

·        O retorno da Geopolítica 

Enquanto o Ocidente vivia o “fim da História”, com suas promessas de paz perpétua, líderes russos e chineses adotavam políticas na contramão da teleologia liberal. Putin reestatizou setores estratégicos da economia russa, como energia e telecomunicações, enquanto a China perseguiu o desenvolvimento via industrialização, assimilando know how know why da experiência com as Zonas Econômicas Especiais, e projetou-se como potência regional. Em 2013, o governo Xi Jinping apresentou uma nova concepção do desenvolvimento comercial de longo prazo, o Belt and Road Initiative (BRI), a “Nova Rota da Seda”, que busca a integração econômica e de infraestrutura com diversos parceiros através de uma estratégica e vasta rede de comunicações constituída por duas dimensões: a Maritine Silk Road, rota marítima entre os portos chineses na costa africana e a Europa através do Índico e do Canal de Suez, até o Mediterrâneo; e a Silk Economic Road, que visa integrar Rússia, China e Irã por meio de uma ousada triangulação entre o Cáucaso, a Europa Oriental e o Oriente Médio. 

Esses planos remontam a conhecidos axiomas geopolíticos. Foram Alfred Mahan e Halford Mackinder, pensando os poderes marítimo e terrestre, respectivamente, que definiram os parâmetros geopolíticos vigentes até hoje. Mahan defendia uma marinha capaz de assegurar os interesses comerciais nacionais, com o apoio indispensável de bases posicionadas ao longo de regiões costeiras estratégicas, afastando a pressão naval de outras potências. A ideia está presente no BRI em sua dimensão marítima, e vai de encontro à questão de Taiwan, que pode interferir diretamente nas rotas marítimas chinesas. Quanto ao âmbito terrestre, a partir de Mackinder, o controle do Heartland1 proporcionaria a capacidade de projetar poder sobre o mundo, devido à característica estratégica do território eurasiano, bem como à sua capacidade intrínseca de proporcionar acesso a todas as direções do globo pelo mar, como uma gigantesca e inexpugnável ilha mundial, podendo ser integrado por grandes ferrovias, além de possuir vastos recursos naturais. Seguindo essas velhas (porém nada obsoletas) ideias, a China busca triangular o litoral europeu com o chinês, projetando influência por regiões caras às potências ocidentais, elevando sua estatura econômica e aumentando a capilarização de sua moeda, desbancando gradativamente o poder do dólar em regiões estratégicas da “ilha mundial”. 

No caso da Rússia, o coração do Heartland da teoria de Mackinder, após uma década de crise política e econômica, o governo de Vladimir Putin busca retomar seus espaços de influência. Ao desenvolver sua economia voltada principalmente para a extração e exportação de recursos energéticos abundantes em seu território, como petróleo e gás natural, a Rússia reascendeu explorando a infraestrutura herdada da era soviética, que interliga as ex-repúblicas e permite escoar sua produção pelo continente, condição que faz dela a grande exportadora de energia para a Europa. Esse quadro vem sendo enfrentado pelos EUA como um desafio estratégico, à medida que a dependência europeia da energia russa contribui para minar o eixo entre Europa e EUA, baseado no antagonismo russo, e significa, portanto, um obstáculo crítico aos interesses de Washington. 

Foram esses interesses que mobilizaram o avanço da OTAN no Leste europeu, traindo as garantias dadas por Reagan a Gorbatchev em 1989 e ameaçando a segurança da Rússia. Esse processo culminou com a guerra da Ucrânia, cuja maior parcela de responsabilidade, segundo Mearsheimer (2014, p. 2), é dos Estados Unidos e seus aliados europeus, na medida em que a “raiz principal do problema é o alargamento da OTAN, o elemento central de uma estratégia mais ampla para tirar a Ucrânia da órbita da Rússia e integrá-la ao Ocidente. […] Desde meados da década de 1990, os líderes russos opuseram-se veementemente ao alargamento da OTAN e, nos últimos anos, deixaram claro que não aceitariam enquanto seu vizinho estrategicamente importante se transformava em um bastião ocidental. Para Putin, a derrubada ilegal do presidente eleito da Ucrânia e pró-Rússia – que ele justamente rotulou de ‘golpe’ – foi a gota d’água. Ele respondeu tomando a Crimeia, uma península que temia que acolhesse uma base naval da OTAN, e trabalhando para desestabilizar a Ucrânia até abandonar os seus esforços para se juntar ao Ocidente”. Em face desse quadro, ainda segundo o autor, “as ações de Putin deveriam ser fáceis de entender. Uma enorme extensão de terra que a França napoleônica, a Alemanha imperial e a Alemanha nazista todas cruzaram para atacar a própria Rússia, a Ucrânia serve como um Estado amortecedor de enorme importância estratégica para a Rússia. Nenhum líder russo poderá tolerar uma aliança militar, que era inimiga mortal de Moscou até recentemente, se mudar para a Ucrânia”. 

Em perspectiva estratégica, EUA e Rússia se encontram em uma espiral crescente de fricções. Sem saída diplomática à vista, o destino da Ucrânia parece selado, após a desaceleração do apoio internacional à causa ucraniana, vista como perdida. Ao mesmo tempo, permitir que um autocrata como Putin saia vitorioso de um movimento expansionista deixa uma janela aberta para aventuras semelhantes no futuro, algo que a história do equilíbrio de poder ensina ser desaconselhável. Para os EUA, que dobraram sucessivamente as apostas nesse jogo, a hipótese de a Rússia sair vitoriosa compromete ainda mais sua credibilidade internacional, o que pode acelerar a queda de sua hegemonia. Afinal, como escreveu Maquiavel, o poder é, sobretudo, aparentar. Para intimidar ou dissuadir, é necessário que a capacidade de aplicar a força seja inquestionável. Talvez isso explique o porquê de os EUA estarem agindo de forma agressiva, queimando etapas diplomáticas, como no caso dos acordos de Minsk, ou do suporte às ações criminosas de Israel, em prol de apostas arriscadas para a estabilidade internacional. 

<><> O “nó górdio” 

O conceito de Heartland parece mais atual do que nunca, com a triangulação entre Rússia, Irã e China compondo um poderoso eixo geopolítico. Após cinco séculos de domínio ocidental, via muita violência colonial, o pêndulo da política internacional parece apontar agora para a Ásia e o Sul Global. É nesse contexto que devemos interpretar o ataque contra o Irã. No Heartland russo-chinês, o papel do Irã é crucial como passagem que permite aos chineses sua projeção articulada com os russos em direção aos mares estratégicos do Sul e seus estreitos, à Europa e até mesmo ao Ártico, onde a China já projeta sua marinha na corrida pelos recursos naturais cada vez mais acessíveis pelo degelo. 8 mil quilômetros de trilhos chineses passam por território iraniano, além de ser este país a maior fonte de petróleo dos chineses. 

No que concerne à Rússia, a cooperação militar com Teerã tem sido crucial para o esforço de guerra na Ucrânia. É no Irã que são produzidos os drones largamente empregados pelos russos naquela guerra, além de o Irã ser um importante mercado para a indústria bélica russa, via crédito chinês, uma cooperação triangular que favorece aos três: aos chineses, com a expansão do seu crédito e influência econômica; aos russos, pela venda de material de alto valor agregado, viabilizando a Putin pular o muro das sanções ocidentais; e ao Irã, garantindo a modernização de suas forças armadas, preservando sua condição de potência regional também sob a pressão das sanções ocidentais. Além disso, diversos investimentos russos em Teerã tornaram a Rússia credora daquele país, de modo que há ativos significativos para a economia de Putin dentro das fronteiras iranianas. Portanto, o Irã é peça-chave para russos e chineses em seus movimentos no xadrez geopolítico, o que faz dele o alvo preferencial de uma proxy war a serviço de interesses estadunidenses, articulados com os interesses do governo sionista. 

Neste ponto, é consenso nos estudos internacionais a existência de correlação entre fatores domésticos e o comportamento dos Estados na arena internacional. O caso de Israel não é diferente. Pressionado internamente por acusações de corrupção e arroubos autoritários, além do indiciamento em curso no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e crimes contra a Humanidade, o governo Netanyahu acelera seu projeto expansionista, baseado na eliminação do Irã – o maior antagonista de Israel desde a queda de Saddam Hussein – e na ocupação final da Palestina e territórios adjacentes, visando a concretização do que os sionistas chamam de “grande Israel”. E, ademais, desviam um pouco o foco mundial das chacinas diárias cometidas por suas forças em Gaza e dos avanços violentos dos assentamentos na Cisjordânia, eventos que podemos resumir no quadro de um colonialismo genocidário da Palestina. 

O expansionismo israelense, ironicamente, obedece à categoria geopolítica alemã do “espaço vital”, que orientou as campanhas de Hitler contra a Europa Oriental e implica na conquista de um território considerado fundamental para a segurança do Estado. Consciente da inflexão em curso no sistema internacional, que impacta gradativamente a capacidade do EUA em face das capacidades russas e chinesas, o governo israelense corre contra o tempo para atingir objetivos estratégicos inerentes ao projeto sionista e preservar-se no poder pelo recurso a dispositivos excepcionais para governar, somente possíveis em tempos de guerra. 

Portanto, há três dimensões centrais da guerra entre Israel e Irã a serem exploradas – para além de diversos outros interesses locais que ajudam a engrossar o “nó” geopolítico: duas delas ligadas à política israelense: uma estratégica, expansionista, de longo prazo; outra, de curto/médio prazo, isto é, viabilizar a sobrevivência do governo Netanyahu. E uma dimensão estrutural condicionada pelo tabuleiro das grandes potências: de um lado, China e Rússia, que precisam preservar o regime iraniano, sob pena de verem seus principais projetos serem criticamente enfraquecidos, ou mesmo inviabilizados; de outro, os EUA e seus aliados, que enxergam na fragmentação do Irã, à semelhança do que já fizeram na Líbia e na Síria, uma oportunidade para dar um golpe poderoso no bloco eurasiano que contesta sua hegemonia. 

<><> A estratégia deve ser racional 

E o que podemos prospectar acerca dos próximos movimentos nesse tão complexo quanto perigoso tabuleiro? À medida que as opções diplomáticas vão se esgotando, nos aproximamos de outra famosa anedota da Antiguidade, aquela sobre César diante do Rubicão. Chegaremos ao ponto de cruzar o rio, isto é, passaremos do ponto sem retorno? 

Objetivamente, o ataque israelense, com o apoio de Trump, “forçou a mão” dos EUA ao criar um fato consumado – especialidade da doutrina sionista. A posição institucional do governo Trump, marcado por muitas ambiguidades, também produz muita instabilidade. O movimento MAGA – Make America Great Again – tem profundas divisões sobre essa guerra, assim como o restante da comunidade estadunidense. Israel tem sido um aliado difícil de controlar, e Trump, um presidente. O discurso isolacionista pré-campanha, ao que tudo indica, era uma cortina de fumaça para escalar a reação à perda de influência dos EUA, aliado à radicalização do expansionismo sionista, o que não é necessariamente uma descontinuidade com os governos anteriores em Washington. Pelo contrário. 

Uma escalada mais crítica, agora, depende do que os parceiros estratégicos do Irã, duas potências nucleares em queda de braço com os EUA, irão fazer. O cálculo não é simples: Rússia e China precisam projetar força suficiente para segurar “a porta” que Trump e Netanyahu tentam arrombar, mantendo, ao mesmo tempo, a distância necessária para não escalar diretamente contra os EUA. Se os agressores seguirem o curso de uma guerra total contra o Irã, como sinaliza o discurso sobre “mudança de regime” em Teerã, essa conta pode ficar difícil de fechar. 

O que está em curso é um antagonismo irredutível. O momento é mais perigoso que outros, como a famosa “crise dos mísseis” em 1962, porque, naquela ocasião, a saída diplomática sempre esteve à vista – a retirada dos mísseis russos de Cuba, algo com o que Moscou poderia acatar e viver. Além disso, o episódio foi conduzido por dois homens de Estado, que tiveram prudência para negociar. Agora é bem diferente e a destruição do Irã seria uma derrota estratégica para Rússia e China em seu espaço vital, dando aos EUA e Israel uma porta aberta para imperar sobre o Oriente Médio e além. 

A dissuasão nuclear, que debelou as crises da Guerra Fria, segue como aposta razoável para conter uma escalada terminal. Afinal, o único uso racional para os arsenais nucleares é dissuasório. Mas a razão não é uma força demiúrgica. É um dever ser. Quando Clausewitz afirma que a guerra é a continuação da política por outros meios e sugere que ela é, portanto, racional, ele não está dizendo que ela é racional aprioristicamente, mas que a razão deve ser perseguida pela política, dentro ou fora da guerra, de modo a atingir objetivos coerentes com os interesses nacionais. E foi o mesmo Clausewitz que introduziu na análise da guerra fatores imponderáveis, como a psicologia humana, sujeita à genialidade, mas também à paixão. Em seu modelo teórico, a paixão está mais associada ao povo, mas nada impede que ela alcance o nível político e estratégico. Embora esta não seja a orientação normativa do seu modelo, é sempre uma possibilidade histórica. Afinal, pessoas estão sujeitas a atitudes passionais, irracionais, sejam soldados ou chefes de Estado. Por isso, talvez seja o caso de revermos o clássico de Stanley Kubrick, “Dr. Strangelove”, com máxima atenção. 

 

Fonte: Por João Rafael Morais, no Le Monde

 

Nenhum comentário: