sábado, 28 de junho de 2025

O perigo silencioso do mofo: por que ele surge na cozinha e como evitar a contaminação

O mofo está praticamente em toda parte. Uma categoria extremamente diversificada de fungos, os bolores se reproduzem liberando nuvens de esporos microscópicos – partículas semelhantes a sementes que podem pousar e se desenvolver em praticamente qualquer lugar com água, alimentos e oxigênio.

As cozinhas das casas, sem surpresa, são uma fonte para todas essas situações que criam mofo. Se você já notou um pouco de algo preto na borda do seu liquidificador ou no canto traseiro da sua geladeira, você não está sozinho. Graças às condições úmidas e ao fluxo constante de alimentos, o mofo na cozinha é uma parte inevitável da vida.

Embora pequenas quantidades provavelmente não causem impactos à saúde, alguns tipos de fungos de mofos podem induzir reações alérgicas sérias ou, em casos extremos, produzir efeitos tóxicos agudos. Mas a higiene adequada da cozinha evitará os piores acidentes com mofo. Os especialistas oferecem dicas para encontrar, remover e evitar completamente o fungo.

•        Onde o mofo se esconde em nossas cozinhas?

Como outros micróbios, os fungos não são muito exigentes quanto ao local onde crescem. “Teoricamente, não há realmente nenhuma superfície em que os micróbios [como o mofo] não cresçam”, diz Jordan Peccia, professor e presidente do departamento de engenharia química e ambiental da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

Segundo ele, do plástico à madeira e ao aço, “se houver umidade, eles encontrarão um caminho”.

Ainda assim, alguns pontos são particularmente propícios ao crescimento de mofos. Peccia aponta para partes da cozinha que são molhadas regularmente, mas nem sempre são usadas ou limpas – como as máquinas de café.

“Se você tem uma cafeteira e a coloca para funcionar, mas não a limpa todos os dias... O mofo crescerá nela”, afirma o professor. “O mesmo acontece com a vedação de um liquidificador, qualquer coisa que esteja constantemente molhada.”

As geladeiras são um terreno particularmente fértil para o mofo, de acordo com Don Schaffner, presidente do departamento de ciência de alimentos da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, Estados Unidos. “A junta da geladeira é um bom local para mofo porque pode acumular umidade”, diz ele.

Outros pontos críticos incluem a gaveta de produtos frescos, como legumes e verduras ou o canto traseiro onde os condimentos podem ter vazado. Um estudo de 2014 constatou um crescimento significativo de mofo e outros micro-organismos em refrigeradores, principalmente na prateleira inferior.

Os alimentos são a maior fonte de mofo na cozinha. Embora produtos como frutas frescas, queijos macios e pães sejam o terreno ideal para o crescimento de mofo, até mesmo quantidades microscópicas de alimentos – como respingos de café e resíduos de potes de geleia com vazamento – podem sustentar colônias de fungos.

“Qualquer lugar em sua cozinha que possa ter alimentos presos e que possa adquirir umidade do ar ou dos alimentos, e assim, qualquer um desses tipos de lugares pode acumular mofo”, explica Schaffner.

Outros utensílios de cozinha também favorecem o crescimento de mofo. “Há muitos fungos que vivem em nossas máquinas de lavar louça”, diz Joan Bennett, professora de biologia vegetal e patologia da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos. Pesquisas demonstraram que uma série de espécies de mofo (e outros fungos) pode colonizar as máquinas de lavar louça, apesar das temperaturas e da umidade extremamente altas.

Não são apenas as superfícies sólidas que são propensas ao crescimento de mofo: panos de prato e tapetes de chão também são propensos ao mofo. Parte do perigo é que o mofo em tapetes de chão pode ser difícil de detectar, ao contrário do que ocorre em uma parede branca ou prateleira de plástico. Da mesma forma, os panos de prato, se usados com frequência e deixados úmidos, podem desenvolver colônias de mofo, leveduras e bactérias.

Embora Schaffner nunca tenha visto mofo visível em esponjas – que, como as tábuas de corte e os cabos da pia, são muito frequentadas e propícias à proliferação de bactérias –isso não significa que o mofo não possa crescer nelas.

“As esponjas retêm água; as esponjas podem conter restos de alimentos”, comenta ele. “Sabemos, com base em pesquisas publicadas, que provavelmente um dos lugares mais sujos da cozinha é a esponja de cozinha.”

•        Como evitar e tratar o mofo na cozinha

A maior parte do crescimento de mofo pode ser evitada simplesmente mantendo uma cozinha limpa e seca.

“O principal é manter a umidade baixa”, diz Peccia, acrescentando que, como regra geral, “o mofo não cresce em uma superfície seca”. Fique atento à condensação, limpe derramamentos de água e vazamentos, remova a poeira e os detritos das superfícies. Ele recomenda desumidificadores e ar condicionado para residências em ambientes particularmente úmidos.

Embora não exista uma recomendação rígida sobre a frequência de limpeza da geladeira e de outras superfícies da cozinha, Schaffner sugere que, em geral, uma frequência entre semanal e quinzenal é adequada.

Quanto às toalhas e esponjas, o mais importante é reduzir o acúmulo de umidade e trocá-las com frequência. “Deixe suas esponjas secarem”,comenta Schaffner. “Se elas estiverem no fundo da pia com um pouco de água, eu as enxáguo, espremo e as coloco no ralo da louça em um local onde possam secar.”

Quer fazer uma higienização rápida da esponja? Schaffner aconselha jogá-las na máquina de lavar louça ou colocá-las no micro-ondas em uma tigela com água.

Ainda assim, vazamentos e derramamentos podem passar despercebidos, e a colônia ocasional de mofo é inevitável. Então, o que acontece e o que fazer quando você percebe uma mancha de aparência suspeita?

Como regra geral, os especialistas em segurança alimentar recomendam jogar fora os alimentos úmidos, como queijo brie, iogurte, homus e frutas vermelhas, quando o mofo aparecer. Alimentos mais densos e secos, como queijos duros ou cenouras, podem ser recuperados com segurança após o corte do mofo, além de um centímetro extra.

Quando se trata de superfícies mofadas, como bancadas e prateleiras de geladeiras, Schaffner recomenda lavá-las com água e sabão antes de desinfetá-las com alvejante. “O alvejante é um desinfetante tremendamente eficaz”, diz ele, enfatizando que primeiro é preciso lavar as macro e micropartículas. “Não é possível higienizar uma superfície suja.”

Mas remover o mofo é apenas metade da batalha. Onde há mofo, há umidade; onde há umidade, é provável que haja mais mofo. Como diz Peccia: “Você está consertando o sintoma, mas não está cuidando do problema real”. Ele recomenda identificar a fonte do mofo – um vazamento de água, alimentos apodrecidos, uma vedação de geladeira quebrada – e tentar consertá-la.

O mofo geralmente não é um problema a menos que persista, revela Schaffner. Embora alguns fungos liberem compostos tóxicos chamados micotoxinas, outros são inofensivos. E pequenas quantidades de mofo geralmente não são motivo de alarme.

“Os fungos fazem parte do aerossol normal”, diz Bennett. “Nosso ar está cheio de micróbios e as superfícies também.” Às vezes, com toda a ênfase na erradicação de micróbios, ela acrescenta, “esquecemos que uma enorme quantidade de vida microbiana é normal e boa”.

•        Estes são os fungos mais perigosos para os humanos

Alguns tipos de fungos são considerados uma grande ameaça à saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estes seres, que têm um reino biológico próprio, são causa crescente de infecções e estão ficando cada vez mais resistentes aos tratamentos.

No mundo todo, os fungos são responsáveis pela morte de 1,7 milhão de pessoas ao ano, de acordo com a OMS. Além disso, também causam mais de 150 milhões de infecções graves, que geralmente afetam pacientes internados em hospitais ou indivíduos com imunidade comprometida (idosos, pessoas que fizeram transplantes ou estão em tratamento contra o câncer, por exemplo), esclarece a OMS.

A OMS lançou, em 2022, uma lista com os fungos que mais ameaçam a saúde humana e que devem ser prioridade para a pesquisa e desenvolvimento de novos tratamentos.

>>>>> Fungos que mais ameaçam a saúde pública

No documento,  os fungos foram divididos em três grupos de prioridade: crítica, alta e média. Entenda um pouco mais sobre os patógenos classificados como críticos, os mais perigosos para a humanidade no momento:

<><> Aspergillus fumigatus

Presente no ar, no solo e nas mucosas nasais de animais e humanos, é um dos fungos mais encontrados em hospitais. A principal porta de entrada do fungo no organismo é por inalação dos esporos, que podem seguir para o pulmão e corrente sanguínea. 

A infecção por este fungo, chamada de aspergilose, é uma doença oportunista, ou seja, se desenvolve em indivíduos com a imunidade reduzida. Por isso é um dos fungos mais perigosos em hospitais. Os sintomas mais comuns da aspergilose são tosse persistente com presença de catarro ou sangue, dificuldade ao respirar, dor no peito, febre acima de 38°C e perda de peso. Em casos extremos pode levar à morte.

<><> Candida albicans

Vive em nosso organismo sem causar nenhum problema e é comumente encontrada no intestino, na boca, nos órgãos sexuais e na pele. Mas, quando a imunidade baixa, esse fungo gera infecções como a candidíase vaginal. Em pessoas imunocomprometidas, o fungo pode causar fibrose pulmonar e tumores benignos.

<><> Cryptococcus neoformans

Este fungo é encontrado em solo com fezes de pássaros, principalmente de pombos. A forma de contágio é por inalação dos esporos, e os sintomas associados são dores de cabeça e confusão, tosse, peito dolorido e feridas na pele.

Além disso, o fungo também pode causar infecção no cérebro, o que pode levar à morte. Este fungo é encontrado no mundo todo e é um dos microrganismos que mais causam doenças em pessoas com HIV/Aids. Cerca de  180 mil óbitos por ano são atribuídos a este fungo, segundo a OMS.

<><> Candida Auris

Segundo a OMS, este fungo se mostra resistente aos antifúngicos comuns, sendo classificado como um superfungo, por isso, gera uma grande preocupação. Além da resistência medicamentosa, o C. auris apresenta tolerância a temperaturas elevadas de 37°C a 42°C e pode sobreviver fora do hospedeiro humano por longos períodos de tempo, o que potencializa a capacidade de transmissão.

Este fungo é responsável por infecções sanguíneas que podem ser fatais. Ele habita principalmente o ambiente hospitalar, onde tem potencial de se espalhar rapidamente e provocar surtos com altas taxas de mortalidade, podendo chegar a 60%, segundo a OMS.

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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