Adhemar
Bahadian: Desrespeito ao Poder Judiciário é moeda corrente nos regimes
autoritários
Tenho a
ligeira sensação de que o nevoeiro se dissipa. E, aos poucos, a insânia se
revela em toda sua impregnada ilusão, em todo seu delírio de grandezas
imaginadas e insustentáveis à luz do bom-senso mais elementar.
A tal
ponto que já se torna corriqueira a sensação de que não há lideranças
consensuais e as linhas de comunicação se cruzam entre o real e o fantástico. E
a cada dia que passa se espalha a certeza de que algo de muito doentio brota do
espetáculo cotidiano de guerras que se iniciam com o mesmo absurdo com que nos
querem convencer de que elas são vencidas ou perdidas numa espiral de notícias
contraditórias.
De útil e até elucidadora, apenas a saída do proscênio do homem dos bilhões,
afastado depois de provocar incessantes sobressaltos lá e aqui. Elucidadora
sobretudo na ânsia com que revelou, voluntária ou involuntariamente, a
estratégia do mergulho no absurdo da geopolítica da cobiça argentária
essencialmente acumulativa e insaciável.
Não à
toa se aprofundam as análises de um neofeudalismo a rondar o capitalismo
pós-globalização em direção a um regime econômico em que o “hegemon” se vale da
astúcia da desvalorização da própria moeda como sorvedouro de injeções maciças
de investimentos.
Uma
resultante possível da aparentemente tresloucada política de tarifas
alfandegárias inimagináveis.
Varoufakis,
o grego, nos elucida no Youtube e, de quebra, nos explica o porquê de o
calcanhar de Aquiles de Trump ser a própria contradição entre o que o MAGA
promete e o que não conseguirá cumprir.
Elucidativas
também as análises de Obama e de Jeffrey Sachs, igualmente disponíveis nas
redes, sobre o impacto do neoliberalismo no imoral desnível social trazido pelo
abandono das regras e regulamentos que durante anos impediram o avanço
antropofágico do capital monopolizador.
A
desregulação dos mecanismos de proteção social acompanhada de politicas de
redução do imposto de renda de grandes empresas e de bilionários na hipótese de
que reverteriam no bem-estar social mostraram-se, ao contrário, regressivas com
impacto relevante sobre a classe média e a classe assalariada em geral.
Nesta
hora, é sempre bom lembrar de Milton Friedman, quando não escondia ser o único
objetivo social da empresa dar lucro a seus acionistas. Lição que,
infelizmente, não absorvemos.
Mas o
que estamos a presenciar de mais grave e assustador hoje em dia é a tendência
de vários segmentos sociais que, ao contrário de se mostrarem fartos desta
espiral do canibalismo econômico e social, pretendem aprofundar ainda mais a
alienação em que nos encontramos.
E da
desregulamentação econômica se passa gradualmente ao desprezo e ao abandono de
conquistas seculares da humanidade como o respeito ao Direito Internacional,
aos Direitos Humanos, à integridade territorial, à soberania dos Estados e à
lei em geral.
A
primeira vítima nesta guerrilha é a Democracia, o respeito aos poderes
constituídos e a solerte ideologia que só a autarquia, a ditadura, o despotismo
seria capaz de reduzir a insânia econômico-social que estamos a presenciar.
A
crescente repulsa da sociedade brasileira aos movimentos de antagonismo do
Congresso Nacional, sobretudo os derivados da absurda insistência de
congressistas em não reconhecer a inaceitável insistência em que bilhões de
reais possam ser distribuídos como emendas parlamentares, sem transparência nem
rastreabilidade, tende a produzir o fenômeno mais importante deste ano. E
certamente das eleições para a renovação do Congresso em 2026.
Mais
absurda ainda é a suposta tentativa de fazer com que o Senado Federal possa
rever decisões do Supremo como se não coubesse àquela Corte decidir sobre
matéria constitucional.
Na
realidade, a tendência a desrespeitar o Poder Judiciário é moeda corrente nos
regimes autoritários, a começar pela Hungria de Orban, pela Venezuela de Maduro
e talvez - que Deus nos proteja - dos Estados Unidos de Trump.
O que
mais atinge o sentimento de desamparo do povo brasileiro é saber que todas
essas firulas, todo esse debate bastardo apenas beneficiam os defensores dos
regimes de força, civis, militares ou cívico-militares que buscam na opressão
de seus povos um arremedo paspalho de paz social.
Mas,
sobre este ponto, a sociedade brasileira está mais do que escolada. Descolada.
¨ Pesquisa Datafolha
avalia "orgulho" do brasileiro pelo STF
Pesquisa
Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 27, aponta que mais da metade dos
brasileiros tem vergonha dos ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF).
Segundo o levantamento, 58% dos entrevistados dizem se envergonhar dos
ministros do Supremo, enquanto 30% declaram ter orgulho do tribunal.
O
levantamento se baseia em respostas à pergunta: "você tem mais orgulho do
que vergonha ou mais vergonha do que orgulho" de uma série de
instituições. Foram ouvidas 2.004 pessoas em 136 municípios, entre 10 e 11 de
junho. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos.
A
preferência político-partidária se mostrou relevante para a pesquisa.
Apoiadores declarados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu em
ação julgada pela Primeira Turma da Corte, que analisa sua participação em
trama golpista após as eleições de 2022, se mostraram ainda mais negativos com
relação ao STF, com 82% dos entrevistados declarando ter vergonha do Tribunal.
Já
entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 52% têm
orgulho dos ministros, enquanto 36% têm vergonha; 12% dos entrevistados não se
posicionaram.
O pior
índice para a Corte - 91% contra 5% - está entre os entrevistados simpatizantes
do PL, partido de Bolsonaro que foi alvo de uma multa de R$ 22,9 milhões por
"litigância de má-fé", após a tentativa de anular os votos de 279,3
mil urnas eletrônicas nas eleições de 2022.
Entrevistados
que declararam preferência pelo PT mostram o oposto e com uma diferença
estatística menor: 53% de orgulhosos contra 36% de pessoas que sentem vergonha
do tribunal.
A
preferência religiosa dos entrevistados também indica diferenças. Católicos têm
33% de orgulho dos magistrados, enquanto os envergonhados são 56%. No grupo dos
evangélicos, 66% dizem ter vergonha dos ministros e 22% sentem orgulho.
A
pesquisa ainda revela que, entre as pessoas que consideram o atual governo
ótimo ou bom, 57% afirmam ter orgulho do STF. Já entre os que consideram a
gestão do presidente Lula ruim ou péssima, apenas 10% sentem orgulho dos
ministros.
Os
índices de rejeição ao STF são similares aos dos outros Poderes. 56% dos
entrevistados declararam sentir vergonha do presidente Lula, 59% disseram ter
vergonha dos deputados atuais e 59% sentem vergonha dos senadores. A pesquisa
ainda apontou que 55% dos brasileiros tem mais orgulho do que vergonha dos
militares.
¨
Ação do golpe avança no STF; núcleo 1 e PGR devem
apresentar alegações finais
O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da ação
penal que investiga a tentativa de golpe de Estado — que tinha como objetivo
manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder —, encerrou nesta sexta-feira
(27/6) a fase de instrução processual e determinou a abertura das alegações
finais das partes do núcleo 1 da trama golpista. Nesta etapa, a
Procuradoria-Geral da República (PGR) devem apresentar as últimas considerações
antes do julgamento final do caso.
Agora,
o procurador-geral da República, Paulo Gonet, terá 15 dias para apresentar as
conclusões e informar à Suprema Corte se a PGR vai pedir a condenação dos 8
réus do primeiro grupo do plano criminoso. Em seguida, a defesa do delator,
tenente-coronel Mauro Cid, terá mais 15 dias para entregar seus argumentos.
Depois,
os outros sete acusados terão mais 2 semanas para apresentar suas defesas e
alegações finais no processo. A Corte informou que os prazos não serão
suspensos durante o recesso dos ministros, que começa na próxima semana.
O
núcleo 1 é chamado de "crucial" na denúncia e abrange a cúpula do
governo Bolsonaro. A denúncia aponta o ex-chefe do Planalto como o líder da
organização. Também viraram réus na ação os ex-ministros Walter Braga Netto,
Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, além de Anderson Torres; do deputado
federal Alexandre Ramagem (PL-RJ); do ex-comandante da Marinha Almir Garnier; e
do tenente-coronel Mauro Cid.
Eles foram
acusados por organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do
Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência
e grave ameaça, contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a
vítima; deterioração de patrimônio tombado.
Após as
alegações das partes envolvidas, o ministro Alexandre de Moraes deve solicitar
que a ação penal seja incluída na pauta de julgamentos da Primeira Turma do
STF. Caberá ao presidente do colegiado, ministro Cristiano Zanin, marcar a data
para análise da acusação. Os magistrados deverão decidir pela condenação ou
absolvição dos réus.
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Tentativa de golpe
Segundo
a PGR, o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha ciência e participação ativa em uma
trama golpista para se manter no poder e impedir a posse do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
A
denúncia também destaca um plano de assassinato para matar o chefe do Executivo
eleito, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio Alexandre de Moraes.
Outra conexão é o apoio aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 — que
culminaram da depredação dos prédios dos três Poderes — como a última cartada
do grupo criminoso.
Bolsonaro
teve participação direta na tentativa de golpe, segundo a Polícia Federal.
"Planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva" dos atos
que levariam ao golpe de Estado, que não se consumou por "circunstâncias
alheias à sua vontade”.
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Trama golpista: testemunhas do núcleo 2 serão ouvidas a
partir de 14 de julho
O
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), agendou para a
partir de 14 de julho os depoimentos das testemunhas do núcleo 2 da trama
golpista para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. Um dos primeiros
a depor será o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência.
Ele foi arrolado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que faz a
acusação, por estar na condição de relator.
Segundo
a denúncia, o grupo 2 era responsável por gerenciar as ações da organização
criminosa para manter Bolsonaro no poder. Fazem parte do núcleo: Filipe Martins
e Marcelo Câmara, ex-assessores do ex-presidente; Silvinei Vasques (ex-diretor
da Polícia Rodoviária Federal); Mário Fernandes (general do Exército); Marília
de Alencar (ex-subsecretária de Segurança do Distrito Federal) e Fernando de
Sousa Oliveira (ex-secretário-adjunto de Segurança do Distrito Federal).
As
testemunhas poderão ser ouvidas até 21 de julho, políticos e militares
indicados pelos réus serão ouvidos por videoconferência. Mauro Cid foi agendado
para 14 de julho, às 9h. Em 16 de julho, serão ouvidas as testemunhas indicadas
por Filipe Martins, entre elas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), o
vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O
general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e o tenente-brigadeiro do ar,
Baptista Júnior, ex-chefe da Aeronáutica, também foram chamados pelo
ex-assessor.
Os
depoimentos serão conduzidos por juízes-auxiliares do gabinete de Moraes, como
é padrão nas ações penais do STF, por videoconferência. As defesas dos réus e
os representantes da PGR terão direito de acompanhar e fazer questionamentos. O
ex-presidente Jair Bolsonaro também havia sido indicado pela defesa de Filipe
Martins, mas o depoimento não foi autorizado por Alexandre de Moraes, pois ele
é réu na trama golpista.
Fonte:
JB/Correio Braziliense

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