Citações
ao Congresso crescem nas redes sociais; 92% são de críticas: ‘inimigo do povo’
A
julgar pelos debates verificados nas redes sociais, a população brasileira não
está nada satisfeita com o trabalho dos deputados e senadores no Congresso.
Levantamento feito pelo analista de redes Pedro Barciela mostra que as menções
aos parlamentares estão em alta nas plataformas digitais. Enquanto somaram 2,2
milhões em abril e 2,5 milhões em maio, as citações aos políticos já atingiram
3 milhões antes de completar junho. A maioria absoluta são críticas.
Segundo
Barciela, 92% dessas ocorrências são negativas. “Principalmente por medidas
impopulares, gastos públicos excessivos, percepção de conivência, alinhamento
com interesses de elites econômicas e o mote ‘Congresso inimigo do povo'”,
explica ele.
A
chantagem que deputados e senadores têm feito sobre o Executivo não tem sido
bem recebida.
“A alta
das críticas está atrelada à percepção de que o Congresso está orientado a
funcionar única e exclusivamente com o objetivo de pressionar o governo”,
analisa Barciela. “Os dois pontos que mais se destacaram esse mês entre as
menções ao Congresso foram o aumento da conta de luz na derrubada de veto
presidencial (34% das ocorrências) e o aumento no número de deputados e custos
públicos (23% das ocorrências)”.
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“Erro de cálculo do Congresso”
Os
comentários sobre a derrubada do decreto do IOF, ocorrida na quarta-feira (25),
ainda estão em segundo plano.
“Tem um
erro de cálculo aqui do Congreso que me parece ou empáfia ou erro crasso, que
foi misturar no mesmo dia a questão do imposto com o aumento do número de
deputados”, constata.
É
difícil estabelecer de onde parte a maioria das menções negativas. Um dado
preocupante para os congressistas é que as críticas não vêm somente de
militantes em defesa do governo, mas de internautas de várias vertentes
ideológicas.
“É
possível garantir que hoje o governo e o campo governista não teriam força nas
redes para mobilizar uma ação com essa. As críticas aparecem desde atores de
esquerda, claro, mas se ampliam para um espectro mais antibolsonarista e até
mesmo entre atores próximos ao bolsonarismo”, analisa.
Os
sinais não são nada bons para deputados e senadores. “Principalmente porque
perante a opinião pública não tem absolutamente ninguém em defesa do Congresso
nesse momento”, diz Barciela.
• Congresso derruba reajuste de IOF para
obrigar governo a cortar recursos de saúde e educação
Cerca
de duas horas após ter sido derrubado em votação na Câmara dos Deputados, o
decreto do governo federal que aumentava alíquotas do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) também foi rejeitado em votação simbólica no plenário do
Senado Federal, que aprovou um projeto de decreto legislativo (PDL) revogatório
da medida até então em vigor.
As duas
votações representam uma derrota política para o governo, que agora precisará
definir outras formas de arrecadar ou economizar R$ 20,5 bilhões para cumprir a
meta fiscal do orçamento de 2025. Isso porque o governo já bloqueou ou
contingenciou outros R$ 31,3 bilhões em despesas deste ano.
A
votação foi conduzida pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União
Brasil-AP), que pautou o decreto logo após a decisão dos deputados.
Segundo
o líder do governo no Senado, Jacques Wagner (PT-BA), o decreto editado pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia sido fruto de um acordo político
envolvendo os líderes do governo com os presidentes da Câmara e do Senado, e já
esvaziava o alcance de uma medida anterior que havia sido revogada pelo próprio
governo para atender exigência dos parlamentares.
“Essa
Casa vive de cumprir acordos. Foi feito um acordo que está sendo descumprido.
Eu não acho isso bom para o Parlamento”, criticou Jacques Wagner.
No
Senado, todos os nove senadores do PT registraram voto contrário à derrubada do
decreto. O senador Weverton Rocha (PDT-MA) também manifestou voto contrário.
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Inclusão do IOF na pauta
A
decisão de pautar a derrubada do decreto do IOF foi anunciada mais cedo pelo presidente
da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em postagem as redes sociais.
Segundo
ele, a maioria da Câmara não concorda com elevação de alíquotas do IOF como
saída para cumprir o arcabouço fiscal e tem cobrado o corte de despesas
primárias.
Já o
governo alega que a medida é necessária para evitar mais cortes em políticas
sociais e maiores contingenciamentos que podem afetar o funcionamento da
máquina pública.
Além
disso, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, as regras do decreto
corrigiam injustiças tributárias de setores que não pagam imposto sobre a
renda.
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Mudanças
Entre
as medidas propostas no decreto, estavam o aumento na taxação das apostas
eletrônicas, as chamadas bets, de 12% para 18%; das fintechs, de 9% para 15% a
alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), igualando-se aos
bancos tradicionais; a taxação das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras
de Crédito do Agronegócio (LCA), títulos que atualmente são isentos de Imposto
de Renda.
O
decreto fazia parte de medidas elaboradas pelo Ministério da Fazenda,
juntamente com uma Medida Provisória (MP) para reforçar as receitas do governo
e atender às metas do arcabouço fiscal.
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Debate
“O
decreto do presidente da República visa fazer justiça tributária. Por mais que
se fale, todos nós sabemos que muitos enviam, às vezes, dinheiro para o
exterior, ou gastam dinheiro no exterior, fugindo do pagamento do IOF. E a
ideia do governo era evitar essas fugas”, argumentou Jacques Wagner, líder do
governo, durante a discussão da matéria no plenário do Senado.
Já o
relator do PDL em plenário, senador Izalci Lucas (PL-DF), leu um parecer
contrário ao aumento no IOF. Segundo o parlamentar, a medida afetaria micro e
pequenas empresas, operações de câmbio, atividades de seguradoras e entidades
de previdência complementar. Além disso, ele afirmou que a medida fere os
princípios da legalidade tributária e da segurança jurídica.
“Por
sua natureza constitucional, o IOF deve ser utilizado com finalidade
regulatória e não como instrumento de arrecadação primária”, observou.
“O
aumento do IOF sobre operações de crédito eleva sensivelmente o custo do
capital para as empresas, especialmente as de menor porte, afetando também
consumidores que dependem de crédito pessoal e imobiliário”, acrescentou.
• Queremos acabar com transgressões
tributárias, diz Haddad
O
Brasil voltou a aparecer entre os dez países de maior desigualdade, e qualquer
tipo de ajuste de contas dentro desse cenário passa pela escolha de
prioridades, que devem se subordinar ao propósito de promover justiça social.
A
análise é do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em entrevista à Record News,
o ministro citou como exemplo o caso das casas de apostas eletrônicas, as bets,
que nos governos anteriores não recolhiam nenhum centavo aos cofres públicos.
As bets
eram livres de impostos desde o final do governo Temer, passando por todo o
governo Bolsonaro, igualando-se às Santas Casas. Nesse sentido, a medida
provisória enviada ao Congresso pretende retomar a proposta originária, do
atual governo, de 12% para 18% sobre saldo não rateado entre os apostadores.
“Entre
a bet e Santa Casa, vamos combinar, um está destruindo vidas, a outra está
construindo vidas. Você vai isentar os dois? Isenta a Santa Casa e cobra o
imposto de bet”, ressaltou o ministro.
“No
governo anterior, deixou-se de arrecadar R$ 40 bilhões das bets. Nós passamos a
cobrar. Mas nós queríamos cobrar 18%. O Congresso baixou para 12%. Nós, pela
medida provisória, estamos voltando a cobrar 18% (…)”, explicou.
Haddad
trata da importância de se chegar a um acordo com o Congresso para que o andar
de cima pague no mínimo o mesmo imposto pago pelo brasileiros mais pobres, e
ressalta que todos os poderes e governantes devem ser críticos à criação de
novos gastos que não sejam imprescindíveis, como a ampliação do número de
deputados.
“O
aumento do número de deputados é imprescindível? Tem a ver com a saúde da
população? Tem a ver com a catástrofe, como aconteceu no Rio Grande do Sul? Nós
poupamos dinheiro no Rio Grande do Sul? Não. Nós estamos diante de uma
emergência? Essa é a pergunta que tem que ressoar na cabeça de todo político.
Não importa se você é prefeito, governador, presidente, ministro, deputado,
senador”, pondera Fernando Haddad.
• Mais de 60% dos votos a favor da
derrubada do decreto do IOF vieram de partidos com ministérios
A
derrubada do decreto presidencial que reajustava o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) no plenário da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (25),
evidenciou a falta de apoio do governo no Congresso. Ao todo, foram 383 votos
favoráveis à anulação do texto editado pelo Planalto. Desses, 241 partiram de
apenas sete partidos, legendas que ocupam ministérios no governo Lula. O dado,
que representa 62,9% dos votos “Sim”, escancara a fragilidade da base aliada e
a dificuldade do Executivo em exercer controle sobre as legendas que
formalmente compõem a coalizão governista.
A atual
composição ministerial inclui União Brasil, MDB e PSD. PP, Republicanos, PSB e
PDT. Esses partidos, embora estejam à frente de estruturas estratégicas da
administração federal, não demonstraram fidelidade ao governo durante a
votação. A debandada de votos indica que a ocupação de cargos na Esplanada não
tem garantido a esperada reciprocidade legislativa.
Juntas,
essas sete siglas governistas somaram mais votos favoráveis ao projeto do que
toda a oposição tradicional, incluindo PL e Novo. O Partido Liberal, maior
legenda da oposição, liderou individualmente com 88 votos favoráveis, mas a
amplitude dos votos pró-derrubada entre os partidos governistas foi ainda mais
impactante.
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Quem se opôs à derubada do decreto do IOF
Partidos
da base programática do governo, como PT, PCdoB, PSOL e Rede, mantiveram
posição firme e coesa contra a proposta. Entre eles, houve orientação expressa
do Palácio do Planalto, que foi seguida por praticamente todos os
parlamentares. Ainda assim, a fidelidade dos partidos ideologicamente próximos
ao governo não foi suficiente para barrar a articulação oposicionista e
dissidências internas.
A crise
de articulação política ganhou contornos ainda mais evidentes nas horas que
antecederam a votação. Parlamentares relataram falta de mobilização do governo
e ausência de coordenação para reaglutinar votos. Integrantes do próprio
governo admitiram que houve um erro de cálculo na avaliação da base,
subestimando a capacidade de mobilização da oposição e a independência dos
partidos aliados.
No caso
do PSB, que detém duas pastas ministeriais e integra o núcleo histórico da
frente ampla que elegeu Lula, houve divisão de votos. Isso foi interpretado
como mais um sinal de desgaste e perda de capacidade de comando político por
parte do Planalto. A ausência de punição para parlamentares infiéis em votações
anteriores também pode ter contribuído para a sensação de liberdade de atuação
entre os deputados desses partidos.
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Revisão da base do governo
Outro
elemento determinante para o resultado foi a composição das bancadas. Siglas
como PL, Republicanos, PP e União Brasil concentram um grande número de
deputados com origem militar, policial ou ligados a forças de segurança. Esses
segmentos possuem resistência histórica a propostas que envolvam aumento de
arrecadação ou maior controle fiscal. A percepção entre esses parlamentares é
de que o decreto traria impactos econômicos negativos sobre setores
estratégicos que eles dizem representar.
Parlamentares
governistas e interlocutores do Palácio afirmaram, em caráter reservado, que o
episódio deve servir como ponto de inflexão na relação com a base. A ideia é
revisar a estratégia de distribuição de cargos e fortalecer mecanismos de
controle e fidelização, inclusive por meio de emendas parlamentares e outras
formas de barganha política. O desafio, no entanto, reside em encontrar um
equilíbrio entre a governabilidade e a fragmentação partidária cada vez mais
evidente.
A
votação revela, na prática, uma base governista fraturada, onde a ocupação de
ministérios e a participação formal no governo não têm se traduzido em apoio
parlamentar efetivo. O Planalto terá que reconstruir pontes, redefinir
prioridades e investir pesado em articulação para evitar novas derrotas em
temas centrais da agenda do Executivo.
Com a
proximidade de votações importantes no Congresso, como a reforma tributária e
pautas relacionadas à sustentabilidade fiscal, a instabilidade na base acende
um sinal de alerta. A fidelidade não pode ser apenas declaratória; ela precisa
se materializar no painel eletrônico do plenário.
• Gilmar manda ação sobre aumento do IOF à
presidência do STF
Por
enxergar risco de decisões contraditórias, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo
Tribunal Federal, decidiu encaminhar ao presidente da Corte, ministro Luís
Roberto Barroso, a ação direta de inconstitucionalidade em que o Psol questiona
a decisão do Congresso Nacional de derrubar o decreto presidencial que elevou o
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Segundo
Gilmar, o envio da ação à presidência da corte é necessário porque há
“coincidência parcial” entre o tema da ADI ajuizada pelo Psol e o de uma outra
ação direta, protocolado pelo PL e relatada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Tal situação, explica Gilmar, atrai a regra do Regimento Interno do Supremo que
determina que ADIs que tratem da mesma questão devem ser analisadas por um
único ministro.
O
decano do STF destaca que o próprio Psol apontou que os decretos presidenciais
derrubados pela decisão do Congresso Nacional foram questionados na ação direta
de inconstitucionalidade distribuída a Moraes, “sendo certo que existe um
‘mesmo complexo fático e normativo”.
Na
ação, o Psol argumentou também que a decisão do Congresso Nacional usurpou a
competência privativa do presidente da República, ultrapassando os limites
constitucionais estabelecidos para o Poder Legislativo.
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Limites do poder
Gilmar
observou ainda que a análise da controvérsia passa também pela apreciação do
próprio conteúdo dos decretos editados pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, “na medida em que, tal como assinalado pelo eminente e sempre ministro
Celso de Mello, se faz indispensável ‘verificar se os atos normativos emanados
do Executivo ajustam-se, ou não, aos limites do poder regulamentar ou aos da
delegação legislativa’”.
A
partir dessa análise, prossegue Gilmar, seria possível verificar se, por sua
vez, o Legislativo agiu dentro dos limites da Constituição ao sustar a eficácia
de atos do presidente.
“Em
outras palavras, revela-se indispensável, para deslinde da presente
controvérsia, examinar o próprio conteúdo dos Decretos 12.466/2025, 12.467/2025
e 12.499/2025, delineando se o presidente da República exerceu seu poder dentro
dos limites regulamentares ou da delegação legislativa, para, na sequência,
analisar se o procedimento suspensivo do Parlamento encontra amparo no texto
constitucional”.
Gilmar
observou ainda que, caso se entenda que não há coincidência parcial entre os
pedidos feitos pelas siglas, pode haver, porém, o risco de que a corte profira
decisões contraditórias no âmbito da mesma discussão. Daí a necessidade de que
os dois processos sejam reunidos para julgamento por um único magistrado.
“Ante o
exposto, entendo necessário o encaminhamento dos autos à Presidência desta
Corte, para que, se entender cabível, determine a sua redistribuição”, concluiu
Gilmar.
Fonte:
ICL Notícias /Jornal GGN/Conjur

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