segunda-feira, 30 de junho de 2025


 

Após ataques, Irã deve modernizar inteligência e defesa aérea, avaliam especialistas

O cessar-fogo iniciado na última terça-feira (24/06) significou uma pausa no conflito entre Israel e Irã, mas a possibilidade dos dois países voltarem a trocar agressões continua latente, já que o governo de Tel Aviv afirmou que insistirá em atacar o que chama de “ameaça nuclear iraniana”. Para evitar que uma futura ofensiva tenha impacto contra importantes estruturas, o governo iraniano deveria modernizar seu sistemas de inteligência e defesa aérea, segundo a avaliação de especialistas consultados por Opera Mundi.

Segundo o cientista político e professor de Relações Internacionais Bruno Lima Rocha, a doutrina iraniana dá preferência para a defesa anti-aérea e preserva seus caças. “Existem uns 50 MIG, dos quais 29 estão operacionais, e o país espera receber em breve novos caças de padrão chinês (via Paquistão) ou russos, mas isso precisa ser reforçado”, disse.

Outro ponto importante que o Irã pode desenvolver melhorias é a sua capacidade de abastecer o arsenal de ataque, no mesmo nível do seu principal inimigo.

“No confronto com as forças de Israel, o Irã tem um problema, porque o volume de bombas que os Estados Unidos entregam a Tel Aviv é infindável. Desta forma, uma guerra de atrito necessita de uma linha fixa de rearmamento, financiada com o petróleo vendido para a China. No médio prazo, a defesa aérea sionista perde, o Domo de Ferro não aguentaria mais uma semana. A população sionista é estrangeira em sua maioria e sai fugindo do país. Essa crise pode gerar ingovernabilidade”, analisou Lima Rocha.

<><> Pugilista

jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em Relações Internacionais e responsável pelo site Arsenal Geopolítica e Defesa, acredita que o Irã deverá fazer uma reavaliação de decisões que favoreceram Israel durante a primeira agressão lançada pelas forças do país sionista, em 13 de junho.

“O Irã mostrou nesta guerra que é como um pugilista com pouca capacidade de defesa. Quando ele dá um soco é um soco pesado, machuca o adversário, mas quando toma um soco ele sente muito o golpe”, analisou o especialista.

No entanto, Rezende recordou que “há alguns anos, a Rússia ofereceu ao Irã a modernização do sistema de defesa antiaérea e o país não aceitou, e a oferta incluía radares capazes de ver além do horizonte, incluía mísseis mais modernos, aviões de caça mais modernos, e a avaliação da Guarda Revolucionária foi de que isso tudo era dispensável”.

“Teerã deve modificar esse pensamento e reforçar o seu poderio aéreo o antes possível, assim poderá enfrentar Israel de igual para igual”, avaliou.

<><> Reforçar inteligência

Outro ponto destacado pelos especialistas foi a questão da inteligência, já que aquela primeira agressão israelense, em 13 de junho, foi realizada graças à atuação de diversos agentes do país infiltrados no território iraniano.

Para Pedro Paulo Rezende, a capacidade de inteligência do Irã “já foi muito boa”, mas desta vez falhou, e ampliar isso vai ser uma tarefa complexa.

“O Irã tem que lidar com diferentes problemas para, por exemplo, impedir a entrada de agentes estrangeiros em seu território. É um país de grande dimensão, com fronteiras terrestres muito extensas e, portanto, é vulnerável. A melhor coisa que faz é interferir eletronicamente dentro da inteligência israelense”, comentou o jornalista.

Rezende recordou que, no passado, durante a invasão de Israel ao Líbano, em 2008, a inteligência iraniana foi capaz de se infiltrar dentro da inteligência israelense e definir as rotas de ataque, “o que causou perdas bastante significativas às forças de Israel”. Segundo ele, o país teria condições de recuperar a capacidade de inteligência que demonstrou naquela ocasião.

Já Bruno Lima Rocha acredita que “se não fossem as infiltrações israelenses, o primeiro ataque aéreo teria surtido menos efeito e os físicos nucleares não teriam morrido”.

“O principal problema a ser solucionado é o de ampliar o controle nas fronteiras e nas relações intra familiares de nativos falantes de farsi (o idioma oficial do país) e idiomas regionais, especialmente nas regiões de maioria balochi, azeri e curda”, acrescentou o acadêmico.

Para Lima Rocha, “vigiar não é o suficiente, é preciso aumentar canais de interlocução interétnica e ampliar a penetração da estratégia nacional dentro do dia a dia das famílias”.

<><> Danos sofridos

Com relação aos custos em termos estruturais que a guerra trouxe ao Irã, especialmente após o ataque norte-americano às instalações nucleares, no último domingo (22/06), Rezende acredita que “ainda não é possível avaliar a dimensão dos danos sofridos”. “O que eu sei é que as estruturas de pesquisa nuclear iranianas são muito bem protegidas, mas não saberia afirmar o que foi atingido e o que não foi”, frisou.

Por sua parte, Lima Rocha afirmou que “ao que tudo indica, foram estragos capazes de serem reparados, e o material mais sensível teria sido retirado antes do ataque”.

Ele também ressalta que a usina de Busher, que é uma parceria com a Rússia, “parece que está intacta, e na reunião de segunda-feira (23/06), entre Putin e o chanceler (Seyed) Abbas Araqchi, um dos compromissos de Moscou foi o de ajudar a levar adiante o programa nuclear iraniano”.

¨      EUA apoiaram iniciativa nuclear do Irã e agora querem destruir, diz embaixador

O embaixador do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam Ghadirli, reforçou nesta quinta-feira (26/06) que o programa nuclear do seu país é “pacífico”, recordando que os Estados Unidos apoiavam a iniciativa nuclear iraniana e, agora, querem destruir o programa.

O programa nuclear iraniano foi lançado na década de 1950, com ajuda dos Estados Unidos, como parte do programa “Átomos para a Paz”. Após a Revolução Islâmica de 1979, episódio que derrubou a monarquia autocrática pró-Ocidente liderada por Xá Mohammad Reza Pahlevi, Washington “não deixou mais que o Irã usasse seu urânio para produção de medicamentos”.

Ghadirli realizou nesta manhã uma coletiva em Brasília na qual Opera Mundi acompanhou. O diplomata afirmou que o país concluiu de forma “honrosa” toda a conquista, “por conta própria”, da tecnologia de seu programa nuclear.

“O que devemos fazer, uma nação com 7 mil anos de civilização, nos afastar de todos os nossos direitos nucleares segundo a Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP)?”, questionou o embaixador iraniano.

Após Israel atacar o território do Irã, o governo de Donald Trump bombardeou três instalações de processamento de urânio: Fordow, Natanz e Isfahan. Desde então, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), responsável por fiscalizar o TNP, está impedida de realizar inspeções no país.

“Um dos motivos dessa suspensão é a violação de nossa integridade territorial e da segurança de nossos cientistas”, explicou Ghadirli. Ao menos 14 cientistas do programa nuclear iraniano foram mortos nos ataques de Israel contra o país.

Segundo ele, o enriquecimento de urânio no país tem objetivo medicamentoso. O processo de enriquecimento é corriqueiramente utilizado para geração de energia nuclear e, quando atinge grau superior a 90%, pode ser usado para a construção de bombas atômicas.

As inspeções da AIEA não chegaram a identificar indícios de um “programa sistemático” de produção de armas atômicas. Ainda assim, chegou a afirmar que o país persa não estava cooperando com as obrigações de não proliferação do TNP.

“Todos os armamentos que resultaram massacre e assassinato de muitas pessoas não fazem parte da doutrinada do nosso governo e da nossa ideologia”, argumentou. Isso por que, há uma lei religiosa no país que estabelece uma “visão de princípio” sobre o uso das armas nucleares

Para Ghardili, a resposta aos ataques de Israel e dos Estados Unidos é uma “lição” ao regime sionista, para que “se arrependa” e que haja “mais paz e estabilidade” na região. “Se ficamos em silêncio diante dessas violações, os resultados no futuro não serão bons”.

<><> BRICS

Ghadirli agradeceu ao Brasil por condenar os ataques de Israel e Estados Unidos contra Teerã, apontando que o objetivo do BRICS é “melhorar” a ordem internacional.

“O BRICS faz parte dessa organização mundial para melhorar a ordem junto de questões e sistemas internacionais”, declarou o embaixador Ghadirli, acrescentando que o bloco não pode ser reduzido a um emissor de “declarações conjuntas” entre países-membros, mas que a união de agendas entre países pode contribuir para mudanças na ordem mundial.

Atualmente o bloco é composto por 11 países – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e a Indonésia.

Questionando sobre a participação do presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, na Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro entre os dias 6 e e 7 de julho, ele afirmou que a informação ainda não é certa, mas está sendo planejada.

O governo brasileiro se manifestou sobre os ataques contra o território iraniano 10 dias após o início do conflito. “Qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e das normas da Agência Internacional de Energia Atômica”, disse o Itamaraty em nota.

¨      Trump ameaça bombardear o Irã novamente e descarta plano de alívio de sanções

O presidente norte-americano, Donald Trump, criticou duramente o líder supremo do Irã, Ali Khamanei, nesta sexta-feira, abandonou os planos de suspender as sanções contra o Irã e disse que consideraria bombardear o Irã novamente se Teerã estiver enriquecendo urânio a níveis preocupantes.

Trump reagiu duramente aos primeiros comentários de Khamanei após um conflito de 12 dias com Israel que terminou quando os Estados Unidos bombardearam no último fim de semana instalações nucleares iranianas.

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Khamanei disse que o Irã "deu um tapa na cara na América" ao lançar um ataque contra uma importante base norte-americana no Catar após o bombardeio norte-americano do último fim de semana. Khamanei também disse que o Irã nunca se renderá.

Trump disse que havia poupado a vida de Khamanei. Autoridades dos EUA disseram à Reuters em 15 de junho que Trump havia vetado um plano israelense para matar o líder supremo.

"Seu país foi dizimado, suas três instalações nucleares malignas foram OBLITERADAS, e eu sabia EXATAMENTE onde ele estava abrigado e não permitiria que Israel ou as Forças Armadas dos EUA, de longe as maiores e mais poderosas do mundo, acabassem com sua vida", disse Trump em uma postagem na mídia social.

"EU o SALVEI DE UMA MORTE MUITO FEIA E IGNOMINIOSA", disse ele.

Trump também disse que, nos últimos dias, estava trabalhando na possível remoção das sanções ao Irã para dar ao país uma chance de recuperação rápida. Ele disse que agora abandonou esse esforço.

"Recebi uma declaração de raiva, ódio e repulsa, e imediatamente abandonei todo o trabalho de alívio de sanções e muito mais", disse ele.

Trump disse em uma coletiva de imprensa na Casa Branca que não descartava atacar o Irã novamente quando perguntado sobre a possibilidade de um novo bombardeio às instalações nucleares iranianas, se considerado necessário em algum momento.

"Claro, sem dúvida, absolutamente", disse.

Trump disse que gostaria que inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica ou de outra entidade respeitada pudessem inspecionar as instalações nucleares do Irã depois que elas foram bombardeadas no último fim de semana.

Trump disse que acredita que as instalações foram "obliteradas". Ele rejeitou qualquer sugestão de que os danos às instalações não tenham sido tão profundos como ele disse.

Mas Trump disse que apoiaria que a AIEA, o órgão de vigilância nuclear da ONU, fosse verificar os locais que foram bombardeados.

O chefe da agência, Rafael Grossi, disse na quarta-feira que garantir a retomada das inspeções da AIEA era sua principal prioridade, já que nenhuma havia sido realizada desde que Israel começou a bombardear o Irã em 13 de junho.

Mas o Parlamento do Irã aprovou na quarta-feira medidas para suspender essas inspeções. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, indicou nesta sexta-feira que Teerã pode rejeitar qualquer pedido do chefe da agência para visitar as instalações nucleares iranianas.

Trump também disse que não acredita que o Irã ainda queira buscar uma arma nuclear após os bombardeios dos EUA e de Israel. Ele descreveu o Irã como "exausto".

Ele disse que o Irã ainda quer se reunir para discutir o caminho a seguir. A Casa Branca havia dito na quinta-feira que nenhuma reunião entre os EUA e uma delegação iraniana havia sido agendada até o momento.

¨      Irã pede que Azerbaijão investigue uso de espaço aéreo por Israel

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, solicitou ao presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, uma investigação sobre relatos de que drones israelenses teriam utilizado o espaço aéreo azeri para realizar ataques contra o território iraniano. O pedido foi feito durante uma conversa telefônica entre os dois líderes nesta quinta-feira (26/06).

Segundo o site oficial da presidência iraniana, Pezeshkian pediu esclarecimentos sobre alegações de que os equipamentos israelenses atravessaram o espaço aéreo do país vizinho para conduzir operações militares contra a República Islâmica, em meio ao agravamento das tensões regionais pelos recentes bombardeios israelenses a alvos no Irã.

Durante o diálogo, o líder iraniano agradeceu ao governo e ao povo azerbaijano pela solidariedade demonstrada frente à agressão israelense. Ele também expressou confiança no fortalecimento das relações bilaterais, destacando o desejo de aprofundar a cooperação entre os dois países.

“O povo iraniano nunca iniciou uma guerra e tampouco pretende fazê-lo”, afirmou o mandatário, enfatizando que foi “o regime israelense que agiu como agressor, violando normas do direito internacional”.

Pezeshkian que também tem origem turca-azerbaijana, lembrou que, segundo as convenções internacionais, ataques a instalações nucleares são proibidos até mesmo em tempos de guerra e constituem “crimes contra a humanidade”.

Ressaltando o compromisso do Irã com o diálogo pacífico e o respeito mútuo, o presidente reiterou que já comunicou a outros líderes regionais a disposição de Teerã “em promover estabilidade, paz e cooperação com seus vizinhos, respeitando sua integridade territorial e soberania”.

Por sua vez, Aliyev lamentou a agressão israelense e as mortes de civis durante os bombardeios, além de saudar o recente cessar-fogo. O presidente do Azerbaijão reafirmou seu respeito pela soberania do Irã e assegurou que seu país jamais permitirá o uso de seu espaço aéreo para ações militares contra a nação vizinha.

Aliyev destacou que o Azerbaijão exerce controle total sobre seus céus e negou categoricamente qualquer envolvimento em operações militares contra o Irã. “Não autorizamos, sob nenhuma circunstância, o uso do nosso território ou espaço aéreo para ameaçar um país irmão e vizinho”, afirmou.

O líder azeri também reforçou o interesse em expandir a cooperação com Teerã em diversas áreas, incluindo as esferas econômica, política e de segurança, sinalizando a intenção de aprofundar os laços bilaterais com a República Islâmica.

 

Fonte: Opera Mundi


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