Após
ataques, Irã deve modernizar inteligência e defesa aérea, avaliam especialistas
O
cessar-fogo iniciado na última terça-feira (24/06) significou uma pausa no
conflito entre Israel e Irã, mas a possibilidade dos dois países voltarem a
trocar agressões continua latente, já que o governo de Tel Aviv afirmou que
insistirá em atacar o que chama de “ameaça nuclear iraniana”. Para evitar que
uma futura ofensiva tenha impacto contra importantes estruturas, o governo
iraniano deveria modernizar seu sistemas de inteligência e defesa aérea,
segundo a avaliação de especialistas consultados por Opera Mundi.
Segundo
o cientista político e professor de Relações Internacionais Bruno Lima
Rocha, a doutrina iraniana dá preferência
para a defesa anti-aérea e preserva seus caças. “Existem uns 50 MIG, dos quais
29 estão operacionais, e o país espera receber em breve novos caças de padrão
chinês (via Paquistão) ou russos, mas isso precisa ser reforçado”, disse.
Outro
ponto importante que o Irã pode desenvolver melhorias é a sua capacidade de
abastecer o arsenal de ataque, no mesmo nível do seu principal inimigo.
“No
confronto com as forças de Israel, o Irã tem um problema, porque o volume de
bombas que os Estados Unidos entregam a Tel Aviv é infindável. Desta forma, uma
guerra de atrito necessita de uma linha fixa de rearmamento, financiada com o
petróleo vendido para a China. No médio prazo, a defesa aérea sionista perde, o
Domo de Ferro não aguentaria mais uma semana. A população sionista é
estrangeira em sua maioria e sai fugindo do país. Essa crise pode gerar
ingovernabilidade”, analisou Lima Rocha.
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Pugilista
O jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em
Relações Internacionais e responsável pelo site Arsenal Geopolítica e Defesa, acredita que o Irã deverá fazer uma reavaliação de
decisões que
favoreceram Israel durante a primeira agressão lançada pelas forças do país
sionista, em 13 de junho.
“O Irã
mostrou nesta guerra que é como um pugilista com pouca capacidade de defesa.
Quando ele dá um soco é um soco pesado, machuca o adversário, mas quando toma
um soco ele sente muito o golpe”, analisou o especialista.
No
entanto, Rezende recordou que “há alguns anos, a Rússia ofereceu ao Irã a
modernização do sistema de defesa antiaérea e o país não aceitou, e a oferta incluía
radares capazes de ver além do horizonte, incluía mísseis mais modernos, aviões
de caça mais modernos, e a avaliação da Guarda Revolucionária foi de que isso
tudo era dispensável”.
“Teerã
deve modificar esse pensamento e reforçar o seu poderio aéreo o antes possível,
assim poderá enfrentar Israel de igual para igual”, avaliou.
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Reforçar inteligência
Outro
ponto destacado pelos especialistas foi a questão da inteligência, já que
aquela primeira agressão israelense, em 13 de junho, foi realizada graças à
atuação de diversos agentes do país infiltrados no território iraniano.
Para
Pedro Paulo Rezende, a capacidade de inteligência do Irã “já foi muito boa”,
mas desta vez falhou, e ampliar isso vai ser uma tarefa complexa.
“O Irã
tem que lidar com diferentes problemas para, por exemplo, impedir a entrada de
agentes estrangeiros em seu território. É um país de grande dimensão, com
fronteiras terrestres muito extensas e, portanto, é vulnerável. A melhor coisa
que faz é interferir eletronicamente dentro da inteligência israelense”,
comentou o jornalista.
Rezende
recordou que, no passado, durante a invasão de Israel ao Líbano, em 2008, a
inteligência iraniana foi capaz de se infiltrar dentro da inteligência
israelense e definir as rotas de ataque, “o que causou perdas bastante
significativas às forças de Israel”. Segundo ele, o país teria condições de
recuperar a capacidade de inteligência que demonstrou naquela ocasião.
Já
Bruno Lima Rocha acredita que “se não fossem as infiltrações israelenses, o
primeiro ataque aéreo teria surtido menos efeito e os físicos nucleares não
teriam morrido”.
“O
principal problema a ser solucionado é o de ampliar o controle nas fronteiras e
nas relações intra familiares de nativos falantes de farsi (o idioma oficial do
país) e idiomas regionais, especialmente nas regiões de maioria balochi, azeri
e curda”, acrescentou o acadêmico.
Para
Lima Rocha, “vigiar não é o suficiente, é preciso aumentar canais de
interlocução interétnica e ampliar a penetração da estratégia nacional dentro
do dia a dia das famílias”.
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Danos sofridos
Com
relação aos custos em termos estruturais que a guerra trouxe ao Irã,
especialmente após o ataque norte-americano às instalações nucleares, no último
domingo (22/06), Rezende acredita que “ainda não é possível avaliar a dimensão
dos danos sofridos”. “O que eu sei é que as estruturas de pesquisa nuclear
iranianas são muito bem protegidas, mas não saberia afirmar o que foi atingido
e o que não foi”, frisou.
Por sua
parte, Lima Rocha afirmou que “ao que tudo indica, foram estragos capazes de
serem reparados, e o material mais sensível teria sido retirado antes do
ataque”.
Ele
também ressalta que a usina de Busher, que é uma parceria com a Rússia, “parece
que está intacta, e na reunião de segunda-feira (23/06), entre Putin e o
chanceler (Seyed) Abbas Araqchi, um dos compromissos de Moscou foi o de ajudar
a levar adiante o programa nuclear iraniano”.
¨
EUA apoiaram iniciativa nuclear do Irã e agora querem
destruir, diz embaixador
O
embaixador do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam Ghadirli, reforçou nesta
quinta-feira (26/06) que o programa nuclear do seu país é “pacífico”,
recordando que os Estados Unidos apoiavam a iniciativa nuclear iraniana e,
agora, querem destruir o programa.
O
programa nuclear iraniano foi lançado na década de 1950, com ajuda dos Estados
Unidos,
como parte do programa “Átomos para a Paz”. Após a Revolução Islâmica de 1979,
episódio que derrubou a monarquia autocrática pró-Ocidente liderada por Xá
Mohammad Reza Pahlevi, Washington “não deixou mais que o Irã usasse seu urânio
para produção de medicamentos”.
Ghadirli
realizou nesta manhã uma coletiva em Brasília na qual Opera
Mundi acompanhou. O diplomata afirmou que o país concluiu de forma
“honrosa” toda a conquista, “por conta própria”, da tecnologia de seu programa nuclear.
“O que
devemos fazer, uma nação com 7 mil anos de civilização, nos afastar de todos os
nossos direitos nucleares segundo a
Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP)?”, questionou o embaixador
iraniano.
Após
Israel atacar o território do Irã, o governo de Donald
Trump bombardeou
três instalações de processamento de urânio: Fordow, Natanz e Isfahan. Desde
então, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), responsável por
fiscalizar o TNP, está impedida de
realizar inspeções no país.
“Um dos
motivos dessa suspensão é a violação de nossa integridade territorial e da
segurança de nossos cientistas”, explicou Ghadirli. Ao menos 14 cientistas do
programa nuclear iraniano foram mortos nos ataques de Israel contra o país.
Segundo
ele, o enriquecimento de urânio no país tem objetivo medicamentoso. O processo
de enriquecimento é corriqueiramente utilizado para geração de energia nuclear
e, quando atinge grau superior a 90%, pode ser usado para a construção de bombas
atômicas.
As
inspeções da AIEA não chegaram a identificar indícios de um “programa
sistemático” de produção de armas atômicas. Ainda assim, chegou a afirmar que o
país persa não estava cooperando com as obrigações de não proliferação do TNP.
“Todos
os armamentos que resultaram massacre e assassinato de muitas pessoas não fazem
parte da doutrinada do nosso governo e da nossa ideologia”, argumentou. Isso
por que, há uma lei religiosa no país que estabelece uma “visão de princípio”
sobre o uso das armas nucleares
Para
Ghardili, a resposta aos ataques de Israel e dos Estados Unidos é uma “lição”
ao regime sionista, para que “se arrependa” e que haja “mais paz e
estabilidade” na região. “Se ficamos em silêncio diante dessas violações, os
resultados no futuro não serão bons”.
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BRICS
Ghadirli
agradeceu ao Brasil por condenar os ataques de Israel e Estados Unidos contra
Teerã, apontando que o objetivo do BRICS é “melhorar” a ordem internacional.
“O
BRICS faz parte dessa organização mundial para melhorar a ordem junto de
questões e sistemas internacionais”, declarou o embaixador Ghadirli,
acrescentando que o bloco não pode ser reduzido a um emissor de “declarações
conjuntas” entre países-membros, mas que a união de agendas entre países pode
contribuir para mudanças na ordem mundial.
Atualmente
o bloco é composto por 11 países – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul,
Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e a Indonésia.
Questionando
sobre a participação do presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, na Cúpula do
BRICS no Rio de Janeiro entre os dias 6 e e 7 de julho, ele afirmou que a
informação ainda não é certa, mas está sendo planejada.
O
governo brasileiro se manifestou sobre os ataques contra o território iraniano
10 dias após o início do conflito. “Qualquer ataque armado a instalações
nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e das
normas da Agência Internacional de Energia Atômica”, disse o Itamaraty em nota.
¨ Trump ameaça
bombardear o Irã novamente e descarta plano de alívio de sanções
O
presidente norte-americano, Donald Trump, criticou duramente o líder supremo do
Irã, Ali Khamanei, nesta sexta-feira, abandonou os planos de suspender as
sanções contra o Irã e disse que consideraria bombardear o Irã novamente se
Teerã estiver enriquecendo urânio a níveis preocupantes.
Trump
reagiu duramente aos primeiros comentários de Khamanei após um conflito de 12
dias com Israel que terminou quando os Estados Unidos bombardearam no último
fim de semana instalações nucleares iranianas.
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Khamanei
disse que o Irã "deu um tapa na cara na América" ao lançar um ataque
contra uma importante base norte-americana no Catar após o bombardeio
norte-americano do último fim de semana. Khamanei também disse que o Irã nunca
se renderá.
Trump
disse que havia poupado a vida de Khamanei. Autoridades dos EUA disseram à
Reuters em 15 de junho que Trump havia vetado um plano israelense para matar o
líder supremo.
"Seu
país foi dizimado, suas três instalações nucleares malignas foram OBLITERADAS,
e eu sabia EXATAMENTE onde ele estava abrigado e não permitiria que Israel ou
as Forças Armadas dos EUA, de longe as maiores e mais poderosas do mundo,
acabassem com sua vida", disse Trump em uma postagem na mídia social.
"EU
o SALVEI DE UMA MORTE MUITO FEIA E IGNOMINIOSA", disse ele.
Trump
também disse que, nos últimos dias, estava trabalhando na possível remoção das
sanções ao Irã para dar ao país uma chance de recuperação rápida. Ele disse que
agora abandonou esse esforço.
"Recebi
uma declaração de raiva, ódio e repulsa, e imediatamente abandonei todo o
trabalho de alívio de sanções e muito mais", disse ele.
Trump
disse em uma coletiva de imprensa na Casa Branca que não descartava atacar o
Irã novamente quando perguntado sobre a possibilidade de um novo bombardeio às
instalações nucleares iranianas, se considerado necessário em algum momento.
"Claro,
sem dúvida, absolutamente", disse.
Trump
disse que gostaria que inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica
ou de outra entidade respeitada pudessem inspecionar as instalações nucleares
do Irã depois que elas foram bombardeadas no último fim de semana.
Trump
disse que acredita que as instalações foram "obliteradas". Ele
rejeitou qualquer sugestão de que os danos às instalações não tenham sido tão
profundos como ele disse.
Mas
Trump disse que apoiaria que a AIEA, o órgão de vigilância nuclear da ONU,
fosse verificar os locais que foram bombardeados.
O chefe
da agência, Rafael Grossi, disse na quarta-feira que garantir a retomada das
inspeções da AIEA era sua principal prioridade, já que nenhuma havia sido
realizada desde que Israel começou a bombardear o Irã em 13 de junho.
Mas o
Parlamento do Irã aprovou na quarta-feira medidas para suspender essas
inspeções. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, indicou
nesta sexta-feira que Teerã pode rejeitar qualquer pedido do chefe da agência
para visitar as instalações nucleares iranianas.
Trump
também disse que não acredita que o Irã ainda queira buscar uma arma nuclear
após os bombardeios dos EUA e de Israel. Ele descreveu o Irã como
"exausto".
Ele
disse que o Irã ainda quer se reunir para discutir o caminho a seguir. A Casa
Branca havia dito na quinta-feira que nenhuma reunião entre os EUA e uma
delegação iraniana havia sido agendada até o momento.
¨ Irã pede que
Azerbaijão investigue uso de espaço aéreo por Israel
O
presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, solicitou ao presidente do Azerbaijão,
Ilham Aliyev, uma investigação sobre relatos de que drones israelenses teriam utilizado o
espaço aéreo azeri para
realizar ataques contra o território iraniano. O pedido foi feito durante uma
conversa telefônica entre os dois líderes nesta quinta-feira (26/06).
Segundo
o site oficial da presidência iraniana, Pezeshkian pediu esclarecimentos sobre
alegações de que os equipamentos israelenses atravessaram o espaço aéreo do
país vizinho para conduzir operações militares contra a República Islâmica, em
meio ao agravamento das tensões regionais pelos recentes
bombardeios israelenses a alvos no Irã.
Durante
o diálogo, o líder iraniano agradeceu ao governo e ao povo azerbaijano
pela solidariedade demonstrada frente à
agressão israelense.
Ele também expressou confiança no fortalecimento das relações bilaterais,
destacando o desejo de aprofundar a cooperação entre os dois países.
“O povo
iraniano nunca iniciou uma guerra e tampouco pretende fazê-lo”, afirmou o
mandatário, enfatizando que foi “o regime israelense que agiu como agressor,
violando normas do direito internacional”.
Pezeshkian
que também tem origem turca-azerbaijana, lembrou que, segundo as convenções
internacionais, ataques a instalações nucleares são proibidos até mesmo em
tempos de guerra e constituem “crimes contra a humanidade”.
Ressaltando
o compromisso do Irã com o diálogo pacífico e o respeito mútuo, o presidente reiterou que já
comunicou a outros líderes regionais a disposição de Teerã “em promover
estabilidade, paz e cooperação com seus vizinhos, respeitando sua integridade
territorial e soberania”.
Por sua
vez, Aliyev lamentou a agressão israelense e as mortes de civis durante os
bombardeios, além de saudar o recente cessar-fogo. O presidente do Azerbaijão
reafirmou seu respeito pela soberania do Irã e assegurou que seu país jamais permitirá o uso de
seu espaço aéreo para ações militares contra a nação vizinha.
Aliyev
destacou que o Azerbaijão exerce controle total sobre seus céus e negou categoricamente qualquer
envolvimento em operações militares contra o Irã. “Não autorizamos,
sob nenhuma circunstância, o uso do nosso território ou espaço aéreo para
ameaçar um país irmão e vizinho”, afirmou.
O líder
azeri também reforçou o interesse em expandir a cooperação com Teerã em
diversas áreas, incluindo as esferas econômica, política e de segurança,
sinalizando a intenção de aprofundar os laços bilaterais com a República
Islâmica.
Fonte:
Opera Mundi

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