sexta-feira, 27 de junho de 2025

Perder peso na meia-idade pode reduzir riscos de doenças no futuro

Todo o esforço dedicado à perda de peso na meia-idade pode proporcionar uma vida mais longa e saudável posteriormente, segundo um novo estudo publicado na terça-feira (27) no periódico JAMA Network Open.

Uma perda de peso sustentada de aproximadamente 6,5% do peso corporal sem medicamentos ou cirurgia em pessoas de meia-idade está associada a benefícios substanciais para a saúde a longo prazo, afirma o autor principal do estudo, Timo Strandberg, professor de medicina geriátrica da Universidade de Helsinki, na Finlândia. Esses benefícios incluíram uma redução no risco de doenças crônicas e mortalidade por todas as causas.

O estudo analisou dados de cerca de 23.000 pessoas de três grupos diferentes em períodos distintos: um grupo de 1985 a 1988, outro de 1964 a 1973 e um terceiro entre 2000 e 2013.

Os pesquisadores agruparam as pessoas nos estudos com base em seu índice de massa corporal (IMC) inicial e se ganharam, perderam ou mantiveram o peso, comparando os padrões com registros de hospitalizações e óbitos.

Pessoas que perderam peso na meia-idade eram menos propensas a sofrer ataques cardíacos, derrames, câncer, asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica em seus anos posteriores, segundo o estudo. Aqueles que perderam peso também tinham menor probabilidade de morrer por qualquer causa nos 35 anos seguintes, descobriu o estudo.

É importante notar que grande parte dos dados foi coletada antes que medicamentos ou cirurgias para perda de peso estivessem amplamente disponíveis, significando que os benefícios vieram principalmente de mudanças corporais impulsionadas por alterações na dieta e exercícios, segundo Strandberg.

O estudo é importante porque fornece evidências da relação entre perda de peso e tanto doenças cardiovasculares quanto mortalidade, que não foi estudada o suficiente, de acordo com Aayush Visaria, pesquisador clínico e futuro instrutor de medicina da Escola de Medicina Robert Wood Johnson de Rutgers, em Nova Jersey. Ele não esteve envolvido na pesquisa.

<><> O IMC não conta toda a história

Embora o estudo seja forte por utilizar uma grande amostra, existem algumas limitações na aplicação dos resultados, segundo Visaria.

O estudo foi conduzido com europeus brancos, o que significa que é difícil generalizar os resultados para diferentes populações, diz Strandberg. “O IMC é muito diferente entre diferentes grupos étnicos raciais”, afirma Visaria.

E o IMC, que analisa o peso em proporção à altura, nem sempre é a maneira mais precisa de avaliar a composição corporal, acrescenta o especialista. O IMC ainda é amplamente utilizado por ser fácil de calcular, mas não diferencia com base na proporção de ossos ou músculos de uma pessoa, segundo Visaria.

"Existem tantas variáveis que podem influenciar como a composição corporal de alguém muda, mesmo que talvez seu peso não mude tanto", afirma.

Outros estudos sugerem que a distribuição de gordura faz uma grande diferença – a gordura ao redor dos órgãos de uma pessoa pode ser o que realmente impulsiona muito do risco de doenças.

<><> Um estilo de vida saudável além da perda de peso

Mudanças no estilo de vida – como uma dieta saudável e mais exercícios – foram fatores importantes na redução do risco.

O estudo foi observacional, o que significa que os dados podem mostrar uma relação entre perda de peso e redução de doenças crônicas e risco de mortalidade, mas os pesquisadores não podem afirmar com certeza que a perda de peso foi o fator que reduziu o risco, de acordo com Visaria.

Embora os pesquisadores tenham ajustado para outros fatores que poderiam influenciar o risco, como idade, eles não ajustaram para comportamentos de estilo de vida como dieta e atividade física, acrescenta o especialista. Essas mudanças poderiam estar por trás do risco reduzido de doenças crônicas tanto quanto a própria perda de peso, segundo Visaria.

Tanto a perda de peso quanto as mudanças comportamentais por trás dela geralmente estão ligadas à melhoria da saúde, observa Strandberg.

A perda de peso alivia condições como osteoartrite, apneia obstrutiva do sono e fígado gorduroso, enquanto mudanças na dieta e exercícios demonstraram diminuir riscos cardiovasculares, acrescenta o pesquisador.

<><> Como fazer alterações

O estilo de vida é sempre importante quando se trata de boa saúde, o que significa que você deve continuar se esforçando por uma dieta saudável e boa atividade física – mesmo se estiver usando medicamentos para perda de peso, segundo Visaria.

A dieta mediterrânea – que prioriza frutas, vegetais, grãos, azeite de oliva e nozes e sementes – tem sido consistentemente classificada como a melhor dieta para bem-estar e prevenção de doenças.

Estudos sugerem que esse modo de alimentação pode melhorar a densidade óssea nos anos posteriores, prevenir alguns cânceres e reduzir o risco de doenças cardíacas.

Para atividade física, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que adultos pratiquem pelo menos 150 minutos por semana de atividade aeróbica de intensidade moderada ou 75 minutos de intensidade vigorosa, junto com atividades de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana.

No entanto, a obesidade não é apenas um problema que os indivíduos precisam enfrentar – é uma questão estrutural também, segundo Strandberg.

Alimentos saudáveis e oportunidades para atividade física precisam ser mais acessíveis nas sociedades modernas para ajudar a reduzir os impactos na saúde associados à obesidade, acrescenta o pesquisador.

•        Estar em forma ou perder peso? Veja o que é melhor para longevidade

A ciência já mostrou que tanto a obesidade quanto o sedentarismo são prejudiciais à saúde cardiovascular e ao envelhecimento saudável. No entanto, uma pesquisa recente comparou o que pode ser mais eficiente para a longevidade e para evitar doenças: a aptidão cardiorrespiratória, ou seja, o condicionamento físico, ou perder peso.

De acordo com o estudo, publicado em novembro do ano passado no British Journal of Sports Medicine, o condicionamento físico é mais importante para evitar tanto doenças cardiovasculares quanto a mortalidade por todas causas do que o Índice de Massa Corporal (IMC).

No trabalho, os pesquisadores descobriram que indivíduos em forma, com diferentes IMCs, apresentaram riscos semelhantes de morte por todas as causas ou doenças cardiovasculares. Por outro lado, aqueles que estavam fora de forma, ou seja, eram sedentários, apresentaram riscos duas a três vezes mais altos de mortalidade e doenças do coração, independentemente do IMC, em comparação com pessoas em forma e com IMC normal.

Além disso, o estudo também descobriu que pessoas obesas mas que mantinham um nível de atividade física e condicionamento físico apresentaram um risco significativamente menor de morte em comparação com indivíduos com IMC normal.

"A aptidão física, ao que parece, é muito mais importante do que a gordura corporal quando se trata de risco de mortalidade", afirma Siddhartha Angadi, professora associada de fisiologia do exercício na Escola de Educação e Desenvolvimento Humano da Universidade da Virgínia e autora correspondente do estudo, em comunicado. "Nosso estudo descobriu que indivíduos obesos em forma tinham um risco de morte semelhante ao de indivíduos com peso normal em forma e quase metade do risco de indivíduos com peso normal fora de forma".

"O exercício físico é mais do que apenas uma forma de queimar calorias. É um excelente 'remédio' para otimizar a saúde geral e pode reduzir significativamente o risco de doenças cardiovasculares e morte por todas as causas em pessoas de todos os tamanhos.", completa.

<><> Como o estudo foi feito?

Para o estudo, os pesquisadores revisaram 20 trabalhos com uma amostra total de 398.716 adultos de vários países. Cerca de um terço dos participantes eram mulheres, um aumento de quase três vezes em relação a estudos anteriores.

Na maioria dos estudos, os indivíduos foram classificados como aptos se sua pontuação no teste de esforço os colocasse acima do 20º percentil dentro de sua faixa etária.

"Acredito que este estudo ajudará a fortalecer o crescente corpo de literatura sobre o debate 'fitness vs. gordura'", afirma Nathan Weeldryer, doutorando em cinesiologia na UVA e coautor do estudo. "Como sociedade, tendemos a equiparar peso corporal ou gordura corporal ao estado de saúde. Nosso estudo, que apresenta a maior e mais representativa amostra global até o momento, juntamente com uma análise estatística mais rigorosa em comparação com pesquisas anteriores, visa mudar as perspectivas sobre a relação entre fitness e gordura corporal", completa.

<><> Atividade física reduz riscos associados à obesidade, mas perda de peso ainda é importante

De acordo com Marcio Mancini, diretor do Departamento de Tratamento Farmacológico da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a atividade física traz uma série de benefícios para a saúde, reduz a inflamação subclínica da obesidade e pode atenuar o risco que a doença traz para a saúde. No entanto, ele reitera que é fundamental tratar a doença.

"É importante diminuir o IMC, até porque é mais difícil conseguir uma boa aptidão cardiorrespiratória nos pacientes com o IMC muito alto", alerta Mancini, que não esteve envolvido no estudo.

Inclusive, o tratamento para obesidade deve ser feito acompanhado de mudanças no estilo de vida, incluindo a prática de atividade física e uma alimentação saudável.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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