‘Terra
da Liberdade’ exige vistoria em redes sociais de estudantes – mais para
Bolsominions a ditadura é aqui
Enquanto
os arautos do “Brasil virou Venezuela” seguem alucinando sobre supostas
perseguições políticas no país, o verdadeiro manual do autoritarismo está sendo
escrito bem ao norte – pelo governo que esses mesmos críticos tanto idolatram.
Nesta quarta-feira (25), a Embaixada dos EUA no Brasil anunciou que, a partir
de agora, candidatos a visto de estudante terão seus perfis em redes sociais
escrutinados pelo Tio Sam. Sim, leitor, você não leu errado: para estudar no
“país da liberdade”, é preciso abrir sua vida digital à inspeção federal.
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O que diz o comunicado?
Segundo
a nota diplomática, os consulados americanos farão uma “verificação abrangente
e minuciosa” do comportamento online dos solicitantes. Ou seja: se você postou
aquela piada sobre o hambúrguer do McDonald’s ser ruim, melhor torcer para o
algoritmo do Departamento de Estado não considerar isso uma “ameaça aos valores
americanos”. A medida vale para vistos:
- F (estudantes
de universidades)
- M (cursos
vocacionais)
- J (intercâmbios
culturais)
E não
adianta apelar para o modo incógnito: os perfis precisam estar abertos
ao público. “Obter um visto para os EUA é um privilégio, não um
direito”, decreta o texto, em uma frase que poderia muito bem sair de um
manual de regimes autoritários – mas, claro, quando é Washington quem diz, vira
“protocolo de segurança”.
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A hipocrisia em dois atos
- Bolsonaristas e
o mito da “ditadura brasileira”:
- Enquanto isso, no
Brasil, a mesma turma que chora “censura” porque não pode xingar ministros do
STF nas redes agora precisa explicar por que um país que exige login e
senha de suas redes para conceder visto é o “farol da democracia”.
- O duplo padrão
da “segurança nacional”:
- Se o Brasil
propusesse algo parecido, seria imediatamente taxado de “comunista” ou
“castrista”. Mas quando os EUA – que já espionaram até a chanceler da Alemanha
– fazem, vira “proteção aos valores ocidentais”.
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O que está por trás da medida?
A
justificativa é clássica: “proteger os interesses
nacionais” (leia-se: caçar qualquer menção a críticas ao governo Trump,
imigração ou – Deus nos livre – socialismo). Mas a ironia é deliciosa: o mesmo
país que acusa outras nações de “vigilância massiva” agora exige que estudantes
estrangeiros exponham suas conversas privadas para ter acesso a uma
universidade.
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E os “liberais” brasileiros? Silêncio ensurdecedor
Nenhum
tuíte indignado de MBL. Nenhum vídeo lacrador do “Mundo Sem Porteiras”. Afinal,
quando o muro é construído por republicanos, vira “soberania”. Quando é
sugerido por um governo de esquerda, vira “opressão”.
Enquanto
o Brasil debate políticas de inclusão e acesso à educação, os EUA – sob o
pretexto de “combater ameaças” – transformam o visto estudantil em um Big
Brother burocrático. E o mais engraçado? Quem passa pano para isso é a mesma
galera que, no Brasil, chora “ditadura” quando um juiz manda apagar fake news.
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Pergunta que não quer calar:
Se o
STF pedisse seu Instagram para julgar um processo, você chamaria de democracia
ou autoritarismo? Pois é.
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Trump ataca imigrantes com taxação de remessas enviadas
para as famílias. Aqui os bolsominons defendem os ricos
Uma das
reformas mais polêmicas do pacote proposto pela administração Donald Trump nos
Estados Unidos é a implementação de um imposto de 3,5% sobre as remessas que os
imigrantes nos Estados Unidos enviam a familiares e amigos no exterior –
atualmente isentas de qualquer tributação.
Enquanto
se propõe a ampliação dos cortes de impostos para os setores mais abastados,
essa medida afetaria diretamente os grupos mais vulneráveis. Ela é apresentada
como uma forma de “compensar” a perda de arrecadação fiscal que o próprio
orçamento republicano geraria. Além disso, em consonância com sua postura
anti-imigração, o projeto prevê um aumento de US$ 70 bilhões (aproximadamente
R$ 390 bilhões) no orçamento para a segurança de fronteiras, com melhorias na
infraestrutura e aumento salarial para os agentes migratórios.
Para
além do debate ético, o imposto tem gerado preocupações quanto aos seus
possíveis efeitos práticos. A Associação Americana de Banqueiros (ABA) rejeitou
a proposta, alertando que ela pode incentivar o uso de canais informais para o
envio de dinheiro. Isso dificultaria os mecanismos de controle financeiro
atualmente utilizados para monitorar fluxos internacionais e combater a lavagem
de dinheiro e o financiamento de atividades ilegais.
Embora
este seja o primeiro debate em nível federal sobre esse tipo de tributo, a
ideia tem ganhado espaço nos últimos anos. Só em 2023, dezoito estados
apresentaram vinte e nove projetos de lei relacionados à taxação de remessas.
Definição
de rumos
Em meio
a turbulências internacionais, a Casa Branca enfrenta sérias dificuldades no
front doméstico, especialmente por conta dos obstáculos para aprovar seu
ambicioso megaprojeto legislativo, conhecido como “The One, Big, Beautiful
Bill” (“Projeto lindo”, em tradução livre).
Trata-se
de uma cruzada legislativa que, na prática, propõe uma profunda reforma do
orçamento federal, com uma reestruturação fiscal que afetaria praticamente
todos os aspectos da vida cotidiana e da economia nacional.
Entre
seus principais objetivos estão a prorrogação dos cortes de impostos aprovados
durante o primeiro mandato de Trump, em 2017 – que vencem neste ano –, um
aumento substancial dos gastos militares, cortes em programas sociais como o
seguro de saúde e a assistência alimentar, a ampliação do teto da dívida em
cinco trilhões de dólares e o financiamento do que o governo considera
“prioridades nacionais”: o endurecimento da política migratória e a expansão do
aparato de defesa.
Impulsionado
pelos setores mais alinhados ao movimento MAGA (Make America Great Again, Faça
a Maérica Grande Novamente), o projeto foi aprovado – não sem dificuldades e
resistência – na Câmara dos Representantes no último dia 22 de maio. Agora
enfrenta sua etapa mais decisiva: a votação no Senado.
“Aos
meus amigos do Senado: trancem-se em uma sala, se for preciso, não voltem para
casa e FECHEM O ACORDO ESTA SEMANA!”, publicou Trump em suas redes sociais com
seu tom histriônico de costume, enquanto se dirigia nesta terça-feira (24) à
cúpula da OTAN. “Trabalhem com a Câmara para que possam retomar e aprovar
IMEDIATAMENTE. NINGUÉM SAI DE FÉRIAS ATÉ QUE TUDO ESTEJA FECHADO.”
A Casa
Branca estipulou como prazo final para a aprovação definitiva o dia 4 de julho,
coincidente com o Dia da Independência. Embora os republicanos tenham maioria
legislativa, a proposta enfrenta não apenas a rejeição do bloco democrata, mas
também tensões internas dentro do próprio Partido Republicano, motivadas pelos
alertas sobre seus possíveis impactos econômicos.
Possíveis
consequências
Se o
projeto avançar, poderá trazer consequências graves não apenas para a economia
dos Estados Unidos, mas também para os países que recebem remessas,
especialmente na América Latina e no Caribe. Nos últimos quinze anos, essa
região se consolidou como uma das principais destinatárias de remessas no
mundo. Esses fluxos financeiros tornaram-se uma fonte vital de renda para
milhões de famílias e um componente-chave de muitas economias nacionais.
Em
2023, a região recebeu mais de US$ 161 bilhões (quase R$ 894 bilhões) em
remessas. Esse dinheiro representa uma das principais fontes de renda para
inúmeros lares, não apenas entre os mais vulneráveis, mas também em setores da
classe média. Além de cobrir necessidades básicas como alimentação, saúde,
educação e moradia, as remessas também têm financiado pequenos negócios,
contribuindo para a redução da pobreza em diversos países.
A
América Central e o Caribe são as regiões onde as remessas têm maior peso
relativo na economia. Em países como Nicarágua, Honduras, El Salvador e
Guatemala, elas representam entre 19% e 28% do Produto Interno Bruto (PIB),
superando até setores tradicionais como agricultura, pesca ou indústria.
Em
Honduras, por exemplo, as remessas contribuem mais para o PIB do que a
agricultura, a pesca ou a mineração. Em El Salvador, elas superam com folga o
setor agropecuário e se aproximam do peso da indústria manufatureira. Algo
semelhante acontece no Haiti (18,2% do PIB), na Jamaica (16,8%) e na Guatemala
(19,5%), onde as economias nacionais dependem fortemente desses fluxos.
Essa
alta dependência implica que qualquer restrição ou aumento no custo do envio de
remessas pode ter efeitos devastadores, tanto para milhões de famílias quanto
para a estabilidade macroeconômica desses países.
Diversos
setores críticos ao imposto proposto alertam que dificultar o envio de remessas
aumentaria a pobreza e, como consequência, levaria mais pessoas a considerar a
migração como única saída. Isso, por sua vez, aumentaria a pressão migratória
sobre os Estados Unidos.
Trabalho
migrante
Os
argumentos do setor MAGA em defesa do imposto giram em torno de três ideias:
desincentivar a migração irregular, tributar aqueles que “não pagam impostos” e
criar uma nova fonte de receita para o Estado.
No
entanto, diversos estudos já demonstraram que os migrantes – mesmo os que estão
em situação irregular – pagam impostos nos EUA, muitas vezes em proporção maior
do que outros grupos. Milhões deles contribuem para o sistema fiscal,
frequentemente sem ter acesso aos benefícios sociais que ele financia.
Um
aspecto pouco discutido nesse debate é a enorme contribuição econômica da
comunidade latina para a economia dos Estados Unidos. Ao contrário da narrativa
promovida pelo MAGA e por setores da ultradireita, os migrantes – especialmente
os latinos – não apenas sustentam o sistema fiscal, como também representam um
dos setores mais dinâmicos na geração de riqueza.
Segundo
o relatório Fast Facts: Latinos in the United States 2024, apenas
em 2022 os latinos geraram US$ 3,6 trilhões (aproximadamente R$ 20 trilhões) em
bens e serviços. Se fossem um país independente, ocupariam o quinto lugar entre
as maiores economias do mundo, à frente do Reino Unido, da França e do Brasil.
O
relatório também destaca o papel central dos latinos no dinamismo empreendedor
do país. Atualmente, existem mais de 4,7 milhões de empresas de propriedade
latina, que geram cerca de US$ 800 bilhões (algo como R$ 4,5 trilhões) por ano.
Embora apenas uma parte delas tenha empregados, juntas são responsáveis por
mais de 3,5 milhões de postos de trabalho. Além disso, metade das novas
empresas fundadas nos EUA são criadas por latinos.
Por
trás das remessas não existem apenas histórias de solidariedade e apoio
familiar: está também o trabalho migrante e a produção de riqueza que os tornam
possíveis.
¨ Universidade de
Toronto concorda em receber estudantes de Harvard que enfrentam restrições de
visto de Trump
A Universidade de Harvard e a
Universidade de Toronto anunciaram um plano que permitirá que alguns estudantes
de Harvard concluam seus estudos no Canadá caso restrições de visto os impeçam
de entrar nos Estados Unidos.
O pacto
entre as duas escolas reflete a política tumultuada e “excepcional” do mundo
pós-secundário durante o segundo mandato de Donald Trump.
O
acordo é entre a Escola de Governo John F. Kennedy de Harvard e a Escola Munk
de Assuntos Globais e Políticas Públicas da Universidade de Toronto.
Jeremy
Weinstein, reitor da Harvard Kennedy School, disse em uma carta aos alunos que
os planos tinham como objetivo aliviar as preocupações, mas um programa formal
só seria revelado se houvesse "demanda suficiente" de alunos que não
pudessem vir aos Estados Unidos.
“Somos
profundamente gratos pelo apoio da Escola Munk e de outros parceiros, que estão
nos ajudando a garantir que possamos continuar a oferecer a todos os alunos da
HKS a educação de excelência que eles merecem”, disse ele.
Harvard
está envolvida em uma acirrada batalha judicial com o governo Trump, após este
alegar que o Departamento de Segurança Interna revogou indevidamente sua permissão para matricular
estudantes internacionais. Quase um quarto dos alunos de Harvard vêm de fora
dos EUA e são uma fonte fundamental de financiamento para a instituição.
Harvard
obteve até agora duas liminares contra o DHS , provavelmente
abrindo caminho para que estudantes internacionais obtenham vistos de entrada.
“Estes
são tempos excepcionais”, disse Janice Stein, diretora fundadora da Munk School
of Global Affairs and Public Policy, em um comunicado.
“Se os
alunos internacionais da Harvard Kennedy School não puderem concluir seus
estudos em Cambridge, Massachusetts, a Munk School of Global Affairs and Public
Policy espera oferecer experiências acadêmicas e cocurriculares compartilhadas
para alunos de ambas as escolas.”
Além do
programa HKS na Munk School, as escolas também anunciaram o HKS Global, que
terá um componente online e presencial.
Os
alunos de Harvard que frequentam a Universidade de Toronto ainda precisarão
solicitar autorizações de estudo canadenses e serão matriculados como alunos em
tempo integral, sem diploma, na Escola Munk. O futuro programa está aberto
apenas a alunos que já tenham concluído um ano de estudos nos Estados Unidos.
O
Canadá impôs seu próprio limite para estudantes internacionais e reduziu o
número de vistos que emitirá. A Universidade de Toronto afirmou que o plano com
Harvard "não reduziria o número de vagas disponíveis para estudantes da U
of T em quaisquer programas acadêmicos ou em alojamentos universitários".
Fonte:
O Cafezinho/Brasil de Fato

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