Envio de reservas de ouro para o exterior é
medida 'arrojada' ou 'desesperada' da Argentina?
O ministro da Economia
da Argentina, Luis Caputo, anunciou na semana passada ter enviado reservas de
ouro para o exterior a fim de obter "retorno de ativos", uma medida
incomum e que tem dividido opiniões de especialistas.
Para entender os
efeitos e as consequências da securitização desse ouro para melhorar o fluxo de
capital externo na Argentina, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, conversou
com Renan Silva, professor de economia do Ibmec Brasília, e Matheus de Oliveira,
professor de relações internacionais do Centro Universitário Belas Artes e
pesquisador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes) da
Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A saída das reservas
de ouro do país foi alertada publicamente pelo deputado da oposição Sergio
Palazzo, que enviou um pedido de informações ao Banco Central argentino em
resposta a relatos sobre supostas "operações de envio de barras de ouro ao
exterior" durante o mês de junho.
Caputo confirmou o
envio de remessas de ouro para o exterior e argumentou que a ação permite
"obter retorno" em um momento no qual "o país precisa
aprimorar/maximizar o retorno dos seus ativos".
De acordo com o Banco
Central da Argentina, o país tem o equivalente a US$ 4,6 bilhões (R$ 25
bilhões) em ouro. Dados mais precisos sobre a quantidade de ouro enviada e o
destino ainda não são de conhecimento público.
Para o professor de
economia, usar o ouro como ativo para atenuar a dificuldade de geração de
crédito junto ao setor privado é algo positivo.
"Eles querem
otimizar a utilização desse ativo. É uma medida arrojada, que pode contribuir
bastante para este momento de recuperação. Até porque acho que essa
transferência ficou em torno de 10% da reserva total em ouro. Então, um
montante que não prejudicaria a reserva como um todo. Estando no Banco Central,
guardado fisicamente, não tem muita serventia", opinou o professor do
Ibmec.
Silva alertou, no
entanto, que é preciso olhar as contas do governo nos próximos meses para
acompanhar se a estratégia surtiu o efeito desejado, que é apaziguar a dívida e
melhorar as contas.
Já para Oliveira, a
medida é um ato desesperado do governo de Javier Milei para conseguir mais
créditos no mercado externo.
"Acho que é uma
medida desesperada, e uma medida até certo ponto atrapalhada, principalmente
pela forma como as coisas foram feitas, porque ao fazer essa operação de
transferência do ouro meio na surdina […], na calada da noite, digamos assim,
já dá uma aparência suspeita, fica parecendo que o governo está querendo fazer
alguma falcatrua."
Oliveira concorda que
o ouro é uma das poucas medidas disponíveis para a Argentina conseguir acesso a
crédito externo, devido às dívidas internacionais acumuladas ao longo de
décadas, ainda no governo de Mauricio Macri, que antecedeu o governo anterior de
Alberto Fernández.
"Mauricio Macri
fez o maior empréstimo da história do Fundo Monetário Internacional [FMI] para
a Argentina. O país ainda está pagando esse empréstimo. O endividamento externo
do país então já é bastante elevado e, além disso, a situação econômica geral
da Argentina torna o acesso a esse crédito internacional muito limitado e muito
custoso, porque hoje os juros que se cobram para a Argentina são elevadíssimos
e tornam quase proibitiva a busca por crédito nas praças internacionais."
O professor do Ibmec
ressaltou que, a princípio, não há troca de titularidade nesse envio, mas uma
transferência de custódia. Entretanto, pontuou que o governo indicou o desejo
de ter mais mobilidade com esse estoque de ouro, a exemplo de operações de rede,
onde esse recurso fica sob custódia do setor privado, com o intuito de ser
usado como suporte a essas operações.
"Então, quando
você transfere para a custódia, para uma custódia bancária, institucional,
também consegue emitir títulos representativos dessa dívida e usar como
garantia em diversas outras operações, otimizando esse fluxo", acrescentou
Silva. "Ou até mesmo algumas operações de crédito, em que a Argentina
poderia disponibilizar esse recurso como garantia a esses novos empréstimos,
principalmente do setor privado", esclareceu.
Entretanto, explicou
Oliveira, a depender da forma como serão construídos os eventuais acordos do
governo argentino em torno do ouro, a lógica seria muito similar a de uma loja
de penhores: um empréstimo de curto prazo que tem o ouro como garantia.
"Deixar o ouro
que pertence a um Estado Nacional depositado em outro Estado Nacional é um
risco. Sempre vai haver esse risco, que é um risco que vem principalmente de
questões de caráter geopolítico, de caráter estratégico", pontuou
Oliveira. "Não por acaso, a Rússia há alguns anos repatriou o ouro que
tinha fora do país. A Venezuela também fez esse movimento de repatriação",
destacou Oliveira.
O economista acredita
que a securitização de reserva de ouro — agindo em conjunto com os cortes de
gastos e desvalorização cambial, realizados pelo governo — podem surtir o
efeito almejado:
"As importações
recuaram porque o consumo caiu. As exportações subiram bastante, na ordem de
26% no último ano. Isso significa que está tendo uma conta corrente um pouco
positiva, recompondo essa reserva também cambial. Também acaba que, lá na frente,
essa reserva de ouro retorna."
"Diferente de
imaginar que é uma medida desesperada, é uma medida complementar a várias
outras ações positivas que estão sendo realizadas. Vejo como natural essa
tentativa. E espero que, nesse cômputo, com todas as medidas aí, conjuntamente,
ele consiga realmente ter mais crédito e mais folga no caixa."
O professor de
relações internacionais ponderou que economia não é uma ciência exata, e suas
ações têm sempre uma lógica política e um impacto social muito evidente.
"A inflação caiu
às custas do aumento do desemprego, queda dos níveis de renda, redução da
atividade produtiva, redução do consumo. Graças a uma série de decisões que
são, do ponto de vista social, extremamente custosas e penosas. Muita gente no
país está sofrendo diariamente as consequências mais agressivas e brutais desse
processo. Acho que seria importante explorar outros caminhos, outras
possibilidades", concluiu Oliveira.
¨ Aprendendo com as lutas e as vitórias bolivarianas, Por Jair de
Souza
Ao derrotar
eleitoralmente as forças da direita pró-imperialistas na Venezuela, os
bolivarianos chavistas deram a todos os lutadores sociais do campo popular na
América Latina e em todo o mundo uma das mais grandiosas lições de como travar
a luta pela construção de sociedades mais dignas, justas e soberanas. Isto
tudo, evidentemente, do ponto de vista das maiorias trabalhadoras.
Para confrontar e
derrotar as forças alinhadas com as diretrizes do grande capital dos centros
hegemônicos e de seus sócios coadjuvantes locais, os revolucionários
bolivarianos sabiam que precisavam dispor não apenas de um sistema eleitoral
imune à manipulação dos grandes grupos econômicos, mas também teriam de contar
com um elevado nível de consciência das maiorias populares e com a edificação
de sólidas estruturas de organização e luta.
Por isso, deu-se muita
atenção à reformulação do aparelho do Estado com vista a torná-lo mais afinado
com os interesses do conjunto da população e não apenas com os de suas classes
dominantes. Quanto a isto, o bolivarianismo venezuelano foi muito além do que
quaisquer outras forças latino-americanas (com a honrosa exceção de Cuba,
logicamente) haviam se aventurado.
Neste sentido, o papel
das Forças Armadas passou por uma drástica metamorfose. De sua costumeira
função de atuar como baluarte da sustentação dos privilégios das classes
dominantes latino-americanas, na Venezuela chavista sua reorientação foi tão
significativa a ponto de passarem a representar quase o oposto do que tem sido
habitual. Assim, hoje em dia, a defesa do processo revolucionário em curso
incorpora também as bases das forças militares, policiais e as milícias
populares. Cabe ressaltar que, na Venezuela, o conceito de milícia não tem nada
em comum com o banditismo expressado pelo termo em sua conotação associada ao
bolsonarismo brasileiro.
Por sua vez, o sistema
eleitoral venezuelano foi submetido a profundas transformações, que o tornaram
no mais confiável e fidedigno entre todas as nações de nosso planeta. Nas
eleições realizadas na Venezuela, há absoluta garantia de que os votos dos eleitores
serão fielmente respeitados na divulgação dos resultados oficiais. Portanto, o
presidente Nicolás Maduro estava coberto de razão quando afirmou que o sistema
eleitoral venezuelano é superior ao que está vigente no Brasil na atualidade.
Na Venezuela o sistema eleitoral incorpora todas as virtudes do processo
digital do modelo brasileiro, e vai muito além.
No entanto, no
transcorrer dos enfrentamentos em função de sua disputa eleitoral do momento,
as forças revolucionárias bolivarianas da Venezuela também estão nos
proporcionando valiosas lições de como não se render às pressões, coações e
chantagens provenientes de representantes do imperialismo estadunidense e de
seus serviçais da extrema direita local. Os revolucionários venezuelanos nos
estão deixando muito clara a importância de manter a cabeça erguida e não
sucumbir diante das ameaças das máquinas de triturar reputações que os meios de
comunicação a serviço do capital põem em marcha quando desejam fazer valer suas
posições. Ao não ceder e nem se render, os bolivarianos nos ensinam a
compreender o valor da dignidade e da luta.
Outra valiosíssima
contribuição extraída das circunstâncias atuais é o desmascaramento da falsa
esquerda, aquela que atua como verdadeira quinta-coluna do imperialismo e do
neoliberalismo no seio das forças populares. Alguns dos expoentes dessa escória
chegam até mesmo a se autoconsiderarem e autodenominarem como de esquerda e
socialistas, quando, na verdade, não passam de lambe-botas das oligarquias e do
imperialismo. Portanto, este é um momento de importância crucial para que
saibamos quem são os farsantes infiltrados entre as forças populares de
esquerda.
Sendo assim, considero
que é um dever imperioso de todo humanista e revolucionário sincero prestar
solidariedade ao povo bolivariano da Venezuela nesta hora em que a Revolução
Bolivariana está sofrendo um violento assédio por meio de todos os instrumentos
de agressão do imperialismo, de seus serviçais declarados e da “esquerda”
neoliberal pró-imperialista.
¨ Efeitos e causas do paradoxo venezuelano. Por Ricardo Mezavila
No período que
antecedeu as eleições na Venezuela, principalmente depois que Nicolás Maduro
disse que haveria ‘banho de sangue’ no país caso não se reelegesse, não era
incomum ser indagado pelos liberais se aquilo era normal, se a esquerda ainda
apoiaria Maduro.
Normalizar
derramamento de sangue caso a vontade de um mandatário não seja respeitada, é
temerário quando a visão é percebida de forma simplista, sem análise
razoavelmente estudada. O que para os detratores de Maduro é impossível.
O próprio Presidente
Lula se viu desconcertado com a infeliz frase de Nicolás. Lula teve de passar a
limpo as palavras antes de serem ditas, porque seriam desviadas de seus
sentidos pela extrema-direita articulada nas redes, e ativistas antipetistas
que usam órgãos de concessão pública como palanque.
O cerne da questão
está no interesse dos EUA na exploração do petróleo venezuelano. Ponto. A
soberania do país vem sendo colocada em risco permanentemente, desde que o
Presidente Hugo Chávez, que era bolivariano, socialista e anti-imperialista,
nacionalizou setores estratégicos, contrariando e afastando interesses
internacionais, travestidos de investimentos.
A aproximação com Cuba
e os projetos em saúde e educação tornaram Hugo Chávez ícone popular no país,
ao mesmo tempo em que sua imagem era a de um ditador autoritário para o resto
do mundo, tendo sofrido tentativas de golpe da oposição aliada aos parasitas
liberais, também conhecidos como ‘elite’.
Esse pequeno mapa das
relações entre os mandatos de Chávez e Maduro contra interesses internacionais
apoiados pela imprensa, não justifica, mas traz luz às duras declarações do
atual Presidente para manter resistente o cordão contra o imperialismo voraz.
Nos dando a oportunidade de dizer que não defendemos a figura do Presidente,
mas nos colocamos contra a invasão de um país por outro.
Agora, com a reeleição
garantida, voltamos a defender a soberania do povo venezuelano e o fim das
sanções comerciais impostas por aqueles que não fazem a defesa da democracia,
mas a garantia da interferência em causa própria na economia da República Bolivariana
da Venezuela.
Fonte: Sputnik Brasil/Brasil
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