Controvérsias: aumento de
microempreendedores no Brasil expõe fragilidade trabalhista, diz analista
Recentemente, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um dado
significativo sobre o microempreendedorismo no Brasil: em um ano, o país viu o
surgimento de 1,5 milhão de novos microempreendedores.
No entanto, esses
números carregam nuances que merecem uma análise mais detalhada. É o que
apontaram especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Atualmente, de acordo
com o levantamento do IBGE, cerca de um terço dos microempreendedores
brasileiros ganha até meio salário mínimo por mês, evidenciando uma realidade
econômica complexa.
Além disso, um terço
desses empreendedores está inscrito no Cadastro Único do Governo Federal, o que
totalizou 14,6 milhões de inscritos em 2022.
À Sputnik, o doutor em
estatística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jucelino Matos,
destacou que "observando os dez estados com mais MEI's cadastrados no
CADÚnico (representam 15% dos MEIs cadastrados no pais) e eram beneficiários do
Bolsa Família, são em grande parte do Nordeste (6) e Norte (4), com o Piauí no
topo, consistindo em 24,09% dos MEI's cadastrados no estado e Paraíba com
21,25%".
"Esses dados
apontam para um cenário em que o empreendedorismo está emergindo como uma
alternativa necessária, mais do que uma escolha desejada", critica Brenno
Almeida, economista especializado em planejamento e gestão pública pela
Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Pernambuco (UPE).
<><> Crise
no mercado de trabalho e impactos
Os números refletem
uma crise persistente na geração de empregos de qualidade, sugere o economista.
Embora haja relatos de uma melhora nos padrões de renda média, muitos
trabalhadores ainda enfrentam condições precárias.
"A necessidade de
uma renda adicional ou melhor se tornou uma força motriz para a criação de
novos negócios. Para muitos brasileiros, abrir um empreendimento pequeno é a
resposta para a falta de oportunidades de emprego que garantam uma renda digna",
argumenta Almeida.
Segundo o
especialista, o impacto econômico do crescimento do microempreendedorismo
(MEIs) é considerável. Cada novo microempreendedor não só cria uma nova fonte
de renda para si, mas também movimenta diversos setores da economia.
"Desde o aluguel
de um espaço comercial até a compra de materiais e equipamentos, cada etapa do
processo gera atividade econômica. Por exemplo, a abertura de uma loja de
acessórios para celulares envolve pagamentos a fornecedores, alugueis, reformas
e outras despesas que beneficiam uma cadeia de negócios", detalha o
economista.
Apesar do impacto
positivo, o cenário não é isento de desafios. A renda baixa de muitos
microempreendedores pode afetar a sustentabilidade dos negócios e a qualidade
de vida dos empreendedores.
"Muitos desses
novos negócios enfrentam dificuldades financeiras, com alguns recorrendo a
cartões de crédito para capital de giro, o que pode levar a endividamento e
fechamento precoce", observa o economista.
<><> Pouca
oportunidade e falta de orientação
A assistência técnica
e a educação empreendedora são cruciais para mitigar esses riscos. Organizações
como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
oferecem suporte, mas a percepção de burocracia pode desmotivar alguns empreendedores.
"Há uma
necessidade crescente de orientações práticas e acessíveis para que os novos
empresários possam administrar suas finanças, entender fluxos de caixa e
planejar estrategicamente", aconselha Almeida.
O crescimento do
microempreendedorismo no Brasil é, em resumo, reflexo das atuais condições
econômicas e da falta de empregos adequados, explica. "Para garantir que
esse crescimento seja sustentável e benéfico, é essencial que políticas
públicas e iniciativas privadas se concentrem na capacitação e no apoio
contínuo aos novos empresários", conclui o especialista.
• Investimento em portos e aeroportos
reflete 'desenvolvimento do Brasil', diz ministro
O ministro de Portos e
Aeroportos, Silvio Costa Filho, está otimista com recentes iniciativas do
governo federal para impulsionar a infraestrutura portuária, aeroportuária e
hidroviária do Brasil.
Em entrevista à
Sputnik Brasil nesta quinta-feira (29), ele destacou a importância das novas
medidas de crédito implementadas pela administração do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), afirmando que essas ações estão em linha com a agenda de
desenvolvimento do governo.
Costa Filho ressaltou
o progresso em áreas estratégicas, como a ampliação do Fundo da Marinha
Mercante e o fortalecimento do Fundo Nacional de Aviação Civil (FENAC), que
destinará cerca de R$ 5 bilhões para apoiar o setor aéreo.
Além disso, o ministro
anunciou o lançamento de debêntures de infraestrutura, que visam
desburocratizar e acelerar investimentos no setor portuário e hidroviário, com
objetivo de fomentar o crescimento econômico e a geração de empregos.
Nos últimos dez anos,
de 2011 a 2022, foram emitidos cerca de R$ 11 bilhões em debêntures. Segundo
ele, o governo Lula já ultrapassou R$ 12 bilhões em apenas dois anos.
"Isso significa
dizer que com essa debênture de infraestrutura que foi lançada, a gente espera,
nesses próximos três anos, alavancar mais de R$ 30 bilhões em debêntures, que
vão estimular projetos portuários, aeroportuários, mas, sobretudo, com o olhar
para o desenvolvimento do Brasil".
Os projetos contemplam
diversas regiões do Brasil, com ênfase nos grandes empreendimentos em São
Paulo, que fortalecem a infraestrutura portuária nacional, segundo ele. O
ministro também destacou iniciativas no Norte e Nordeste. "Hoje está
havendo a descentralização portuária, [...] São os portos do Rio crescendo,
[...] é o Porto do Pecém, é o Porto de Suape, é o Porto do Itaqui do Maranhão,
são os portos de Santa Catarina, os portos de Espírito Santo, entre outros.
"Estamos fazendo
hidrovias, vamos fazer a ferrovia, que é a Ferrogrão, a gente está fazendo as
rodovias. Então, esse plano logístico regional, isso vai potencializando a
indústria portuária brasileira."
Segundo o titular da
pasta, o Ministério de Portos e Aeroportos elabora plano logístico abrangente
que integra investimentos em infraestrutura rodoviária, ferroviária,
hidroviária e aérea. "A gente está desenhando o plano logístico, que
dialoga também com a agenda de infraestrutura."
Costa assinou portaria
nesta quinta-feira (29) que regulamenta o Decreto 11.964/2024, estabelecendo
critérios para a emissão de debêntures de infraestrutura.
A cerimônia ocorreu na
sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A nova regulamentação
permitirá que a emissão dessas debêntures para financiar investimentos em
portos e aeroportos seja feita sem a necessidade de autorização prévia do
Ministério, reduzindo o tempo de espera atual, que varia entre dois e três
meses.
Em julho, o Ministério
realizou consulta pública para atualizar e simplificar tais regras. "Esse
é o nosso desejo do ministério, do governo do presidente Lula."
"[A ideia é] nós
estreitarmos a relação com o setor produtivo nacional, até porque quem produz é
quem gera emprego, gera renda, e esse momento no Brasil exige mais do que nunca
unidade para a gente ajudar a desenvolver e crescer, gerando riquezas em todas
as regiões do país."
Segundo ele, no início
do ano, a perspectiva de crescimento era em torno de 1,2% e, até 2026, pode
subir para 4%. Por fim, Costa Filho ressaltou que o Brasil possui a Embraer,
com "uma indústria rica, uma indústria importante para a economia brasileira",
e que "não tem sentido" as "aéreas brasileiras não preservarem e
comprarem aviões no nosso país".
O secretário nacional
de Aviação Civil, Tomé Franca, destacou que "esse é um momento histórico
para o desenvolvimento da infraestrutura do país, especialmente na área de
portos, hidrovias e aeroportos".
"Estamos batendo
recordes em investimentos tanto no setor público quanto no privado, por meio
das concessões", ressaltou. Ele também relembrou a origem das concessões
da infraestrutura portuária, que remonta ao primeiro governo do presidente Lula,
o que foi continuado posteriormente.
"Quem viajava
pelo Brasil nos últimos 20 anos pôde observar a modernização, a qualidade do
serviço e a melhoria da infraestrutura dos aeroportos", finaliza.
<><> Lula
e presidente do Peru abordam integração sul-americana em conversa telefônica
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva recebeu na tarde desta quarta-feira (28) um telefonema da
presidente do Peru, Dina Boluarte.
De acordo com o
Palácio do Planalto, a conversa durou cerca de 35 minutos e ambos os
mandatários reafirmaram a importância da democracia e da integração política,
econômica e logística sul-americana.
Boluarte relembrou a
reunião presencial que tiveram em Belém (PA), à margem da Cúpula da Amazônia,
há um ano, e agradeceu o apoio brasileiro na representação dos interesses do
país na Venezuela após o rompimento de relações diplomáticas, bem como a posição
assumida pelo Brasil de buscar uma solução para o impasse eleitoral na
Venezuela.
Lula agradeceu o
convite peruano para participar da Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico
(APEC, na sigla em inglês), a ser realizada em Lima, em novembro, e manifestou
interesse em comparecer.
O presidente
brasileiro também comentou a necessidade de ter uma secretaria-geral em pleno
funcionamento na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para o
fortalecimento da organização e dos países amazônicos.
Por fim, Lula convidou
o Peru a se juntar à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo
Brasil no âmbito do Grupo dos Vinte (G20), que está sendo presidido pelo
governo brasileiro desde 1º de dezembro de 2023.
O G20 é um fórum
destinado a discutir problemas de cooperação econômica e financeira global. O
G20 reúne as maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, cujo produto
interno bruto (PIB) conjunto equivale a 85% do PIB global.
Além da União Europeia
e da União Africana, integram o G20: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita,
Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos,
França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia.
• 'Falta informação e resistência à
pressão social', diz analista sobre incêndios no Brasil e Bolívia
Os governos de Bolívia
e Brasil concordaram em coordenar ações de enfrentamento aos incêndios que
afetam a Amazônia. Até o momento, mais de dois milhões de hectares foram
queimados no Estado Plurinacional, principalmente nos departamentos de Beni e
Santa Cruz. Do lado brasileiro, já foram consumidos mais de três milhões de
hectares.
A Amazônia boliviana
constitui 43% do território nacional se levarmos em conta o critério ecológico
ou bioma.
La Paz está em diálogo
com países da América do Sul, Ásia e Europa, que se comprometeram a enviar
bombeiros e equipamentos para enfrentar os incêndios. Ao mesmo tempo, os
governos de Luis Arce e Luiz Inácio Lula da Silva detectam e processam os
envolvidos na propagação do fogo, tradicionalmente utilizado nesta época do ano
para preparar áreas agrícolas.
Representantes de
ambas as nações se reuniram recentemente em Corumbá, no estado do Mato Grosso
do Sul.
"Analisamos o
comportamento do fogo em ambas as fronteiras. Esse problema vem acontecendo
desde 12 de agosto. Ainda há fogo na fronteira e também perto dela. Definimos
alternativas de intervenção imediata", disse à Sputnik o vice-ministro da
Defesa Civil da Bolívia, Juan Carlos Calvimontes.
Segundo previsões de
pesquisadores ambientais, setembro e outubro serão os meses mais difíceis para
enfrentar o fogo, mas, para o vice-ministro, "este mês [agosto] é o mais
crítico, porque o período das queimadas e o fogo provocado pelos agricultores
foi antecipado devido ao comportamento do tempo".
Ainda segundo
Calvimontes, "a China e outros países nos dão apoio em equipamentos. Com a
França, por exemplo, temos um acordo de trabalho porque eles formam os nossos
bombeiros florestais".
No caso do Chile e de
outros países da região, "vamos gradualmente ver a necessidade de enviarem
tropas. Agora acreditamos que não estamos em um nível tão crítico, mas talvez
mais tarde precisaremos do seu apoio".
No imediato, as ações
da Bolívia e do Brasil terão como objetivo fundamental proteger a Área Natural
de Manejo Integrado San Matías (ANMI), de 30 mil hectares, na fronteira entre
Santa Cruz e o Brasil.
A Sputnik também
conversou com o pesquisador Stasiek Czaplicki Cabezas, que avaliou o panorama e
destacou que, além das ações de curto prazo entre os dois países, é necessário
um planejamento de longo prazo, considerando que a região amazônica sofre incêndios
todos os anos nesses meses.
O pesquisador, que é
economista ambiental, identificou fatores que afetam tanto os incêndios no
Brasil quanto os da Bolívia.
"Há um processo
muito severo de desmatamentos e incêndios [...]", disse o pesquisador
acrescentando que as chamas são provocadas pelo avanço da fronteira agrícola:
"São incêndios recorrentes que entram na área do Pantanal [compartilhada
pelos dois países]. São incêndios que sabemos que ocorrem entre junho e
outubro, muitas vezes vêm do Brasil, é o que sempre nos diz a análise das
cicatrizes dos incêndios. Não vai mudar, além do acordo entre Brasil e
Bolívia", afirmou.
O analista explicou
que a chegada do fogo à Bolívia era esperada desde junho passado: "Já
sabíamos, mas não podíamos fazer nada, nem o governo brasileiro. Fogo com
frente de mais de 50 quilômetros."
Czaplicki comentou que
a estratégia atual consiste em tentar conter o fogo até que cheguem as chuvas
do próximo mês de outubro: "Nossos bombeiros trabalham para evitar que as
casas queimem, mas de forma alguma têm poder para apagar os incêndios. Só quando
as chuvas chegarem, que os incêndios serão apagados", disse.
O pesquisador também
considerou que falta informação governamental sobre a situação.
"Para ser eficaz,
requer um governo boliviano proativo que tenha uma visão de prevenção a médio
prazo, que atue com coordenação e que não responda simplesmente à pressão
social. Enquanto o governo não adotar esta abordagem, qualquer que seja o acordo,
não dará resultados. Em Santa Cruz, quase dois milhões de hectares foram
queimados. Sabe-se que no resto do país foram queimados mais um milhão de
hectares. Ainda nem começamos setembro e outubro, que são os meses em que
queimam as maiores áreas", analisou.
Os governos brasileiro
e boliviano também investigam os responsáveis pelos incêndios. A polícia
brasileira prendeu dois homens em conexão ao incêndio criminoso em áreas rurais
de São Paulo.
O ministro da Defesa
boliviano, Edmundo Novillo, disse ao canal estatal Bolivia TV que estão abertos
processos criminais contra 51 pessoas, três das quais estão presas por sua
responsabilidade nos incêndios descontrolados.
De acordo com dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) o Brasil é responsável por
quase metade dos focos de queimadas registrados na América do Sul, entre
janeiro e agosto. O país contabilizou 115.944 focos apenas em 2024.
Isso corresponde a
46,3% de todos os incêndios na América do Sul, que somaram 250.374. O segundo
país com o maior número de incêndios foi a Venezuela, 38.784 focos. A Bolívia
foi o terceiro (37.848) e a Argentina, com 17.207 focos, o quarto, mostraram os
dados de satélites levantados pelo Inpe e citados pelo portal UOL.
Fonte: Sputnik Brasil
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