Luís Nassif: ‘O processo de naturalização
de Pablo Marçal’
É inacreditável a
incapacidade brasileira de aprender com a tragédia. O país testemunhou o que
foi a leniência da Justiça com os abusos do então deputado Jair Bolsonaro. Está
testemunhando o que acontece agora com Pablo Marçal.
Não assisti sua
entrevista à Globonews, mas a enquete que o Globo fez com colunistas do jornal
é uma demonstração cabal da ignorância coletiva nacional. Nem se diga do artigo
de Joel Pinheiro da Fonseca, na Folha, o grande sem-noção da atualidade, que defende
até o comércio de órgãos humanos. Mas o tratamento dele, como “empresário”, é a
maior demonstração da falta de senso de mídia.
E os comentários do
Globo são de arrepiar.
Pablo Ortelado, um
sociólogo da USP, tratou Marçal como um “Dória goiano Tik Toker”. Ortellado foi
o principal defensor dos “black blockers” nas manifestações de 2013, o fator
que provocou a reação que jogou as manifestações nas mãos da direita. Logo depois,
foi contratado pela revista Veja para um trabalho visando equiparar blogs de
esquerda aos blogs de ultradireita geradores de fake news.
Agora, trata como
“empresário” um coach que vende livros de auto-ajuda disfarçando-se de convicto
evangélico, atropela todos os procedimentos legais, tem vinculações claras com
pessoas ligadas ao PCC e defende uma radicalização mais ampla que a de Bolsonaro.
Outros colunistas
elogiaram a postura “mais amena” de Marçal, como se não fosse uma encenação. Se
vissem Hitler tocando violino, o tratariam como um sujeito de bons sentimentos.
Poucos se ativeram ao
essencial para um candidato a prefeito: as propostas para São Paulo. Ou as
implicações de sua candidatura para viabilizar uma ultradireita mais rancorosa
e irracional.
São incapazes de
entender os efeitos da montagem de redes sobre a política, mesmo após a
ascensão de Bolsonaro. São incapazes de entender que quem afronta as regras do
jogo, não pode permanecer no jogo. São incapazes de questionar sequer os
negócios de Marçal. Ou as acusações absurdas de que Boulos é usuário de drogas.
Nada disso contou para
esses analistas do momento presente.
Recentemente, o
próprio Marçal admitiu que está sendo investigado pelo COAF. Tem negócios
nebulosos com Angola, não registrados no Banco Central. Em 2023, uma
investigação da Polícia Federal constatou que as inúmeras empresas que
declararam são meros CNPJs, sem demonstrações contábeis adequadas.
• Marçal acusa Boulos de uso de cocaína
com base em processo de outro Guilherme Boulos
A campanha de Pablo
Marçal, candidato de extrema-direita à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, tem
utilizado um processo judicial envolvendo um homônimo do candidato Guilherme
Boulos, do Psol, para acusá-lo falsamente de uso de cocaína, informou o jornal Folha
de São Paulo nesta quarta-feira (28).
Marçal tem reiterado a
acusação de que Boulos seria usuário de cocaína, sem apresentar qualquer prova
concreta. Em debates e publicações nas redes sociais, Marçal se referiu ao
candidato do PSOL como "aspirador de pó", enquanto Boulos, que nega
as acusações, entrou na Justiça contra o influenciador e afirmou que essas
alegações são prejudiciais à sua família.
O processo citado por
Marçal envolve, na verdade, o empresário Guilherme Bardauil Boulos, réu em um
caso de posse de maconha em 2001, que foi extinto em 2006. Bardauil, que
atualmente é candidato a vereador em São Paulo, afirmou que o incidente ocorreu
na juventude e que faz parte de seu passado. Enquanto isso, Marçal continua
prometendo provas, sem jamais apresentá-las, e mantém as acusações.
• Entenda todas as investigações que
envolvem Pablo Marçal e como estão os processos
Envolto em polêmicas e
problemas com a Justiça, o empresário e candidato à Prefeitura de São Paulo
Pablo Marçal (PRTB) tem seu nome envolvido em investigações criminais, ações na
Justiça Eleitoral e é processado até por supostamente não cumprir uma promessa.
Além disso, o
empresário já foi preso temporariamente em 2005, quando tinha 18 anos, na
investigação que apurou ações de criminosos condenados por desviar dinheiro de
contas bancárias. Em 2010, ele foi condenado a quatro anos e cinco meses de
reclusão por furto qualificado. Embora considerado culpado, ele não chegou a
cumprir a pena, que prescreveu pela demora do tribunal em apreciar o caso.
Procurado, Marçal não se manifestou sobre o episódio.
Atualmente, o ex-coach
é alvo de inquéritos da Polícia Federal (PF), da Polícia Civil de Piquete (SP),
e tem abertas contra ele 22 ações na Justiça Eleitoral.
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Investigação da Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro
Marçal é investigado
pelos supostos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita
eleitoral e lavagem de capitais nas eleições de 2022, quando lançou sua
candidatura ao Planalto. A PF suspeita que o ex-coach e seu sócio Marcos
Oliveira tenham feito doações de R$ 1,7 milhão à campanha e gastado o dinheiro
com serviços de suas próprias empresas. O caso tramita em sigilo.
Na tentativa de
concorrer à Presidência, Marçal foi barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) em meio a disputas pela liderança do PROS, sua sigla na época. Depois
disso, ele concorreu a uma vaga na Câmara, mas teve o registro indeferido após
o pleito. A PF chegou a cumprir diligências na casa do empresário em julho do
ano passado. Marçal rebateu em suas redes sociais, afirmando que era vítima de
"perseguição política".
O empresário é
investigado pela Polícia Civil por colocar em risco a vida de 32 pessoas em uma
expedição ao Pico dos Marins, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, em
janeiro de 2022. O grupo liderado por ele foi resgatado pelos bombeiros, após a
incursão na montanha de 2.420 metros de altitude - mesmo com o alerta da Defesa
Civil sobre as más condições meteorológicas naquela ocasião.
À época, Marçal
afirmou que não mandou ninguém subir a montanha e que cada um foi responsável
pelos próprios atos. Ele tentou no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP)
trancar o inquérito conduzido no interior, em Piquete (SP), a 208 quilômetros
da capital paulista, mas não conseguiu.
No final de julho, a
Vara Única da cidade concedeu mais 90 dias para a Polícia Civil local
investigar o caso. Além disso, uma ordem judicial proíbe que ele realize novas
expedições similares sem autorização prévia da Polícia Militar.
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Investigação do Ministério Público por descumprimento de medida judicial
O Ministério Público
de São Paulo (MP-SP) foi autorizado pela Justiça no final de junho a investigar
se Marçal descumpriu uma medida cautelar imposta a ele após o caso do Pico dos
Marins. Na ocasião, o então coach foi proibido pelas autoridades de realizar
"qualquer atividade externa na natureza (seja em montanhas, picos, rios,
lagos, mares, ou em locais correlatos), por si ou por interposta pessoa, sem
prévia e expressa autorização" dos órgãos competentes, "sob o
pretexto de sua atividade de coach ou em programas motivacionais".
Porém, em maio deste
ano, o candidato participou de um reality show, criado por ele, chamado
"La Casa Digital", que reúne participantes para receberem mentoria
sobre marketing digital. Um dos participantes afirmou ao portal jurídico
Migalhas ter enfrentado situações de desrespeito e maus tratos durante sua
participação, tendo sido, inclusive, submetido a "treinamentos físicos
intensos".
O caso está sendo
investigado pela Delegacia de Polícia de Itu, em São Paulo. Além de Marçal,
Rafael Francelli e Marcos Antônio Fergutz, organizadores do programa, também
estão sendo investigados.
Em nota, a defesa do
ex-coach nega o descumprimento de quaisquer medidas judiciais. "Não
colocamos nenhum participante em risco físico durante o evento", diz
Marçal por meio de sua assessoria de imprensa. "Vale ressaltar que minha
participação no evento foi meramente como apresentador, não sendo eu o
organizador." Além disso, ele alega que não participou de atividades
externas, como a medida cautelar proíbe, e que o programa não era relacionado
ao coaching ou a questões motivacionais, mas sim exclusivamente ao marketing
digital.
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Processo cobrando R$ 51 milhões por não cumprir promessa
Marçal é cobrado na
Justiça por uma promessa que fez durante uma entrevista ao programa Pânico, da
Jovem Pan. Na ocasião, o empresário disse que pagaria US$ 1 milhão para a
pessoa que encontrasse algum processo movido por ele, independentemente de
pessoa física ou pessoa jurídica.
Um advogado encontrou
nove processos e um habeas corpus de autoria do ex-coach, e cobra na Justiça
quantia de cerca de R$ 51 milhões do pré-candidato. Em uma palestra, Marçal
chamou a atitude do advogado de o "ápice do fracassado" e, em nota na
época, disse que não vai propor "qualquer negociação ou acordo". O
caso segue na 2ª Vara Cível de Barueri.
<><> Ação
no Tribunal Superior Eleitoral sobre acordo no PRTB
Embora não cite
nominalmente Marçal, uma ação destravada pela ministra Cármen Lúcia, presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode acabar com a candidatura do
ex-coach. A ação é movida por Aldineia Fidelix, viúva de Levy Fidelix,
ex-presidente do PRTB, que alega que Leonardo Avalanche, atual presidente
nacional da sigla, desrespeitou um acordo que havia sido acertado em fevereiro
para definir a divisão de poder dentro do partido após a morte de Levy.
Segundo a autora da
ação, Avalanche manteve uma comissão provisória alinhada a ele que chancelou o
nome de Marçal como candidato da sigla, ato que pode ser cancelado se a viúva
vencer o processo. A ministra pediu que o Ministério Público Eleitoral dê um parecer
sobre o caso e determinou que Avalanche se manifeste em três dias.
<><> Ação
no TSE contra presidente da sigla
As acusações foram
protocoladas por uma ala do partido contrária ao dirigente, que pede sua
destituição do comando da sigla. Procurado, por meio de assessoria, Avalanche
não respondeu até o momento. Na ação, a defesa afirmou que os fatos estão
desprovidos de elementos mínimos de confiabilidade. A ministra Cármen Lúcia
rejeitou o pedido de afastamento do presidente da sigla, mas o mérito do
processo ainda será analisado.
Marçal também foi
procurado para se manifestar sobre a acusação contra o presidente de seu
partido e padrinho político na legenda, mas não retornou os contatos até o
momento.
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Processos na Justiça Eleitoral
Entre representações,
notícia-crime, pedidos de direito de resposta, cumprimento provisório de
sentença e pedidos de investigação eleitoral, Marçal possui 21 processos
abertos contra ele na Justiça Eleitoral - 15 deles movidos pelo candidato
Guilherme Boulos (PSOL) ou pela coligação da qual faz parte.
Um deles, a pedido da
campanha de Tabata Amaral (PSB), resultou na medida liminar que determinou o
bloqueio dos perfis do candidato das redes sociais neste sábado, 24.
O juiz Antonio Maria
Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral, menciona indícios de abuso de poder
econômico e uso indevido dos meios de comunicação na remuneração de usuários
para produzir "cortes" e divulgá-los nas redes - o que, segundo o
magistrado, parece provocar desequilíbrio em relação aos demais candidatos.
Marçal abriu uma live
em seu Instagram para comentar a decisão, afirmando que sofre perseguição
política e que a decisão "não tem fundamento". Tabata também pediu a
quebra dos sigilos fiscal e bancário das empresas de Marçal, mas o juiz negou.
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Pedido de suspensão provisória feito pelo MP Eleitoral
Outro entre os
processos que tramitam na Justiça Eleitoral teve um desdobramento nesta
terça-feira, 27, com a negativa do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo
(TRE-SP) de suspender o registro de candidatura do influenciador.
O pedido liminar foi
apresentado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), alegando que Marçal usou
estratégias ilegais de financiamento de campanha ao recrutar colaboradores para
divulgar seu conteúdo online em troca de ganhos financeiros.
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Outros processos na Justiça comum
Marçal também responde
a pelo menos outros oito processos na Justiça comum, entre eles sete na Justiça
paulista e um no Tribunal de Justiça do Distrito Federal - movido pelo deputado
federal Kim Kataguiri (União-SP), que pede indenização por dano moral.
Segundo os autos da
ação movida pelo deputado, em duas entrevistas durante o mês de agosto, Marçal
insinuou que Kataguiri e o Movimento Brasil Livre (MBL), do qual é um dos
criadores, teriam recebido dinheiro do atual prefeito para "se
curvar", ou seja, apoiá-lo em sua candidatura à reeleição. O deputado pede
R$ 50 mil em indenização, e que Marçal se retrate em seu perfil no X (antigo
Twitter) e em seu canal no YouTube.
No total, seis das
ações fazem pedidos referentes a supostos danos morais causados por Marçal. Em
outra delas, movida por Boulos, o deputado alega que o ex-coach "afirmou,
de forma absolutamente leviana e sem qualquer prova, que o autor seria organizador
de um esquema criminoso" durante uma entrevista a um podcast. A ação pede
o pagamento de R$ 50 mil em indenização e a exclusão do vídeo e das postagens
referentes a ele.
• Justiça Eleitoral mantém suspensão das
redes sociais de Pablo Marçal
O Tribunal Regional
Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) negou o pedido de reativação das redes sociais
do empresário e ex-coach de extrema direita Pablo Marçal (PRTB), candidato à
Prefeitura de São Paulo. Segundo a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha
de S. Paulo, o desembargador Claudio Langroiva Pereira argumentou que não há
risco de prejuízo irreversível ao empresário e nem censura envolvida na
suspensão dos perfis originais de Marçal.
"Devemos destacar que ações judiciais
voltadas a garantir parâmetros democráticos de igualdade, integridade
equilíbrio do processo eleitoral não se constituem em exercício de censura, nem
de afrontas a direito fundamental", afirmou o magistrado na decisão em
caráter liminar, de acordo com a reportagem.
A suspensão dos perfis
de Marçal ocorreu no último sábado (24) por decisão do juiz eleitoral Antonio
Maria Patiño Zorz, que viu indícios de abuso econômico nos cortes de vídeos
promovidos por Marçal, com recompensas financeiras envolvidas. A ação foi movida
pelo PSB, partido da candidata Tábata Amaral, que alega uso indevido dos meios
de comunicação, além de abuso do poder econômico.
Os cortes, essenciais
para a popularidade digital de Marçal, são trechos de entrevistas e vídeos que
seguidores repostam nas redes sociais. A Justiça entende que a monetização
dessas práticas desequilibra a disputa eleitoral. Segundo a defesa do influenciador,
a medida fere a liberdade de expressão e se caracteriza como censura prévia,
sem o devido processo legal.
Marçal, por sua vez,
nega ter remunerado seguidores e afirma que os ganhos financeiros são
provenientes das próprias plataformas digitais. A decisão judicial também
destaca a falta de transparência sobre a origem dos valores destinados aos
vencedores das competições de cortes.
Fonte: Jornal
GGN/Brasil 247/Agencia Estado
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