sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Gordura de palma se agarra às nossas proteínas e pode nos deixar doentes

A gordura ou a manteiga de palma - não o óleo de palma, como é frequentemente chamado porque é sólido em temperatura ambiente - teve um aumento considerável na produção mundial dos últimos anos. Enquanto 43 milhões de toneladas foram produzidas em 2009, até 2023 esse número chegou a 79 milhões de toneladas, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Isso a torna a gordura mais amplamente usada na dieta humana.

Sua onipresença se deve ao fato de ser uma gordura vegetal, obtida da planta Elaeis guineensis, e ao baixo custo de produção. Como é sólida à temperatura ambiente, é fácil de transportar para qualquer parte remota do mundo e, também, é mais estável, pois somente a superfície externa fica exposta à ação atmosférica.

Do ponto de vista bioquímico, consiste em três ácidos graxos saturados - razão pela qual é sólida - ligados ao glicerol. O ácido graxo mais abundante é justamente aquele que lhe dá o nome, o palmítico - que é uma molécula com 16 átomos de carbono.

        O que acontece quando esse tipo de gordura é consumido?

Até este ponto, poderíamos pensar que estamos lidando com a gordura perfeita. Entretanto, há alguns anos, descobriu-se que o consumo repetido dos ácidos graxos da gordura de palma estava associado a uma maior prevalência de doenças cardiovasculares.

Além disso, estudos em modelos animais mostram uma relação de causa e efeito do consumo de gorduras palmíticas no desenvolvimento da aterosclerose quando são consumidas dietas ocidentais com produtos de origem animal ricos em colesterol. Esse não é o caso das dietas desprovidas de colesterol. Em outras palavras, a exposição ao ácido palmítico pode ter consequências para a saúde, especialmente para os não veganos. O consumo promove, também, o ganho de peso corporal em camundongos com adipócitos (células adiposas) maiores, enquanto aumenta a glicose no sangue.

A gordura de palma é digerida no trato digestivo porque o suco pancreático contém lipases (enzimas capazes de quebrar as moléculas de gordura) que liberam o ácido palmítico. Esse ácido é absorvido diretamente no intestino e passa para o sangue, que o distribui para os diversos tecidos.

Ele se liga às nossas proteínas por meio do aminoácido cisteína em um processo conhecido como palmitoilação. Mas a quais proteínas ele se conecta exatamente? Ainda não está totalmente claro.

Recentemente, foi demonstrado que ele se liga ao STAT3 (transdutor de sinal e ativador da transcrição 3) e que isso aumenta o potencial de agressividade de tumores. A modificação de diferentes proteínas por palmitoilação limita a resposta imunológica para a imunoterapia do câncer. E, quando se liga a outra proteína humana chamada gasdermina D, provoca o surgimento de processos inflamatórios.

A lista de moléculas que são interrompidas quando o ácido palmítico entra em nossos corpos continua. Tanto é assim que a comunidade científica está começando a falar em palmitoiloma para se referir ao conjunto de proteínas que são modificadas pela ação desse ácido graxo.

Um detalhe que deve ser levado em conta é que nem todos os indivíduos respondem da mesma forma. O fato de haver ou não cisteína em nossas proteínas, mas também o fato de certas enzimas capazes de eliminar o palmítico que nos invade estarem ativas ou não, diferencia os que respondem dos que não respondem.

Portanto, um dos principais desafios enfrentados pelos pesquisadores é descobrir quem pode ficar despreocupado e comer gordura de palma como se estivesse bebendo água, e quem deve evitá-la a todo custo.

 

        Fruto de palma tem várias aplicações, como o óleo de dendê; entenda

O óleo de dendê, por estar muito presente nos pratos típicos da culinária baiana, acaba sendo associado àquele estado, mas, na verdade, o Pará é responsável por praticamente toda a produção nacional.

Segundo a Associação Brasileira de Produtos de Óleo de Palma (Abrapalma), 88% do dendê (também chamado de óleo de palma por conta da planta de onde é extraído) produzido no Brasil é do Pará. A Bahia fica em segundo lugar, com 11%.

O óleo de palma é uma das essências mais comercializadas no mundo - 32% de todo o óleo produzido no mundo. Valioso, tem uma série de aplicações em diferentes indústrias e movimenta um negócio bilionário.

No Pará, empresas travam uma disputa com comunidades indígenas e quilombolas, que envolvem acusações de grilagem, ameaças a lideranças locais e até cartório-fantasma, no que especialistas chamam de "guerra de dendê". (leia mais abaixo)

Já na Europa, a Alemanha anunciou que deve acabar com o uso de óleo de palma em biocombustíveis a partir de 2023, por considerar que a matéria-prima provoca desmatamento excessivo e não pode mais ser considerada combustíveis renovável para transporte.

<><> Usos na indústria

Os derivados do óleo de palma podem ser usados em indústrias, como:

        alimentícia, nos segmentos de panificação, confeitaria, produtos lácteos e sorvetes, também em frituras industriais;

        de cosméticos; e

        química, em que a solução oleoquímica é usada por empresas que incluem insumos de origem vegetal em produtos e processos industriais.

"O Pará tem uma condição muito favorável, por conta das chuva e do clima", explica André Gasparini, diretor comercial da Agropalma, empresa que atua há 40 anos no estado.

Gasparini também cita que a logística é fator atrativo para a produção do óleo de palma no estado: "a logística auxilia o trânsito da matéria-prima".

"O óleo de palma é interessante por ser muito versátil. Ele está presente desde o óleo para fritura até lubrificantes, panificação, biodiesel, cosméticos. Essa versatilidade traz uma importância para a cadeia, principalmente a de alimentos, que é para onde vai 80% de todo o óleo produzido no Brasil".

<><> Incentivos estatais

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentados pelo governo do Pará, a quantidade produzida de óleo no estado alcançou 2,8 milhões de toneladas em 2020.

Ainda de acordo com o governo, a atividade de produção do óleo gera 20 mil empregos diretos e envolve mais de 240 mil pessoas. Os municípios de Tomé-Açu, Tailândia, Moju e Acará são os maiores produtores paraenses.

No estado, são 1.200 agricultores familiares inseridos por meio do financiamento do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) para atuarem em área plantada de 230 mil hectares.

Um outro destino para o óleo de palma é a produção de biodiesel. Uma fábrica foi instalada em Tomé-Açu em maio deste ano, com apoio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) do Pará.

A indústria tem capacidade para produzir 288 milhões de litros de biodiesel por ano, e teve investimento de R$185 milhões. A previsão é que o faturamento seja de R$ 405 milhões por ano.

 

Fonte: Por Jesús de la Osada García, para The Conversation Brasil/g1

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