Ascensão de Pablo Marçal obriga Bolsonaro
mudar estratégias
O apoio de Jair
Bolsonaro ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), parece estar em uma
encruzilhada, em meio ao crescimento meteórico do coach e candidato de
extrema-direita, Pablo Marçal (PRTB), nas pesquisas eleitorais. Marçal, que
agora disputa o segundo lugar nas intenções de voto com Nunes, tem desafiado o
atual prefeito, que conta com o apoio declarado de Bolsonaro e do governador
Tarcísio de Freitas.
Bolsonaro vinha
reforçando seu apoio a Nunes, mas agora busca mais envolvimento do prefeito no
ato de 7 de setembro, na Avenida Paulista, contra o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, apesar de o emedebista já ter
confirmado sua presença. O ex-presidente postou um vídeo nesta quarta-feira
(28) convocando seus apoiadores para o evento e indicando que "qualquer
candidato a prefeito" de São Paulo poderia comparecer, um sinal claro de
que também Marçal estaria bem-vindo. Com isso, Bolsonaro poderá, se comparecer,
aferir a capacidade de mobilização de ambos. Segundo fontes próximas a
Bolsonaro ouvidas pela Folha de São Paulo, a permissão para Marçal participar
foi um movimento estratégico após ele solicitar sua presença, o que pode colocar
os dois candidatos, Nunes e Marçal, lado a lado no mesmo palanque.
Enquanto isso,
Bolsonaro teria orientado, segundo o jornal O Globo, seus aliados a não
atacarem Marçal publicamente, uma postura que marca uma mudança em sua
estratégia. O crescimento de Marçal nas pesquisas tem gerado temores dentro do
círculo bolsonarista de que ele possa se tornar o principal rival de Guilherme
Boulos (Psol), que lidera as intenções de voto e conta com o apoio do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A possibilidade de um segundo turno entre
Marçal e Boulos está se tornando cada vez mais real, o que coloca Bolsonaro em
uma posição delicada em relação ao seu apoio a Nunes, que busca agora formas de
reiventar sua estratégica e capturar o eleitorado menos extremista de
Bolsonaro.
Aceno do clã Bolsonaro
a Marçal pode ser ‘apito de cachorro’ para debandada da campanha de Nunes
Aliados do prefeito de
São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e interlocutores da campanha de Guilherme
Boulos (Psol) acreditam que a aproximação entre Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e
Pablo Marçal (PRTB) pode gerar uma debandada de bolsonaristas da campanha do
candidato à reeleição, informa a jornalista Andréia Sadi, do G1. Na última
quarta-feira (29), o filho de Jair Bolsonaro (PL) afirmou que os dois
conversaram e “querem a mesma direção”.
"Conversei há
pouco com Pablo Marçal, foi muito educado e bacana comigo. Expusemos nossos
pontos e fico feliz em ter a consciência que queremos rumar nas mesmas direções
quando falamos de Brasil", publicou Carlos nas redes sociais. Na avaliação
das outras campanhas, o post pode ter sido uma senha para que o bolsonarismo
desembarque na campanha de Nunes e se aproxime de Marçal.
A tendência é que Jair
Bolsonaro siga pedindo votos para Ricardo Nunes, mas libere seus aliados para
pedir votos para Marçal. Nos bastidores, assessores de Bolsonaro negam que ele
deixe de apoiar o atual prefeito, mas lamentam a falta de pautas bolsonaristas
na campanha. Do outro lado, o ex-coach se movimenta para atrair o bolsonarismo
oficial e faz constantes acenos ao ex-mandatário.
Os assessores também
afirmam que a conciliação entre os Bolsonaro e Marçal é resultado de uma
articulação feita pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) com o objetivo
de evitar um racha na extrema direita e criar um cordão de isolamento contra a
esquerda.
• Ricardo Nunes dá indireta bíblica para
Pablo Marçal e implora por atenção de Bolsonaro em vídeo
A situação de Ricardo
Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, não é nada
positiva. A campanha perdeu pontos nas últimas pesquisas eleitorais, caindo da
segunda para a terceira colocação em alguns levantamentos divulgados nas últimas
semanas.
Além da derrapada nas
pesquisas para a prefeitura, Nunes perdeu um apoio grande: a família Bolsonaro
- que publicamente o apoia no campanha ara São Paulo - fez um acordo e começou
a dar sinais em favor de Pablo Marçal (PRTB). Carlos Bolsonaro, o mais radical
dos filhos do ex-presidente que chegou a ser chamado de "retardado"
pelo coach, também fez sinalização ao candidato de extrema direita, deixando
Nunes desamparado.
Foi com esse cenário
caótico que Ricardo abriu sua quinta-feira. Nesta manhã, ele tuitou:
"Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de
ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus
frutos", citando versículos do Evangelho de Mateus, uma indireta para
Pablo Marçal, a pedra em seu sapato na corrida eleitoral.
Depois, publicou um
vídeo desesperado ao lado do seu vice, o coronel Mello Araújo, em chamada de
vídeo com Jair Bolsonaro e confirmando sua presença nos ato bolsonarista do
próximo dia 7 de setembro. O ex-presidente inelegível sorri e acena, mas não
responde Nunes diretamente.
• Marçal quer médico antivacina e
antiaborto para coordenar saúde em São Paulo
Um dos responsáveis
pelo plano de governo para a saúde do candidato à prefeitura de São Paulo Pablo
Marçal (PRTB) será Francisco Cardoso, médico que defendeu o uso de cloroquina
para tratar a covid-19, duvidou da eficácia de máscaras e vacinas e é contra o
aborto após 22 semanas.
Os planos de governo
trazem os pilares de uma gestão em áreas como saúde e educação e servem para os
eleitores conhecerem melhor as ideias de seu candidato.
O infectologista
escreveu, no Instagram, que aceitou o convite de Marçal “com muita honra”. “É
impossível para mim apoiar para reeleição o prefeito [Ricardo] Nunes, uma
pessoa que demitiu pessoas por exercerem seu direito de dúvida e livre escolha,
por ousarem questionar algumas medidas, agora comprovadamente sem evidências
científicas”, ele disse, em referência a servidores que foram demitidos por
Nunes por recusarem a se vacinar contra a covid.
“Tenho muito carinho e
admiração pela atual equipe da SMS [Secretaria Municipal de Saúde], são grandes
colegas e muito competentes. Se depender de mim, inclusive, o secretário [Luiz
Carlos] Zamarco e cia continuarão na SMS”, continuou. Zamarco é o atual secretário
de Nunes, em cuja gestão a prefeitura suspendeu o serviço de aborto legal do
Hospital Vila Nova Cachoeirinha, o de referência na cidade, e copiou
prontuários sigilosos das pacientes.
Na rede social,
Cardoso chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro de “presidente” (sic) e disse que
tem orgulho de ser apoiado por bolsonaristas.
Cardoso recentemente
foi eleito conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM) representando o
estado de São Paulo. Ele fazia parte da única chapa que defendia em suas
propostas a resolução do CFM que proibia um procedimento para interromper a
gravidez de vítimas de estupro acima de 22 semanas, chamado assistolia fetal.
Esse procedimento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O médico acredita,
ainda hoje, que o Ministério da Saúde errou em tornar obrigatória a vacinação
contra a covid, com imunizantes aprovados pela Anvisa, e em se posicionar
contra o uso de remédios sem comprovação científica para combater a doença.
O candidato Ricardo
Nunes (MDB) ainda não indicou nomes para a Secretaria de Saúde, caso seja
reeleito, mas o seu plano de governo aposta na ampliação de serviços já
existentes. Os coordenadores dos planos de governo de outros dois candidatos à
prefeitura, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), se posicionaram
vocalmente contra o negacionismo durante a pandemia. Boulos chamou o médico
sanitarista e ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina, e Amaral, os médicos
Paulo Saldiva e Ludmila Hajjar.
Hajjar, por exemplo,
negou convite de Bolsonaro para ser ministra da Saúde, integrou o governo de
transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e falou, recentemente,
sobre uma “onda de picaretagem” que assola a medicina brasileira.
• Presidente do partido de Marçal,
suspeito de envolvimento com PCC, foi acusado de roubar R$ 4 milhões em
bitcoins
O presidente do PRTB
de Pablo Marçal, Leonardo Avalanche, foi acusado na Justiça do Distrito
Federal, em março deste ano, de roubar 14.5 bitcoins do policial civil Bruno
Pires, algo equivalente a R$4 milhões. As denúncias complicam ainda mais a
situação do político, após a sua relação com o PCC ser exposta pela imprensa.
“Pires alegou à
Justiça que, quando conheceu Avalanche, em 2020, ele prometeu ganhos ‘com
rendimentos acima do mercado’ com a compra de bitcoins. O presidente do PRTB,
então, pediu que Pires transferisse 15 bitcoins para ele. Uma parte das
criptomoedas — 14.4 bitcoins — foi repassada para o operador financeiro de
Avalanche, e o restante — 0.6 bitcoin — ficou com o presidente do PRTB, segundo
a ação”, detalha o jornalista Guilherme Amado em sua coluna no Metrópoles.
Leonardo
Avalanche também é acusado por
adversários dentro do partido de vender candidaturas, fazer ameaças e fraudar
filiações. A acusação foi protocolada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo
secretário-geral da legenda, Marcos Andrade, e pela ex-vice-presidente Rachel
de Carvalho, que diz ter deixado o posto após sofrer ameaça de morte, revela
reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
• Campanhas adversárias acreditam na
impugnação da candidatura de Marçal e já projetam cenários sem o ex-coach
O cenário eleitoral
para a Prefeitura de São Paulo pode sofrer uma reviravolta nos próximos dias.
As campanhas e aliados dos principais candidatos já consideram a possibilidade
de uma disputa sem a participação de Pablo Marçal (PRTB), segundo o Metrópoles.
A candidatura de Marçal enfrenta questionamentos no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) e investigações do Ministério Público Eleitoral de São Paulo (MPSP), o
que pode levar à sua impugnação antes do primeiro turno, marcado para 6 de
outubro.
Marçal, atualmente
empatado tecnicamente nas pesquisas com o deputado federal Guilherme Boulos
(PSol) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), vê sua candidatura ameaçada devido a
duas frentes. No TSE, a ministra Cármen Lúcia determinou um prazo para que o
PRTB se manifeste sobre uma ação que questiona o cumprimento dos prazos
internos do partido para a oficialização de Marçal como candidato. O prazo de
resposta encerra-se nesta quinta-feira (29).
Além disso, o
Ministério Público Eleitoral, a partir de uma ação movida pelo PSB, partido da
candidata Tabata Amaral, investiga suspeitas de abuso de poder econômico por
parte de Marçal, incluindo financiamento ilegal para promover conteúdos nas
redes sociais. Esta investigação já resultou na remoção de alguns perfis de
Marçal das plataformas online.
Nos bastidores,
integrantes das campanhas de Boulos, Nunes e José Luiz Datena (PSDB) consideram
como altas as chances de impugnação da candidatura de Marçal. Os candidatos
acreditam que a agressividade e o desrespeito de Marçal a decisões da Justiça
Eleitoral podem pesar contra ele. Um exemplo disso foi a acusação sem provas
feita por Marçal contra Boulos, alegando que o candidato do Psol seria usuário
de cocaína. O dossiê que fundamentou a acusação foi revelado como referente a
um homônimo de Boulos, mas Marçal continuou com as insinuações.
A possível saída de
Marçal da corrida pode beneficiar outros candidatos. Datena, que perdeu terreno
nas últimas pesquisas devido ao crescimento de Marçal, é apontado como um dos
que pode se recuperar com a ausência do influencer. Nos bastidores do PSDB, cogita-se
que Datena esteja avaliando sua viabilidade eleitoral à espera de uma possível
impugnação de Marçal.
Ricardo Nunes, por sua
vez, pode também se beneficiar. Com o início da propaganda eleitoral no rádio e
na TV, que começa nesta sexta-feira (30), o atual prefeito de São Paulo espera
retomar o crescimento nas pesquisas. Aliados acreditam que a saída de Marçal
consolidaria sua posição no segundo turno.
No entanto, há uma
ponderação entre os articuladores políticos sobre a hesitação da Justiça
Eleitoral em tomar uma decisão tão severa como a impugnação de um candidato bem
posicionado nas pesquisas. A preocupação é sobre o impacto dessa decisão
perante os eleitores e o possível desgaste para a imagem do tribunal.
Fonte: Brasil
247/Fórum
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