Chefe da fraude bancária que condenou
Marçal é bispo evangélico no Paraguai...acredite!
Por onde anda o chefe
da quadrilha integrada por Pablo Marçal nos anos 2000? De Olho nos Ruralistas
descobriu que Danilo de Oliveira reside agora em Assunção, onde é o bispo
responsável pela filial da Igreja de Cristo Ministério Nova Terra no bairro
Loma Pytá, região leste da capital paraguaia, perto do aeroporto internacional.
O Ministério Nova Vida é uma vertente da organização estadunidense “Igreja de
Cristo”, fundada nos anos 70 em Pires do Rio, 135 quilômetros a sudeste de
Goiânia.
Torcedor do Goiás e do
Olímpia, o clube com mais títulos na história do futebol paraguaio, o bispo
costuma fazer uma ponte aérea entre Assunção e Goiânia, centro do escândalo nos
anos 2000 que envolveu o jovem Marçal. Pelo menos desde 2013, Danilo de Oliveira
se divide entre os cultos no país vizinho e visitas a unidades da igreja pelo
estado de Goiás. Nas chamadas, nada de Danilo de Oliveira, mas sim “Danilo de
Assunção”.
Danilo vive em
Assunção ao lado da esposa, a pastora Fernanda Doutor, com quem se casou em
2013 e possui uma filha. Em suas redes sociais, em meio a fotos de família e
sermões, o bispo convida os internautas a integrar uma franquia de comércio de
cadeiras, a One Pro, ao mesmo tempo em que se mostra assíduo divulgador de uma
churrascaria brasileira em Assunção, a Brasa & Leña, onde ele comemorou 45
anos, em março no ano passado. As empresas estão registradas em nome de outras
pessoas.
Ele também se dedica a
defender a família Bolsonaro e a atacar o comunismo. Sem deixar de se aventurar
na política local, com postagens de apoio ao ex-presidente paraguaio Mario Abdo
Benítez, ultradireitista, e seu aliado e sucessor, o atual presidente Santiago
Peña. O bispo costuma chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de
“ladrão”. Em um post após a eleição de Lula, em 2022, ele comparou Lula a
Barrabás.
Danilo e Marçal foram
condenados em 2010 por integrar uma quadrilha de golpes digitais. Durante a
ação penal, o bispo — na época pastor — chegou a pedir redução de pena com base
na delação premiada. O pedido foi negado, pois a polícia considerou que suas
informações não contribuíram para a investigação. A ele foi reconhecida apenas
a atenuante da confissão, prevista no artigo 65 do Código Penal.
Pablo Marçal foi
preso, conforme relatou a Folha, mas liberado após delatar os comparsas.
IRMÃO DE MARÇAL É
LIGADO À IGREJA DO BISPO DANILO
— Eu fui muito
inocente de ter que trabalhar com gente que não tem caráter, eu respeitei
porque ele era um líder religioso. Consertava computadores pra ele. Me
arrependo de ter me aproximado dessa pessoa.
A declaração foi feita
por Pablo Marçal na sexta-feira (23) em entrevista ao programa Balanço Geral,
da Record. Ele se referia exatamente ao bispo Danilo de Oliveira. Quando foi
alvo de busca e apreensão por liderar a quadrilha, Danilo portava cartões bancários,
aparelhos celulares e panfletos de divulgação da Igreja de Cristo. Depois da
condenação, subiu na hierarquia e virou bispo. Além de exercer essa função no
Ministério Nova Terra, ele possui cadastro de corretor imobiliário em Goiás.
Irmão de Pablo, Hudson
Marçal Rosa já conduziu cultos na igreja de Danilo. Este observatório constatou
interações entre os religiosos pelo menos até 2020, quando Hudson reagiu a um
elogio do bispo a uma manifestação religiosa do ex-presidente Mario Abdo Benítez.
Pablo Marçal esteve em
julho em Goiânia para lançar a candidatura a vereador do irmão pelo Partido
Liberal. Ao contrário de Pablo, Hudson Marçal tem o apoio de Jair Bolsonaro,
figura mais célebre do partido. Durante convenção do PL, dias antes, tirou fotos
com Eduardo, o filho 03 do ex-presidente, e com a ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro.
O lançamento da
candidatura de Hudson ocorreu em outra igreja, a Ministério Vida Cristã, no
Setor Bueno, bairro da capital goiana onde fica uma das sedes do Ministério
Nova Terra. A lei eleitoral proíbe a realização de eventos dessa natureza em
igrejas e templos religiosos. Embora tenha sido ignorada durante os relatos de
lançamento da candidatura, a regra é estabelecida no art. 37 da Lei das
Eleições (Lei nº 9.504/97).
Hudson Marçal declarou
um patrimônio mil vezes menor que o do irmão famoso, conforme relato da Revista
Fórum, Durante o governo de Ronaldo Caiado (União Brasil), ele foi gerente de
Prospecção de Negócios da Goiás Fomento, agência de crédito do governo goiano.
Outro bispo influente da Igreja de Cristo, Flávio Fonseca, também tem livre
trânsito com Caiado. Ao lançar sua candidatura em São Paulo, Pablo Marçal
contou que o pai, Wilson Marçal, trabalhou para vários políticos e que desde
criança aconselhava os filhos a se tornarem políticos.
LÍDERES DO MINISTÉRIO
NOVA VIDA DEFENDEM BOLSONARISMO E CITAM MARÇAL
A Igreja de Cristo
Ministério Nova Terra, denominação à qual pertence o bispo Danilo de Oliveira,
foi fundada e é conduzida pelo apóstolo Ulysses de Oliveira. Sua teologia
inclui adoração a Israel e defesa sistemática do sionismo. Em 2022, Ulysses
convidou todos os líderes que votassem em Lula a parar de frequentar a igreja.
Em vídeo, o apóstolo disse que a escolha pelo candidato petista significava
“concordar com a ladroagem” e que o eleitor se tornaria “companheiro de
ladrões”:
— Não queremos andar
junto com companheiros de ladrões, com perseguidores da igreja, com ateístas
dentro da igreja. Entreguem seus cargos e vão cuidar da vida. Você que é
pastor, que é líder, que é um servo de Deus, fez um voto no altar e se você não
quer cumprir esse voto, por favor, se retire do nosso meio.
Não era uma iniciativa
isolada. Em outubro de 2022, o bispo Danilo de Oliveira postou uma imagem em
suas redes sociais comparando o pleito à escolha bíblica entre Jesus e
Barrabás. “Dois mil anos se passaram e o povo continua escolhendo os ladrões”,
postou ele várias vezes. Uma dessas postagens tem um comentário de um candidato
a vereador pelo PL, mesmo partido de Hudson Marçal, o Coronel Urzêda. O militar
diz que não trocaria seus princípios e valores “por conta da eleição do
ex-presidiário”.
O antigo chefe de
Marçal na quadrilha de golpes bancários segue dois perfis gerenciados por Pablo
no Instagram. Um deles é a conta criada recentemente pelo candidato, após a
suspensão de suas redes oficiais, onde Pablo Marçal possui 3,5 milhões de
seguidores. O outro foi criado em 2013, três anos após a condenação de ambos.
Tem apenas 396 seguidores e fotos do coach antes da fama. Pablo Marçal não
segue Danilo de volta.
Outra informação no
Instagram do bispo decorre de uma marcação feita em abril pelo jornalista
goiano Leno Silva, integrante da Igreja da Terra. Leno foi mestre de cerimônia
da Conferência Internacional do Ministério Nova Terra, em 2022. Na postagem
compartilhada em abril, o jornalista aparece ao lado de um sorridente Pablo
Marçal. Leno cria um diálogo. O candidato à prefeitura paulistana diz: “Bênção,
tio Leno”. Leno pergunta ao amigo: “Pegou o Código, Marçal?”.
Ao lado, Leno Silva
faz o seguinte comentário: “Dois alunos do pastor Danilo de Oliveira”. Ele
escreve o endereço eletrônico de Danilo, criado quando ele ainda era pastor,
por isso não transcrevemos como bispo. Doze anos após a condenação de Danilo e
Pablo Marçal no caso das fraudes bancárias. Um mês depois, em maio, Leno Silva
foi recebido na sede das empresas de Pablo em Alphaville, em Barueri (SP). Ao
lado, Hudson Marçal.
SÉRIE MOSTRA QUE
MARÇAL COMPROU DÍVIDA DE AGIOTAS PARA COMPRAR FAZENDAS
A proximidade entre o
bispo Danilo de Oliveira e a família Marçal — negada pelo candidato — se soma a
uma série de inconsistências na candidatura de Pablo Marçal à prefeitura de São
Paulo. Elas vão da declaração de bens à Justiça Eleitoral à suspeita de utilização
de métodos ilegais de divulgação de campanha, como tem sido retratado pela
imprensa.
O empresário que diz
ter enriquecido como coach não declarou vários bens milionários, conforme
mostramos em vídeo da série Endereços, em nosso canal no YouTube:
Entre os bens não declarados
pelo político estão a Fazenda Toscana, em Itu (SP), e um resort em Porto Feliz,
também no interior paulista. A fazenda foi comprada em um leilão por R$ 6
milhões.
Em um vídeo, Pablo
Marçal disse que tem um método para comprar fazendas por preços baixos:
negociar com agiotas. Ele conta que compra a dívida do fazendeiro com o agiota,
para pressionar o proprietário a vender o imóvel mais barato. Em outro vídeo,
Marçal declara ser importante fazer uma “network com agiotas”.
O influencer Renato
Cariani é outro interlocutor frequente de Marçal. Ele é réu em São Paulo,
denunciado pelo desvio de insumos químicos de suas empresas para o tráfico de
drogas. Em vídeos, Cariani mostra a fazenda e o resort do amigo. Enquanto
passeiam pelo resort, ele pergunta a Marçal quanto ele gastou nas reformas do
imóvel. O empresário responde: “R$ 25 milhões”. Esse valor não consta da
declaração entregue por ele à Justiça Eleitoral.
¨ Boulos, Marçal e a pergunta de sempre: vai ficar tudo por isso
mesmo? Por Paulo Moreira Leite
A comprovação de que
uma falsa denúncia de Pablo Marçal contra Guilherme Boulos alimentou várias
semanas de campanha tem muito a ensinar sobre os venenos que envenenam o jogo
sujo de nossa vida política, presentes na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Bastava uma simples
consulta em cartório para demonstrar que o candidato do PSOL foi alvo de uma
fraude infantil, a mais bisonha da história das campanhas eleitorais
brasileiras em décadas. Isso porque os fatos usados para tentar incriminar
Guilherme Boulos envolviam outra pessoa, que sequer era um homônimo — possuía
um sobrenome diferente, inclusive.
Ainda assim, o caso
foi pauta obrigatória da campanha por semanas, até que, finalmente, a verdade
foi reconhecida, numa revelação banal e vergonhosa, expressão da fragilidade
dos controles de nossa vida pública. Imagine as conversas de vizinhos, as fofocas
nos locais de trabalho — tudo baseado numa mentira.
Desfeita a fraude,
cabe perguntar o mais importante: vai ficar tudo por isso mesmo? O caso
configura crime de calúnia, previsto no artigo 138 do Código Penal, que
consiste em "imputar falsamente a alguém um crime".
A pena prevista é de
seis meses a dois anos de prisão, além de multa. São punições que sublinham a
gravidade do crime cometido, especialmente numa disputa eleitoral.
Eis aí uma boa
oportunidade para se debater — a sério — o devastador vale-tudo de nossas
disputas políticas.
Alguma dúvida?
Fonte: Por Tonsk
Fialho, em De Olho nos Ruralistas/Brasil 247
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