sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Com origem na África, 'falta de informação' e pesquisa 'dificultam' contenção da mpox mundo afora

No Brasil, o combate à mpox — uma doença viral que tem causado preocupação global — enfrenta barreiras significativas devido à falta de campanhas de conscientização e à falta de informação sobre suas formas de transmissão.

A ministra da Saúde brasileira, Nísia Trindade, afirmou na quarta-feira (14) que a mpox (abreviação para "monkeypox", termo em inglês), antes conhecida como varíola dos macacos, não é motivo para alarde, mas que o aumento exponencial da doença na África merece atenção por parte do Brasil.

A OMS declarou emergência de saúde pública de importância internacional devido ao avanço da doença em países africanos e à identificação de uma nova cepa do vírus, mais mortal, chamada clado 1B.

•        Mpox: não há campanha mais 'séria' e falta informação

João Batista, médico infectologista atuante no ambulatório do Hospital Correia Picanço, observa que "a gente não fez, em nenhum momento aqui no Brasil, uma campanha mais séria sobre mpox".

Segundo ele, a ausência de campanhas direcionadas para a conscientização da população e a prevenção da mpox tem sido um fator crítico.

"Você não vê nos órgãos do governo, no ministério, campanhas, por exemplo, nem em 2022 houve, na verdade, nem agora [...] Campanhas direcionadas para conscientização da população e prevenção da mpox", vaticinou à Sputnik Brasil.

A falta de informação é uma barreira significativa para a prevenção da doença. Batista explica que, sem conhecimento adequado, a população não sabe como se prevenir e, consequentemente, a doença infecciosa se espalha. Ele ressalta, "se você não sabe, se você não conhece, se você não tem informação, você não sabe prevenir, e as doenças infecciosas se espalham nesse contexto".

A mpox, uma zoonose que se adquire pelo contato com animais e também pelo contato entre pessoas, apresenta desafios adicionais. No Brasil, o principal modo de transmissão identificado é o contato íntimo, como o contato sexual.

Batista destaca o impacto do estigma associado a doenças com transmissão sexual, afirmando: "Quando a gente coloca esse rótulo, 'de que uma doença tem um cunho sexual', 'uma possibilidade de transmissão sexual', as pessoas já falam menos, as pessoas já rotulam, já colocam o estigma à frente".

•        Transmissão da mpox não se dá apenas por contato sexual

Batista também aborda a incerteza em relação às formas de transmissão da doença. Embora se saiba que a mpox pode ser transmitida por contato íntimo e possivelmente por materiais ou utensílios compartilhados, a magnitude e eficiência dessas vias alternativas de transmissão ainda não estão bem estabelecidas.

"A gente sabe que existe uma transmissão também por materiais, utensílios [...] então dormir próximo, respirar o mesmo ar deve haver também transmissão respiratória, mas a gente não sabe ainda a magnitude e a eficiência, na verdade, dessas vias alternativas de transmissão", pontuou o médico.

A mpox não é um vírus novo. A doença circula na África Central desde a década de 70, mas a falta de pesquisa adequada resultou em uma resposta limitada.

"É uma doença que no continente africano já existe há muito tempo e nunca foi estudada de forma adequada. Até hoje não se tem um antiviral específico para mpox. Não existe uma vacina feita exatamente para ela", arguiu João.

Brasil não apresenta surto, mas situação em países de África chamam atenção

À Sputnik Brasil, Celso Granato, médico infectologista e patologista clínico, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), oferece um panorama detalhado sobre a situação epidemiológica da mpox no Brasil e os desafios enfrentados na prevenção e controle da doença.

De acordo com Granato, a situação da mpox no Brasil tem mostrado estabilidade desde o surto significativo de 2022. "Não estamos vendo um aumento de casos de mpox no Brasil”, afirma o especialista. Embora o país registre atualmente cerca de 10 a 15 casos por mês, os números são relativamente baixos comparados ao auge do surto anterior.

Granato destaca, no entanto, uma preocupação crescente com o aumento de casos na África Central, especialmente no Congo, com o vírus se espalhando para países vizinhos como Uganda e Ruanda.

"Ainda não se sabe ao certo se isso se deve a uma mutação que tornou o vírus mais transmissível", revela Granato. Até o momento, o Brasil não enfrentou um aumento significativo, exceto por um caso isolado de um viajante sueco que esteve na região afetada.

No Brasil, os centros de referência para ISTs e HIV estão bem informados e preparados para lidar com a mpox, segundo o infectologista. Granato ressalta que a doença afeta principalmente homens que fazem sexo desprotegido, devido à transmissão por contato direto pele a pele.

"A vacina disponível no Brasil é destinada principalmente a pessoas que tiveram contato com casos confirmados de mpox”, explica Granato.

No entanto, o número de vacinas é limitado e a eficácia contra novas variantes ainda não foi completamente estabelecida. "Ainda precisamos de mais informações sobre a eficácia da vacina em relação a novas variantes", acrescenta o médico.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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