Com origem na África, 'falta de informação'
e pesquisa 'dificultam' contenção da mpox mundo afora
No Brasil, o combate à
mpox — uma doença viral que tem causado preocupação global — enfrenta barreiras
significativas devido à falta de campanhas de conscientização e à falta de
informação sobre suas formas de transmissão.
A ministra da Saúde
brasileira, Nísia Trindade, afirmou na quarta-feira (14) que a mpox (abreviação
para "monkeypox", termo em inglês), antes conhecida como varíola dos
macacos, não é motivo para alarde, mas que o aumento exponencial da doença na
África merece atenção por parte do Brasil.
A OMS declarou
emergência de saúde pública de importância internacional devido ao avanço da
doença em países africanos e à identificação de uma nova cepa do vírus, mais
mortal, chamada clado 1B.
• Mpox: não há campanha mais 'séria' e
falta informação
João Batista, médico
infectologista atuante no ambulatório do Hospital Correia Picanço, observa que
"a gente não fez, em nenhum momento aqui no Brasil, uma campanha mais
séria sobre mpox".
Segundo ele, a
ausência de campanhas direcionadas para a conscientização da população e a
prevenção da mpox tem sido um fator crítico.
"Você não vê nos
órgãos do governo, no ministério, campanhas, por exemplo, nem em 2022 houve, na
verdade, nem agora [...] Campanhas direcionadas para conscientização da
população e prevenção da mpox", vaticinou à Sputnik Brasil.
A falta de informação
é uma barreira significativa para a prevenção da doença. Batista explica que,
sem conhecimento adequado, a população não sabe como se prevenir e,
consequentemente, a doença infecciosa se espalha. Ele ressalta, "se você
não sabe, se você não conhece, se você não tem informação, você não sabe
prevenir, e as doenças infecciosas se espalham nesse contexto".
A mpox, uma zoonose
que se adquire pelo contato com animais e também pelo contato entre pessoas,
apresenta desafios adicionais. No Brasil, o principal modo de transmissão
identificado é o contato íntimo, como o contato sexual.
Batista destaca o
impacto do estigma associado a doenças com transmissão sexual, afirmando:
"Quando a gente coloca esse rótulo, 'de que uma doença tem um cunho
sexual', 'uma possibilidade de transmissão sexual', as pessoas já falam menos,
as pessoas já rotulam, já colocam o estigma à frente".
• Transmissão da mpox não se dá apenas por
contato sexual
Batista também aborda
a incerteza em relação às formas de transmissão da doença. Embora se saiba que
a mpox pode ser transmitida por contato íntimo e possivelmente por materiais ou
utensílios compartilhados, a magnitude e eficiência dessas vias alternativas de
transmissão ainda não estão bem estabelecidas.
"A gente sabe que
existe uma transmissão também por materiais, utensílios [...] então dormir
próximo, respirar o mesmo ar deve haver também transmissão respiratória, mas a
gente não sabe ainda a magnitude e a eficiência, na verdade, dessas vias alternativas
de transmissão", pontuou o médico.
A mpox não é um vírus
novo. A doença circula na África Central desde a década de 70, mas a falta de
pesquisa adequada resultou em uma resposta limitada.
"É uma doença que
no continente africano já existe há muito tempo e nunca foi estudada de forma
adequada. Até hoje não se tem um antiviral específico para mpox. Não existe uma
vacina feita exatamente para ela", arguiu João.
Brasil não apresenta
surto, mas situação em países de África chamam atenção
À Sputnik Brasil,
Celso Granato, médico infectologista e patologista clínico, membro da Sociedade
Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), oferece um
panorama detalhado sobre a situação epidemiológica da mpox no Brasil e os desafios
enfrentados na prevenção e controle da doença.
De acordo com Granato,
a situação da mpox no Brasil tem mostrado estabilidade desde o surto
significativo de 2022. "Não estamos vendo um aumento de casos de mpox no
Brasil”, afirma o especialista. Embora o país registre atualmente cerca de 10 a
15 casos por mês, os números são relativamente baixos comparados ao auge do
surto anterior.
Granato destaca, no
entanto, uma preocupação crescente com o aumento de casos na África Central,
especialmente no Congo, com o vírus se espalhando para países vizinhos como
Uganda e Ruanda.
"Ainda não se
sabe ao certo se isso se deve a uma mutação que tornou o vírus mais
transmissível", revela Granato. Até o momento, o Brasil não enfrentou um
aumento significativo, exceto por um caso isolado de um viajante sueco que
esteve na região afetada.
No Brasil, os centros
de referência para ISTs e HIV estão bem informados e preparados para lidar com
a mpox, segundo o infectologista. Granato ressalta que a doença afeta
principalmente homens que fazem sexo desprotegido, devido à transmissão por
contato direto pele a pele.
"A vacina
disponível no Brasil é destinada principalmente a pessoas que tiveram contato
com casos confirmados de mpox”, explica Granato.
No entanto, o número
de vacinas é limitado e a eficácia contra novas variantes ainda não foi
completamente estabelecida. "Ainda precisamos de mais informações sobre a
eficácia da vacina em relação a novas variantes", acrescenta o médico.
Fonte: Sputnik Brasil
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