sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Estado Islâmico volta a mirar a Europa

A milícia terrorista Estado Islâmico (EI) logo reivindicou a responsabilidade pelo recente ataque a faca em Solingen, na Alemanha, que deixou três mortos. O agressor agiu por "vingança contra os muçulmanos na Palestina e em outros lugares", e o ataque teve como alvo um "grupo de cristãos", afirmou o porta-voz do EI, Amak.

"Os extremistas estão usando o atual conflito no Oriente Médio para a mobilização", comenta o especialista Thomas Mücke, da Rede de Prevenção da Violência (VPN), uma organização alemã para a prevenção do extremismo e a desradicalização de pessoas que cometeram crimes violentos.

Mücke relata ter observado que o número de ataques e tentativas de ataques na Europa Ocidental aumentou em quatro vezes depois que o grupo terrorista Hamas atacou Israel, em 7 de outubro de 2023. O ataque gerou uma reação de Israel na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, e foi o início de um novo conflito no Oriente Médio.

<><> Série de ataques e tentativas

O ataque em Solingen faz parte de uma série de ataques e tentativas de ataques islamistas em toda a Europa no intervalo de poucas semanas, mesmo que nem sempre esteja claro se o EI está de fato por trás deles.

No mesmo dia do ataque em Solingen, dois carros explodiram do lado de fora de uma sinagoga em La Grande-Motte, no sul da França.

Pouco antes de dois shows programados da cantora pop americana Taylor Swift em Viena, no início de agosto, as autoridades austríacas prenderam dois supostos simpatizantes do EI. O principal suspeito, de 19 anos, um austríaco com raízes na Macedônia do Norte, disse quando foi preso que queria "matar a si mesmo e a uma grande multidão de pessoas", de acordo com as autoridades de segurança austríacas. Os shows foram cancelados.

No final de maio, um afegão feriu fatalmente um policial e gravemente outras cinco pessoas em Mannheim, no sul da Alemanha. O ataque tinha como alvo um membro da diretoria do movimento Pax Europa, que critica o islã. Não se sabe se havia vínculos diretos com o EI nesse caso, mas os investigadores classificaram o ataque como sendo "de motivação religiosa".

Grandes temores de violência por parte do EI tiveram as autoridades alemãs e francesas durante a Eurocopa na Alemanha e os Jogos Olímpicos em Paris neste verão europeu. Os dois grandes eventos esportivos transcorreram pacificamente, mas para isso devem ter contribuído o aumento das medidas de segurança nas cidades e o maior controle nas fronteiras.

Desde 7 de outubro de 2023, sete ataques e 21 tentativas de ataques ou ataques planejados foram oficialmente registrados na Europa Ocidental. Essa onda de violência não é nenhuma surpresa, diz Mücke. "O EI escolheu a Europa Ocidental como alvo de ataques, naturalmente com a intenção de espalhar o terror e o medo e dividir a sociedade para assim poder recrutar ainda mais pessoas para seus objetivos."

No entanto, o mais grave dos ataques recentes reivindicado pelo EI não foi na Europa Ocidental, mas em Moscou, em março de 2024, quando mais de 140 pessoas foram mortas em uma sala de espetáculos. "Soldados do Estado Islâmico atacaram uma grande reunião de cristãos" e "mataram e feriram centenas", afirmou Amak.

<><> Chamado para matar "infiéis"

A milícia terrorista se tornou mundialmente conhecida há dez anos, quando seu então líder, Abu Bakr al-Baghdadi, proclamou um "califado" no Oriente Médio. Nessa forma de governo muçulmano, a liderança política e religiosa está nas mãos de um califa. No ano seguinte a sua criação, o EI atingiu o auge de seu poder e dominou grande parte da Síria e do Iraque. Vídeos de assassinatos brutais e, em especial, de decapitações foram postados online.

O EI também tinha a Europa e todo o Ocidente como alvos – chamados por ele de "infiéis". "O EI incentiva, por meio da internet, que ataques como esses sejam realizados, e também há descrições precisas de como realizar ataques, por exemplo, usando carros para matar 'infiéis'", diz Mücke.

Particularmente devastadores foram os vários ataques coordenados em Paris num único dia em novembro de 2015 (incluido ao teatro Bataclan), com um total de 130 mortos, e o ataque de um simpatizante do EI com um caminhão num mercado de Natal de Berlim em 2016, que custou a vida de 12 pessoas – esse foi o mais grave ataque islamista na Alemanha.

O EI é considerado militarmente derrotado no Oriente Médio desde 2019. No mais tardar naquele momento, o projeto de um Estado islâmico havia fracassado. Também os ataques do EI na Europa diminuíram depois disso. No entanto, o jihadismo parece agora ter retornado com uma nova onda de ataques.

Os criminosos de hoje são mais jovens, diz Mücke: dois terços dos detidos na Europa Ocidental são adolescentes. E os métodos usados para atingi-los são condizentes com a idade deles. "A Internet desempenha um papel importante na radicalização e mobilização, e também no recrutamento."

<><> Identificar cedo a radicalização

O especialista diz não ter esperança de que a situação vá melhorar. A escalada do conflito no Oriente Médio, depois do 7 de outubro de 2023, "vai continuar influenciando, nos próximos anos, a dinâmica do terrorismo".

Na opinião de vários especialistas, as zonas livres de facas, como as que a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, quer criar, são de pouca utilidade: quem quer matar pessoas com uma faca dificilmente vai mudar de ideia por causa de uma proibição.

Mesmo assim, Mücke tem uma luz a oferecer: "As ligações para as linhas diretas de aconselhamento se multiplicaram desde o 7 de outubro. E por elas recebemos dicas e podemos tentar interromper relativamente cedo processos de radicalização em andamento."

O fato de os criminosos serem cada vez mais jovens também tem um lado positivo, diz. "Parto do princípio de que pessoas que se radicalizam mudam seu jeito de ser e que as pessoas à volta delas percebem isso", explica.

"O importante é que essas mudanças sejam comunicadas o mais rapidamente possível, que se busque ajuda e apoio, porque toda cena extremista tenta atrair e recrutar principalmente a geração mais jovem, esses são a nova leva. E é aí que estão as nossas melhores chances de conter o extremismo e o terrorismo."

 

¨      Alemanha quer acelerar deportações após ataque em Solingen

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou nesta segunda-feira (26/08) que o governo agirá para reforçar os controles de armas e acelerar as deportações de pessoas que tiveram seus pedidos de asilo negados no país.

As declarações vieram na esteira do ataque terrorista na cidade de Solingen, onde um homem matou três pessoas e feriu outras oito, sendo que quatro delas ficaram em estado grave. O suspeito é de nacionalidade síria e foi identificado como Issa al H., de 26 anos, que teria ligações com o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI).

O atentado a faca ocorrido em um festival que comemorava o 650º aniversário da cidade inflamou o debate sobre a imigração e aumentou a pressão sobre Scholz, a poucos dias de importantes eleições em dois estados no leste do país, que ocorrerão no próximo domingo.

"Sentimos profundamente como esse é um crime terrível. Nos emociona a todos, e nenhum de nos esquecerá", disse Scholz. "Isso foi terrorismo, terrorismo contra nós todos", sublinhou o chanceler em visita a Solingen, onde depositou flores em um memorial às vítimas. Ele se disse "furioso com os islamistas que ameaçam nossa coexistência pacífica".

"Teremos agora que reforçar nossas leis de armas", declarou Scholz. "Em particular, quanto ao uso de facas." O chanceler assegurou que as novas regulamentações virão de maneira rápida, e que a Alemanha fará "tudo o que puder para garantir que aqueles não podem e não devem ficar na Alemanha sejam repatriados e deportados".

<><> Refúgio negado

De acordo com a revista Der Spiegel, o suspeito sírio chegou à Alemanha no final de dezembro de 2022 e solicitou refúgio no país. Ele não era conhecido anteriormente pelas autoridades de segurança como um extremista islâmico.

Issa al H. teve seu pedido de refúgio negado e deveria ter sido deportado para a Bulgária (pelas atuais regras, o país seria responsável pelo refúgio, devido ao fato de o sírio ter entrado na UE através dele), mas ele se escondeu e foi dado como desaparecido.

Esse fato provocou um novo debate sobre endurecimento dos regulamentos de migração, com políticos de oposição e de partidos governistas vindo a público pedir mudanças nas atuais regras de concessão de refúgio e de deportação de imigrantes ilegais.

<><> Ligação com "Estado Islâmico" (EI)

Na noite de sábado, o grupo fundamentalista autodenominado "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a responsabilidade pelo atentado mortal a faca. Através de sua agência de notícias Amaq, alegou que visou "vingar os muçulmanos na Palestina e em outros lugares". A Faixa de Gaza se encontra sob ofensiva de Israel desde os ataques perpetrados em 7 de outubro pelo Hamas.

O EI publicou um vídeo que supostamente mostra o autor do atentado em Solingen. Ainda não está claro quando o vídeo foi gravado e se o homem mascarado mostrado nele é o suspeito Issa Al H. Nas imagens, o homem se autodenomina Samarkand A. possivelmente um nome de guerra.

O ataque seria uma retaliação à matança de muçulmanos na Síria, no Iraque e na Bósnia e um ato de vingança pelo "povo da Palestina" que teve de "sofrer massacres com o apoio dos sionistas".

Segundo estatísticas da Polícia Federal alemã, 52.976 pessoas deveriam ter sido expulsas do país no ano passado. No entanto, foram realizadas apenas 21.206 deportações – menos da metade do planejado. Com frequência, isso ocorreu em razão de as pessoas não terem sido encontrados pela polícia.

<><> Uso político

O atentado em Solingen ampliou o debate em torno da imigração na Alemanha, o país mais populoso da União Europeia (UE), dias antes das eleições regionais na Turíngia e na Saxônia, onde o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) possui grande apoio popular e deverá obter bons resultados.  

A AfD acusa os governos recentes de contribuírem para o "caos" ao permitirem a entrada de um grande número de imigrantes no país, e propõe uma proibição à chegada de mais refugiados.

Friedrich Merz, líder da conservadora União Democrata Cristã (CDU), o maior partido de oposição na Alemanha, afirmou que o governo deve rejeitar a entrada de refugiados do Afeganistão e da Síria.

O governo alemão – formado por uma coalizão entre o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, o Partido Liberal Democrático e pelos Verdes – já havia anunciado medidas para reforçar as leis de imigração.

Após outro atentado a faca ocorrido em Mannheim, em maio deste ano, quando um afegão de 25 anos atacou um comício anti-Islã e matou um policial, o governo informou que iria reiniciar as deportações para o Afeganistão, que haviam sido suspensas em razão da instabilidade no país da Ásia Central.

A Alemanha está em alerta para ataques terroristas desde o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, em 7 de outubro do ano passado. O país sofreu uma série de atentados nos últimos anos. O mais grave destes ocorreu em 2016, quando um jovem atirou um caminhão contra um mercado natalino em Berlim, matando 12 pessoas.

 

¨      Como se montou a estratégia militar dos EUA no Oriente Médio para manter o Irã sob controle?

Os Estados Unidos transferiram forças navais e aéreas significativas para o Oriente Médio neste mês, de bases nacionais e estrangeiras, somando dez meses de maior presença militar norte-americana na região em meio à escalada entre Israel e Irã.

O Departamento de Defesa dos EUA afirmou que enviou dezenas de caças avançados e dois grupos de ataque de porta-aviões para região a fim de impedir que o Irã travasse uma guerra regional mais ampla após o assassinato de Ismail Haniya, principal líder político do Hamas, em Teerã em julho, realizado pelas forças israelenses.

O remanejamento de dois grupos de porta-aviões baseados no Pacífico não deixou nenhum porta-aviões dos Estados Unidos no vasto Indo-Pacífico, o "teatro prioritário" do Pentágono, pela primeira vez em duas décadas, afirma a Newsweek.

Em 2 de agosto, o secretário de Defesa, Lloyd Austin, ordenou que o porta-aviões USS Abraham Lincoln se reposicionasse do oceano Pacífico para o Oriente Médio para substituir o USS Theodore Roosevelt. A diretriz mudou uma semana depois, com o Abraham Lincoln sendo instruído a acelerar sua viagem para complementar a presença de seu navio irmão.

Os porta-aviões da classe Nimitz tinham navegado separadamente da Naval Air Station North Island, seu porto de origem em San Diego, para implantações programadas no Pacífico Oeste em janeiro e julho. Ambos estavam a caminho do golfo de Omã no fim de semana e esperava-se que permanecessem na estação por um período de tempo indefinido, diz a mídia.

O Theodore Roosevelt estava no mar da China Oriental no final de junho e transitou pelo mar do Sul da China para chegar ao mar Arábico cerca de uma semana depois. Ele substituiu o USS Dwight D. Eisenhower, que retornou à estação naval de Norfolk, na Virgínia, após nove meses de missões de combate dentro e ao redor do mar Vermelho.

Também neste mês, o Departamento de Defesa norte-americano despachou o USS Georgia, um submarino da classe Ohio armado com até 154 mísseis de cruzeiro Tomahawk, para o leste do mar Mediterrâneo. O barco movido a energia nuclear foi visto pela última vez na baía de Souda, na ilha grega de Creta, em 5 de agosto.

Em um briefing na segunda-feira (26), o secretário de imprensa do Pentágono, Pat Ryder, se recusou a dizer se o Georgia havia chegado à área do Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM, na sigla em inglês), observando apenas que "ainda estava em andamento", segundo a mídia.

Segundo a Newsweek, espera-se que o Georgia siga os passos do USS Florida, outro submarino da classe Ohio, que transitou pelo canal de Suez duas vezes em 2023 em demonstrações calculadas de força. Na semana passada, Sabrina Singh, vice-secretária de imprensa do Pentágono, disse que a chegada do Georgia seria "bastante perceptível".

O Georgia e o Florida, entre quatro barcos da classe Ohio que foram convertidos de submarinos de mísseis balísticos nucleares, estão estacionados na base naval Submarine Kings Bay, na Geórgia. O Florida retornou ao seu porto de origem no final do mês passado após uma missão de 727 dias.

Navios de guerra americanos adicionais capazes de defesa antimísseis balísticos, incluindo mais de uma dúzia da classe Arleigh Burke, também chegaram às áreas do Comando Europeu dos Estados Unidos (EUCOM, na sigla em inglês) e do CENTCOM, de acordo com o Pentágono.

A Fox News informou na semana passada que os destróieres USS Arleigh Burke, USS Bulkeley e USS Roosevelt, destacados para a Estação Naval de Rota, no sul da Espanha, estavam agora no Mediterrâneo oriental.

Eles estavam operando perto do líder da classe de navios de assalto anfíbios USS Wasp.

O Wasp Amphibious Ready Group, que chegou à área no final de junho, é composto pelo navio de desembarque da classe San Antonio USS New York e pelo navio de desembarque da classe Harpers Ferry USS Oak Hill, juntamente com uma unidade expedicionária da Marinha embarcada.

Os destróieres USS Laboon e USS Cole mudaram do golfo de Omã para o mar Vermelho na direção de Israel, disseram autoridades de defesa dos EUA no início de agosto.

A capacidade naval norte-americana na região está sendo complementada por uma reunião de poder aéreo também.

No início de agosto, a Força Aérea dos EUA enviou um esquadrão de caça adicional para o Oriente Médio, reforçando as operações defensivas do espaço aéreo amigo próximo. Pelo menos uma dúzia de F-22 Raptors pousaram na região como parte das mudanças de postura da força dos EUA.

Pelo menos três outros esquadrões foram enviados à região antes dos F-22: F-15E Strike Eagles da Base Aérea Seymour Johnson, na Carolina do Norte, F-16 Fighting Falcons da Base Aérea de Aviano, no norte da Itália, e A-10 Thunderbolt IIs da Base Aérea Nacional da Guarda Nacional de Selfridge, em Michigan, segundo a mídia.

A Força Aérea não revelou as localizações exatas de suas aeronaves de combate no Oriente Médio, mas analistas de inteligência de código aberto disseram que os Raptors provavelmente estavam operando na Base Aérea Al-Udeid do Catar, a maior base militar dos EUA na região.

Na terça-feira (27), Ryder afirmou que "o Irã fez essas ameaças e disse que pretende retaliar, então temos que levar isso muito a sério", disse ele sobre uma possível escalada adicional por Teerã. "E então, continuaremos a permanecer posicionados, e estamos bem posicionados, para sermos capazes de apoiar a defesa de Israel, bem como proteger nossas próprias forças", acrescentou.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil

 

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