sábado, 31 de agosto de 2024

Eduardo Vasco: ‘ONG financiada por George Soros encomendou pesquisa Vox Populi anti-Maduro’

Segundo pesquisa do instituto Vox Populi, 63% dos brasileiros acham que o presidente Nicolás Maduro perdeu para o opositor Edmundo González nas eleições realizadas em 28 de julho na Venezuela. O levantamento foi publicado na sexta-feira (23) pelo blogueiro Leonardo Sakamoto, do UOL, e foi encomendado pela ONG Action for Democracy.

O instituto difundiu um corte ideológico, que indicou que 62% dos entrevistados de esquerda acreditam que Maduro fraudou as eleições, opinião que é compartilhada por 64% dos entrevistados de centro e 77% dos de direita. A mesma pesquisa também aponta que a maioria dos entrevistados (inclusive de esquerda) acha que o presidente Lula não deveria apoiar Maduro, não acredita nos argumentos do governo venezuelano para comprovar sua vitória nas urnas e apoiaria uma pressão mais forte de Lula contra Maduro.

Não há nada de estranho se esse for o verdadeiro pensamento da maioria dos brasileiros. Desde a semana anterior ao dia das eleições há um bombardeio desinformativo do monopólio de meios de comunicação sobre a Venezuela, na tentativa de deslegitimar a vitória de Maduro. Mesmo a esquerda, da qual uma parcela significativa é absolutamente alienada da realidade e acredita em tudo o que diz a burguesia, tem entrado na onda.

Mas se nos atentarmos para quem encomendou (ou seja, pagou) essa pesquisa, vamos descobrir uma organização que faz oposição pública a Maduro e ao chavismo.

A Action for Democracy é uma ONG fundada em fevereiro de 2022 e sediada nos Estados Unidos. Um dia após a eleição venezuelana, a A4D publicou um comunicado acusando Maduro de fraudar as eleições e chamando a Venezuela de “ditadura” – assim como Rússia, China e Irã (“curiosamente”, os principais rivais do governo dos EUA).

Isso não é nenhum absurdo, vindo de uma organização que reconheceu que financia a oposição golpista da Venezuela – chamada de “movimento democrático venezuelano” por seu presidente e diretor executivo, David Koranyi. Nestas eleições, esse “movimento democrático” foi representado por González, ex-diplomata envolvido com os esquadrões da morte da ditadura de El Salvador nos anos 80, e María Corina Machado, a mais destacada agente do governo dos EUA na Venezuela.

Apesar disso, a ONG “rejeita fortemente qualquer acusação [contra ela] de interferência estrangeira em qualquer eleição”. Porque não é só na Venezuela onde ela tem interferido. Aliás, o trabalho da ONG na Venezuela não é público. Foi revelado em uma conversa vazada de Koranyi.

A4D apoia publicamente apenas 12 organizações, distribuídas por quatro “Estados-campo de batalha”, segundo sua própria definição: Hungria, Itália, Ucrânia e Brasil. Todos eles, quando da fundação da ONG, eram governados pela extrema-direita.

O principal “campo de batalha” da ONG é a Hungria. Koranyi é húngaro. O tesoureiro da organização, Chris Maroshegyi, também tem origem húngara. Kati Marton, membro do conselho consultivo, também é húngara.

Húngaro também é o especulador financeiro multimilionário George Soros, que é o principal financiador da Action for Democracy, segundo o diário Magyar Nemzet, um dos maiores jornais da Hungria. A A4D não divulga quem a financia, ao contrário da mínima transparência que tem sido consenso entre as principais ONGs internacionais.

Assim como combate a “ditadura” venezuelana, a A4D combate também a “autocracia” de Viktor Orbán, primeiro-ministro desde 2010. Orbán é representante de um setor da burguesia húngara que tem lutado, em determinada medida, contra o domínio do grande capital internacional, seu rival. E Soros, que se naturalizou americano e vive nos Estados Unidos desde meados do século passado, é o principal oponente de Orbán – principalmente à recusa de Budapeste de se aliar com o Ocidente contra a Rússia.

Soros talvez seja a maior personificação do capitalismo contemporâneo – ou seja, o imperialismo neoliberal, onde os monopólios controlam a economia mundial. Magnata do capital financeiro, utiliza parte dos lucros que arrecadou com a exploração dos países mundo afora nas últimas décadas para financiar golpes de Estado a partir de suas ONGs “filantrópicas”. Foi assim na antiga “Cortina de Ferro” do leste europeu, na Ucrânia, na Venezuela e em muitos outros lugares. E continua sendo.

O discurso das ONGs de Soros é exatamente o mesmo da CIA e de todo o Deep State dos EUA. É o mesmo do FMI, do Banco Mundial e das Nações Unidas. Porque são todos órgãos centrais do sistema imperialista. É o discurso que ouvimos 24h por dia na TV Globo, ou lemos nas páginas da Folha de S.Paulo, que são sucursais da imprensa dos EUA. Para neutralizar a luta de classe dos trabalhadores, que precisa do apoio dos outros setores populares como camponeses, juventude, mulheres e negros, espalham uma ideologia que se pretende reformista e progressista (o identitarismo) a fim de dividir esses setores e cortar seu apoio ao proletariado e às ideias revolucionárias (marxistas e anti-imperialistas). O “empoderamento” das “minorias” a partir das instituições “democráticas” (ou seja, do Estado burguês) é a fórmula ideal de alienação de todos esses setores da luta real por transformações sociais. Muitas organizações e indivíduos de esquerda, que são liderados ou influenciados por lideranças pequeno-burguesas (cuja classe social tende a seguir essas ideias), também foram atraídos por esse canto de sereia e acreditam que tanto esse discurso quanto os seus criadores realmente se importam com a sua luta. Por isso, seja ingenuamente ou conscientemente, prestam serviço a essas organizações.

Como esse discurso não agrada aos setores culturalmente conservadores, geralmente de direita, e como a ânsia de dominação imperialista afeta até mesmo a burguesia nacional dos países pequenos – como a Hungria –, que pode se virar à direita mesmo tendo contradições com o imperialismo, então essas ONGs e seus financiadores são equivocadamente considerados de esquerda. Nos EUA, "esquerdista" é sinônimo de "liberal", tal é o reacionarismo do sistema – Donald Trump está chamando Kamala Harris pejorativamente de "camarada". A Hungria foi tão colonizada pelos EUA que se transformou em um regime no qual defender as políticas da União Europeia é "ser de esquerda". Mas quem recebe dinheiro de grandes capitalistas para derrubar governos – geralmente de esquerda, como o da Venezuela – jamais poderia ser considerado de esquerda.

Voltando à Action for Democracy, essa organização tem negado sistematicamente sua relação com Soros. Mas o histórico de Koranyi não o ajuda. Ele também é membro do Conselho Europeu de Relações Exteriores, um think tank financiado, entre outros, pela Open Society Foundations de George Soros (conferir p. 31), e tem ligações com os governos de França e Alemanha e com a OTAN. Também é ligado ao Atlantic Council, um dos principais think tanks dos EUA e que recebe financiamento do governo americano. Chris Maroshegyi trabalhou com ele no Conselho Europeu. Já Kati Marton foi membro de organizações que também são financiadas pela Open Society, como o Comitê de Proteção aos Jornalistas (conferir p. 11) e a New America Foundation.

Não é só com George Soros que a A4D tem relações. Seu conselho consultivo está infestado de membros que trabalham ou trabalharam para o governo dos Estados Unidos, do Reino Unido ou para a OTAN. É o caso do general Wesley K. Clark, comandante da OTAN durante os bombardeios à Iugoslávia, em 1999. Clark e Marton foram filmados admitindo que sua atuação também envolve mudanças de regime na Polônia (agora já governada pela direita neoliberal totalmente alinhada com o imperialismo, ou seja, conseguiram seu objetivo) e na Turquia de Recep Erdogan.

“O que nós temos tentado fazer”, disse Koranyi ao Liberal Europe Podcast, “é ser uma instituição que capta o apoio [dos compatriotas que vivem no exterior] e o canaliza para seus países-natais. Não é apenas a diáspora húngara, mas também a polonesa, a brasileira, a cambojana e a venezuelana”.

O governo da Ucrânia, que também é de extrema-direita (com forte apoio institucional ao nazismo), contudo, não sofre nenhum tipo de ameaça da A4D. Pelo contrário: as ONGs que ela apoia no país são aliadas do governo Zelensky, precisamente porque este serve como bucha de canhão na guerra do imperialismo contra a Rússia. A suposta defesa da democracia e o combate ao extremismo de direita, logo se vê, não passam de conversa fiada para enganar trouxas.

Outro membro proeminente do conselho consultivo da Action for Democracy é Francis Fukuyama, famoso intelectual do establishment norte-americano por sua famigerada teoria do “fim da história”. Esse conselho inclui também, por exemplo, a vice-governadora da Califórnia e ex-embaixadora americana na Hungria, Eleni Kounalakis; um ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional e dos departamentos de Estado e Tesouro dos EUA, Robert Boorstin; um membro do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, Timothy Snyder; o ex-parlamentar e ex-secretário do Exterior britânico David Miliband; e Simon Cheng, ex-funcionário do consulado britânico em Hong Kong e “perseguido” pelo governo chinês devido ao seu “ativismo”.

Segundo o relatório anual de 2022 da A4D (o único disponibilizado em seu site), ela enviou mais de 10 milhões de dólares às 12 organizações que financia. Três delas são brasileiras. O Quid, “um laboratório de comunicação e mobilização para causas” recebeu mais de um milhão de dólares em 2022; o Washington Brazil Office (WBO), sediado nos EUA e que engloba desde organizações de fachada do NED, USAID e Open Society até CUT e MST, que recebeu 130 mil dólares; e o Atlantic Council Brazil Workshop and Report, pertencente ao Atlantic Council, que recebeu 40,8 mil dólares.

Como se vê, se até mesmo a esquerda está contra a Venezuela, isso se deve em grande parte ao dinheiro das fundações imperialistas.

 

¨      Procurador-geral diz que Lula e Petro se intrometem em assuntos da Venezuela: 'Inaceitável'

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, classificou como intromissão as falas dos presidentes do Brasil, Lula, e da Colômbia, Gustavo Petro, sobre as eleições no país. Em uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (28), Saab afirmou que as atitudes dos dois líderes são "inaceitáveis".

<><> Ataques contra presidente do Chile

Antes de falar de Lula e Petro, o procurador-geral venezuelano questionou o presidente chileno, Gabriel Boric, a quem chamou de “neo Pinochet”, em referência ao ex-ditador Augusto Pinochet, e denunciou que ele seria um “agente da CIA [Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos]”.

“Boric, presidente do Chile. Quem é você para estar se intrometendo, solicitando para o Senado chileno pronunciamento sobre a Venezuela. Em primeiro lugar, porque você é, literalmente, um herdeiro do pinochetismo, é um neo Pinochet”, acusou.

Saab alegou que Boric “não fez nada” por vítimas das repressões a protestos durante o governo do falecido presidente Sebastián Piñera, e, sem apresentar qualquer prova, acusou o atual chefe de Estado chileno de reproduzir “uma lista de comentários diária” enviada a ele pela CIA.

<><> Secretário-geral da OEA também é criticado

Saab também atacou o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, pelas críticas às intimações do Ministério Público ao opositor Edmundo González para que ele se apresente para depor sobre o suposto crime de “usurpação de atribuições” do Conselho Nacional Eleitoral.

González é investigado pelo MP venezuelano pela publicação de um site com atas eleitorais que a oposição diz ter recebido de seus fiscais partidários que estiveram nos centros de votação. Elas confirmariam a vitória ao candidato apoiado por María Corina Machado, com 67% dos votos.

“Quem é você? Você literalmente é um promotor de golpes de Estado na América Latina”, disse o procurador-geral sobre Almagro.

O secretário-geral da OEA, que já afirmou que pediria a prisão de Maduro para ao Tribunal Penal Internacional, disse, na segunda-feira (26), repudiar e condenar a intimação do MP a González.

“Esta convocação não oferece garantias, é própria de sua atuação caracterizada pela perseguição política e violação sistemática dos Direitos Humanos. A atuação do procurador-geral e do sistema judicial continua sendo instrumental na repressão e opressão política”, postou Almagro.

<><> González será intimado pela terceira vez

Nesta quarta, Saab informou que o candidato opositor, que faltou a duas intimações do MP na segunda e terça-feira desta semana, será convocado pela terceira vez.

“Uma pessoa pode ser intimada em até três oportunidades. Ele não tem nenhuma imunidade excepcional além da que qualquer venezuelano tem”, disse.

González, por sua vez, afirmou que o procurador-geral atua como um “acusador político” e que não há garantias de respeito a garantias legais nas intimações do MP venezuelano.

Saab é alinhado a Nicolás Maduro e abriu investigações contra opositores após o resultado das eleições de 28 de julho. O candidato Edmundo González, inclusive, será intimado para prestar depoimento pela terceira vez e pode ser preso se faltar.

Na mesma linha, Maduro também criticou o Brasil e outros países ao dizer para "não se meterem" nos assuntos da Venezuela e mandou indireta ao presidente Lula ao dizer que "ninguém se meteu com o Brasil" nas eleições de 2022.

Ao ser questionado sobre comentários da comunidade internacional em relação às eleições venezuelanas, o procurador criticou as atitudes de Lula e Petro. No sábado (24), os presidentes divulgaram uma declaração conjunta cobrando a publicação das atas eleitorais pelas autoridades venezuelanas.

"[As atitudes deles] são inaceitáveis. Quando eles tiveram problemas legais e eleitorais nas eleições deles, a Venezuela não se intrometeu. A Venezuela não disse nada”, disse.

Saab também fez críticas ao presidente do Chile, Gabriel Boric, a quem chamou de "agente da CIA".

"A CIA lhe dá uma lista de comentários diários, e você os diz em nome da esquerda. Você não é esquerdista, você é um herdeiro da geração que veio depois de Pinochet”, afirmou Saab.

Além disso, o procurador também acusou o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, de promover golpes de Estado na América Latina.

As declarações de Saab são semelhantes a afirmações dadas por Nicolás Maduro após as eleições. Assim como o procurador-geral, Maduro também afirmou que a Venezuela não tinha interferido em assuntos internos de Brasil e Colômbia.

Saab afirmou que o Ministério Público da Venezuela vai intimar pela terceira vez o candidato da oposição nas eleições presidenciais, Edmundo González.

O procurador-geral disse que González deve depor sobre a publicação de atas impressas das urnas eleitorais em um site. O oposicionista faltou nas duas últimas intimações.

"Se ele faltar, o Ministério Público vai anunciar uma ação em resposta", afirmou Saab.

Pela lei venezuelana, pessoas que ignoram três intimações judiciais podem ser alvos de um mandado de prisão.

Depois das eleições, o candidato da oposição passou a ser investigado pelos crimes de usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos oficiais, incitação de atividades ilegais, entre outros.

No domingo (25), González disse em uma rede social que estava sendo "pré-acusado de crimes que não foram cometidos". Ele também afirmou que não estava claro sob quais condições o depoimento iria acontecer.

¨      Maduro responde a críticas e compara eleição venezuelana à de Lula em 2022

O presidente da VenezuelaNicolás Maduro, mandou uma indireta ao governo brasileiro e a outros países que questionam a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano, que ratificou na semana passada a reeleição de Maduro para um novo mandato. O mandatário venezuelano não citou diretamente o presidente Lula.

Em evento político para marcar um mês da eleição, ocorrida em 28 de julho, Maduro disse que "os gringos não têm moral para se meter nos assuntos eleitorais nem políticos da Venezuela". O procurador-geral da Venezuela disse nesta quarta (28) que o presidente Lula e Gustavo Petro, presidente da Colômbia, se intrometem nas questões venezuelanas.

A fala de Maduro faz referência à atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições brasileiras em 2022. Diferentemente do que acontece na Venezuela, no entanto, todas as etapas do pleito no Brasil são acompanhadas por entidades, nacionais e internacionais, e partidos políticos. Ao fim do dia de votação, os boletins de todas as urnas são divulgados no próprio local de votação e ficam disponíveis para conferência na internet.

Na Venezuela, as atas eleitorais, documentos que registram os votos e resultados de cada local de votação, não foram tornadas públicas pela Justiça eleitoral do país. O Supremo venezuelano também determinou que os documentos não sejam mostrados.

Além disso, as eleições no Brasil foram validada por observadores internacionais. Um deles foi o Centro Carter, que também atuou na Venezuela. Lá, considerou que o pleito "não atendeu aos padrões internacionais de integridade e não pode ser considerada democrático". Além disso, afirmou que a autoridade eleitoral "demonstrou claro viés" em favor do atual presidente Nicolás Maduro.

Também atestaram a legalidade das eleições brasileiras o Tribunal de Contas da União (TCU) e uma missão da (OEA) Organização dos Estados Americanos. A OEA também não reconhece o resultado divulgado pelo CNE e pede a publicação das atas.

Maduro utilizou o Brasil para defender a decisão do TSJ, dizendo que a eleição venezuelana foi confirmada por uma Corte superior, assim como ocorreu no pleito que deu a vitória a Lula em 2022. O argumento foi o mesmo que a presidente da Corte e o presidente da Assembleia Nacional utilizaram.

"No Brasil, teve eleições e o presidente Bolsonaro não reconheceu os resultados, houve recurso ao 'Tribunal Supremo' de Brasil (TSE), que decidiu que os resultados eleitorais deram a vitória a Lula. Santa palavra no Brasil. E quem se meteu com o Brasil? Você fez um comunicado? (apontando para um membro da plateia) Você? Você? Venezuela disse algo? Dissemos apenas que respeitamos as instituições brasileiras e eles resolveram seus problemas internamente, como deve ser", afirmou Maduro.

O Brasil não reconheceu o resultado da eleição venezuelana e cobra a publicação das atas eleitorais, o que não aconteceu até o momento. O presidente Lula e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, voltaram a cobrar no final de semana que o governo Maduro publique as atas.

A decisão do TSJ, que além de referendar o resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) também proibiu a publicação das atas eleitorais, foi realizada após uma suposta auditoria das atas eleitorais a pedido do próprio presidente. O CNE, equivalente à Justiça eleitoral venezuelana e aliada do governo, acatou a sentença do TSJ e reafirmou nesta segunda (26) Maduro como vencedor do pleito.

A oposição e a comunidade internacional rejeitam a decisão da Corte, que também é alinhada ao governo chavista. O candidato de oposição Edmundo González disse que a sentença do TSJ foi para agradar Maduro e voltou a pedir uma auditoria imparcial das atas eleitorais.

O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela e o CNE foram apontados como não independentes do governo Maduro e parciais por uma missão do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

A oposição venezuelana diz que González foi o vencedor da eleição com base em uma contagem paralela realizada com atas eleitorais --uma equipe de observadores da ONU que observou a eleição na Venezuela afirmou haver segurança no resultado divulgado pela oposição. O candidato opositor está sendo investigado pelo Ministério Público venezuelano pela publicação do site com as atas.

<><> TSJ ratificou eleição de Maduro

A decisão do TSJ, anunciada como irreversível e "inapelável", tem caráter de confirmação do resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, que havia dado a vitória ao presidente Nicolás Maduro com 51,95% dos votos válidos, contra 43,18% do candidato de oposição, Edmundo González. O TSJ também proibiu a divulgação das atas.

A decisão do TSJ não é considerada confiável pela oposição da Venezuela, liderada por González e María Corina Machado, e pela comunidade internacional por conta do alinhamento das instituições venezuelanas a Maduro.

"O país e o mundo conhecem sua parcialidade [do TSJ] e, por extensão, sua incapacidade de resolver o conflito; sua decisão só agravará a crise", escreveu González antes da divulgação da sentença.

O Tribunal Supremo também considerou que o candidato da oposição, Edmundo González, está sujeito a sanções por cometer o que foi considerado desacato à Justiça ao não comparecer a audiências convocadas pelo Judiciário após a eleição.

O CNE havia proclamado a vitória de Maduro no dia seguinte à votação, em 29 de julho, e outra vez dias depois, no início de agosto. No entanto, as atas eleitorais nunca foram publicadas.

A presidente do tribunal, Caryslia Rodriguez, afirmou que a decisão é irreversível. Ou seja, não cabem recursos à sentença desta quinta. Quem a contestar, disseram os juízes, não poderão concorrer nas próximas eleições.

"O material eleitoral avaliado está certificado de forma inquestionável, e os resultados da eleição presidencial de 28 de julho divulgados pelo Conselho Eleitoral Nacional, nos quais Nicolás Maduro foi eleito presidente da república, estão validados", diz a sentença.

As atas também não foram publicadas pelo tribunal, que determinou, na mesma sentença, que "todo o material eleitoral (incluindo as atas eleitorais) ficará sob controle do Tribunal Supremo".

A sentença é a conclusão de uma suposta auditoria que o Supremo informa ter feito com base nas atas eleitorais a pedido do próprio Nicolás Maduro. O pedido do presidente foi feito após a oposição, a ONU e governos de diversos países contestarem a proclamação da vitória dele sem a divulgação das atas.

<><> Sanções a Edmundo González

Os juízes também disseram entender que, como não compareceu a audiências convocadas pelo tribunal, o candidato oposicionista, Edmundo González, desacatou a Justiça ao não comparecer a audiências às quais havia sido convocado e, por isso, estará sujeito a sanções.

A juíza Caryslia Rodríguez, que leu a sentença, não informou se haverá e quais podem ser as sanções contra González. Quando deixou de comparecer às audiências, o oposicionista alegou que não tinha sido formalmente notificado e que temia ser preso ao chegar ao tribunal.

Rodríguez disse ainda que os juízes também constataram que houve de fato um ataque cibernético ao sistema que registra os votos da Justiça eleitoral, o que, segundo o tribunal, atrasou a divulgação das atas eleitorais.

Há duas semanas, o Centro Carter, instituto norte-americano convidado para participar como observador nas eleições venezuelanas, afirmou não ter visto indícios de um ataque hacker após inspeção ao sistema de votação.

 

Fonte: Brasil 247/g1/CNN Brasil

 

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