sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Riscos da quimioterapia: quando o tratamento pode ser fatal?

Na última sexta-feira (23), um paciente de 69 anos morreu em um hospital de referência em Belo Horizonte após passar por sessão de quimioterapia. O homem, que fazia tratamento contra câncer na rede MedSênior, teria recebido uma superdosagem do quimioterápico, conforme relata sua família.

Em uma das sessões semanais, o paciente teria recebido as quatro doses do mês ao mesmo tempo. Segundo relato dado pela filha à CNN, o idoso passou mal, apresentando enjoo, vômitos e dor de cabeça. Dias depois, o paciente foi internado e, posteriormente, entubado e em coma induzido, vindo à óbito dois dias depois. A Polícia Civil de Minas Gerais investiga se este foi um caso de erro médico.

Segundo o A.C. Camargo Cancer Center, efeitos colaterais como queda de cabelo, infecções, febre e vômitos, são comuns da quimioterapia e são resultantes das medicações que interferem diretamente na capacidade de multiplicação das células, normais ou tumorais.

Cada pessoa pode ter reações diferentes, variando em frequência e intensidade. Normalmente, os sintomas duram pouco tempo após a aplicação da quimioterapia, mas, em alguns casos, podem durar todo o tratamento.

“Todos os tratamentos [quimioterápicos] possuem reações e efeitos de eventos adversos em maior ou menor grau. Os mais comuns são fadiga, náuseas, anemia e queda de cabelo”, afirma Gustavo Matos, oncologista clínico do Sírio-Libanês em Brasília, à CNN.

Entre as reações adversas mais comuns da quimioterapia, segundo o A.C. Camargo Cancer Center, estão:

        Febre: pode ocorrer em decorrência de alguma infecção, resultado da queda de resistência imunológica;

        Náusea, vômito e diarreia: efeitos causados no sistema gastrointestinal e podem levar à perda de apetite e, consequentemente, perda de peso;

        Baixas concentrações de células sanguíneas: como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Isso aumenta o risco de o paciente desenvolver infecções, além de correr risco de ter anemia e sofrer com hematomas ou hemorragias;

        Queda de cabelo: ocorre devido à ação da quimioterapia na célula do folículo piloso, que dá origem à estrutura do cabelo;

        Feridas na boca: também chamadas de mucosite, acontecem devido à mucosa oral estar mais fina e sensível;

        Infertilidade: não acontece, necessariamente, em todos os pacientes e, na maioria dos casos, é reversível;

        Lesão a órgãos: em alguns casos, de acordo com o Manual MSD, os fármacos usados na quimioterapia podem danificar outros órgãos, como pulmões, coração ou fígado.

Além desses efeitos mais comuns, também podem ocorrer reações durante a administração da medicação, como reações alérgicas. “Isso justifica a administração de medicações em hospitais, clínicas e centros de infusões, é necessário haver equipe de plantão para intercorrências”, enfatiza Matos.

        Quando a reação adversa à quimioterapia pode ser fatal?

Reações graves à quimioterapia podem apresentar riscos à saúde do paciente. De acordo com o oncologista clínico, isso pode ocorrer no caso de uma reação alérgica à infusão venosa de uma droga quimioterápica, ou no caso de uma desidratação causada por diarreia grave provocada por outro quimioterápico.

“Reações graves são aquelas que tornam necessária a avaliação do paciente em ambiente hospitalar, por vezes necessitando de internações em UTI (unidade de terapia intensiva), pois representam ameaça a vida do paciente”, afirma Matos.

Além disso, a superdosagem da quimioterapia pode aumentar substancialmente o risco de danos graves à saúde do paciente, podendo levar à morte. “As doses habituais de quimioterapia são desenvolvidas a partir de estudos de escalonamento de dose (estudos de fase 1), antes mesmo de sabermos se o tratamento funciona (estudos de fase 3). Não se deve prescrever em doses maiores que a preconizada por estudos clínicos”, enfatiza o especialista.

        Em casos de reações graves, é preciso parar o tratamento?

De acordo com Matos, se a reação adversa for leve, o tratamento quimioterápico é mantido e são realizadas medidas preventivas para evitar reações adversas futuras. “Caso a reação seja grave, com risco de evoluir para óbito, geralmente o tratamento é suspenso, e procura-se trocar o tratamento antineoplásico para outra medicação”, esclarece.

Para evitar reações graves, uma medida importante é a tripla checagem da prescrição do tratamento quimioterápico antes de ser aplicado ao paciente, conforme explica Kátia Marchetti, oncologista clínica do Sírio-Libanês de Brasília. “A maioria dos serviços de qualidade apresentam esse serviço, em que, geralmente, um ou dois farmacêuticos veem a prescrição, re-checam tanto o protocolo, quanto o cálculo das doses, checam a evolução médica e checam, também, os exames laboratoriais do paciente”, detalha.

Além disso, o contato próximo com o paciente oncológico, através da equipe de enfermagem e, até mesmo, do contato telefônico com a equipe médica, é fundamental para monitorar possíveis sintomas e efeitos colaterais. “Eu acredito que isso funciona muito bem e, com certeza, evita efeitos colaterais mais graves”, finaliza.

 

        Nova rede social oferece apoio para pais que perderam filhos para o câncer

Para lidar com o luto, uma das etapas essenciais é buscar ajuda, seja de familiares, amigos ou profissionais. Fazer parte de grupos de apoio pode ajudar a aliviar a carga emocional do período e a reduzir, aos poucos, a dor. Nesse sentido, uma nova rede social foi lançada em julho para conectar pais que perderam seus filhos para o câncer e oferecer suporte psicológico.

Chamada Connect, a mídia social e healthtech foi lançada pela holding de comunicação Yellow e iniciou suas atividades no dia 13 de julho no Hospital de Amor Infantojuvenil, localizada em Barretos, no interior de São Paulo. Nessa primeira fase, a previsão é que a plataforma atenda 250 pais, com uma projeção de alcançar até 1,5 milhão de usuários até 2025.

“A Connect permite não só a conversa entre os pais, mas também permite que palestras aconteçam dentro do canal, seções de arteterapia e também todas as conversas dentro do canal são monitoradas por médicos, permitindo que elas tenham um insight na saúde mental dos membros do canal também”, explica Bruno Giangrande, CEO da Yellow, à CNN.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 400 mil crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos são diagnosticados com câncer globalmente a cada ano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que uma criança morre devido à doença a cada três minutos.

<><> Como a rede social funciona?

Segundo Giangrande, qualquer grupo afetado pelo tratamento de câncer — como crianças passando por tratamento com crianças que já passaram, ou pais enlutados, ou até uma comunidade de médicos que procuram compartilhar novas descobertas — podem utilizar a rede social, desde que o hospital seja parceiro da Yellow.

As interações podem acontecer tanto entre pais, quanto entre pais e médicos. “A conversa entre os pais é monitorada por médicos, significando que eles podem monitorar os pais. Também existe a possibilidade de mandar mensagens privadas para ou um médico, ou outro pai”, explica.

Além disso, a rede social também promove eventos como palestras de psicólogos ou sessões de arteterapia, que permitem a interação com profissionais de saúde mental. “Dentro da equipe do hospital que monitora o canal, estão ambos médicos e psicólogos”, acrescenta o CEO.

Para alcançar a meta de atingir 1,5 milhão de pessoas, a equipe responsável pela Connect irá fazer mais parcerias com redes hospitalares de todo o Brasil.

“Vamos procurar fazer mais parcerias com redes hospitalares para proporcionar a conectividade de pessoas pelo Brasil inteiro. Hospitais com unidades em múltiplos lugares do país permitem que mais pessoas de diferentes regiões tenham acesso ao canal, criando uma comunidade pelo Brasil inteiro”, afirma Giangrande.

        Importância da rede de apoio no luto

Segundo a psicóloga clínica, Larissa Fonseca, uma rede de apoio composta por pessoas que compartilharam experiências semelhantes, como na perda de um filho para o câncer, é fundamental para a saúde mental dos pais.

“Isso proporciona um espaço seguro para expressar emoções e compartilhar desafios únicos. Esse tipo de conexão gera empatia, compreensão mútua e pode ser um alicerce emocional, ajudando a diminuir o sentimento de isolamento e desamparo”, explica, à CNN.

No caso de pais cujos filhos estão em tratamento contra o câncer, a carga emocional pode ser ainda mais pesada, na visão da psicóloga. “O bem-estar mental dos pais pode ser profundamente afetado, com sentimentos de ansiedade, medo constante e exaustão profissional”, afirma.

“A preocupação constante com a saúde do filho, o impacto financeiro e a incerteza sobre o futuro podem gerar estresse crônico e, até mesmo, depressão, comprometendo a qualidade de vida e a capacidade de lidar com as demandas diárias”, acrescenta.

Nesse sentido, iniciativas como uma rede de apoio virtual pode ser útil no processo de acolhimento e elaboração do luto. “Isso oferece acesso contínuo a pessoas que compreendem a dor e os desafios enfrentados, independentemente da localização geográfica. Além disso, facilita o contato com profissionais da saúde, permitindo um suporte imediato e personalizado”, afirma Fonseca.

O suporte aos enlutados também deve incluir o acompanhamento psicológico especializado e terapias integrativas, segundo a psicóloga.

 

Fonte: CNN Brasil

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