Riscos da
quimioterapia: quando o tratamento pode ser fatal?
Na última sexta-feira
(23), um paciente de 69 anos morreu em um hospital de referência em Belo
Horizonte após passar por sessão de quimioterapia. O homem, que fazia
tratamento contra câncer na rede MedSênior, teria recebido uma superdosagem do
quimioterápico, conforme relata sua família.
Em uma das sessões
semanais, o paciente teria recebido as quatro doses do mês ao mesmo tempo.
Segundo relato dado pela filha à CNN, o idoso passou mal, apresentando enjoo,
vômitos e dor de cabeça. Dias depois, o paciente foi internado e,
posteriormente, entubado e em coma induzido, vindo à óbito dois dias depois. A
Polícia Civil de Minas Gerais investiga se este foi um caso de erro médico.
Segundo o A.C. Camargo
Cancer Center, efeitos colaterais como queda de cabelo, infecções, febre e
vômitos, são comuns da quimioterapia e são resultantes das medicações que
interferem diretamente na capacidade de multiplicação das células, normais ou
tumorais.
Cada pessoa pode ter
reações diferentes, variando em frequência e intensidade. Normalmente, os
sintomas duram pouco tempo após a aplicação da quimioterapia, mas, em alguns
casos, podem durar todo o tratamento.
“Todos os tratamentos
[quimioterápicos] possuem reações e efeitos de eventos adversos em maior ou
menor grau. Os mais comuns são fadiga, náuseas, anemia e queda de cabelo”,
afirma Gustavo Matos, oncologista clínico do Sírio-Libanês em Brasília, à CNN.
Entre as reações
adversas mais comuns da quimioterapia, segundo o A.C. Camargo Cancer Center,
estão:
• Febre: pode ocorrer em decorrência de
alguma infecção, resultado da queda de resistência imunológica;
• Náusea, vômito e diarreia: efeitos
causados no sistema gastrointestinal e podem levar à perda de apetite e,
consequentemente, perda de peso;
• Baixas concentrações de células sanguíneas:
como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Isso aumenta o risco de
o paciente desenvolver infecções, além de correr risco de ter anemia e sofrer
com hematomas ou hemorragias;
• Queda de cabelo: ocorre devido à ação da
quimioterapia na célula do folículo piloso, que dá origem à estrutura do
cabelo;
• Feridas na boca: também chamadas de
mucosite, acontecem devido à mucosa oral estar mais fina e sensível;
• Infertilidade: não acontece,
necessariamente, em todos os pacientes e, na maioria dos casos, é reversível;
• Lesão a órgãos: em alguns casos, de
acordo com o Manual MSD, os fármacos usados na quimioterapia podem danificar
outros órgãos, como pulmões, coração ou fígado.
Além desses efeitos
mais comuns, também podem ocorrer reações durante a administração da medicação,
como reações alérgicas. “Isso justifica a administração de medicações em
hospitais, clínicas e centros de infusões, é necessário haver equipe de plantão
para intercorrências”, enfatiza Matos.
• Quando a reação adversa à quimioterapia
pode ser fatal?
Reações graves à
quimioterapia podem apresentar riscos à saúde do paciente. De acordo com o
oncologista clínico, isso pode ocorrer no caso de uma reação alérgica à infusão
venosa de uma droga quimioterápica, ou no caso de uma desidratação causada por
diarreia grave provocada por outro quimioterápico.
“Reações graves são
aquelas que tornam necessária a avaliação do paciente em ambiente hospitalar,
por vezes necessitando de internações em UTI (unidade de terapia intensiva),
pois representam ameaça a vida do paciente”, afirma Matos.
Além disso, a
superdosagem da quimioterapia pode aumentar substancialmente o risco de danos
graves à saúde do paciente, podendo levar à morte. “As doses habituais de
quimioterapia são desenvolvidas a partir de estudos de escalonamento de dose
(estudos de fase 1), antes mesmo de sabermos se o tratamento funciona (estudos
de fase 3). Não se deve prescrever em doses maiores que a preconizada por
estudos clínicos”, enfatiza o especialista.
• Em casos de reações graves, é preciso
parar o tratamento?
De acordo com Matos,
se a reação adversa for leve, o tratamento quimioterápico é mantido e são
realizadas medidas preventivas para evitar reações adversas futuras. “Caso a
reação seja grave, com risco de evoluir para óbito, geralmente o tratamento é
suspenso, e procura-se trocar o tratamento antineoplásico para outra
medicação”, esclarece.
Para evitar reações
graves, uma medida importante é a tripla checagem da prescrição do tratamento
quimioterápico antes de ser aplicado ao paciente, conforme explica Kátia
Marchetti, oncologista clínica do Sírio-Libanês de Brasília. “A maioria dos
serviços de qualidade apresentam esse serviço, em que, geralmente, um ou dois
farmacêuticos veem a prescrição, re-checam tanto o protocolo, quanto o cálculo
das doses, checam a evolução médica e checam, também, os exames laboratoriais
do paciente”, detalha.
Além disso, o contato
próximo com o paciente oncológico, através da equipe de enfermagem e, até
mesmo, do contato telefônico com a equipe médica, é fundamental para monitorar
possíveis sintomas e efeitos colaterais. “Eu acredito que isso funciona muito bem
e, com certeza, evita efeitos colaterais mais graves”, finaliza.
• Nova rede social oferece apoio para pais
que perderam filhos para o câncer
Para lidar com o luto,
uma das etapas essenciais é buscar ajuda, seja de familiares, amigos ou
profissionais. Fazer parte de grupos de apoio pode ajudar a aliviar a carga
emocional do período e a reduzir, aos poucos, a dor. Nesse sentido, uma nova
rede social foi lançada em julho para conectar pais que perderam seus filhos
para o câncer e oferecer suporte psicológico.
Chamada Connect, a
mídia social e healthtech foi lançada pela holding de comunicação Yellow e
iniciou suas atividades no dia 13 de julho no Hospital de Amor Infantojuvenil,
localizada em Barretos, no interior de São Paulo. Nessa primeira fase, a
previsão é que a plataforma atenda 250 pais, com uma projeção de alcançar até
1,5 milhão de usuários até 2025.
“A Connect permite não
só a conversa entre os pais, mas também permite que palestras aconteçam dentro
do canal, seções de arteterapia e também todas as conversas dentro do canal são
monitoradas por médicos, permitindo que elas tenham um insight na saúde mental
dos membros do canal também”, explica Bruno Giangrande, CEO da Yellow, à CNN.
De acordo com o
Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 400 mil crianças e adolescentes
entre 0 e 19 anos são diagnosticados com câncer globalmente a cada ano. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que uma criança morre devido à doença
a cada três minutos.
<><> Como
a rede social funciona?
Segundo Giangrande,
qualquer grupo afetado pelo tratamento de câncer — como crianças passando por
tratamento com crianças que já passaram, ou pais enlutados, ou até uma
comunidade de médicos que procuram compartilhar novas descobertas — podem
utilizar a rede social, desde que o hospital seja parceiro da Yellow.
As interações podem
acontecer tanto entre pais, quanto entre pais e médicos. “A conversa entre os
pais é monitorada por médicos, significando que eles podem monitorar os pais.
Também existe a possibilidade de mandar mensagens privadas para ou um médico, ou
outro pai”, explica.
Além disso, a rede
social também promove eventos como palestras de psicólogos ou sessões de
arteterapia, que permitem a interação com profissionais de saúde mental.
“Dentro da equipe do hospital que monitora o canal, estão ambos médicos e
psicólogos”, acrescenta o CEO.
Para alcançar a meta
de atingir 1,5 milhão de pessoas, a equipe responsável pela Connect irá fazer
mais parcerias com redes hospitalares de todo o Brasil.
“Vamos procurar fazer
mais parcerias com redes hospitalares para proporcionar a conectividade de
pessoas pelo Brasil inteiro. Hospitais com unidades em múltiplos lugares do
país permitem que mais pessoas de diferentes regiões tenham acesso ao canal,
criando uma comunidade pelo Brasil inteiro”, afirma Giangrande.
• Importância da rede de apoio no luto
Segundo a psicóloga
clínica, Larissa Fonseca, uma rede de apoio composta por pessoas que
compartilharam experiências semelhantes, como na perda de um filho para o
câncer, é fundamental para a saúde mental dos pais.
“Isso proporciona um
espaço seguro para expressar emoções e compartilhar desafios únicos. Esse tipo
de conexão gera empatia, compreensão mútua e pode ser um alicerce emocional,
ajudando a diminuir o sentimento de isolamento e desamparo”, explica, à CNN.
No caso de pais cujos
filhos estão em tratamento contra o câncer, a carga emocional pode ser ainda
mais pesada, na visão da psicóloga. “O bem-estar mental dos pais pode ser
profundamente afetado, com sentimentos de ansiedade, medo constante e exaustão
profissional”, afirma.
“A preocupação
constante com a saúde do filho, o impacto financeiro e a incerteza sobre o
futuro podem gerar estresse crônico e, até mesmo, depressão, comprometendo a
qualidade de vida e a capacidade de lidar com as demandas diárias”, acrescenta.
Nesse sentido,
iniciativas como uma rede de apoio virtual pode ser útil no processo de
acolhimento e elaboração do luto. “Isso oferece acesso contínuo a pessoas que
compreendem a dor e os desafios enfrentados, independentemente da localização
geográfica. Além disso, facilita o contato com profissionais da saúde,
permitindo um suporte imediato e personalizado”, afirma Fonseca.
O suporte aos
enlutados também deve incluir o acompanhamento psicológico especializado e
terapias integrativas, segundo a psicóloga.
Fonte: CNN Brasil
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