quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Jogos Paralímpicos surgiram com veteranos feridos na 2ª Guerra

 Pode-se dizer que a ideia dos Jogos Paralímpicos nasceu com Sir Ludwig Guttmann, um neurologista alemão que procurava uma maneira de acelerar a recuperação de seus pacientes paraplégicos do Hospital de Stoke Mandeville, no sudeste da Inglaterra. Eles eram veteranos da Segunda Guerra Mundial e todos estavam em cadeiras de rodas.

Sir Guttmann decidiu organizar eventos esportivos para seus pacientes no exato momento em que aconteciam os Jogos Olímpicos de Londres. Naquela época, 16 veteranos em cadeiras de rodas competiram em uma prova de tiro com arco e “netball”, disciplina derivada do basquete. Sem saber, o doutor Guttmann acabava de criar um novo movimento esportivo.

Em 1952, foram lançados os primeiros Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, com a participação de uma equipe de veteranos holandeses, além dos britânicos. A partir de então, estes Jogos passaram a acontecer todos os anos.

Dois anos depois, a competição se ampliou com a participação de 14 nações. A maioria dos participantes, todos paraplégicos, era paciente de hospitais ou centros de reabilitação cujos diretores médicos seguiram o exemplo de Stoke Mandeville, ao incluir o esporte nos seus programas.

Pouco mais de uma década depois, em 1960, os 9° Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, considerados os primeiros “Jogos Paralímpicos”, foram realizados em Roma, seis dias após a conclusão dos Jogos Olímpicos.

Cinco mil pessoas assistiram à cerimônia de abertura no estádio Acqua Acetosa onde estavam presentes 23 nações, com 400 atletas, todos em cadeiras de rodas. Oito modalidades estavam na programação: atletismo, basquete em cadeira de rodas, natação, tênis de mesa, tiro com arco, bilhar, lançamento de dardos paralímpico e esgrima em cadeira de rodas.

Em Tóquio, em 1964, as corridas em cadeiras de rodas fizeram sua estreia com a prova de 60 metros. Na época, não existiam cadeiras esportivas. Os atletas usavam as mesmas que utilizavam em sua vida cotidiana. Os primeiros protótipos, um pouco mais estudados, mas ainda artesanais, só surgiram no início da década de 1980.

•        O movimento paralímpico começa a existir

Em 1972, em Heidelberg (Alemanha), antes dos Jogos Olímpicos de Munique, pela primeira vez, os chefes de delegação e treinadores se reuniram para discutir os regulamentos em vigor em cada prova, optando pela criação de subcomitês por esporte dentro do comitê organizador dos Jogos de Stoke Mandeville.

Esta decisão ofereceu a cada disciplina mais autonomia no seu desenvolvimento e abriu caminho para futuras classificações de deficiência por esporte. Em Toronto (Canadá), em 1976, 261 atletas amputados e 187 atletas com deficiência visual puderam participar, além dos atletas cadeirantes.

Em 22 de setembro de 1989 foi fundado o Comitê Paralímpico Internacional (IPC), um momento importante na história dos Jogos Paralímpicos. O IPC supervisiona e coordena os Jogos Paralímpicos de Verão e Inverno, bem como outras competições para atletas com diversas deficiências.

O ano 2000 marcou uma virada na história dos Jogos Paralímpicos. Para os 11° Jogos Paralímpicos em Sydney, o Comitê Organizador Paralímpico compartilhou recursos com o Comitê Organizador Olímpico. Assim, os gestores e funcionários do local foram responsáveis por ambos os eventos.

•        Cobertura da mídia

Em 19 de junho de 2001, foi assinado um acordo entre o COI e o IPC para garantir e proteger a organização dos Jogos Paralímpicos.

Ele confirmou que a partir dos Jogos de Pequim 2008, os Jogos Paralímpicos acontecerão sempre logo após os Jogos Olímpicos e utilizarão os mesmos locais e instalações esportivas, a mesma Vila Olímpica, a mesma cobertura de custos de taxas de inscrição e de viagem.

Com isso, cada futura cidade-sede escolhida possou a ser obrigada a organizar os Jogos Olímpicos e os Paralímpicos.

Em Pequim também foi confirmada a progressão da cobertura da mídia com emissões em 80 países, atingindo 3,8 bilhões de telespectadores no total.

Depois, os Jogos de Londres em 2012 marcaram uma mudança para uma grande demonstração de inclusão e orgulho. O Rio em 2016 e Tóquio em 2021 ampliaram o movimento.

 

•        9 atletas para ficar de olho nas Paralimpíadas de Paris

Paris receberá cerca de 4,5 mil atletas na cidade para competir nas primeiras Paralimpíadas de verão a serem sediadas pela França.

Serão 22 modalidades ao longo dos 11 dias de competição, com 549 medalhas de ouro em disputa.

Os Jogos contarão com a mistura usual de estrelas internacionais experientes, que esperam melhorar suas marcas, e novatos que buscam projeção.

A BBC Sport analisa alguns dos atletas globais que buscam brilhar a partir da quinta-feira (29/8), quando começam as competições.

•        Phelipe Rodrigues (Brasil) - natação

O pernambucano Phelipe Rodrigues é o brasileiro com mais medalhas na história da competição entre os 280 atletas convocados pelo país para esta edição dos Jogos. O nadador da classe S10 (limitação físico-motora) já levou para casa oito medalhas.

Recifense, o nadador conquistou ao menos uma medalha em cada uma das quatro edições dos Jogos que disputou – de Pequim 2008 a Tóquio 2020. No total, ele soma cinco pratas e três bronzes.

Phelipe nasceu com um pé torto e com apenas quatro semanas de vida foi submetido a duas cirurgias. No entanto, ele teve uma infecção que fez com que o joelho e principalmente o tendão parassem de crescer, impedindo os movimentos do pé direito devido à fraqueza do joelho.

A natação foi uma atividade que ele começou a fazer aos oito meses de idade, como fisioterapia.

•        Simone Barlaam (Itália) - natação

Simone Barlaam é uma peça-chave na ascensão da Itália como uma potência paralímpica na piscina.

O milanês de 24 anos, que nasceu com uma perna mais curta que a outra devido a um problema no quadril, passou um tempo em Paris quando criança, onde foi submetido a várias cirurgias.

Depois de começar a nadar competitivamente aos 14 anos, ele fez sua estreia internacional no Campeonato Mundial de 2017 no México e se tornou um dos principais atletas na categoria S9.

Barlaam diz que teve dificuldades em sua primeira Paralimpíada em Tóquio, onde ganhou ouro, duas pratas e um bronze, mas chega a Paris depois de ganhar seis ouros em seis competições no Mundial do ano passado em Manchester e é um forte favorito para aumentar sua contagem de medalhas.

•        Diede de Groot (Holanda) - Tênis em cadeira de rodas

As mulheres holandesas dominam o tênis em cadeira de rodas há muitos anos e De Groot é a estrela mais recente.

A jovem de 27 anos é a número um do mundo em simples e duplas e ganhou o ouro em ambos os eventos em Tóquio, este último com Aniek van Koot.

Nascida com a perna direita mais curta que a outra, ela começou a jogar tênis em cadeira de rodas aos sete anos e domina o esporte desde 2017.

Ela é a primeira jogadora - cadeirante ou não - a ganhar três Grand Slams consecutivos do calendário e entre seus vários títulos estão cinco títulos de simples do Aberto da França e seis títulos de duplas em Roland Garros, onde os eventos de tênis em cadeira de rodas paralímpicos acontecerão.

No início deste ano, ela foi nomeada a Esportista Mundial Laureus do Ano com Deficiência - seguindo a compatriota Esther Vergeer, que venceu em 2002 e 2008.

•        Marcel Hug (Suíça) - atletismo

O capacete prateado de Hug fez com que o atleta ganhasse o apelido de Bala de Prata. Mas ele não é estranho ao ouro e, como uma das estrelas da sua modalidade, o atleta de 38 anos espera adicionar aos seus seis títulos paralímpicos no Stade de France.

O suíço ganhou seu primeiro ouro no Rio no T54 800m antes de levar outro ouro na maratona.

Em Tóquio, ele completou uma série de vitórias nos 800m, 1500m, 5.000m e na maratona antes de adicionar outros três ouros na pista em Paris no Mundial do ano passado.

Além da pista, Hug também brilha na estrada e tem várias vitórias nas grandes maratonas da cidade de Londres, Nova York, Boston, Chicago e Berlim.

•        Oksana Masters (Estados Unidos) - ciclismo

Masters superou muitos traumas para se tornar uma estrela das Paralimpíadas de verão e inverno.

Ela nasceu na Ucrânia em 1989 com múltiplas deficiências congênitas, três anos após o desastre de Chernobyl, e depois de ser abandonada por seus pais biológicos. Cresceu em um orfanato onde era regularmente espancada e abusada.

Aos sete anos, Masters foi adotada pela americana Gay Masters. Teve as duas pernas amputadas acima do joelho e passou por uma cirurgia nas mãos.

Depois de começar sua carreira esportiva como remadora e competir em Londres 2012, ganhando o bronze, ela mudou para o paraciclismo e esqui cross-country.

Ela ganhou duas medalhas de ouro nos Jogos de Inverno de 2018 em PyeongChang antes de garantir duas medalhas de ouro no Japão, depois seguindo com mais três medalhas de ouro nos Jogos de Inverno de 2022 em Pequim em cross-country e biatlo.

No ano passado, ela lançou sua autobiografia, The Hard Parts, onde contou sua poderosa história.

•        Markus Rehm (Alemanha) - atletismo

O homem conhecido como Blade Jumper é um favorito absoluto para ganhar um quarto título paralímpico de salto em distância em Paris.

Rehm, que perdeu a perna direita abaixo do joelho em um acidente de wakeboard em 2003 e salta usando uma prótese de lâmina, tem sido a estrela do atletismo desde sua estreia internacional no Mundial de 2011 na Nova Zelândia, constantemente ultrapassando os limites em sua categoria.

Ele detém o atual recorde mundial, de 8,72 m - o nono salto mais longo de todos os tempos e seu melhor em 2024 é 8,44 m -, uma distância que lhe daria prata olímpica em Paris e ouro nos quatro Jogos anteriores.

No entanto, ele não pode competir nas Olimpíadas porque foi decidido que saltar de sua prótese lhe dá uma vantagem sobre os não amputados.

A perda das Olimpíadas é o ganho das Paralimpíadas e Rehm em pleno voo é um espetáculo para ser visto.

•        Sheetal Devi (Índia) - tiro com arco

Com apenas 17 anos, Devi será uma das competidoras mais jovens tanto no tiro com arco quanto nos Jogos como um todo.

A indiana nasceu com uma condição chamada focomelia e não tem os membros superiores.

No entanto, ela atira flechas usando os pés e é a primeira e única mulher para-arqueira a competir internacionalmente sem braços.

Ela descobriu o esporte há três anos e, embora os treinadores inicialmente tenham sugerido que ela usasse uma prótese, ela se inspirou no americano Matt Stutzman, medalhista de prata paralímpico de 2012 e campeão mundial de 2022, que também nasceu sem braços.

Seu primeiro grande evento foi nos Jogos Asiáticos Paralímpicos de 2022, onde ganhou ouro no individual feminino e ouro em duplas mistas.

Ela também levou prata nas duplas femininas antes de disputar a prata mundial individual no ano passado e entra como número um do mundo.

•        Alexis Hanquinquant (França) - triatlo

O triatleta de 38 anos da Normandia é uma das principais esperanças da França para o ouro nos Jogos.

Hanquinquant é o atual campeão paralímpico de triatlo na categoria PTS4 e tem sido o grande destaque nesta divisão desde sua estreia internacional em junho de 2016. Ele está invicto desde sua vitória em Tóquio.

Um jogador de basquete entusiasmado e praticante de esportes de combate, ele sofreu um acidente de trabalho em 2010 e teve sua perna amputada abaixo do joelho três anos depois.

Ele fez sua descoberta no paraesporte tarde demais para o Rio, mas em Tóquio ele era um campeão mundial múltiplo e garantiu o ouro por quase três minutos de seu rival mais próximo.

Junto com o paraatleta Nantenin Keita, o pai de dois filhos foi eleito por seus companheiros de equipe para carregar a bandeira francesa na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris.

•        Morgan Stickney (Estados Unidos) - natação

O primeiro sonho esportivo de Stickney era nadar nas Olimpíadas e ela foi classificada nacionalmente entre as 20 melhores aos 15 anos antes de quebrar ossos do pé esquerdo - que acabou sendo amputado em maio de 2018 devido a dores e complicações.

Esse foi o início de seus desafios médicos, que a levaram a ser diagnosticada com uma doença vascular rara que impede a chegada de sangue suficiente aos seus membros.

Stickney teve uma segunda amputação abaixo do joelho em 2019 e disse que nunca mais nadaria, mas voltou à piscina durante a pandemia de covid e se apaixonou pelo esporte. Ela ganhou duas medalhas de ouro em Tóquio - seu primeiro evento internacional na natação.

Desde então, a condição progrediu e está afetando todo o seu corpo.

Na preparação para os Jogos, Stickney, agora com 27 anos, teve que passar dias no hospital em Boston todos os meses para tratamento, mas está ferozmente determinada a brilhar novamente.

 

Fonte: AFP/BBC News Brasil

 

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