quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Pablo Marçal negocia fazendas endividadas com agiotas

Dono de fazenda em Itu (SP), o próprio candidato à prefeitura paulistana explica em vídeo como contata os criminosos; condenado por crime em Goiás tem R$ 168 milhões em participações de 24 empresas, mas declara apenas quatro à Justiça Eleitoral...

— Network vale mais que dinheiro, nunca mais você empresta dinheiro pra ninguém, não precisa, é só ter network com agiota.

Esse foi o conselho de Pablo Marçal durante uma palestra compartilhada em suas redes sociais. O candidato a prefeito da cidade mais populosa do Brasil, São Paulo, vende a figura de um milionário de origem humilde que alcançou a prosperidade por meio de técnicas que todos poderiam alcançar. Com quais métodos?

Marçal dá aos seguidores dicas de investimentos para se aproveitar de endividados e negociar com agiotas. É ele quem diz, em vídeo:

— A fazenda vale R$ 8 milhões, está quebrada, desestruturada, foi jogada no lixo porque o cara quebrou o emocional dele. Tá devendo o banco e vai executar agora, não tem conversa. […] Fiquei sabendo que ele arrumou dinheiro com agiota. Já até arrumei o número do agiota pra ligar pro agiota.

Vejam, Marçal está dizendo com todas as letras que se relaciona com agiotas. Em que termos?

— Opa, tudo bem? Nós vamos pagar você, mas não é hoje não. Quando acabar todas as possibilidades dele. Não sou eu que sou a pessoa má. Eu torço pra que esse negócio não venha parar na minha mão. Mas se vier parar na minha mão eu faço R$ 2 a 3 milhões sem colocar 1 real.

A dica de Marçal está prevista pela Lei nº 1.521 de 1951, que versa sobre os crimes contra a economia popular, e caracteriza-se pelo abuso da situação de necessidade de outro com o objetivo de obter lucro excessivo, com pena de 6 meses a 2 anos de detenção. O crime de usura, denominação dada à prática da agiotagem no artigo 4º da lei, tem sua pena agravada quando o autor possui condição econômica e social superior à da vítima, ou quando o crime é cometido em detrimento de operários e agricultores.

Mas o “conselho” de Marçal circula no canal do Tiktok, Sociedade Milionária, e tem cerca de 1.500 curtidas.

MARÇAL DEIXA R$ 88 MILHÕES FORA DA DECLARAÇÃO AO TSE

Essas fazendas adquiridas por meio de agiotas estão ou não estão na declaração de bens entregue por Pablo Marçal à Justiça Eleitoral? Foi a pergunta que fizemos a ele, por meio de sua assessoria de imprensa. sem resposta.

A declaração de Marçal que consta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) totaliza R$ 169.503.058,17, mas seu patrimônio é maior. Ele mesmo insinua ser bilionário. Alguns valores estão subestimados e diversas participações em empresas do mesmo grupo não foram declaradas e somadas.

Preso em 2005 pela sua participação em um esquema de clonagem de cartões, Marçal teve uma ascensão meteórica: ele possui, em 2024, 21 empresas registradas na Junta Comercial de São Paulo. Elas somam R$ 168 milhões, mas apenas quatro delas estão na declaração entregue ao TSE. E elas estão com valores subestimados.

Para o Tribunal Superior Eleitoral, Marçal declarou participação em uma empresa aérea chamada Aviation (80%), na Marçal Loteamentos (100%), na Marçal Participações (90%) e na Marçal Holding (50%), somando R$ 80 milhões. Mas outra fatia de tamanho semelhante, R$ 88 milhões, não está na declaração.

A participação de Marçal nas empresas Marçal Holding e Marçal Participações foi subestimada. O candidato declarou apenas R$ 700 mil pelas duas empresas, mas elas valem R$ 22 milhões, como aponta reportagem do UOL.

Outra parte do patrimônio do candidato registrado na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) não consta em sua declaração. São R$ 66 milhões de participações das empresas principais em outros dezoito negócios, que vão de uma fazenda a uma empresa digital.

EMPRESAS LIGADAS A IMÓVEL EM ITU ESTÃO COM VALORES SUBESTIMADOS

Pablo Marçal tem R$ 670 mil em participação na Fazenda Toscana Ltda, um dos braços do imóvel rural em Itu (SP). É a fazenda apresentada em vídeo por seu sócio, Renato Carlini, réu em São Paulo sob a acusação de oferecer material para o tráfico de drogas. A fazenda foi comprada por R$ 6.165.712, durante um leilão. O imóvel rural está associado à Marçal Participações, declarada ao TSE por R$ 450 mil.

Uma coisa é o imóvel rural, com esse braço jurídico, outra a empresa homônima: a Fazenda Toscana Ltda, pessoa jurídica com capital social de R$ 1 milhão, está associada a outro guarda-chuvas empresarial do político, a Marçal Holding. Só que essa empresa foi declarada à Justiça Eleitoral por apenas R$ 250 mil. Este observatório também perguntou à assessoria do candidato de onde veio esse dinheiro — sem resposta.

O imóvel em Itu foi arrematado em outubro de 2021, época em que estava avaliado em 12,3 milhões de reais. O lance vencedor corresponde a metade do valor da propriedade. Segundo o auto de arrematação, a compra da fazenda envolveu a Marçal Holding, responsável por 42% da aquisição, e outras três empresas: Exo Participações (28%), E3 Holding Ltda (25%) e Xthor Plataforma de Ensino e Treinamentos (5%). O leilão judicial foi realizado para quitar dívidas dos antigos proprietários da fazenda junto a uma administradora de consórcios.

Outra empresa associada à Marçal Holding é a Resort Digital, relativa a um resort em Porto Feliz (SP). Ela tem um capital social de R$ 10 milhões, valor 40 vezes maior que o declarado à Justiça Eleitoral na holding. Em outra entrevista para o canal de Renato Cariani no YouTube, realizada no próprio resort, o candidato afirma ter investido R$ 25 milhões na reforma do imóvel no interior paulista. Não há registro disso na Justiça Eleitoral.

Tanto a fazenda quanto o resort não são segredos para o público que acompanha o coach pelas redes sociais. Somente o vídeo de Cariani sobre a fazenda já foi visto por 670 mil seguidores do empresário, acusado de associação ao tráfico. Os imóveis também serviram de palco para os reality shows promovidos pelo sócio de Cariani, Pablo Marçal.

O resort foi apresentado no canal de Cariani no dia 5 de maio. A Fazenda Toscana, com 162 hectares em Itu, cinco dias depois, no dia 10 de maio. De Olho nos Ruralistas constatou que ela se chamava Fazenda Jamaica — não há registro de uma fazenda Toscana nos cadastros de imóveis rurais.

Ele contou para Cariani como conseguiu a fazenda, que segundo ele estava falida:

— Comprei lá embaixo [com os preços lá embaixo], destruído, família destruiu tudo. Estava tudo acabado e eu comprei. A curiosidade disso aqui é que eu comprei sem vir aqui. Comprei no helicóptero. Estava sobrevoando […] E meu advogado: “Olha, vai fazer agora. Pode dar o lance?” Pode.

 

•        Marçal minimiza ligação do presidente do seu partido com o PCC e cocaína: "Não vou condenar o cara"

Em entrevista à GloboNews na noite desta segunda-feira (26), o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, minimizou a ligação do presidente de seu partido e fiador de sua candidatura, Leonardo Avalanche, com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Ao ser questionado sobre o áudio em que Avalanche confessa ter elos com o PCC, o coach de extrema direita "passou pano", se limitando a dizer que todos têm direito à "ampla defesa" e cabe à polícia investigar tal relação.

"Eu entrei no partido de última hora. Tem o contraditório e ampla defesa. Tenho que partir disso. Vou fazer o que? Não vou condenar o cara. Eu não sou polícia", declarou Marçal, que já foi condenado à prisão por integrar uma quadrilha de fraude bancária.

Pablo Marçal ainda disse que as denúncias de que seus correligionários trocariam carros de luxo por pacotes de cocaína do PCC causam "constrangimento".

"Claro, isso é totalmente constrangedor. Precisava de trabalhador, gente honesta, e tem esse tipo de gente lá. O que eu posso fazer?", disparou.

<><> Pablo Marçal, PRTB, PCC e cocaína

Uma nova e devastadora bomba atingiu, na de quarta-feira (21), a campanha do coach Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo. Uma investigação da Polícia Civil paulista mostrou que dois assessores pessoais e muito próximos do presidente nacional do PRTB (legenda de Marçal), Leonardo Avalanche, teriam trocado carros de luxo por pacotes de cocaína com o PCC (Primeiro Comando da Capital), maior organização criminosa do Brasil, além de terem cometido outros crimes graves, como financiamento ao tráfico, fraude imobiliária e exploração da prostituição. As informações são do jornal ‘O Estado de S. Paulo’.

Tarcísio Escobar de Almeida, que chegou a ser nomeado presidente estadual do PRTB em São Paulo, mas que teve que deixar a função três dias depois porque sequer tinha título de eleitor, e Júlio César Pereira, conhecido como Gordão, eram os homens mais próximo de Leonardo Avalanche na sigla que um dia foi liderada pelo caricato Levy Fidélix. Foi Avalanche quem bancou, contrariando tudo e a todos, a candidatura de Marçal para o executivo paulistano.

Conforme a apuração das autoridades policiais, Escobar e Gordão têm relação direta com o PCC e teriam realizado a função de financiar o tráfico de drogas para a poderosa quadrilha brasileira que atua em pelo menos 24 países. Tanto Escobar como Gordão já participaram de inúmeros eventos políticos do PRTB e o primeiro tem até fotos com Marçal em encontros da legenda, além de registros na companhia de Avalanche, o homem que manda no partido nacionalmente.

Os dois acusados ligados ao partido de Marçal foram indiciados pela Polícia Civil no ano passado e as investigações teriam chegado a eles, em 2020, por mero acaso. Os agentes estavam monitorando na Zona Leste da capital paulista um homem chamado Francisco Chagas de Sousa, conhecido no mundo do crime como Coringa, que seria dono de um estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas. Numa operação na adega, os policiais encontraram drogas, uma pistola e um pen drive que trazia uma complexa listagem e contabilidade de pessoas que seriam integrantes do PCC, assim como os negócios que mantinham com a quadrilha. A Justiça autorizou o aprofundamento das investigações e uma escuta telefônica revelou que Coringa, que seria responsável pelo tráfico interestadual do PCC nos estados de São Paulo e Paraíba, falava com Gordão, uma das lideranças do PRTB. Dias depois, foi o nome de Escobar que apareceu nas investigações.

De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, Escobar teria orientado Gordão a tratar com Coringa a troca de um automóvel BMW X5, avaliado em mais de R$ 700 mil, por cocaína. A conversa explicava que Escobar entraria em contato na sequência para esclarecer melhor como seria a transação. “Nos diálogos mantidos entre ambos, Coringa e Gordão, ficou evidente tratar-se de negociação de veículos com o fim de que sejam trocados por drogas”, diz o trecho do inquérito produzido pela Delegacia Seccional de Mogi das Cruzes e encaminhado ao Ministério Público.

Ainda segundo os investigadores, a droga em si não passava pelas mãos dos dois investigados ligados ao PRTB, mas era de conhecimento tácito por parte deles que os valores, fossem em dinheiro ou por meio de carros luxuosos, era destinado à aquisição de cocaína em grande quantidade, que após ser vendida, por valores altíssimos, tinha o lucro dividido entre os três, Coringa, Escobar e Gordão. Em resumo, em consonância com as investigações, eles financiavam a compra de pacotes de cocaína com os carros e, depois de revendida a droga por um preço exorbitante, dividiam os valores.

No mesmo inquérito, a Polícia Civil afirma que Escobar e Gordão também estariam envolvidos na direção de uma empresa que vende lotes de forma criminosa a pessoas simples e sem instrução, o que seria crime de fraude imobiliária, além de gerenciarem um prostíbulo. A reportagem afirma ainda que diálogos dos envolvidos obtidos pelos investigadores mostram conversas abertas sobre a administração de questões relacionadas ao PCC, como a advertência de integrantes, um controle minucioso do contingente da quadrilha (espécie de censo) e outras atividades da organização.

 

Fonte: Por Alceu Luís Castilho e Tonsk Fialho, em De Olho nos Ruralistas/Fórum

 

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