quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Quem é Pavel Durov, o bilionário russo criador do Telegram preso na França

Pavel Valeryevich Durov, conhecido como "Mark Zuckerberg russo" por seu perfil tecnológico, riqueza e idade, é também um pioneiro na tecnologia.

Assim como o americano criador do Facebook, Durov fundou duas redes sociais de grande importância: o VKontakte, a maior rede social da Rússia, que lançou aos 22 anos, e o Telegram, um dos serviços de mensagens instantâneas mais populares do mundo.

O sucesso de ambos os projetos fez de Durov um dos ícones tecnológicos mais influentes globalmente, e ele é um empresário reconhecido aos 39 anos.

Segundo a revista americana Forbes, sua fortuna pessoal é de US$ 15,5 bilhões (cerca de R$ 85 bilhões).

No último fim de semana, no entanto, Durov foi detido pouco depois de seu jato particular aterrissar no aeroporto Le Bourget, em Paris. Ele é acusado de não tomar medidas para impedir o uso criminoso do Telegram.

As autoridades francesas emitiram um mandado de prisão contra Durov como parte de uma investigação sobre acusações de fraude, tráfico de drogas, crime organizado, lavagem de dinheiro, promoção de terrorismo e abuso sexual infantil.

A polícia alega que Durov é cúmplice desses crimes porque se recusou a moderar o conteúdo da plataforma. Ele pode enfrentar acusações criminais na França.

Em um comunicado divulgado no domingo (25/8), o Telegram afirmou que "cumpre com as leis da UE, incluindo a Lei de Serviços Digitais" e que a moderação de seus conteúdos "segue os padrões da indústria e melhora continuamente".

A nota ressaltou que Durov "não tem nada a esconder" e que "é absurdo afirmar que uma plataforma ou seu proprietário são responsáveis pelos abusos que ocorrem nela".

Janis Sarts, diretor do Centro de Excelência em Comunicação Estratégica da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar ocidental, declarou à agência de notícias Leta: "Embora seja difícil entender as razões exatas para a prisão de Durov, é inegável que o Telegram tem sido utilizado para várias atividades ilegais."

O advogado de Durov, Dmitry Agranovsky, qualificou a detenção como "absolutamente ridícula" e um ataque à liberdade de expressão.

•        Estilo minimalista e 'pai de 100 filhos'

Durov nasceu em 1984 em Leningrado (hoje São Petersburgo) e vive em Dubai, onde também estão localizadas as sedes do Telegram.

Além da cidadania russa e dos Emirados Árabes Unidos, ele possui passaporte francês.

Na infância, frequentou a St. Petersburg Academic Gymnasium, uma escola renomada por seu foco em Matemática e Ciências.

Mais tarde, estudou Matemática Aplicada e Ciências da Computação na Universidade Estatal de São Petersburgo.

Foi nesse período que surgiu sua primeira grande ideia: um fórum de estudantes chamado spbgu.ru, que permitia discussões acadêmicas e compartilhamento de informações.

Pouco dado a entrevistas, Durov afirmou em uma conversa no início deste ano que o Telegram deve continuar sendo uma "plataforma neutra" e não se envolver na "geopolítica".

Douglas C. Youvan, ex-professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e autor do livro The Russian Jesus: A Beacon of Digital Freedom in an Age of Surveillance ("O Jesus Russo: um farol de liberdade digital em uma era de vigilância", em tradução livre), diz: "Durov ganhou uma reputação de ascetismo [filosofia de vida na qual se realizam certas práticas visando ao desenvolvimento espiritual] e disciplina que vai além de suas conquistas profissionais".

E acrescenta: "Ele (Pavel) é conhecido por seu estilo de vida minimalista, que evita o consumo de álcool, cafeína e alimentos processados, e segue um rigoroso regime pessoal focado na clareza mental e na saúde física".

Segundo a Forbes, Durov, que tem cinco filhos com duas ex-namoradas, recentemente afirmou ter doado esperma que lhe permitiu ser pai de 100 filhos.

•        Mensagens criptografadas

O Telegram tem 900 milhões de usuários ativos mensais e é uma das principais plataformas de redes sociais, após Facebook, YouTube, WhatsApp, Instagram, TikTok e WeChat.

O aplicativo foi pioneiro no uso de criptografia para mensagens, uma característica que seus rivais acabaram copiando.

Durov teve a ideia de criar um aplicativo de mensagens criptografadas quando enfrentou a pressão das autoridades russas para entregar dados pessoais dos usuários ucranianos da rede social Vkontakte — a versão russa do Facebook — e a solicitação para fechar grupos críticos ao governo russo.

A criptografia garante que as mensagens só possam ser lidas no dispositivo que as envia e no que as recebe.

A recusa em entregar os dados solicitados pelas autoridades russas fez com que Durov deixasse seu país em 2014 e perdesse o controle do VK.

A partir de então, ele focou no desenvolvimento do Telegram, que fundou com seu irmão Nikolai em 2013.

Na plataforma, os usuários podem se comunicar individualmente, formar grupos de até 200 mil pessoas e criar "canais" de difusão que outros podem seguir e comentar.

No Reino Unido, por exemplo, o aplicativo foi criticado por abrigar canais de direita radical por meio dos quais foram organizados os protestos violentos nas cidades inglesas no início de agosto.

O Telegram removeu alguns grupos, mas, de maneira geral, seu sistema de moderação de conteúdo extremista e ilegal é considerado muito mais fraco do que o de outras empresas de redes sociais e aplicativos de mensagens, segundo especialistas em cibersegurança.

•        Polêmica

A detenção de Durov gerou várias reações.

Muitos o veem como um firme defensor da liberdade de expressão e destacam seu compromisso com a privacidade. Outros, no entanto, ressaltam seus estreitos laços com o Kremlin.

O especialista em segurança da informação e vice-ministro de Política de Informação da Ucrânia, Dmytro Zolotukhin, afirmou à BBC: "Ao contrário de muitas outras celebridades que renunciaram à cidadania russa e foram depois perseguidas pelo Kremlin, Durov conta com a proteção do governo russo".

Ele acrescentou: "O Ministério das Relações Exteriores, a Duma [parlamento] e os deputados estão defendendo Durov, assim como o Fundo Russo de Investimento Direto, que é copropietário oficial do Telegram".

Vários funcionários russos do alto escalão criticaram a prisão do empresário, afirmando que isso demonstra uma "dupla moral" do Ocidente em relação à liberdade de expressão e à democracia.

O ex-agente de inteligência americano Edward Snowden, que vazou documentos secretos sobre programas de vigilância global e vive exilado na Rússia desde 2013, também defendeu Durov.

Em sua conta no X, Snowden afirmou que a prisão de Durov "é um ataque aos direitos humanos básicos de expressão e associação".

 

•        Ao usar Pavel Durov como exemplo, líder supremo do Irã pede 'regulamentação da Internet'

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, citou a prisão do fundador do aplicativo de mensagens Telegram na França como um exemplo de como outros países impuseram controles à Internet.

Segundo Khamenei, "é preciso haver leis para regular o ciberespaço. Todo mundo faz isso. Olhe para os franceses, eles prenderam esse homem e o ameaçaram com 20 anos de prisão por violar suas leis", disse Khamenei durante uma reunião com o presidente Masoud Pezeshkian e seu gabinete, segundo a Reuters.

O Irã cobra regularmente dos usuários da Internet com base nas postagens que eles compartilham on-line.

"Alguns não entendem ou não querem entender, mas eu já disse antes que o espaço virtual precisa ser regulamentado para se transformar em uma oportunidade e não em uma ameaça", acrescentou Khamenei.

Durante os debates presidenciais, Pezeshkian criticou a filtragem da Internet, principalmente por seu impacto na economia do país, já que muitas pequenas empresas dependem das mídias sociais.

Teerã ficou em terceiro lugar no mundo em número de vezes que desligou a Internet em 2023, de acordo com o grupo de direitos digitais Access Now.

Isso incluiu o desligamento de redes móveis, tanto nacionalmente quanto em áreas específicas, além de bloquear o acesso ao Instagram e ao WhatsApp (plataformas pertencentes à Meta cuja atividade é considerada extremista na Rússia), as únicas duas grandes plataformas que ainda não estão sujeitas a proibições definitivas, disse o Access Now, citado pela mídia.

Aeroporto de Paris-Le Bourget em 24 de agosto. De acordo com a imprensa local, Durov, que também tem cidadania francesa, estava na lista de procurados do país.

Ele pode ser considerado envolvido em uma série de crimes, inclusive devido à recusa do Telegram em cooperar com as autoridades do país.

O fundador do aplicativo arrisca enfrentar acusações de terrorismo, tráfico de drogas, fraude, lavagem de dinheiro, entre outras. De acordo com relatos da mídia, o empresário pode pegar até 20 anos de prisão.

 

Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil

 

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