sexta-feira, 4 de julho de 2025

Marcia Tiburi: “Congresso inimigo do povo” - a luta pelos direitos do povo é a luta pela democracia

A imagem de Hugo Motta, atual presidente da Câmara dos deputados, filiado ao Republicanos, bebendo uísque no gargalo em uma festa, é uma daquelas imagens que valem mais que mil palavras, na verdade, ela vale a consciência do povo que não se vende e não tem preço.  

A cena em que o político que ocupa hoje a presidência da câmara bebe uísque no gargalo é uma alegoria da política brasileira dominada por homens sem dignidade e respeito pelo povo. É verdade que há muita gente que, sendo povo,  deixou pra trás noções como dignidade e respeito, caindo na hipnose capitalista. Quem passou a amar ricos e idolatrar bilionários esqueceu de si mesmo numa evidente submissão aos agressores que apenas os psicanalistas podem explicar. 

Quem abandonou a si mesmo e passou a defender os próprios algozes aceita todo tipo de humilhação por parte desses algozes.  A guerra contra o povo por parte do Congresso Nacional não é de hoje, remonta pelo menos a Eduardo Cunha. Gugo Motta é cria desses Nosferatus da política. Entre as humilhações do Congresso contra o povo (e contra a ideia de uma pais mais justo), temos o aumento de conta de luz que prejudicará os pobres e seus orçamentos de fome, o aumento de número de deputados para garantir mais lugares para seus próprios associados, a manutenção dos impostos maiores para os mais pobres, o impedimento da taxação de grandes fortunas, a interdição da isenção de IR para trabalhadores que recebem até 5 mil por mês, a intocabilidade do IOF, o PL da devastação, enfim, tudo contra o povo, tudo para os mais ricos, dentre os quais há uma percentual imenso de deputados. Os deputados não aprovam taxação de grandes fortunas porque seriam atingidos, seriam também atingidos pelas mudanças no IOF. 

Muitos pobres seguem acreditando na ilusão de não ser pobre. É que ser pobre é sofrido. Admitir que se luta tanto por melhores condições de vida e se é explorado pelo sistema capitalista implica enfrentar a humilhação e o sentimento de vergonha e impotência que dela resulta. 

Então temos nesse momento, capitaneando a cena da antidemocracia estatal, essa figura que é Hugo Motta (como antes tínhamos o abusador Lira). O mesmo deputado que articulou a ação contra o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras para favorecer os ricos, foi recebido por João Doria (que, segundo consta, é herdeiro de capitanias hereditárias!!!!!!!!) em sua casa e tratado como “herói” do Brasil. É assim que a elite vê a si mesma, pois o Brasil nada mais é do que sua fazenda!!!

Enquanto isso, o ministro da Fazenda Fernando Haddad pronunciou-se com veemência e sem medo contra a posição anti-povo dos deputados e dos senadores capitaneados, estes, por Davi Alcolumbre. A máfia funciona em conjunto, mas essa é uma máfia pior, porque autorizada pelo voto, mesmo que as cabeças (do gado) estejam sendo manipuladas e acabrestadas. O presidente Lula resolveu fazer o que tinha que fazer, ou seja, política, defendendo a causa que sempre foi sua, a saber, a população pobre cuja jugular é sugada pelos ricos desde que o Brasil é Brasil. Os ricos seguem aí, bem tratados e tomando uísque no gargalo. Nessa hora, Lula tenta salvar o povo, mas salva a si mesmo, salva imagem, seu legado e, com generosidade, pode ser que leve Haddad à posição de candidato à presidência em 2026. Hoje, depois da catástrofe Bolsonaro, com a consciência de classe avançando, a posição de Haddad à favor do povo mostra que ele pode se tornar um bom candidato, se se mantiver firme – elegante e sincero - como tem aparecido nesses dias. 

Quando políticos como Hugo Motta - que se refestela na bebedeira, associado aos oligarcas que devoram o cérebro da população em luxuosos jantares regados ao sofrimento dos que tem fome-, aumentam entre si e desnecessariamente o número de deputados e, ao mesmo tempo, protegem os mais ricos evitando que paguem mais impostos, descarregando nos pobres o peso de sustentar a economia, precisamos, enquanto povo, também mudar o tom. Foi o que o ministro da Fazenda e o Presidente fizeram porque estão do lado do povo, mas porque representam o povo e devem ser coerentes. Certamente, a direita (inclusive o tal Centrão que não passa de direita disposta a negociar se puder se autofavorecer) é coerente também: ela defende a si mesma e seus ricos. Os políticos sabem o que o povo precisa saber: políticos ou são amigos, ou são inimigos do povo, não há terceira via. 

Por fim, é importante colocar ainda uma questão sobre a cena de Hugo Motta: qualquer pessoa pode tomar sua bebida favorita no gargalo, no copo, na bacia, no tanque, na piscina, mas uma pessoa que faz política precisa saber que será vista, interpretado e cobrada, já que, de um político, se espera que represente o povo, que atenda as suas demandas por direitos básicos, por justiça, por dignidade. Ora, o povo não bebe Chivas no gargalo. O povo não faz lautos jantares para comemorar a desgraça dos miseráveis, o povo não tem o que comemorar quando os ricos seguem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Certamente, todos tem direito à festa, ao descanso, ao bem estar, ao relaxamento. Mas é curioso como o povo não tem o direito a esses sossegos. Na verdade, a sossego nenhum. Para o povo é a escala 6x 1 enquanto que para os endinheirados inescrupulosos do congresso é tratamento de luxo e salários cada vez mais altos com mil regalias. Esses homens, em geral provenientes das oligarquias, a chamada “elite do atraso”, não poupam na hora de proteger seus interesses e privilégios. 

Ao povo reservam a miséria, o sofrimento e a desgraça. A falta de dinheiro, de trabalho, de saúde, de educação é irônica e democraticamente partilhada pelos desgraçados. Ao povo resta a precariedade. Os políticos viram as costas ao povo: a população que se vire enquanto os políticos se ajudam entre si. 

O Estado brasileiro está sequestrado por vampiros. No país com o segundo Congresso Nacional mais caro do mundo, com uma das maiores desigualdades sociais do mundo, figuras como Hugo Mota e seus iguais seguem rindo do povo, mas é bom lembrar que quem ri por último ri melhor e na atual semana, a consciência de classe parece ter se acelerado um pouco. 

As imagens feitas por IA que circulam nas redes têm sido peças didáticas na luta por justiça. Certamente a IA será usada em profusão para os piores fins, mentira e enganação do povo, em breve, pois 2026 é ano de eleição e não vai ser fácil sustentar a democracia diante dos seus inimigos poderosos e inescrupulosos que ocupam o congresso nacional.

Mas o que pode a consciência? Eis a pergunta da esperança.

¨      Independência é nós contra eles. Por Sara Goes

Ao anunciar que o Dia da Independência passará a ser celebrado também em 2 de Julho, data da expulsão definitiva dos portugueses da Bahia em 1823, o presidente Lula reescreveu com os pés no chão da história o que foi sequestrado pela memória oficial. A verdadeira independência foi conquistada com sangue negro, indígena e popular. Não foi um ato isolado de um príncipe às margens do Ipiranga, mas uma guerra popular que partiu do povo e enfrentou as elites coloniais. Foi arrancada à força, com coragem e sacrifício.

Ao lado de figuras como Maria Felipa, Bárbara de Alencar, Quitéria e Jovita Feitosa, Lula se colocou como herdeiro de uma tradição de resistência marginalizada pela elite brasileira. E não é coincidência que esse gesto tenha ocorrido no mesmo momento em que essa elite tenta reduzi-lo ao papel de refém institucional, por meio da sabotagem aberta no Congresso Nacional. A derrubada do decreto que aumentava o IOF sobre investimentos no exterior foi apenas o estopim. O que está em jogo é quem governa o país: o presidente eleito nas urnas ou uma casta legislativa blindada pela mídia e protegida pelo mercado.

Nesta semana, o governo Lula reativou com força a retórica do "nós contra eles", transformando a disputa sobre a taxação dos super-ricos em uma batalha simbólica entre o povo e a elite financeira. A rejeição do decreto do IOF pelo Congresso serviu de gatilho: o Planalto reagiu com uma ofensiva comunicacional centrada na justiça tributária, com Lula posando com cartaz pedindo a taxação dos super-ricos e aliados espalhando a mensagem nas redes sociais. A narrativa passou a dividir o país entre os 99% que pagam impostos e o 1% que é protegido pelo Legislativo.

A campanha, que inclui ataques indiretos a bilionários, banqueiros e plataformas de apostas, mobilizou ministros, parlamentares governistas e influenciadores ligados ao PT. A estratégia provocou resposta do presidente da Câmara, Hugo Motta, que acusou o governo de governar contra todos ao adotar o discurso do confronto. Mas Lula dobrou a aposta, classificou como "absurdo" o veto ao decreto e anunciou que recorrerá ao STF.

A virada marca uma inflexão política e narrativa do governo, que passa a investir no conflito como motor de mobilização, diante das sucessivas derrotas no Congresso e do cerco imposto pela aliança entre Centrão, mídia tradicional e mercado. A tática pode tensionar ainda mais as relações institucionais, mas recoloca o povo como sujeito político em uma arena onde até então só se viam bastidores e barganhas.

A resposta de Lula foi proporcional ao tamanho do ataque. Em vez de recuar, denunciou. Em vez de negociar nos bastidores, levou a disputa à opinião pública. O governo decidiu travar, enfim, a guerra da comunicação, e o fez com coragem rara. No mesmo ciclo de embates, Fernando Haddad, normalmente avesso ao confronto, rompeu o protocolo e se levantou publicamente para defender Lula dos ataques vindos do bolsonarismo e do mercado. "Ele é muito diferente do senhor", disse, com a voz embargada, dirigindo-se ao ex-presidente, após o fiasco do ato da Paulista.

Lula, por sua vez, com o chapéu panamá que virou sua armadura desde que se feriu no banheiro de casa, encarnou o líder que não aceita ser tutelado. No lançamento do Plano Safra Empresarial, sua fala foi marcada por um tom grave, quase amargo, como quem sabe que precisa mais do povo do que do Congresso. "Quem está ajudando esse país são os pobres", disse, emocionado. "Não são os ricos que sustentam essa nação."

A campanha pela taxação dos Bilionários, dos Bancos e das Bets, a chamada "Taxação BBB", ganhou corpo no campo progressista com o apoio do governo, que compreende que essa disputa não é apenas orçamentária, mas simbólica. O que está em jogo é a soberania do voto popular frente a um parlamentarismo informal e plutocrático. Ao transformar o 2 de Julho em feriado nacional, Lula não apenas corrige uma omissão histórica. Ele deixa claro: a independência precisa ser reconquistada todos os dias.

E essa reconquista começa por nomear o inimigo. Por dizer, sem hesitação: o Centrão não representa o povo. O mercado não pode vetar o projeto de país aprovado nas urnas. A elite legislativa que protege os super-ricos é a mesma que apaga Maria Felipa dos livros de história.

Neste 2 de Julho, Lula não apenas homenageou os heróis populares. Ele se colocou ao lado deles. E como em 1823, a pergunta é a mesma: vamos deixar que nos roubem de novo o Brasil?

 

Fonte: Brasil 247

 

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