terça-feira, 22 de julho de 2025

Luís Nassif: Contagem regressiva para o fim de Trump

Até algum tempo atrás, quem ousasse imaginar os arroubos de Donald Trump seria taxado de fantasioso. Trump atropelou todos os limites do bom senso.

A maneira como conseguiu atuar até hoje, de forma impune, passou a impressão de que foram liquidados completamente todos os limites democráticos. Reside aí o erro de raciocínio.

Todo abuso continuado gera uma reação cumulativa. A atuação de Trump já provocou a oposição dos seguintes setores:

•        As universidades e os centros de pensamento jurídico.

•        A imprensa, do liberal The New York Times aos antigos apoiadores do grupo Murdoch, incluindo Fox News, The Wall Street Journal.

•        Todas as empresas importadoras, afetadas pelas novas tarifas e pelas maluquices de tarifas de 50% a 100% ao bel prazer de Trump.

•        As comunidades latinas e negras.

São resistências cumulativas. E ele ainda vive dilemas. Se recua nas apostas, passa a impressão de fraco – imagem destruidora de lideranças fascistas. Se continua apostando, vai gerando mais desequilíbrios e criando mais resistências.

Em suma, a versão acabada do ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Faltava o episódio síntese, aquele capaz de ser assimilado por todos os níveis de público, até os terraplanistas. E, agora, ele chegou. Ou melhor, voltou para ficar.

O caso Epstein

Agora, paira sobre sua cabeça as revelações do caso Epstein – o milionário que arrumava meninas menores de idades para o mundo dos bilionários.

A versão de suicídio jamais foi convincente. Como uma das pessoas mais vigiadas dos EUA morre sob custódia federal?

Havia uma série de coincidências suspeitas.

•        Duas câmeras de segurança próximas à cela falharam ou apresentaram problemas técnicos.

•        Os dois agentes penitenciários responsáveis dormiram durante o plantão e falsificaram registros de rondas.

•        Epstein havia sido retirado da vigilância antissuicídio apenas dias antes, apesar de um suposto intento anterior.

•        O laudo oficial indicou suicídio por enforcamento com lençol. Mas o patologista independente contratado pela família (Michael Baden) afirmou que: “As fraturas no osso hioide são mais consistentes com estrangulamento homicida do que com enforcamento suicida.

•        As marcas no pescoço também causaram dúvida: estavam horizontais (como de estrangulamento) e não oblíquas (como típico em enforcamento).

•        Epstein foi preso em julho de 2019. Morreu menos de 40 dias depois. Ele estava pronto para delação sobre sua rede de tráfico sexual, finança e chantagens.

•        A prisão e condenação de Ghislaine Maxwell (sua parceira) em 2021/2022 revelou novas informações, mas não nomes nem provas completas.

•        Parte do material foi liberado em 2024 e 2025, mas muitos nomes foram suprimidos.

•        Documentos como o “black book” e as gravações de câmeras privadas de Epstein ainda não foram integralmente tornados públicos.

Nas próximas semanas, será o prato predileto da mídia. The Times e New York Post, uma em Londres, outra em Nova York, ambas do grupo Murdoch, já iniciaram o tiroteio, secundando o The Washington Post, que trouxe a primeira reportagem, da nova rodada sobre as relações Epstein-Trump,

As reportagens do The Times tem manchetes bombásticas: “É uma história maior do que o mundo jamais conheceu”, diz ele.

Mostrou que os logbooks de voos no jato de Epstein – apelidado de “Lolita Express”- revelam passageiro proeminentes, mas sugerem que a lista é muito maior do que foi revelado, “muito ainda está por vir”, e especula até possíveis vínculos com a inteligência israelense.

Outra reportagem mostra o senador Ron Wyden afirmando que o governo Trump detinha registros secretos de US$ 1,5 bilhão em transferências financeiras relacionadas a Epstein, incluindo transações abastecidas por bancos russos.

Um conjunto grande de estragos políticos já foi contabilizado. Pesquisa da Reuters mostrou que 69% dos norte-americanos acreditam que o governo está ocultando informações sobre clientes de Epstein, e apenas 17% aprovam a forma como Trump conduziu o caso.

Entre os republicanos, 35% aprovam, 30% desaprovam e 35% estão indecisos. E a campanha sobre o tema mal começou. Figuras da ala MAGA, como Laura Loomer, Mike Pence e Josh Hawley, pressionam por mais transparência, chamando a postura atual de “cover up”.

Outros escândalos

Não é o único escândalo reprimido provisoriamente, em função da reeleição de Trump. Há muito mais macaquinhos no sótão de Trump, conforme sincretiza o Chat GPT.

1. Esquema de “hush money” e falsificação de registros (Nova York)

•        Em março de 2023, o promotor Alvin Bragg apresentou 34 acusações criminais contra Trump por falsificar registros comerciais para ocultar pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels antes da eleição de 2016  .

•        Em maio de 2024, foi condenado por essas práticas (sem risco de prisão, mas com registro criminal).

2.  Caso civil por fraude financeira (fraude patrimonial em NY)

•        A procuradora-geral Letitia James moveu ação contra Trump e seu grupo, acusando inflação fraudulenta de patrimônio em mais de US$ 3,6 bi entre 2011 2021.

•        Em fevereiro de 2024, o juiz Arthur Engoron condenou Trump a pagar cerca de US$ 355 mi (com juros, ultrapassando US$ 500 mi) e proibiu-o de atuar como diretor de empresas em Nova York por três anos.

3. Condenação da Trump Organization por sonegação de impostos

•        Em dezembro de 2022, a Trump Organization e seu CFO Allen Weisselberg foram considerados culpados por um esquema de 15 anos de fraude fiscal criminal.

•        Weisselberg recebeu pena de prisão e tornou-se testemunha-chave.

4. Trump University – Fraude educacional

•        Trump enfrentou várias ações por suposta operação fraudulenta da “Trump University”, acusada de enganar consumidores e operar como esquema RICO.

•        Ele foi responsabilizado financeiramente em acordos, embora sem condenação criminal direta.

5.  Mar-a-Lago – Seguros e avaliações falsas

•        Indícios de fraude em seguro: Trump recebeu US$ 17 mi por suposto dano de furacão que, segundo o butler, não ocorreu.

•        Em processos de fraude patrimonial, a mansão foi supervalorizada em sua contabilidade (até US$ 627 mi, contra avaliação real de US$ 18–27 mi).

6.  Conflitos de interesse e favorecimento nos negócios

•        Trump e sua família lucraram com negócios ligados a criptomoedas, empreendimentos imobiliários internacionais e acordos com governos estrangeiros – inclusive um memorando avalia US$ 2 bi com fundo dos Emirados.

•        Críticos apontam uso de poder presidencial para favorecer esses negócios, levantando acusações de violações do emoluments clause e possíveis crimes financeiros.

Não se tenha dúvidas. Quando o furacão chegar, não restará pedra sobre pedra, não apenas do político, mas do empresário Donald Trump.

•        ‘Segredo maravilhoso’: entenda a relação de Trump e acusado de abuso sexual de menores

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfrenta uma crise interna. Parte de seus apoiadores queimaram bonés vermelhos do movimento Make America Great Again (Faça os EUA Grandes Outra Vez, em tradução livre) em protesto ao descumprimento de uma promessa de campanha: divulgar documentos da investigação contra o empresário Jeffrey Epstein, acusado de uma série de crimes sexuais, incluindo exploração de menores.

A indignação dos apoiadores vem açodada por uma revelação bombástica do Wall Street Journal, na última quinta-feira (17): uma carta que mostra a relação de proximidade entre os dois. A resposta de Trump veio em forma de ataque nas redes sociais: contra o jornal, que, segundo ele, publicou mentiras, e contra seus eleitores que o questionaram, que ele definiu como “ex-apoiadores” e “fracotes”.

Mas o começo da crise se deu em 5 de junho, quando o ex-apoiador de Trump e integrante do governo, Elon Musk, publicou em seu perfil no X (antigo Twitter), que Donald Trump seria parte da “lista de Epstein”, um possível documento com registro de pessoas relacionadas a Jeffrey Epstein em seu esquema de abuso sexual de menores: “Hora de soltar a verdadeira bomba: @realDonaldTrump está nos arquivos Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos. Tenha um bom dia, DJT [Donald J. Trump]!”, escreveu Musk, em publicação que seria apagada logo depois. A denúncia, apresentada sem provas, ocorreu em meio a uma escalada de acusações nas redes sociais entre o presidente e seu ex-braço direito.

Jeffrey Epstein é um nome infame nos Estados Unidos. Próximo de pessoas influentes, ele foi um investidor multimilionário que ganhou as páginas de jornais em 2005, quando foi acusado de abuso sexual de menores de idade na Flórida. Em 2008, ele foi condenado à prisão pelo estado, após confessar ter solicitado prostituição de menores, em um acordo que lhe livrava de qualquer outra investigação federal. Após 13 meses de regime semiaberto, ele ficaria dez anos em liberdade, sendo novamente preso em 2019 – dessa vez, sob acusação de tráfico sexual de menores de idade. Em agosto de 2019, ele morre em sua cela no Centro Correcional Metropolitano, em Nova York.

Os processos judiciais reuniram o que é difícil conseguir de uma pessoa com o poder e influência de Epstein: provas. Ao longo dos processos, foram juntados registros de viagens, fotos, agendas de contatos, depoimentos e e-mails envolvendo o financista, seus amigos e associados. Estes documentos compõem os “arquivos Epstein”, citados por Musk e que colocaram a administração Trump nas cordas esta semana.

Parte dos documentos foram obtidos em um processo movido em 2015 por Virginia Giuffre, uma das principais vítimas de Epstein, contra Ghislaine Maxwell, cúmplice dele, presa por auxiliar Epstein em seu esquema de tráfico sexual. Os arquivos ficaram sob sigilo até 2024, quando passaram a ser revelados.

Eles incluem menções a quase 200 pessoas, envolvendo o nome de vítimas da rede de abuso estabelecida por Epstein, testemunhas, como funcionários e pilotos das aeronaves do investidor, parceiros de negócio e membros do círculo social dele, além de pessoas acusadas de participação nos crimes de prostituição de menores, tráfico sexual de menores e abuso sexual.

Aparecem nos registros nomes como o do Príncipe Andrew, membro da família real britânica, acusado de abuso sexual de Virginia Diuffre e participação em crimes de Epstein, o ex-presidente dos Estados Unidos envolvido em escândalos sexuais durante seu mandato, Bill Clinton, e o vizinho de Epstein na Flórida, Donald Trump.

Os documentos não fazem parte de uma única base, e não foram publicados na íntegra. Essa é a principal crítica de opositores políticos de Trump e, mais recentemente, de sua própria base política.

Em sua campanha à reeleição em 2024, Trump afirmou que, se eleito, divulgaria na íntegra todos os “arquivos Epstein” obtidos pela justiça. Depois de eleito, ele tentou dissuadir sua base, dizendo que parte de seus apoiadores foi enganada pela “esquerda lunática” por oito anos, que eles “não aprenderam a lição, e provavelmente nunca aprenderão” e que “esses fracotes” estão fazendo o trabalho dos democratas.

“Sua nova FARSA é o que chamaremos para sempre de Farsa do Jeffrey Epstein, e meus ANTIGOS apoiadores engoliram essa ‘merda’, com anzol, linha e tudo. Eles não aprenderam a lição, e provavelmente nunca aprenderão, mesmo depois de serem enganados pela Esquerda Lunática por 8 longos anos. Eu tive mais sucesso em 6 meses do que talvez qualquer Presidente na história do nosso País, e tudo sobre o que essas pessoas querem falar, com forte incentivo da Fake News e dos Democratas famintos por sucesso, é a Farsa do Jeffrey Epstein”, escreveu.

<><> O ‘segredo maravilhoso’ de Trump e Epstein

Trump subiu o tom contra apoiadores após o Wall Street Journal tornar pública, na última quinta-feira (17), uma carta escrita pelo presidente a Jeffrey Epstein em 2003. O conteúdo do documento foi tornado público pela primeira vez.

A carta, descrita pelo veículo como “obscena”, integra um livro montado em 2003 por Gislaine Maxhwell e dado a Epstein como presente de aniversário de 50 anos. A declaração de Trump aparece junto de fotos, cartas e cartões de outros amigos e associados do investidor.

O jornal não publicou imagens do documento, mas o descreveu. Segundo a reportagem, a mensagem é escrita dentro de um desenho, aparentemente feito à mão com um canetão, do corpo de uma mulher. O texto retrata uma conversa entre Trump e Epstein, escrita em terceira pessoa. Leia abaixo, em tradução livre:

Narrador: “Deve haver mais na vida do que ter tudo”, começava o bilhete.

Donald: Sim, há, mas não vou te dizer o que é.

Jeffrey: Nem eu, já que também sei o que é.

Donald: Nós temos certas coisas em comum, Jeffrey.

Jeffrey: Sim, temos, pensando bem.

Donald: Enigmas nunca envelhecem, já reparou?

Jeffrey: De fato, isso ficou claro para mim da última vez que te vi.

Trump: Um amigo é uma coisa maravilhosa. Feliz Aniversário — e que cada dia seja outro segredo maravilhoso.

Trump teria assinado, diz o Wall Street Journal, com um “Donald” escrito de forma torta abaixo da cintura da mulher no desenho, mimetizando seus pelos pubianos.

A revelação fez Trump iniciar uma cruzada contra o jornal. Ouvido pelos jornalistas antes da reportagem ir ao ar, Trump disse nunca ter escrito a carta e que a matéria era mentirosa. “Este não sou eu. Isso é uma mentira. É uma reportagem fake do Wall Street Journal. Eu nunca fiz um desenho na minha vida. Eu não desenho mulheres. Não é minha linguagem, não são minhas palavras, não sou eu”, declarou. Ele ainda alertou que, se o texto fosse ao ar, “processaria o Wall Street Journal como processou todo mundo”.

Após a publicação da matéria, Trump foi às redes sociais, reforçando sua ameaça de processo e acusando o conteúdo de ser mentiroso. “O Wall Street Journal publicou uma carta falsa, supostamente para o Epstein. Essas não são as minhas palavras, não é o meu jeito de falar. Além disso, eu não faço desenhos. Eu disse ao Rupert Murdoch [dono da News Corp., empresa dona do Wall Street Journal] que era uma farsa, que ele não deveria publicar essa matéria Falsa. Mas ele publicou, e agora vou processá-lo com tudo, e também o seu jornaleco de terceira categoria. Obrigado pela sua atenção a este assunto!”, Trump escreveu na quinta-feira (17).

Não é a primeira vez que Trump é apontado no círculo íntimo de Epstein. Em 2002, um perfil de Epstein incluiu uma fala de Trump sobre o amigo, que considerava “um cara fantástico”. “Conheço o Jeff há quinze anos. Um cara fantástico. É muito divertido estar com ele. Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e que muitas delas são mais jovens. Não há dúvida sobre isso — o Jeffrey curte sua vida social”.

À época, o nome de Epstein aparecia apenas nas colunas sociais de jornais e ele era figurinha carimbada em eventos de Trump.

Mais de uma vez, Trump e Epstein foram fotografados juntos, incluindo suas companheiras, em Mar-a-Lago, o resort do presidente na Flórida. Apoiadores de Trump afirmam que Epstein só teve acesso às propriedades do presidente até 2007, quando o investidor, na esteira de sua primeira acusação criminal, teria sido banido dos espaços.

Não existem provas do banimento, mas os registros dos dois juntos também cessam nesta época. Em 2019, Trump disse, em uma coletiva de imprensa, que baniu Epstein de Mar-a-Lago, mas que “a razão francamente não faz nenhuma diferença”.

Assim como outras celebridades, Trump também costumava pegar carona no avião particular de Epstein, batizado de “Lolita Express”. O nome de Trump é encontrado em diversos registros de voo entre a Flórida, onde ambos possuíam casas, e Nova York, sede administrativa dos negócios de Trump, durante os anos 90.

A aeronave costumava ser utilizada também para voos às Ilhas Virgens Americanas, onde Epstein possuía uma ilha particular apontada como um espaço de abuso sexual de menores. Nunca foram divulgados registros que envolvam Trump e a ilha.

Na campanha eleitoral de 2024, Trump utilizou um jatinho que já havia sido de Epstein para cumprir agendas em quatro estados diferentes após seu próprio avião apresentar falhas no motor. A campanha do republicano disse ter fretado a aeronave de uma empresa do setor e não saber a quem pertencia anteriormente.

<><> ‘Nenhuma divulgação adicional seria apropriada ou justificada’

Em fevereiro de 2025, Trump indicou Pamela Bondi como procuradora-geral dos Estados Unidos – e chefe do Departamento de Justiça do país. No fim do mesmo mês, o órgão publicou, em uma cerimônia com influenciadores de extrema-direita, a “fase 1” dos arquivos de “Epstein”.

Sem novidades sobre o que já havia sido liberado ao longo dos anos, Bondi culpou o FBI, órgão de investigação federal dos Estados Unidos, por reter informações. À época, Kash Patel, diretor do FBI, disse que “não haverá acobertamentos, nenhum documento perdido e nada ficará por investigar”.

A promessa durou até 7 de julho, quando o Departamento de Justiça e o FBI publicaram um documento dizendo que, “após revisão exaustiva”, “não foram encontrados motivos para revisitar a divulgação” dos materiais.

Os órgãos alegam não terem sido encontradas relações com pessoas que justificassem a divulgação de documentos e que isso poderia fragilizar as vítimas de Epstein. “É a determinação do Departamento de Justiça e do FBI que nenhuma divulgação adicional seria apropriada ou justificada”, resume o documento.

Pressionado pela reportagem do Wall Street Journal, Trump publicou em suas redes sociais nesta quinta-feira (17) ter pedido ao Departamento de Justiça a publicação de “todos os depoimentos pertinentes” fornecidos ao grande júri – similar ao júri popular no Brasil – sobre o caso. Nenhum novo documento foi publicado até o momento.

 

Fonte: Jornal GGN/O Cafezinho

 

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