Carta
prova que 'Bolsonaro não vale nada': 'ele apenas foi usado por Trump', avaliam
ministros de Lula
Um
trecho da carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciando a imposição de tarifas a
produtos brasileiros, foi interpretado por ministros do governo brasileiro como
evidência de que Jair Bolsonaro (PL) foi apenas “usado” como pretexto na
medida.
Embora
a avaliação predominante entre os ministros tenha sido negativa em relação ao
conteúdo da carta, um ponto específico do texto foi recebido como positivo nos
bastidores. Trata-se do último parágrafo da correspondência, em que Trump
sinaliza disposição para negociar com o Brasil, condicionando um eventual recuo
das tarifas à abertura do mercado brasileiro aos produtos norte-americanos.
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“Se
o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os
Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras
comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas
tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do
relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados
Unidos da América”, diz o trecho final da mensagem.
Nos
bastidores do Palácio do Planalto, a leitura feita por um dos ministros
próximos a Lula, em declaração sob reserva, é de que o republicano usou
Bolsonaro como peça retórica. “Esse parágrafo mostra que, no fundo, o Trump
quer negociar. Que o Bolsonaro não vale nada, ele foi usado apenas como um
instrumento”, avaliou o integrante do primeiro escalão.
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Bolsonaro citado como vítima
A
carta, enviada por Trump diretamente a Lula, começa com uma defesa enfática do
ex-presidente brasileiro. O chefe da Casa Branca critica o julgamento de
Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de
Estado, e chega a classificar a situação como uma “vergonha internacional”.
Segundo
o presidente norte-americano, a nova tarifa, que passará a valer em 1º de
agosto, é motivada “em parte” por supostos ataques à democracia brasileira e
violações à liberdade de expressão nos Estados Unidos, promovidas — segundo ele
— pelo Judiciário brasileiro.
“Ataques
insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da
liberdade de expressão dos americanos”, escreveu Trump, que acusa o Supremo
Tribunal Federal do Brasil de ter tomado decisões “ilegais” contra empresas e
plataformas de mídia social norte-americanas.
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Pressão comercial disfarçada de solidariedade
Nos
círculos políticos de Brasília, a percepção dominante é que a carta foi
cuidadosamente construída para misturar defesa pessoal de Bolsonaro com pressão
econômica sobre o Brasil. O pano de fundo da medida seria o interesse do
governo norte-americano em garantir maior acesso ao mercado brasileiro,
especialmente em um momento de reconfiguração das relações comerciais globais.
A
retórica de Trump, na visão de integrantes do governo Lula, serve como cortina
de fumaça para justificar o tarifaço. A menção a Bolsonaro no início da carta
serviria mais para agradar a base política de direita e reforçar alianças
ideológicas do que como motivação real da medida comercial.
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Lula chama Bolsonaro de "covarde" e manda
recado após "ameaça" de Trump
Durante
discurso nesta sexta-feira (11) em Linhares, no Espírito Santo, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento contundente em resposta ao
aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros anunciado por Donald
Trump, presidente dos Estados Unidos. No mesmo evento que marcou o início do
pagamento do Programa de Transferência de Renda (PTR), Lula criticou a medida,
repudiou qualquer tentativa de interferência estrangeira no Judiciário
brasileiro e acusou Jair Bolsonaro (PL) de agir como um “covarde” ao tentar
utilizar Trump como escudo para fugir de seu processo judicial.
Em um
tom firme, Lula desabafou: “aquela coisa covarde que preparou um golpe nesse
país, não teve coragem de fazer, está sendo processado, vai ser julgado, e ele
mandou o filho dele para os Estados Unidos pedir para o Trump fazer ameaça.
‘Ah, se não liberarem o Bolsonaro eu vou taxar vocês’”.
O
presidente foi direto ao se dirigir a Trump, denunciando a tentativa de
chantagem diplomática: “com todo respeito ao presidente Trump, o senhor está
mal informado. Muito mal informado. Os Estados Unidos não têm déficit comercial
com o Brasil. É o Brasil que tem déficit comercial com os Estados Unidos. Em 15
anos, entre comércio e serviço, temos um déficit de US$ 410 bilhões. Eu que
deveria taxar ele".
Lula
reforçou seu compromisso com a Justiça e a soberania nacional, criticando os
que tentam fugir das consequências de seus atos. “Essa gente não vai brincar
com o Brasil. [...] Se for inocente será absolvido, como eu fui. Se for
culpado, vai para a cadeia, como todo mundo”, afirmou, destacando que o Poder
Judiciário brasileiro é autônomo e que nenhum presidente, seja brasileiro ou
estrangeiro, tem poder de intervenção sobre as decisões da Suprema Corte.
Lula
também deixou claro que a reação brasileira será proporcional caso não haja
solução no campo diplomático: “vou tentar brigar em todas as esferas para que
não venha a taxação – na OMC, vou conversar com meus companheiros do BRICS.
Agora, se não tiver jeito, vamos estabelecer a Lei da Reciprocidade. Taxou
aqui, a gente taxa lá".
O
evento em Linhares também contou com falas incisivas de ministros como Jorge
Messias (AGU), Rui Costa (Casa Civil), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário)
e do governador Renato Casagrande (PSB), todos em defesa da soberania
brasileira e em crítica aberta à tentativa de interferência estrangeira no
país. O Programa de Transferência de Renda é uma das ações previstas no Novo
Acordo do Rio Doce, que busca reparar os danos do desastre da barragem de
Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015.
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'Bolsonaro coloca seus problemas pessoais acima de tudo,
inclusive do Brasil', dispara Gleisi
Em uma
contundente manifestação nas redes sociais, a ministra de Relações
Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), criticou duramente Jair Bolsonaro (PL)
por apoiar a decisão do governo dos Estados Unidos, presidido por Donald Trump,
de impor tarifas de 50% a produtos brasileiros. Segundo Gleisi, trata-se de
mais um episódio de "submissão e humilhação" do ex-mandatário aos
interesses estrangeiros. A postagem foi divulgada na plataforma X (antigo
Twitter) nesta sexta-feira (11).
“Vergonha
internacional e isolamento o Brasil conheceu no desgoverno de Jair Bolsonaro.
Abusos, censura, perseguição e ódio político foi o que ele praticou contra
qualquer um que divergisse de seu autoritarismo”, escreveu a ministra, ao
relembrar o histórico do ex-presidente. Ela também denunciou o papel de
Bolsonaro na tentativa de golpe contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT), acusando-o de planejar o assassinato do presidente eleito, do
vice-presidente e de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
A
crítica de Gleisi veio em resposta à declaração de Bolsonaro após o anúncio das
tarifas pelo governo Trump. Em vez de condenar a medida que afeta diretamente a
economia brasileira, o ex-presidente saiu em defesa do governo norte-americano,
afirmando que mantém "respeito e admiração" pelos Estados Unidos.
Mais do que isso, tentou responsabilizar Lula pelo tarifaço, dizendo que o
Brasil teria "se afastado do mundo livre" e abandonado “compromissos
históricos com a liberdade e o Estado de Direito”.
Gleisi
reagiu duramente a essa postura: “aplaudir um presidente estrangeiro por
chantagear o Brasil é a prova maior de que ele coloca seus problemas pessoais
acima de tudo, inclusive do país”. Para a ministra, Bolsonaro demonstra total
desprezo pela soberania nacional: “na boca de Bolsonaro, as palavras justiça,
liberdade e participação política soam como pura hipocrisia de alguém que tenta
escapar da punição por seus crimes”.
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Submissão ideológica
O
episódio revela um contraste evidente entre a atitude de Bolsonaro e a do
presidente Lula, que, diante da retaliação estadunidense, classificou a medida
como “inaceitável” e anunciou resposta à altura. O governo brasileiro pretende
ativar a Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos e já informou que
recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC), buscando inclusive apoio de
outros países afetados.
Lula
também defendeu uma maior integração com as economias do Sul Global, destacando
a importância de uma nova ordem internacional baseada em cooperação e respeito
mútuo. A postura do presidente brasileiro tem sido apontada por analistas como
exemplo de altivez diplomática e proteção dos interesses nacionais.
Enquanto
isso, Bolsonaro segue utilizando o cenário internacional como palco para
ataques políticos internos. Ao justificar a sanção norte-americana com críticas
ao governo atual, o ex-presidente reafirma, segundo críticos, sua incapacidade
de distinguir interesses ideológicos pessoais das necessidades concretas do
país.
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Lindbergh Farias pede prisão preventiva de Eduardo
Bolsonaro ao STF: "traição, golpe e sabotagem"
O
deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da bancada do PT na Câmara,
protocolou nesta sexta-feira (11) um novo pedido ao Supremo Tribunal Federal
(STF) requerendo a prisão preventiva de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Segundo
Lindbergh, o parlamentar licenciado cometeu crimes graves ao buscar sanções
internacionais contra o Brasil e autoridades do Judiciário, especialmente
contra o ministro Alexandre de Moraes.
A nota
oficial foi enviada à imprensa pela bancada do PT, na qual ele classifica as
ações de Eduardo Bolsonaro como “traição à pátria”, “golpe continuado” e
“sabotagem econômica”.
“Quem
conspira com o estrangeiro contra seu próprio país não é opositor — é traidor
da pátria”, afirma Lindbergh, em tom contundente.
O
parlamentar destaca que, ainda em maio, apresentou uma representação criminal à
Procuradoria-Geral da República (PGR) com um “robusto conjunto probatório”
contra Eduardo Bolsonaro, o que levou o procurador-geral Paulo Gonet a pedir a
abertura de inquérito ao STF. O ministro Alexandre de Moraes acolheu os
argumentos e instaurou o Inquérito 4995/DF, autorizando diligências imediatas.
No
centro da acusação está a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos,
onde, segundo Lindbergh, o deputado buscou sanções contra autoridades
brasileiras ao lado do comentarista Paulo Figueiredo. A nota divulgada
recentemente pelos dois, pedindo a aplicação da “Lei Magnitsky” contra membros
do STF, seria, segundo o petista, a prova documental de uma articulação
internacional contra o Brasil.
Para
Lindbergh, o resultado dessas manobras se concretizou no anúncio de tarifas de
50% sobre produtos brasileiros feito por Donald Trump, presumível retaliação
articulada por Eduardo e seu grupo. “É a primeira vez na história do País que
um deputado federal trabalha ativamente contra sua própria nação com apoio de
uma potência estrangeira”, denuncia.
Além da
representação criminal, Lindbergh e o PT também protocolaram pedido de cassação
de Eduardo no Conselho de Ética da Câmara, por entenderem que sua conduta fere
o decoro parlamentar.
Na nova
petição ao STF, o líder do PT pede a ampliação do escopo do inquérito e o envio
de cópia ao Itamaraty para avaliar o cancelamento do passaporte diplomático de
Eduardo Bolsonaro. Ele também argumenta que a liberdade do parlamentar
representa risco de continuidade delitiva.
Entre
os crimes que Lindbergh afirma estarem em curso, estão:
- Coação no
curso do processo (art. 344 do Código Penal);
- Obstrução
de justiça;
- Abolição
violenta do Estado Democrático de Direito;
- Atentado à
soberania nacional;
- Associação
criminosa;
- Violação à
integridade funcional de magistrados e membros do MP (Decreto-Lei
4.766/42).
Segundo
o petista, as ações de Eduardo foram financiadas pelo ex-presidente Jair
Bolsonaro, que admitiu ter enviado R$ 2 milhões ao filho para mantê-lo nos
Estados Unidos. Com isso, Lindbergh aponta que o ex-presidente pode ser coautor
dos crimes, por sustentar uma estrutura “criminosa com atuação internacional”.
Para o
deputado, os fatos mostram que o golpe de 8 de janeiro de 2023 não foi um
episódio isolado, mas parte de uma ofensiva contínua com novas formas:
“diplomática, econômica e transnacional”.
“A
Constituição, a soberania nacional e a democracia não são negociáveis”,
finaliza Lindbergh.
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Rui Costa: “agora sabemos quem são os brasileiros e quem
são os traidores da pátria”
Durante
a cerimônia realizada nesta sexta-feira (11) em Linhares, no Espírito Santo,
para marcar o início do pagamento do Programa de Transferência de Renda (PTR) –
iniciativa vinculada ao Novo Acordo do Rio Doce, que busca reparar os danos
causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG) – o ministro da
Casa Civil, Rui Costa (PT), fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro
e a seus aliados, responsabilizando-os por articulações que, segundo ele,
resultaram em um “ataque” dos Estados Unidos ao Brasil.
A fala
ocorre em meio à repercussão do tarifaço anunciado pelo presidente
norte-americano Donald Trump, que elevou em 50% as tarifas sobre produtos
brasileiros. Rui Costa não poupou palavras ao acusar o clã Bolsonaro de
colaborar com interesses estrangeiros em detrimento da soberania nacional.
“Muitos carregavam em campanhas eleitorais recentes a bandeira do Brasil nas
costas para dizer que eram brasileiros de verdade, mas agora, com o ataque dos
Estados Unidos, sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da
pátria”, declarou o ministro.
O
evento também contou com a presença do advogado-geral da União, Jorge Messias,
que, em tom semelhante, criticou a interferência norte-americana em assuntos
internos do Brasil e exaltou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como
defensor intransigente dos interesses nacionais. Para Messias, o PTR simboliza
uma nova era de reparação e compromisso com os brasileiros, “não com os
interesses americanos”.
As
declarações se inserem no contexto de tensão diplomática crescente entre
Brasília e Washington desde a imposição das novas tarifas, interpretadas pelo
governo brasileiro como retaliação à postura independente adotada pelo
presidente Lula em fóruns internacionais e no campo da política externa. A
crítica à “submissão” do bolsonarismo aos Estados Unidos ganha fôlego entre
integrantes do governo, que veem nas sanções um reflexo direto de ações
passadas de alinhamento incondicional promovidas pelo ex-presidente e seus
filhos, hoje parlamentares.
O Novo
Acordo do Rio Doce, lançado pelo governo Lula em 2024, substitui antigos
modelos judiciais de reparação por instrumentos mais eficientes e centrados na
justiça social. O PTR é uma das medidas mais emblemáticas desse novo marco, com
repasses diretos às famílias atingidas pelo crime socioambiental de 2015.
Fonte:
Brasil 247

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