sábado, 12 de julho de 2025

Carta prova que 'Bolsonaro não vale nada': 'ele apenas foi usado por Trump', avaliam ministros de Lula

Um trecho da carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciando a imposição de tarifas a produtos brasileiros, foi interpretado por ministros do governo brasileiro como evidência de que Jair Bolsonaro (PL) foi apenas “usado” como pretexto na medida.

Embora a avaliação predominante entre os ministros tenha sido negativa em relação ao conteúdo da carta, um ponto específico do texto foi recebido como positivo nos bastidores. Trata-se do último parágrafo da correspondência, em que Trump sinaliza disposição para negociar com o Brasil, condicionando um eventual recuo das tarifas à abertura do mercado brasileiro aos produtos norte-americanos.

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“Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América”, diz o trecho final da mensagem.

Nos bastidores do Palácio do Planalto, a leitura feita por um dos ministros próximos a Lula, em declaração sob reserva, é de que o republicano usou Bolsonaro como peça retórica. “Esse parágrafo mostra que, no fundo, o Trump quer negociar. Que o Bolsonaro não vale nada, ele foi usado apenas como um instrumento”, avaliou o integrante do primeiro escalão.

<><> Bolsonaro citado como vítima

A carta, enviada por Trump diretamente a Lula, começa com uma defesa enfática do ex-presidente brasileiro. O chefe da Casa Branca critica o julgamento de Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, e chega a classificar a situação como uma “vergonha internacional”.

Segundo o presidente norte-americano, a nova tarifa, que passará a valer em 1º de agosto, é motivada “em parte” por supostos ataques à democracia brasileira e violações à liberdade de expressão nos Estados Unidos, promovidas — segundo ele — pelo Judiciário brasileiro.

“Ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”, escreveu Trump, que acusa o Supremo Tribunal Federal do Brasil de ter tomado decisões “ilegais” contra empresas e plataformas de mídia social norte-americanas.

<><> Pressão comercial disfarçada de solidariedade

Nos círculos políticos de Brasília, a percepção dominante é que a carta foi cuidadosamente construída para misturar defesa pessoal de Bolsonaro com pressão econômica sobre o Brasil. O pano de fundo da medida seria o interesse do governo norte-americano em garantir maior acesso ao mercado brasileiro, especialmente em um momento de reconfiguração das relações comerciais globais.

A retórica de Trump, na visão de integrantes do governo Lula, serve como cortina de fumaça para justificar o tarifaço. A menção a Bolsonaro no início da carta serviria mais para agradar a base política de direita e reforçar alianças ideológicas do que como motivação real da medida comercial.

¨      Lula chama Bolsonaro de "covarde" e manda recado após "ameaça" de Trump

Durante discurso nesta sexta-feira (11) em Linhares, no Espírito Santo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento contundente em resposta ao aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros anunciado por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. No mesmo evento que marcou o início do pagamento do Programa de Transferência de Renda (PTR), Lula criticou a medida, repudiou qualquer tentativa de interferência estrangeira no Judiciário brasileiro e acusou Jair Bolsonaro (PL) de agir como um “covarde” ao tentar utilizar Trump como escudo para fugir de seu processo judicial.

Em um tom firme, Lula desabafou: “aquela coisa covarde que preparou um golpe nesse país, não teve coragem de fazer, está sendo processado, vai ser julgado, e ele mandou o filho dele para os Estados Unidos pedir para o Trump fazer ameaça. ‘Ah, se não liberarem o Bolsonaro eu vou taxar vocês’”.

O presidente foi direto ao se dirigir a Trump, denunciando a tentativa de chantagem diplomática: “com todo respeito ao presidente Trump, o senhor está mal informado. Muito mal informado. Os Estados Unidos não têm déficit comercial com o Brasil. É o Brasil que tem déficit comercial com os Estados Unidos. Em 15 anos, entre comércio e serviço, temos um déficit de US$ 410 bilhões. Eu que deveria taxar ele".

Lula reforçou seu compromisso com a Justiça e a soberania nacional, criticando os que tentam fugir das consequências de seus atos. “Essa gente não vai brincar com o Brasil. [...] Se for inocente será absolvido, como eu fui. Se for culpado, vai para a cadeia, como todo mundo”, afirmou, destacando que o Poder Judiciário brasileiro é autônomo e que nenhum presidente, seja brasileiro ou estrangeiro, tem poder de intervenção sobre as decisões da Suprema Corte.

Lula também deixou claro que a reação brasileira será proporcional caso não haja solução no campo diplomático: “vou tentar brigar em todas as esferas para que não venha a taxação – na OMC, vou conversar com meus companheiros do BRICS. Agora, se não tiver jeito, vamos estabelecer a Lei da Reciprocidade. Taxou aqui, a gente taxa lá".

O evento em Linhares também contou com falas incisivas de ministros como Jorge Messias (AGU), Rui Costa (Casa Civil), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e do governador Renato Casagrande (PSB), todos em defesa da soberania brasileira e em crítica aberta à tentativa de interferência estrangeira no país. O Programa de Transferência de Renda é uma das ações previstas no Novo Acordo do Rio Doce, que busca reparar os danos do desastre da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015.

¨      'Bolsonaro coloca seus problemas pessoais acima de tudo, inclusive do Brasil', dispara Gleisi

Em uma contundente manifestação nas redes sociais, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), criticou duramente Jair Bolsonaro (PL) por apoiar a decisão do governo dos Estados Unidos, presidido por Donald Trump, de impor tarifas de 50% a produtos brasileiros. Segundo Gleisi, trata-se de mais um episódio de "submissão e humilhação" do ex-mandatário aos interesses estrangeiros. A postagem foi divulgada na plataforma X (antigo Twitter) nesta sexta-feira (11).

“Vergonha internacional e isolamento o Brasil conheceu no desgoverno de Jair Bolsonaro. Abusos, censura, perseguição e ódio político foi o que ele praticou contra qualquer um que divergisse de seu autoritarismo”, escreveu a ministra, ao relembrar o histórico do ex-presidente. Ela também denunciou o papel de Bolsonaro na tentativa de golpe contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acusando-o de planejar o assassinato do presidente eleito, do vice-presidente e de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

A crítica de Gleisi veio em resposta à declaração de Bolsonaro após o anúncio das tarifas pelo governo Trump. Em vez de condenar a medida que afeta diretamente a economia brasileira, o ex-presidente saiu em defesa do governo norte-americano, afirmando que mantém "respeito e admiração" pelos Estados Unidos. Mais do que isso, tentou responsabilizar Lula pelo tarifaço, dizendo que o Brasil teria "se afastado do mundo livre" e abandonado “compromissos históricos com a liberdade e o Estado de Direito”.

Gleisi reagiu duramente a essa postura: “aplaudir um presidente estrangeiro por chantagear o Brasil é a prova maior de que ele coloca seus problemas pessoais acima de tudo, inclusive do país”. Para a ministra, Bolsonaro demonstra total desprezo pela soberania nacional: “na boca de Bolsonaro, as palavras justiça, liberdade e participação política soam como pura hipocrisia de alguém que tenta escapar da punição por seus crimes”.

<><> Submissão ideológica

O episódio revela um contraste evidente entre a atitude de Bolsonaro e a do presidente Lula, que, diante da retaliação estadunidense, classificou a medida como “inaceitável” e anunciou resposta à altura. O governo brasileiro pretende ativar a Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos e já informou que recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC), buscando inclusive apoio de outros países afetados.

Lula também defendeu uma maior integração com as economias do Sul Global, destacando a importância de uma nova ordem internacional baseada em cooperação e respeito mútuo. A postura do presidente brasileiro tem sido apontada por analistas como exemplo de altivez diplomática e proteção dos interesses nacionais.

Enquanto isso, Bolsonaro segue utilizando o cenário internacional como palco para ataques políticos internos. Ao justificar a sanção norte-americana com críticas ao governo atual, o ex-presidente reafirma, segundo críticos, sua incapacidade de distinguir interesses ideológicos pessoais das necessidades concretas do país.

¨      Lindbergh Farias pede prisão preventiva de Eduardo Bolsonaro ao STF: "traição, golpe e sabotagem"

O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da bancada do PT na Câmara, protocolou nesta sexta-feira (11) um novo pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) requerendo a prisão preventiva de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Segundo Lindbergh, o parlamentar licenciado cometeu crimes graves ao buscar sanções internacionais contra o Brasil e autoridades do Judiciário, especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes.

A nota oficial foi enviada à imprensa pela bancada do PT, na qual ele classifica as ações de Eduardo Bolsonaro como “traição à pátria”, “golpe continuado” e “sabotagem econômica”.

“Quem conspira com o estrangeiro contra seu próprio país não é opositor — é traidor da pátria”, afirma Lindbergh, em tom contundente.

O parlamentar destaca que, ainda em maio, apresentou uma representação criminal à Procuradoria-Geral da República (PGR) com um “robusto conjunto probatório” contra Eduardo Bolsonaro, o que levou o procurador-geral Paulo Gonet a pedir a abertura de inquérito ao STF. O ministro Alexandre de Moraes acolheu os argumentos e instaurou o Inquérito 4995/DF, autorizando diligências imediatas.

No centro da acusação está a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, onde, segundo Lindbergh, o deputado buscou sanções contra autoridades brasileiras ao lado do comentarista Paulo Figueiredo. A nota divulgada recentemente pelos dois, pedindo a aplicação da “Lei Magnitsky” contra membros do STF, seria, segundo o petista, a prova documental de uma articulação internacional contra o Brasil.

Para Lindbergh, o resultado dessas manobras se concretizou no anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros feito por Donald Trump, presumível retaliação articulada por Eduardo e seu grupo. “É a primeira vez na história do País que um deputado federal trabalha ativamente contra sua própria nação com apoio de uma potência estrangeira”, denuncia.

Além da representação criminal, Lindbergh e o PT também protocolaram pedido de cassação de Eduardo no Conselho de Ética da Câmara, por entenderem que sua conduta fere o decoro parlamentar.

Na nova petição ao STF, o líder do PT pede a ampliação do escopo do inquérito e o envio de cópia ao Itamaraty para avaliar o cancelamento do passaporte diplomático de Eduardo Bolsonaro. Ele também argumenta que a liberdade do parlamentar representa risco de continuidade delitiva.

Entre os crimes que Lindbergh afirma estarem em curso, estão:

  •  Coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal);
  •  Obstrução de justiça;
  •  Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  •  Atentado à soberania nacional;
  •  Associação criminosa;
  •  Violação à integridade funcional de magistrados e membros do MP (Decreto-Lei 4.766/42).

Segundo o petista, as ações de Eduardo foram financiadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que admitiu ter enviado R$ 2 milhões ao filho para mantê-lo nos Estados Unidos. Com isso, Lindbergh aponta que o ex-presidente pode ser coautor dos crimes, por sustentar uma estrutura “criminosa com atuação internacional”.

Para o deputado, os fatos mostram que o golpe de 8 de janeiro de 2023 não foi um episódio isolado, mas parte de uma ofensiva contínua com novas formas: “diplomática, econômica e transnacional”.

“A Constituição, a soberania nacional e a democracia não são negociáveis”, finaliza Lindbergh.

¨      Rui Costa: “agora sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da pátria”

Durante a cerimônia realizada nesta sexta-feira (11) em Linhares, no Espírito Santo, para marcar o início do pagamento do Programa de Transferência de Renda (PTR) – iniciativa vinculada ao Novo Acordo do Rio Doce, que busca reparar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG) – o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a seus aliados, responsabilizando-os por articulações que, segundo ele, resultaram em um “ataque” dos Estados Unidos ao Brasil.

A fala ocorre em meio à repercussão do tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump, que elevou em 50% as tarifas sobre produtos brasileiros. Rui Costa não poupou palavras ao acusar o clã Bolsonaro de colaborar com interesses estrangeiros em detrimento da soberania nacional. “Muitos carregavam em campanhas eleitorais recentes a bandeira do Brasil nas costas para dizer que eram brasileiros de verdade, mas agora, com o ataque dos Estados Unidos, sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da pátria”, declarou o ministro.

O evento também contou com a presença do advogado-geral da União, Jorge Messias, que, em tom semelhante, criticou a interferência norte-americana em assuntos internos do Brasil e exaltou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como defensor intransigente dos interesses nacionais. Para Messias, o PTR simboliza uma nova era de reparação e compromisso com os brasileiros, “não com os interesses americanos”.

As declarações se inserem no contexto de tensão diplomática crescente entre Brasília e Washington desde a imposição das novas tarifas, interpretadas pelo governo brasileiro como retaliação à postura independente adotada pelo presidente Lula em fóruns internacionais e no campo da política externa. A crítica à “submissão” do bolsonarismo aos Estados Unidos ganha fôlego entre integrantes do governo, que veem nas sanções um reflexo direto de ações passadas de alinhamento incondicional promovidas pelo ex-presidente e seus filhos, hoje parlamentares.

O Novo Acordo do Rio Doce, lançado pelo governo Lula em 2024, substitui antigos modelos judiciais de reparação por instrumentos mais eficientes e centrados na justiça social. O PTR é uma das medidas mais emblemáticas desse novo marco, com repasses diretos às famílias atingidas pelo crime socioambiental de 2015.

 

Fonte: Brasil 247

 

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